31/12/2018

OUTRA LADEIRA DA VIDA

A ladeira era íngreme; cansava-me subi-la.  Entretanto, o topo – Ah, o topo me deixava maravilhado! – era o céu onde morava minha linda Açucena.  Seus olhos irradiavam sublime luminosidade; sua magia estava no jeito de andar e de gingar o corpo de moleca travessa.

Fiz dos meus braços em volta do seu corpo uma aliança; dei-lhe meu sim por toda a vida como na frente de Deus se dá no altar; dei-lhe carinho, amor e respeito como a uma deusa. Nas manhãs geladas ela me aquecia, sua pele era a seda que eu sentia quando minhas mãos deslizavam atrevidas viajando pelo seu corpo; era a satisfação carnal complementando a do meu espirito.

Sentia-me prisioneiro da enfermidade do meu destino. Açucena me curou aplicando-me injeções de alegria e inventando curativos de sorrisos. Um dia me operou implantando na minha alma um amor avassalador. Vivia um conto de fadas presenteado pelo Senhor da Vida.

Até que um dia minha Açucena colocou para fora os seus espinhos, se transformou em outra flor: uma rosa ainda linda, mas capaz de me ferir. Tal qual uma avalanche de gelo seu desencanto desabou sobre mim e me dei conta de que o nosso colorido amor era ilusão que desbotava com o alvejante do desapego; desencantei-me e virei um desencanto para aquela que eu encantara.

E assim mais um ciclo foi fechado. Talvez pagando dívida que eu trouxe de existências passadas. Entretanto, perante a dor do amor que findou, me amedronta constatar que nesta vida repeti mais uma vez a minha sina.

Triste!...  

28/12/2018

OLHOS TRISTES DE NILZA

Folheando novamente o livro Diário de Nilza,
me chamou atenção uma página com dedicatória:
“Para você, Nilza, lembrar sempre da tia
muito amiga. Tetê!
São Sebastião 17/ 06 / 1946”

OLHOS TRISTES
( Luiz Henrique )
Olhos tristes, vós sois como dois sóis num poente,
Cansados de luzir, cansados de girar,
Olhos de quem andou na vida alegremente
Para depois sofrer, para depois chorar.

Andam neles agora a vagar lentamente,
Como as velas das naus sobre as águas do mar,
Todas as ilusões do vosso sonho ardente.
Olhos tristes, vós sois dois monges a rezar.

Ouço ao vos ver assim, tão cheiros de humildade,
Marinheiros cantando a canção da saudade
Num coro de tristeza e de infinitos ais.

Olhos tristes, eu sei vossa história sombria.
E sei quanto chorais cheios de nostalgia.
O sonho que passou e que não torna mais!

23/12/2018

UM CONTO DE NATAL

 

A vida não o deixou nascer sorrindo, como a maioria dos bebês. A mãe costureira desempregada e abandonada pelo pai. Tales, nasceu numa manhã chuvosa, destro de um barraco sem luz. Partiu da barriga confortável e aconchegante da mãe direto para um mundo pobre. Nascia mais um morador no lixão da vila Sapo.

      Seu primeiro berço! Uma linda caixa de cervejas de cor vermelha, acolchoada pelo restolho de um fétido colchão forrado e uma manta para agasalha-lo. Seu único conforto! O carinho da mãe, que o olhava com os olhos de Maria para seu filho Jesus.

      Cresceu comendo restos, na companhia de outros desabastados e dos ratos. Era um menino sonhador. Voava na imaginação o sonho de abraçar Papai Noel. Tinha uma coleção de recortes de papéis, picados a mão e colados com sabão. O bom velhinho estava por todos os lados. As crianças diziam mágicas maravilhas dele. Para Talinho como era chamado Papai Noel era seu herói.

      Um dia revirando o lixo, uma carteira de couro preta e lambuzada de porcarias achou as mãos pequenas do menino. Ao abri-la uma boa quantidade de dinheiro e uma foto do velho Noel sorrindo. A surpresa deixou Talinho de boca aberta e feliz. Seu ídolo! Achara a carteira do Papai Noel.

      Correu para a mãe. Dentro do barraco contaram o dinheiro. Dava para muita comida, coisas gostosas que não conhecia o sabor. Uma roupa nova para ir ver Papai Noel no Shopping. Ali! Os seguranças nunca o deixaram entrar.

      --- Não mãe! Vou devolver a carteira ao Papai Noel. Só tira o dinheiro para comprar o remédio do Lalinho de dona Neuza que está doente. O resto eu devolvo para o meu herói. Tá aqui o endereço dele!                                                  A mãe chorou diante da lealdade do filho. Bom menino com seus oito anos.

      Andou muito com a carteira dentro de um saco plástico e abraçada ao peito. O endereço! Uma mansão que parecia o céu.: - seria ali mesmo a casa do Papai Noel. Pensou ele. Tocou várias vezes a campainha, mas não foi atendido. Sentou-se num canto do portão e de tanto sonhar nos voos da sua mente acabou adormecendo.

       Anoitece! Um carro se posiciona no portão. O motorista João Pedro alerta o patrão que tem uma criança dormindo na entrada. Os dois saem do carro. O patrão pede a João Pedro que pegue o menino e coloque no banco de traz.

      Talinho se acomoda, a cama é macia. Acorda num susto diante de um homem negro, que lhe diz com voz amável.

      ---Bom dia! Tá com fome menino!

      Assustado assentiu um sim com a cabeça.

      --- Senta ali e come o que quiser. Diz-lhe o negro João Pedro.

      Pão leite, café, manteiga. Suco e de quebra queijo e presunto.: - Que maravilha! Pensou Talinho: - será que é dia de Natal!

      Após comer muito o homem perguntou ao menino, o que fazia no portão.

      --- Achei a carteira do Papai Noel e vim devolve-la! Só tirei o dinheiro para o remédio do Lelinho!

João pega a carteira e vai até o patrão! Explicando o propósito do menino. O patrão chora ao ver a foto do Papai Noel, que lhe fora dado pelo seu menino, antes do acidente que lhe decepou a vida. Levando a mãe como companhia. Pede a João que compre uma roupa de Papai Noel.

      Talinho toma um banho e ganha roupas novas da governanta. Maravilhado anda pela mansão. Que natal lindo pensava. Então como num passe de mágica surge seu herói todo vermelho num hou hou hou bem desafinado. Num voo o menino vê seu sonho se realizando. Só lhe resta correr para o abraço ao seu ídolo. Naquele momento o Espirito de Natal do velho Nicolau se nota em aureolas de amor.

      A partir daquele ano as crianças do lixão da vila Sapo, tiveram grandes Natais em companhia de Talinho na mansão. Sua mãe cuidava pessoalmente das roupas do patrão Papai Noel. Tocou tanto o Espirito de Natal na vida daquele patrão, que aos trinta anos Talinho empossava a presidência da empresa do seu pai adotivo. Seu ídolo! O patrão Papai Noel.

 

19/12/2018

CURTO CIRCUITO


 

      A casa quase pegou fogo, durante uma tempestade. Com fortes chuvas raios e trovões. Uma faísca do temporal caiu no telhado da casa de Jonas, Alzira e família. Ocorrendo enorme curto-circuito. Instalações precárias e antigas.

      Por aquela noite a energia elétrica se foi. Na manhã seguinte foi necessária a presença de um profissional da área.

      Toca o telefone, Mariano atende e anota o endereço. Parte com urgência para o anotado no papel.

O cachorro late. Alzira percebe alguém no portão e vai atender Mariano o eletricista.

      Eis que no bom dia ela fixa os olhos nos dele. Sente um frio percorrer sua espinha dorsal. Seus pensamentos voam para o passado. Abaixa os olhos pedindo que o homem entre. No seu coração enorme taquicardia. Como se um susto o tivesse descontrolado.

      Apresentaram-se. Mariano foi direto para o relógio da luz.

      --- Torrou tudo dona! Tem muito trabalho por aqui.

      --- Senhor! Não tem jeito de ligar pelo menos a geladeira. Tenho crianças e eles precisam de banho.

      Depois de duas horas a geladeira, algumas luzes e o chuveiro funcionaram. O quebra galho do Mariano consertou meia casa.

       ---Dona Alzira!

      --- Sim seu Mariano. Ela tremeu com o chamado dele.

      --- Por enquanto é um quebra galho, mas não pode ficar assim. Aqui está o orçamento! Peça para o seu marido me ligar. Mariano recolheu as ferramentas e saiu porta afora.

       Já em sua casa ficou lembrando de Dona Alzira^- está linda com os cabelos mais curtos. Pela sua idade seu corpo ainda está bem torneado. Não perdeu o jeitinho que só ela tem. Os olhos! Ah! Os olhos tão apaixonantes parecem sorrir. Que saudades! Que desejo de beijar sua boca. Será que o sabor de amor ainda é o mesmo.

       No dia seguinte Mariano com o orçamento aprovado por Jonas. Segue para a casa dele.

      Desta vez Alzira o atende, com um vestido branco e justo no seu corpo. Fazendo com que a cor morena do seu corpo contrastasse. Na boca bem delineado um batom vermelho e um sorriso de amor brotando dos lábios. Estava uma menina com dezoito anos.

      Mariano entrou levando seu material de trabalho. Alzira ofereceu-lhe café. Ele rejeitou. Ela ligou o celular e tocou músicas do tempo da sua juventude. E se via dançando com Mariano enlaçando seu corpo e beijando-lhe a boca.

      Não suportou mais o silêncio do eletricista e insinuando grande interesse, convidou-o para almoçar. Novamente ele rejeitou. Finalmente ela ficou triste, fechou a cara e desligou o celular. No fim da tarde o eletricista chamou-a e disse que o trabalho estava pronto. Ele cobrou! Ela pagou.

      Juntou as ferramentas e na saída, no portão ela investiu novamente.

      --- Você não tem desejos por mim Mariano?

      --- Tenho Alzira. Por conta disso não dormi a noite passada, pensando em você. Tenho ânsia de beija-la. Louco para te abraçar, tê-la junto a mim e ama-la com paixão.

      --- E por que não o fez meu amor!

--- Porque você tem uma família. Filhos bonitos, porque você tem um marido que te ama e te dá conforto. Porque eu tenho uma esposa que dá a vida por mim. Meus filhos são bons meninos.

      --- Se eu me deixar levar pelo teu amor! Como vou olhar os olhos do meu pai, que mostram orgulho de mim. Se eu deixar explodir minha paixão por você! O que vou dizer ao meu preto velho. Ele me ensinou, que espíritos apaixonados como nós, quando se reencontram, antes de pensar no amor e na atração física, tem que pensar nas pessoas que dependem de nós para serem felizes.

      --- Se isso acontecer meu amor. Nunca vamos ser felizes e nossos elos nunca se fecharão para sermos uma só luz. Não precisamos desse egoísmo nas nossas vidas. Tchau Alzira! Boa sorte! Um dia em qualquer das nossas vidas, nos encontraremos livres. Ai sim nossas luzes de amor vão se fundir. Até lá! Adeus.

 

  

16/12/2018

PREFÁCIO (O fofoqueiro do meu livro)

É difícil descrever ao pé da letra, todos os pensamentos, de modo a não perder nenhum detalhe.

Pior então, descrevê-los escrevendo.

Foi isso que tentei fazer, no meu livro. Por no papel, sonhos fantasias e realidades. Entrar em transe, entremear a escrita e imaginar uma realidade. Quando voltava do sonho à realidade, chorava! Pois tinha a nítida impressão que tudo era real. Muitas vezes escrevia usando e forçando a mente. Para poder descrever melhor e com o máximo do sentir possível, as situações e narrativas.

Muitas vezes a dor de cabeça vinha junto com meu choro, então percebia mudanças no meu organismo, como um pós-operatório. Uma sensação de fraqueza e debilitação. Passado algum tempo eu melhorava, incluindo meu astral que me deixava mais feliz.

Muitas vezes, fui buscar o beijo da namorada, que estava perdido no tempo. Desde a infância, e enquanto o saboreava, acompanhando, vinha o encanto e a magia. Tudo foi colocado no papel com esmero e sentir. Fui buscar a minha namoradinha de infância, meninota ainda inexperiente. Trazendo-a para o meu coração. Ressuscitando-a, para morar no livro.

Percebi então que tudo, nada mais eram, que os sonhos da minha vida. Que hoje, já se fazem velhos. Trouxe de volta o menino da minha infância, para entrar, dentro de mim. E juntos sonhamos, achamos afagos e carinhos na escrita.

Depois trouxe o meu amor da juventude e amei-a sem restrições, vivendo a recordação do passado. Chorando sorrindo e simplesmente sentindo toda essa experiência, enquanto escrevia. Foi uma delícia te escrever meu menino livro. O meu Carlinhos, que amo muito. Dentro dele, vivi emoções até então desconhecidas para mim. Fui mais feliz dentro dele do que aqui fora.

 

12/12/2018

FINAL DO CANSAÇO

Desespero, noite feia, fria.

Impressão de fim do mundo,

Vazio profundo. Desapego!

Sereno que escorre na alma calada!

Vida gelada, sem alento.

Coração cansado, feito cachorro sem dono.

Melhor aceitar a morte, acabando com o sofrer.

Descansar como um escombro da noite.

Assustado e assustando.

Triste fim de vida. Melancólica de viver

quieto, calado. Sem afago!

Numa sede de amar. Mas a

esperança se foi.

Como o resto do meu corpo. Enferrujou!

Precisando cair na terra.

Precisando decretar a falência da vida.

Liberando o espírito, para uma nova jornada.

09/12/2018

NASCEU MAIS UM POEMA

 

 

      O prazer de ter na mão, uma caneta. Um pedacinho de papel. Deixar a cabeça pensar! E o coração bater sentindo emoção.

      Lembrar da musa amada que ficou dando um adeus com lágrimas nos olhos e um aceno de mão. A caneta se põe a escorregar pelas linhas adocicadas fazendo letras.

      Meus olhos marejados, veem nascer das minhas mãos hábeis a poesia. Que alegria para minha alma. Uma fantasia do sonho. Soneto e verso! O sentimento lembrado, da doce namorada perdida.

      A saudade do beijo, do desejo. Lágrimas escorrem. Desesperados os sentimentos. O papel! Predestinado sorri. Como que encantado pelo tema.

      O coração bate forte. Nasce mais um poema!

 

03/12/2018

FRAGMENTOS DE AMOR

Voo pelo teu corpo.

Sorvendo teu amor.

Deslizando pelo teu colo ardente!

Misturando sabores e cheiros.

Passeio pelo teu ventre.

 

És tu! Paixão que acende

minha alma. Rompendo meu

ser em delírios.

Despindo-me a cada beijo.

 

Sinto no meu corpo.

Tua saliva ardente.

Orvalhando minha pele,

que arde no teu desejo.

Quando estamos desnudos!

Sem pudores. Sentindo de

corpo e alma. Nossa paixão.

 

Sinto o mel do teu suor no meu

âmago. Quando penetro nos

segredos lascivos da tua alma.

Meu corpo estremece. Estronda!

Depois se acalma num prazer sem limites.

Adormeço! Aninhado nesse amor paixão.

Sentidos na mente. No coração.

Quando nossos corpos.

Entrelaçados estão!

Dueto poético de Ana Ramos e Carlos Alberto Paduan. Postados em novembro de 2016 no sarau do grupo Identidade Poética.

 

30/11/2018

UMA DOR FORTE NO PEITO

Sentado à mesa da casa de hóspedes, mirava a mata através das grandes portas que davam para o quintal. Pensava aquele seria mais um longo e interminável dia. Um dia triste de pesar. A falta da amada era muito grande dentro do peito velho e carcomido pela vida.

Apaixonou-se novamente quando o tempo já lhe roía a pele. Como num conto fictício de um grande amor. Mergulhou de cabeça em busca da felicidade. A dor da perda era como pisar em cacos de vidros e gemer de dor num silêncio amargo.

Sentiu-se criança amando e por amar demais errou muito. Sentia o amor como uma mãe lhe protegendo. Sugava o sangue da amada para guarda-lo no peito, sentindo-se alimentado de amor.

Amou como um tolo que ama suas besteiras. Como uma estrela que se ilumina no negro espaço. Amou como um guerreiro fazendo do ciúme o inimigo. Amou como um bobo, ama sua vida idiota. Como um rei que ama o seu tesouro. Amou como um palhaço, rindo e fazendo rir a amada.

Amou confiando todos os seus segredos e sorrisos. Amou como um louco cometendo loucuras. Amou como um bailarino, colocando seu corpo em movimentos sensuais e delicados, matando as sedes do amor, numa insaciável guerra de corpos a delirar em desejos apaixonados.

Amou como um lobo defendendo a sua alcateia. Amou tentando cuidar da amada.

Falhou! Porque amou demais.

 

 

27/11/2018

CONVERSANDO COM A MINHA ALMA

 

       Em qualquer canto, lugar, tempo ou hora, me pego assistindo aos meus sonhos. Vejo meu passado, meus entes queridos (ou não...), minhas lembranças, mágoas, alegrias e tristezas, paisagens lindas! Minha alma voa comigo.

 

       Ah, minha alma, minha Fênix! Quando me pego sonhando com as histórias que me contas, misturo tudo num mundo que só existe em mim. Lugares onde passei e outros em que nunca passarei, mas que me descreves como é... Fica tão real e gravado dentro de mim que parece que já estive lá!

 

       Quando tu falas, meu corpo físico, meu eu e meu ego embalam emoções no momento em que escrevo. E se minhas lágrimas não aplaudirem, é porque não senti a escrita.

 

       Lágrimas! Um santo remédio derramá-las. Me fazem saber que estou vivo e sentindo meu mundo complexo. Sorrir com a alegria e chorar pela saudade. Chorar! Cachoeiras de águas salgadas brotam do mais profundo do meu ser, me provocam uma grande emoção por estar vivo, poder sonhar e escrever o meu teatro. Novelas com desfechos doídos, que meus personagens ensaiam: a vida, a emoção, o passado, as dores, as alegrias, entremeados nas linhas do papel, tendo como personagem principal a minha alma!

 

       Eu e minha alma nos encontramos realmente para contar histórias no nosso lugar preferido, no nosso rio das almas. Sempre será este o lugar onde me preparo para a partida. Quero que seja aqui o capítulo final desta viagem.

 

       Penso que tive uma boa vida nesta passagem e, enquanto for possível, vou colocando meus sonhos no papel.

25/11/2018

O CASAMENTO DE NÚBIA, A CIGANA

Um violino geme em frenesi uma flamenca canção. Alardeando os convidados. Mãos em palmas acompanham seu ritmo viril.
A fogueira arde simbolizando força. Núbia avança rapidamente em êxtase sapateado. Envolvendo a todos com um sorriso que penetra pensamentos másculos. A blusa branca de bordados coloridos exibi através do decote. Um par de exuberantes seios deixando Donovan em delírios. As saias vermelhas a farfalham no ar com frenéticos giros do seu corpo. 
O lenço a esvoaçar em forma de véu encobrem e descobrem os segredos do seu rosto.. Paixão melancolia amor pela vida. Segredos escondidos em pensamentos desnudos. Imaginando Donovan a tomar-lhe o corpo. Sua enorme e negra cabeleira rebelde baila como cascata soprada pelo vento. 
Em pose soberba de rainha, tece ao dançar um perfume de desejos. que exala
 no ar. Os homens enfeitiçados pelo aroma começam a dançar como que encantados pelo poder da cigana. 

De repente paira no ar o leque do ato final. Faz-se um silêncio de emoção. A rainha flamenca. Como recatada donzela segue em harmoniosos passos o coração. Num olhar sensual de mistério e romantismo fita Donovan, medindo-o da cabeça aos pés. Mostrando a ele o poder do amor que carrega na alma. 
O homem para, paralisado diante da beleza Vênus de Núbia, Que sorri! 
Mostrando a ele um sim, com um trejeito no rosto. Finalmente Donovan atira seu chapéu para o ar e agarra no colo a esposa. Um frenético beijo apaixonado faz do sentir um sonho. Todos comemoram com gritos e danças a festa de matrimônio. 

 

 

 

                 

23/11/2018

O ANDARILHO UM ANJO VIRA-LATAS

                                                 


A partir dessa foto e da reportagem que li sobre ela, fiquei intranquilo. Pela tristeza da cena, achei que eu deveria dar alguma explicação. Sou uma pessoa que gosta e ama fotos com a mesma força que milhões de donos amam os seus vira-latas. O texto está virando um livro neste exato momento.

Porém achei na foto uma forma de amor difícil de se ver em ser humanos. Tem que ter um enorme amor. Comparado a sabedoria de perdoar incondicionalmente.

Escrevi embaixo da foto uma pequena história para dar-lhe enredo. Fiquei imaginando o que pessoas que amam os cães ficam pensando. Sei que muitos ficaram chocados e até choraram. Ao ver a pureza nos olhos desse cachorro a quem dei o nome de Adonai. 


                                                                                        LENDO A FOTO

 Fomos largados numa manhã gelada, à beira da mata, perto de uma linha de trens. Caminhamos um pouco, farejando o cheiro dos nossos antigos donos. Nos perdemos!

Zira, cansada e com a saúde debilitada, deitou-se nos mourões de sustentação dos trilhos. Fiquei a seu lado tentando a todo custo reanimá-la. Ali era perigoso ficarmos. Não demorou muito, o trem veio na nossa direção. O apito alto e a frente fumegante avisava para sairmos. Zira não tinha forças. Deitei-me a seu lado colocando o focinho em sua cabeça e fiz força para que ela a abaixasse. O trem passou num barulho infernal. Muito assustada, minha companheira criou forças e levantou-se. Voltamos a caminhar no frio. Nossas patas estavam congeladas e doloridas. Fomos em busca de um alento, de um canto quente ou quem sabe uma mão estendida com um resto de sobras de comida. Qualquer mão humana estendida seria motivo de alegria e esperança. Não importa de quem! Não distinguimos raças e credos. Não sabemos o que é a pobreza e a riqueza. Só conhecemos o amor, a lealdade e a fidelidade. É assim que pagamos nossas contas a quem nos ama. Somos anjos calados, vira-latas e andarilhos. Viemos ensinar e dar amor a quem sentir emoção quando olhar nos nossos olhos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 






20/11/2018

CARTA AO AMOR DA OUTRA VIDA

 

Levantou-se as três da manhã com a cabeça fazendo estragos de dor no seu amago. Muito intensa. Pensou ter sido a cerveja na hora do almoço do dia anterior ou então o sanduíche de calabresa no jantar. Para a cozinha foi. Água e analgésico, parada no banheiro e depois sofá da sala.

Sentou-se, relaxou por alguns instantes, logo sentiu a melhora do analgésico trabalhando. Acendeu o abajur e na penumbra viu o calendário da parede.

20 de novembro de 1946. Pegou a caneta e papel na mesa lateral, resolvendo escrever uma carta para a namorada Mariana. Haviam brigado por causa da fila do feijão. Em tempo do pós-guerra faltavam alimentos. Era fila para tudo. Principalmente para a compra de alimentos.

Pediu desculpas à moça por ter acordado tarde e o feijão que prometera comprar para ela, havia acabado. No dia da briga na saída da boate ela furiosa pegou o chapéu dele e atirou-o ao chão, depois pisoteou. Feito isso limpou o carmim da boca no blazer novo dele. Foi embora pisando duro. Deixando-o ali parado na fria madrugada.

Disse na carta que todos cometem erros e não precisava daquela violência contra seu chapéu e blazer. E que também ficou irritado com o show de patinha mimada que ela havia dado. Escreveu que a amava muito e estava com saudades.

Feito isso dobrou o papel deixando-o no móvel. Para posta-lo na manhã seguinte no correio da Avenida Princesa Izabel (RJ ) Perto da boate Vogue onde na saída aconteceu a briga.

Feito isso voltou para a cama. Acordou tarde ainda com a cabeça meio pesada. Sua esposa estava de mal humor. Sentou-se à mesa para o café. A mulher, muito brava interpelou-o perguntado.

--- Quem é essa tal Mariana! Sua namorada por acaso!

Ele disse não saber, não conhecia nenhuma Mariana.

--- Você pensa que sou idiota Rodolfo! Ou está ficando louco!

--- Louca está você Miriam! Com essas perguntas idiotas. Não saio de casa sozinho desde que me aposentei. Não saio de casa sem você. Como é que eu poderia arrumar uma namorada!

--- Aliás a última vez que saímos juntos compramos meu blazer e o chapéu que eu tanto queria.

--- E esta carta senhor sem vergonha! Escrita com a sua letra! É para a sua Mariana meu bem! Disse ela com deboche.

Lendo a carta e assustado Rodolfo perguntou a mulher.

--- Onde você achou isso Miriam?

--- Na sala! No seu cantinho predileto. Disse ela com desdém.

--- Meu Deus! Que dia é hoje!

--- 20 de novembro de 2.018 meu amor! Continuando com o deboche.

--- Você tem razão mulher, quando dizes que estou ficando maluco. E que estas dores de cabeça estão constantes. Amanhã mesmo estou indo ao médico.

 

17/11/2018

UM CORPO ESTENDIDO NO PORTÃO

Uma lua cheia dava penumbra à escuridão. Nunca vira silhueta tão bela no prostíbulo. Sua beleza era como, uma paisagem noturna. Era um martírio tanta beleza, sem poder tocar.

Sua musa ficava no topo da escadaria externa, que terminava numa área do andar superior, do velho casarão que no passado fora a suntuosa mansão do Barão Du Noihá.

Ele dormia há anos, numa cama de mosaico português, forrada de papelão, embaixo de uma porta comercial. Cujo o prédio abandonado, exibia à frontaria, paredes esburacadas e arruinadas pelo tempo. Dali da sua cama que ficava do outro lado da rua em frente ao casarão prostíbulo. Assistia as mulheres oferecendo o corpo e caricias por um dinheiro amassado e nojento, que passava de mão para mão, indo direto para os cofres dos seios caídos, ou sustentados por velhos rotos e desbotados espartilhos.

Assim como gastos e enferrujados eram aqueles corpos femininos. Dali da sua cama camarim, o mendigo assistia todas as noites o teatro da prostituição. Via as mulheres a cantar e gargalhar, com danças que julgavam ser sensuais. Cada uma na sua coreografia, a chamar e atrair machos para o primeiro ato do espetáculo.

Lá no alto da escadaria a sua musa a gingar o corpo num bailado inebriante. Não cansava de assisti-la! Todas as noites a musa dançava para ele.

Num dia de esmola recheada, tomou um banho, cortou os cabelos e a barba e colocou a melhor roupa que estava guardada na sua mala que fedia a mofo. Aguardou a chegada da noite. O teatro se formou as damas da noite saíram dos quartos fétidos do prostibulo, tomando suas posições.

Um gole de cachaça no gargalo da garrafa esquentou seu o corpo, já no segundo, criou coragem. Levantou-se da cama de mosaico, atravessou a rua e começou a subir a escadaria em direção a sua musa. E lá em cima no último degrau da subida! Ofereceu-lhe a garrafa,

Ela aceitou e um gole tomou, fez uma careta pelo sabor que lhe queimou a garganta e abrindo os braços rebolou para o mendigo. Ele abraçou-a. O cheiro do laquê velho, impregnou-lhe o nariz, passou-lhe o dedo na boca borrando o carmim! A musa fingida tremeu fungando seu ouvido, colou os peitos no peito másculo dele.

O mendigo gemeu de satisfação! Sentiu o cheiro azedo do leite de rosas, naquele abraço. Um afago que há anos estava sufocado e guardado no cofre do sentir e na saudade do corpo, judiado pela vida mendiga. Numa espera de anos e anos, ali estava o seu prêmio. Como o doce da infância.

A musa pediu-lhe o dinheiro. A resposta foi seca.

— Não tenho!

Um empurrão!

Desequilibrado, tentou segurar-se em algo. Segurou num vazio. Seu corpo projetou-se, escada abaixo. Rolando no granito velho e sebento dos degraus. Terminou na soleira do velho portão de ferro, num barulhento baque de lata.

Por alguns segundos, inerte. Depois os olhos se abriram.

A musa indolente e insensível estava no alto do seu trono a olha-lo com desdém.

Ele sorriu, vendo a amada a visão. Suspirou, fechou os olhos! Levando para a escuridão final a fotografia do seu amor.

 

 

 

 

 

 

14/11/2018

UM AMIGO QUE NÃO SEI ONDE MORA

Esta noite perdi o sono. Levantei-me e fui para a cozinha, beber um copo com água. Depois caminhei para sala pensando em ler alguma coisa.

Sentei-me no sofá, acendi a luz do abajur e logo senti um forte calor pelo corpo. Pensei ser minha pressão subindo. Mas não! Logo tomei um susto danado. Ali estava me esperando meu amigo das noites que eu perco o sono. Há um bom tempo ele não aparecia. E também nunca havia se apresentado figurativamente. Parecendo um vulto, uma mancha e por volta e meia mostrava-se como pontos de luz.

Não dá para descrever, porém medo dele eu não tenho. Antigamente só ouvia a sua voz. Parece que ele agora está confiando mais em mim.

Disse-me com voz serena e calma, que estava cansado de me contar histórias e resolveu tirar férias. Escrevo muito do que ele me conta.

Porém disse-me que depois de pensar muito, quer escrever um livro. Parece que o enredo é entre os anos quarenta e cinquenta.

Eu disse a ele que já não tenho mais tempo para isso. Pois também tenho muita coisa minha para terminar de escrever. Também não está adiantando nada ter milhões de coisas escritas e ninguém quer publicar. Para que tantos planos na cabeça se logo vou morrer. Depois não interessa mais nada.

O cara ficou brabo comigo dizendo que ia embora e não mais voltaria.

Me confessou que também tinha tantos planos, para escrever vários livros, poemas, crônicas e contos. Acabou morrendo sem poder por seus sonhos em prática. Veio me procurar para fazê-lo por ele. Tornei a repetir que meu tempo é pouco! Por que não procura um cara mais novo para fazer o trabalho.

Continuou brabo e com a fala mais grosseira disse.

--- Não é você que diz que vai morrer com cem anos! E dando risada para o mundo!

--- Sou eu sim! Respondi-lhe.

--- Mas digo isso como uma brincadeira!

--- Há há há ! Só porque você quer! Debochou.

--- Ainda tens muito a escrever e vais perder muitas madrugadas sem sono. Vou continuar ditando o que eu quero que escrevas

--- Tchau! Meu garoto.

Como veio do nada, também se foi para o nada. Indo embora.

Depois disso peguei meu rascunho e em menos de dez minutos escrevi dois pequenos contos. Vieram como uma mágica misteriosa na minha cabeça.

Boa noite!

 

12/11/2018

UM AMOR INFINITO

 

Passava a maioria das noites acordado ou quando não se debatia na cama até o sono chegar. Viciosos pensamentos de amor lhe arrasavam.

Selena, não era um amor para ele e sim um imaculado vicio. Era como fumar dois maços de cigarro por dia sem deixar que o sabor do fumo se perca na boca. Costumava meter a cara no trabalho para não lembrar dela.

Assim passou sua vida, embora tivesse conhecido outras garotas. Namorando muitas delas. Casou-se, teve filhos e netos, formando uma linda família. Mas nunca esqueceu Selena.

Porém esta noite perdeu novamente o sono. Debateu-se na cama e não conseguia dormir. Veio o nervoso o corpo cobrou. A pressão subiu o coração acelerou. Medicou-se, mas ainda se sentia mal. Ficou quieto, assustado e bem nervoso quando a imagem de Selena surgiu à sua frente.

Tinha o rosto calmo e sereno. Sorrindo afagava seus cabelos e face. Ele sentiu uma melhora e sorriu. Abraçou a visão como verídica e chorou. Pois realmente à sentiu nos braços.

-- Porque você demorou tanto tempo Selena! Procurei-a por toda a vida, por todos os cantos e por todas as ruas onde andei!

-- Eu sei disso meu amor! Respondeu-lhe. Eu acompanhei e protegi você até os dias de hoje.

-- Não entendo isso Selena! Meu amor.

-- Meu amado! Na noite do nosso baile de formatura, eu estava muito feliz. Havíamos dançado a nossa música. Eu me sentia dançando entre nuvens de felicidade. Tinha a impressão de que não estava na terra.

Meus pais haviam brigado comigo por ter ficado o baile todo ao seu lado. Quando o táxi nos deixou em frente de casa, atravessei a rua pensando em você! Meu amor proibido pelos meus pais. Não olhei para os lados. O baque foi muito forte! Só senti meu corpo voar leve como uma pluma. E assim voei para você. Até hoje te acompanho para todos os lados. Esperando por este momento só nosso para vir busca-lo.

-- Selena? Para ir contigo eu preciso morrer primeiro!

-- Não amor! Basta me dar a mão! Seu corpo já está ali sereno e descansando da vida. Vem amor! Vamos para o nosso cantinho infinito.

10/11/2018

A CRUZ DO PONTAL

Hoje o destino me trouxe ao lugar do passado onde meu amor descambou em dissabores; de onde grande fatia da minha vida foi desbotando no tempo...
Aqui, nada mudou...
O barulho das ondas e a força das águas ainda são os mesmos daquele dia, maré alta de forte arrebentação. 
As ondas lambendo nossos corpos invadiram a pedra onde estávamos no auge da discussão.
Tentei segurar-te, porém num gesto brusco e irritada te desvencilhaste de mim, pulando da pedra e correndo para a areia.                           
Naquele momento jogaste nosso amor no mar, onde as ondas o arrastaram e afogaram.
Desapareceste correndo pela imensidão arenosa que agora piso massageando com meus pés. Vi tu sumires virando um ponto preto no infinito.
Aqui ficara um pedaço da minha juventude; um desespero na minha alma; um sorriso amarelo na vida. Aqui sumira o pedaço de  ti que morava em mim.
Em prantos, olhando para a cruz de pedra, prometi que só voltaria se contigo ao meu lado. A árvore de abricó, com seus galhos estendidos na minha direção, nascida na rachadura da pedra parecia me convidar para um abraço de adeus. 
Parti do mundo do nosso amor nas asas que o destino me impôs para tentar voar. Deixei para trás teus olhos que eu imaginara seriam os guias dos meus passos. Deixei o teu sorriso, encantado como se fora do anjo dos meus dias de vida. Um final amargo e prematuro da jovialidade.
Hoje, apesar de corroído pelo tempo, meu coração bate forte. A cruz de pedra, que carrega a lenda do tempo e as promessas de amores, tem aos seus pés restos de tocos de velas que iluminaram pedidos. 
A árvore de abricó (que está cinquenta anos mais velha e dando frutos!) abre seus braços para me saudar. Tudo aqui sorri novamente. O mar calmo e a areia massageiam nossos pés. Minhas lágrimas escorrem de felicidade.
Volto hoje de mãos dadas com minha amada.
Meu amor! 

06/11/2018

UMA SURPRESA NOS SONHOS DA SOLIDÃO

Cuidava da casa com certo esmero desde que o marido partira. Passeava todos os dias no quintal e muitas vezes sentindo a solidão lhe fazer companhia conversava com as flores, mimando-as em afagos. O pequeno maltês, um cãozinho peludo, andava aos seus pés e volta e meia parecia sorrir com os carinhos de Lorena, sua patroa.
Muitas vezes passava num pequeno corretor entre seu quarto e a sala. Ali, pendurado na parede clara, estava um porta-retratos. Morando dentro dele, sempre sorrindo, a foto de Amaury, o falecido. Fora um bom pai e bom esposo, mas nunca tocara a fundo o coração de Lorena.
Quando as tardes tranquilas e silenciosas entravam pela porta da casa, seus olhos parados pousavam no nada. Viajavam para um encantado mundo, lembranças do puro e gostoso primeiro amor. 
Onde estaria Carlos agora? Será que está vivo? Meu Deus! Perguntava-se. 
Adorava aquele garoto que tinha tantos sonhos lindos na cabeça. Amava seu sorriso matreiro de amor menino que ele trazia no rosto. Como teria sido sua vida ao lado dele? 
A campainha soa, ela acorda chegando ao fim da sua viagem. Atende o rapaz da floricultura. São rosas!  Acompanhavam-nas um pequeno envelope. Sente o odor de sonhos das mimosas flores. Ao abrir o envelope lê o bilhete. O buquê cai de suas mãos, seu corpo estremece. Ela segura nas grades do portão para não cair. Seus olhos choram copiosamente. Uma emoção  toma conta do seu sentir. 
O bilhete lhe dizia: 
" Ainda tenho saudade! Carlos"

29/10/2018

A PROCURA

Vago pelas madrugadas, pelas calçadas das ruas do tempo. 

Pelas ruas de pedras, sebosas e brilhantes, um tom de cinza prata. 

Chumbo.

Coisa feia de se ver. 

O sereno me fustiga molhando meu chapéu e roupa, me deixando com frio.
Em cada esquina, meus olhos te procuram. 

Jogada, dona da calçada, prostituta bêbada...

As vezes me ponho a cantar na rua dos pecados. 

Restos de músicas de vagas lembranças da felicidade.

Tragédia do vício,  trapo, pecando  por um gole. 
Molambo da vida mendiga.
Andarilha dos bares sujos da noite.

Um farrapo sorridente em forma de gente. 

Dormindo em calçadas cuspidas.

25/10/2018

UM PEQUENO AFAGO NA ALMA

Hoje ao me levantar, um desespero, bateu no meu peito. Como se me dissesse para olhar o passado.
Olhei e te achei. Dentro de mim, te sentindo como um pequeno afago na alma. Chorei lembrando teus olhos de querer amor. Teu sorriso de desejos e teu jeito de menina levada.
Do calmo abrigo que sentia no teu abraço. Numa afetuosa satisfação de conforto, de sentir. De sonhar.
Levei-a então a passear comigo pelas ruas do bairro onde moro. Deixei que toda vizinhança nos visse de mãos dadas. Mostrei a todos o meu sorriso de felicidade estampado no rosto. Na volta do passeio fomos para cozinha, juntos preparamos o almoço. Bebemos champanhe com o sabor dos nossos beijos. Dançamos num bailado suave, uma valsa de sonhos.
Após o almoço, sentamo-nos nas cadeiras do quintal da vida assistindo o filme da nossa história de amor. Novamente chorei de felicidade. Então deixei você na cadeira. Quando minha filha me chamou dizendo.
— Vamos pai, estamos atrasados! O psicólogo não espera.

22/10/2018

E VIVA O CRAVO.....E VIVA A ROSA

Era assim que dona Pascoa Pascoetta cantava. Mulher porreta, italiana baixinha. Minha avozinha, minha madrinha dos olhos azuis. Como o céu da minha vida criança.
Sete filhos! Trinta e dois netos. Uma matriarca alegre, mulher feliz. Vibrava muito quando a sua prole se reunia. Aqueles serenos e afetuosos olhos azuis pareciam nos olhar, como se fossemos sonhos. Tinha a fala mansa, nunca a vi levantar a voz para ninguém.
Durante os almoços festivos a macarronada corria solta. Eram quilos e mãos quilos de macarrão. Sua casa pobre era movida por amor e muito vinho se bebia ali.
A alegria contagiante dessa avó querida e o vinho da festa se misturavam. A velha senhora abria a cantoria. Filhos e netos a acompanhavam. Eram músicas da infância dela na Itália. Quando ouvia seus parentes cantar.
Guardou na memória e trouxe para nós o costume. Éramos sua família mafiosa de sangue e amor. A música mais tradicional que ficou marcada, são estas estrofes.
E VIVA O CRAVO......E VIVA A ROSA.....E VIVA A FLOR........

Assim entoavam filhos e netos. Dos mais velhos aos pequeninos. Até hoje a marca da matriarca está no sangue dos Paduan. Hoje quando nos reunimos em festas, nascimentos aniversários e mesmo falecimentos. Entoamos orgulhosos o coro em alto e bom-tom.
E VIVA O CRAVO
E VIVA A ROSA
E VIVA A FLOR DA LARANJEIRA
E VIVA OS DONOS, DESTA CASA
COM TODA SUA, FAMÍLIA INTEIRA.
-- VIVAAAAAAA! ( aplausos ).


Sinto que às vezes parecemos anjos cantando. A marca deixada pela matriz da nossa família. Naquela casa tinha tanto amor que até hoje alimenta nossas almas. Não volta mais esse tempo, resta guarda-lo com saudades e carinho. Até hoje sinto que a presença dela quando encontro meus primos. Rimos e cantamos felizes, conforme nos ensinou minha avozinha a minha madrinha dos olhos azuis.
Conto real dedicado a todos os descendentes da família Paduan e a todos os frutos de sangue que a nossa avó dona Pascoa Pascoetta. Plantou neste mundo.