31/12/2018

OUTRA LADEIRA DA VIDA

A ladeira era íngreme; cansava-me subi-la.  Entretanto, o topo – Ah, o topo me deixava maravilhado! – era o céu onde morava minha linda Açucena.  Seus olhos irradiavam sublime luminosidade; sua magia estava no jeito de andar e de gingar o corpo de moleca travessa.

Fiz dos meus braços em volta do seu corpo uma aliança; dei-lhe meu sim por toda a vida como na frente de Deus se dá no altar; dei-lhe carinho, amor e respeito como a uma deusa. Nas manhãs geladas ela me aquecia, sua pele era a seda que eu sentia quando minhas mãos deslizavam atrevidas viajando pelo seu corpo; era a satisfação carnal complementando a do meu espirito.

Sentia-me prisioneiro da enfermidade do meu destino. Açucena me curou aplicando-me injeções de alegria e inventando curativos de sorrisos. Um dia me operou implantando na minha alma um amor avassalador. Vivia um conto de fadas presenteado pelo Senhor da Vida.

Até que um dia minha Açucena colocou para fora os seus espinhos, se transformou em outra flor: uma rosa ainda linda, mas capaz de me ferir. Tal qual uma avalanche de gelo seu desencanto desabou sobre mim e me dei conta de que o nosso colorido amor era ilusão que desbotava com o alvejante do desapego; desencantei-me e virei um desencanto para aquela que eu encantara.

E assim mais um ciclo foi fechado. Talvez pagando dívida que eu trouxe de existências passadas. Entretanto, perante a dor do amor que findou, me amedronta constatar que nesta vida repeti mais uma vez a minha sina.

Triste!...  

28/12/2018

OLHOS TRISTES DE NILZA

Folheando novamente o livro Diário de Nilza,
me chamou atenção uma página com dedicatória:
“Para você, Nilza, lembrar sempre da tia
muito amiga. Tetê!
São Sebastião 17/ 06 / 1946”

OLHOS TRISTES
( Luiz Henrique )
Olhos tristes, vós sois como dois sóis num poente,
Cansados de luzir, cansados de girar,
Olhos de quem andou na vida alegremente
Para depois sofrer, para depois chorar.

Andam neles agora a vagar lentamente,
Como as velas das naus sobre as águas do mar,
Todas as ilusões do vosso sonho ardente.
Olhos tristes, vós sois dois monges a rezar.

Ouço ao vos ver assim, tão cheiros de humildade,
Marinheiros cantando a canção da saudade
Num coro de tristeza e de infinitos ais.

Olhos tristes, eu sei vossa história sombria.
E sei quanto chorais cheios de nostalgia.
O sonho que passou e que não torna mais!

23/12/2018

UM CONTO DE NATAL

 

A vida não o deixou nascer sorrindo, como a maioria dos bebês. A mãe costureira desempregada e abandonada pelo pai. Tales, nasceu numa manhã chuvosa, destro de um barraco sem luz. Partiu da barriga confortável e aconchegante da mãe direto para um mundo pobre. Nascia mais um morador no lixão da vila Sapo.

      Seu primeiro berço! Uma linda caixa de cervejas de cor vermelha, acolchoada pelo restolho de um fétido colchão forrado e uma manta para agasalha-lo. Seu único conforto! O carinho da mãe, que o olhava com os olhos de Maria para seu filho Jesus.

      Cresceu comendo restos, na companhia de outros desabastados e dos ratos. Era um menino sonhador. Voava na imaginação o sonho de abraçar Papai Noel. Tinha uma coleção de recortes de papéis, picados a mão e colados com sabão. O bom velhinho estava por todos os lados. As crianças diziam mágicas maravilhas dele. Para Talinho como era chamado Papai Noel era seu herói.

      Um dia revirando o lixo, uma carteira de couro preta e lambuzada de porcarias achou as mãos pequenas do menino. Ao abri-la uma boa quantidade de dinheiro e uma foto do velho Noel sorrindo. A surpresa deixou Talinho de boca aberta e feliz. Seu ídolo! Achara a carteira do Papai Noel.

      Correu para a mãe. Dentro do barraco contaram o dinheiro. Dava para muita comida, coisas gostosas que não conhecia o sabor. Uma roupa nova para ir ver Papai Noel no Shopping. Ali! Os seguranças nunca o deixaram entrar.

      --- Não mãe! Vou devolver a carteira ao Papai Noel. Só tira o dinheiro para comprar o remédio do Lalinho de dona Neuza que está doente. O resto eu devolvo para o meu herói. Tá aqui o endereço dele!                                                  A mãe chorou diante da lealdade do filho. Bom menino com seus oito anos.

      Andou muito com a carteira dentro de um saco plástico e abraçada ao peito. O endereço! Uma mansão que parecia o céu.: - seria ali mesmo a casa do Papai Noel. Pensou ele. Tocou várias vezes a campainha, mas não foi atendido. Sentou-se num canto do portão e de tanto sonhar nos voos da sua mente acabou adormecendo.

       Anoitece! Um carro se posiciona no portão. O motorista João Pedro alerta o patrão que tem uma criança dormindo na entrada. Os dois saem do carro. O patrão pede a João Pedro que pegue o menino e coloque no banco de traz.

      Talinho se acomoda, a cama é macia. Acorda num susto diante de um homem negro, que lhe diz com voz amável.

      ---Bom dia! Tá com fome menino!

      Assustado assentiu um sim com a cabeça.

      --- Senta ali e come o que quiser. Diz-lhe o negro João Pedro.

      Pão leite, café, manteiga. Suco e de quebra queijo e presunto.: - Que maravilha! Pensou Talinho: - será que é dia de Natal!

      Após comer muito o homem perguntou ao menino, o que fazia no portão.

      --- Achei a carteira do Papai Noel e vim devolve-la! Só tirei o dinheiro para o remédio do Lelinho!

João pega a carteira e vai até o patrão! Explicando o propósito do menino. O patrão chora ao ver a foto do Papai Noel, que lhe fora dado pelo seu menino, antes do acidente que lhe decepou a vida. Levando a mãe como companhia. Pede a João que compre uma roupa de Papai Noel.

      Talinho toma um banho e ganha roupas novas da governanta. Maravilhado anda pela mansão. Que natal lindo pensava. Então como num passe de mágica surge seu herói todo vermelho num hou hou hou bem desafinado. Num voo o menino vê seu sonho se realizando. Só lhe resta correr para o abraço ao seu ídolo. Naquele momento o Espirito de Natal do velho Nicolau se nota em aureolas de amor.

      A partir daquele ano as crianças do lixão da vila Sapo, tiveram grandes Natais em companhia de Talinho na mansão. Sua mãe cuidava pessoalmente das roupas do patrão Papai Noel. Tocou tanto o Espirito de Natal na vida daquele patrão, que aos trinta anos Talinho empossava a presidência da empresa do seu pai adotivo. Seu ídolo! O patrão Papai Noel.

 

19/12/2018

CURTO CIRCUITO


 

      A casa quase pegou fogo, durante uma tempestade. Com fortes chuvas raios e trovões. Uma faísca do temporal caiu no telhado da casa de Jonas, Alzira e família. Ocorrendo enorme curto-circuito. Instalações precárias e antigas.

      Por aquela noite a energia elétrica se foi. Na manhã seguinte foi necessária a presença de um profissional da área.

      Toca o telefone, Mariano atende e anota o endereço. Parte com urgência para o anotado no papel.

O cachorro late. Alzira percebe alguém no portão e vai atender Mariano o eletricista.

      Eis que no bom dia ela fixa os olhos nos dele. Sente um frio percorrer sua espinha dorsal. Seus pensamentos voam para o passado. Abaixa os olhos pedindo que o homem entre. No seu coração enorme taquicardia. Como se um susto o tivesse descontrolado.

      Apresentaram-se. Mariano foi direto para o relógio da luz.

      --- Torrou tudo dona! Tem muito trabalho por aqui.

      --- Senhor! Não tem jeito de ligar pelo menos a geladeira. Tenho crianças e eles precisam de banho.

      Depois de duas horas a geladeira, algumas luzes e o chuveiro funcionaram. O quebra galho do Mariano consertou meia casa.

       ---Dona Alzira!

      --- Sim seu Mariano. Ela tremeu com o chamado dele.

      --- Por enquanto é um quebra galho, mas não pode ficar assim. Aqui está o orçamento! Peça para o seu marido me ligar. Mariano recolheu as ferramentas e saiu porta afora.

       Já em sua casa ficou lembrando de Dona Alzira^- está linda com os cabelos mais curtos. Pela sua idade seu corpo ainda está bem torneado. Não perdeu o jeitinho que só ela tem. Os olhos! Ah! Os olhos tão apaixonantes parecem sorrir. Que saudades! Que desejo de beijar sua boca. Será que o sabor de amor ainda é o mesmo.

       No dia seguinte Mariano com o orçamento aprovado por Jonas. Segue para a casa dele.

      Desta vez Alzira o atende, com um vestido branco e justo no seu corpo. Fazendo com que a cor morena do seu corpo contrastasse. Na boca bem delineado um batom vermelho e um sorriso de amor brotando dos lábios. Estava uma menina com dezoito anos.

      Mariano entrou levando seu material de trabalho. Alzira ofereceu-lhe café. Ele rejeitou. Ela ligou o celular e tocou músicas do tempo da sua juventude. E se via dançando com Mariano enlaçando seu corpo e beijando-lhe a boca.

      Não suportou mais o silêncio do eletricista e insinuando grande interesse, convidou-o para almoçar. Novamente ele rejeitou. Finalmente ela ficou triste, fechou a cara e desligou o celular. No fim da tarde o eletricista chamou-a e disse que o trabalho estava pronto. Ele cobrou! Ela pagou.

      Juntou as ferramentas e na saída, no portão ela investiu novamente.

      --- Você não tem desejos por mim Mariano?

      --- Tenho Alzira. Por conta disso não dormi a noite passada, pensando em você. Tenho ânsia de beija-la. Louco para te abraçar, tê-la junto a mim e ama-la com paixão.

      --- E por que não o fez meu amor!

--- Porque você tem uma família. Filhos bonitos, porque você tem um marido que te ama e te dá conforto. Porque eu tenho uma esposa que dá a vida por mim. Meus filhos são bons meninos.

      --- Se eu me deixar levar pelo teu amor! Como vou olhar os olhos do meu pai, que mostram orgulho de mim. Se eu deixar explodir minha paixão por você! O que vou dizer ao meu preto velho. Ele me ensinou, que espíritos apaixonados como nós, quando se reencontram, antes de pensar no amor e na atração física, tem que pensar nas pessoas que dependem de nós para serem felizes.

      --- Se isso acontecer meu amor. Nunca vamos ser felizes e nossos elos nunca se fecharão para sermos uma só luz. Não precisamos desse egoísmo nas nossas vidas. Tchau Alzira! Boa sorte! Um dia em qualquer das nossas vidas, nos encontraremos livres. Ai sim nossas luzes de amor vão se fundir. Até lá! Adeus.

 

  

16/12/2018

PREFÁCIO (O fofoqueiro do meu livro)

É difícil descrever ao pé da letra, todos os pensamentos, de modo a não perder nenhum detalhe.

Pior então, descrevê-los escrevendo.

Foi isso que tentei fazer, no meu livro. Por no papel, sonhos fantasias e realidades. Entrar em transe, entremear a escrita e imaginar uma realidade. Quando voltava do sonho à realidade, chorava! Pois tinha a nítida impressão que tudo era real. Muitas vezes escrevia usando e forçando a mente. Para poder descrever melhor e com o máximo do sentir possível, as situações e narrativas.

Muitas vezes a dor de cabeça vinha junto com meu choro, então percebia mudanças no meu organismo, como um pós-operatório. Uma sensação de fraqueza e debilitação. Passado algum tempo eu melhorava, incluindo meu astral que me deixava mais feliz.

Muitas vezes, fui buscar o beijo da namorada, que estava perdido no tempo. Desde a infância, e enquanto o saboreava, acompanhando, vinha o encanto e a magia. Tudo foi colocado no papel com esmero e sentir. Fui buscar a minha namoradinha de infância, meninota ainda inexperiente. Trazendo-a para o meu coração. Ressuscitando-a, para morar no livro.

Percebi então que tudo, nada mais eram, que os sonhos da minha vida. Que hoje, já se fazem velhos. Trouxe de volta o menino da minha infância, para entrar, dentro de mim. E juntos sonhamos, achamos afagos e carinhos na escrita.

Depois trouxe o meu amor da juventude e amei-a sem restrições, vivendo a recordação do passado. Chorando sorrindo e simplesmente sentindo toda essa experiência, enquanto escrevia. Foi uma delícia te escrever meu menino livro. O meu Carlinhos, que amo muito. Dentro dele, vivi emoções até então desconhecidas para mim. Fui mais feliz dentro dele do que aqui fora.

 

12/12/2018

FINAL DO CANSAÇO

Desespero, noite feia, fria.

Impressão de fim do mundo,

Vazio profundo. Desapego!

Sereno que escorre na alma calada!

Vida gelada, sem alento.

Coração cansado, feito cachorro sem dono.

Melhor aceitar a morte, acabando com o sofrer.

Descansar como um escombro da noite.

Assustado e assustando.

Triste fim de vida. Melancólica de viver

quieto, calado. Sem afago!

Numa sede de amar. Mas a

esperança se foi.

Como o resto do meu corpo. Enferrujou!

Precisando cair na terra.

Precisando decretar a falência da vida.

Liberando o espírito, para uma nova jornada.

09/12/2018

NASCEU MAIS UM POEMA

 

 

      O prazer de ter na mão, uma caneta. Um pedacinho de papel. Deixar a cabeça pensar! E o coração bater sentindo emoção.

      Lembrar da musa amada que ficou dando um adeus com lágrimas nos olhos e um aceno de mão. A caneta se põe a escorregar pelas linhas adocicadas fazendo letras.

      Meus olhos marejados, veem nascer das minhas mãos hábeis a poesia. Que alegria para minha alma. Uma fantasia do sonho. Soneto e verso! O sentimento lembrado, da doce namorada perdida.

      A saudade do beijo, do desejo. Lágrimas escorrem. Desesperados os sentimentos. O papel! Predestinado sorri. Como que encantado pelo tema.

      O coração bate forte. Nasce mais um poema!

 

03/12/2018

FRAGMENTOS DE AMOR

Voo pelo teu corpo.

Sorvendo teu amor.

Deslizando pelo teu colo ardente!

Misturando sabores e cheiros.

Passeio pelo teu ventre.

 

És tu! Paixão que acende

minha alma. Rompendo meu

ser em delírios.

Despindo-me a cada beijo.

 

Sinto no meu corpo.

Tua saliva ardente.

Orvalhando minha pele,

que arde no teu desejo.

Quando estamos desnudos!

Sem pudores. Sentindo de

corpo e alma. Nossa paixão.

 

Sinto o mel do teu suor no meu

âmago. Quando penetro nos

segredos lascivos da tua alma.

Meu corpo estremece. Estronda!

Depois se acalma num prazer sem limites.

Adormeço! Aninhado nesse amor paixão.

Sentidos na mente. No coração.

Quando nossos corpos.

Entrelaçados estão!

Dueto poético de Ana Ramos e Carlos Alberto Paduan. Postados em novembro de 2016 no sarau do grupo Identidade Poética.