30/11/2020

Vigesima nona parte do meu livro” OS DOIS AMORES DE CARLINHOS”

 

CONTINUANDO

 

 O velho poeta. Acabou dormindo com 0s pensamentos melancólicos que lhe machucavam muito. No dia seguinte decidiu que era a hora de mudar de ares. Ter uma vida mais calma e menos atribulada. Chamou os filhos e conversou. Sobre vender a casa e ir embora para um sitio ou mesmo uma pequena casa de campo. Onde pudesse ter alguma coisa com que se entreter e não sentir tanto tédio e tristeza. Criar algumas galinhas pensou até numa vaquinha.

Uma das poucas alegrias que tinha era ouvir o anjo das noites de tristeza

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



O ANJO DA FLAUTA

 

Em cima do seu palco velho de antigos.

Degraus de uma escada, caiada num azul desbotado.

Fazia serenata, para o nada da noite.

Um bichano filhote era seu mais novo fã e expectador.

Nunca o deixou na mão, Sempre o aplaudia com miados finos.

Quando o som desconexo da flauta sessava.

 

Então o anjo da flauta, incentivado. Entrava num mundo de sonhos.

Soprava sua flauta às vezes suave como o planar do condor.

Outras vezes entusiasmado pelos aplausos de expectadores que imaginava, tocava calorosas e rápidas melodias  como o voo das andorinhas.

E lá do seu muro do outro lado da rua Carlinhos assistia as noites em que o anjo menino fazia os seus consertos. Lembrando-se do eu, seu menino em incontáveis noites de sonhos e aventuras de amor.

 

 


 

O RANCHO DO MARCAZADO

 

Os dias passavam chatos e sem graça. Era todo dia tudo igual. Às vezes tinha vontade de dormir e não acordar mais. Faltava algo no seu coração. Tinha se mudado a coisa de três anos, era seu sonho morar sozinho, ter seu canto para plantar e colher. Uma pequena criação de galinhas. Uma vaquinha para tomar o leite sem químicas e fazer um queijinho da hora!

Tinha tudo isso. Mas o tempo a cada dia o deixava mais desesperado. O livro que se proporá a escrever também estava pronto. E de tanto que o lera, para fazer as correções, já o conhecia de cor. Muitas vezes no silêncio do seu cantinho de viver, faziam uma dramatização do livro, como personagem.

 As rosas e orquídeas já estavam no ponto do desabroche! Já colhera um meio saco do feijão que plantara ao pé da cerca, que contornava a propriedade. Algumas árvores frutíferas já estavam ali, quando comprou o pequeno rancho. Uma piscina não muito grande morava no complemento do alpendre. Rodeada de gramas, que já estavam precisando ser aparadas. E na volta do alpendre jazia uma cerca de madeira grossa e tosca. Mais tipo um enfeite, três cadeiras de palha descansavam a volta de uma mesa, feita da roda do carro de boi.

Eram assim todos os dias, chatos, mas que ele achava, iam ser felizes, até o dia de morrer. Seus companheiros o dia, à noite o sol e a paisagem. Volta e meia ouvia um motor a gemer no longe da estrada, ficava torcendo para que fossem os filhos ou netos, que vinham a passeio e lhe fariam companhia! Quando o ronco do motor não diminuía a marcha ele já sabia, que naquele fim de semana não teria visitas. E ficava a apreciar na poeira o carro desaparecer e com inveja:- Quem será! Que vai receber essa visita!

Os parentes vinham sempre, enquanto era novidade, mas depois, foram escasseando e agora muito pouco vinham. Tirava dois dias por semana para cozinhar o que gostava de comer e congelava em pequenos potes com porção para um. Assim era com feijão, feijoada, uma dobradinha! E etc. Comia saladas e frutas aos montes! Tinha sempre uma cervejinha bem gelada para tomar na companhia dele mesmo.

À noite ligava o computador ou às vezes, via o ultimo jornal da noite. Depois começava um programa de entrevistas de um cara, muito inteligente e gordinho. Quando anunciava entrevistas, com políticos, cantores de rap e essas coisas doidas que cantam hoje. Ele desligava a tevê e ia para o computador. Conversava muito sobre poesia e música, com os amigos das redes sociais. Baixava muitos vídeos musicais e os selecionava para ouvi-los durante seus dias de solidão.

 

 

27/11/2020

NO MEU TEMPO DA JUVENTUDE

 



Num pequeno e gostoso momento de poesia da minha vida. Passeando pela avenida principal do meu bairro empoeirado. Fantasiei a minha vida olhando Vilma, uma garota coquete e vistosa. A mais bonita do lugar.

A pequena tinha os cabelos pretos, compridos. Seu olhar lembrava-me capa de revista. Seus olhos penetravam o fundo da alma, numa sexualidade de arrepiar. Estava ela ali parada á frente do cartaz do cinema olhando a foto do seu ídolo Elvis. Ela derretida por ele. Eu derretido por ela.

Seu andar coloria a avenida em qualquer dia. Era estonteante o balanço da sua bunda num gingado de samba choro. Embalada numa minissaia branca e plissada, que fazia seu papel valorizando aquele o manequim ambulante. E eu deliciando-me com a alegria daquele corpinho. Vilma era o presente que meu coração queria para sempre. Um tesouro de mulher que não demorou muito solta pelo bairro. Um riquinho botou os olhos na menina e levou-a para morar numa mansão da zona sul. Eu só fiquei com a lembrança e resumi neste cantinho meu momento lindo. Do tempo que se usava brilhantina.


 

24/11/2020

NASCEU MAIS UM POEMA

 



O prazer de ter na mão, uma caneta. Um pedacinho de papel e deixar a cabeça pensar. O coração bater.

Lembrar da musa amada que ficou dando um adeus com lágrimas nos olhos e um aceno de mão. A caneta se põe a escorregar pelas linhas adocicadas fazendo letras.

Os meus olhos marejados, veem nascer das minhas mãos hábeis a poesia. Que alegria para minha alma. Uma fantasia do sonho. Soneto e verso! O sentimento lembrado, da doce namorada perdida.

A saudade do beijo do desejo. Lágrimas escorrem. Desesperados os sentimentos. O papel! Predestinado sorri. Como que encantado pelo tema.

O coração bate forte. Nasceu mais um poema!

 

 

21/11/2020

Vigesima oitava parte do meu livro” OS DOIS AMORES DE CARLINHOS”


A IMPRESSÃO DA MORTE

 Acordou no meio da madrugada com uma sensação esquisita de morte. Talvez tenha sonhado ou tenha tido uma falta de ar. Sentou-se a beira da cama e pensou:- Se essa sensação fosse à morte! Até que não seria tão dolorida e horrível, como pensam. Ao banheiro foi e depois de um copo com água, voltou para cama. Começou então o drama de não achar o sono. Cansou-se de procurar, rolando várias vezes na cama. Talvez estivesse ansioso, pois passou o domingo com Luís que viera de São Paulo lhe fazer uma visita.

Relembraram os tempos de moleque e reforçaram o laço de amizade de sessenta e dois anos de vida. Os colegas da infância, os folguedos e as memoráveis partidas de futebol na rua de terra e com os pés descalços.

Falaram sobre o início da juventude e tocaram um pouco de musica daquela época, em dois velhos, mas bem afinados violões que Carlinhos guardava com muito carinho desde aqueles tempos. Talvez esses violões tivessem a mesma idade da amizade deles. Pois estudaram musicas juntos na juventude.

Ligaram o computador. Assistiram alguns vídeos dos tempos da jovem guarda. Comentaram sobre Adélia a filha de nipônicos amiga de Esmeralda a qual Luís confessara arrastar asas por ela.

Finalmente a tarde foi caindo e Luís preparou-se para retornar a sua cidade. Ainda conversaram um pouco no ponto do ônibus e quando este chegou despediram-se com um terno abraço, com sabor de despedida como se fosse a última vez.

Quem rege e tem a sabedoria é o tempo. Vamos só ter a esperança de nos encontrar outra vez. Já que Deus deixou-nos vivos, para lembrarmo-nos dos bons tempos! Disse Carlinhos ao amigo.

 

Carlinhos e Luís de França Noia diplomando-se em 2019. Uma amizade de sessenta e dois anos

 



De toda aquela turma da infância só restaram os dois e Maria Esmeralda!

Luís dissera a Carlinhos tê-la visto perto de uma faculdade, numa roda de jovens, falando e gesticulando. E também que ela estava magra e de cabelos cortados do tipo Chanel. Porém não deu maiores detalhes, porque estava no carro do filho, que havia parado no sinal vermelho. 

Sem sono ainda mesmo após essas lembranças do dia, iniciou um novo drama, e se pôs a perguntar sobre os porquês!

Tentando entender, para que tanta felicidade, se no final acaba tudo velho, roto e amassado! Gordos, sem dentes, feios, carecas e todos os adjetivos de velhice que se pode imaginar! Inclusive seu herói que sempre fora o galo cantante da sua virilidade estava murcho!

Para que nascer! Só para dar continuidade a raça humana! Para sorrir quando nascem os filhos. Para chorar a morte dos entes! Isso já se tornou um vício para a humanidade!

É difícil entender. Um pouco de tempo passageiro para cada ser humano e depois todos viram pó. Ficar muito velho então vai ficar muito feio e terrivelmente mumificado.

Será que isso tudo são viagens no tempo que os espíritos precisam para o seu aprendizado. E usam carcaças humanas, moldadas e adaptadas para continuar com suas luzes acesas! Isso é brincar, com o nosso sentir.

Morremos e não levamos nada. É a carcaça no buraco para não feder na superfície. E as gerações que plantamos muitos nem lembram que tiveram avós e muitas vezes nem souberam quem fomos.

Sendo dessa maneira a vontade de viver vai para o espaço dando vida, ao tremendo tédio que ele está sentindo agora. De ilusões e sonhos já vivemos muito, agora é a realidade da velhice que reduz drasticamente a necessidade de ser feliz.

Os alentos e carinhos desaparecem. Fica o enfraquecimento humano e o espirito se prepara para a próxima viagem. Nossa ossada enterrada, daqui a milênios vai virar 250 ml de petróleo bruto! A vida é isso afinal!

 

 

 

 

 


 

 TEDIO DA VIDA

 

Ah! Essa melancolia

de viver, quieto calado

sem afago!

Esse fim de vida.

Ah! Essa sede de amar!

A esperança que se foi,

esse resto de corpo

que enferrujou!

Precisando cair

na terra, precisando!

Decretar a falência

da vida.

E liberar o espirito!

Para uma nova jornada!

 

Santos - março de 2017.

 

 

FIM

 

FIM! – SERÁ QUE É O FIM MESMO

Não sei se é o fim! O que sei é que tu Carlinhos, viraste um vício, tão grande na minha vida, O dia que não te leio ou não escrevo em ti, fico numa ansiedade e perco meu sono de verdade!

— Então continua, Uai! Essa narração está gostosa.

Quem está falando comigo afinal. (Narrador)

— Eu, o Carlinhos! Pede para o autor continuar. Eu quero continuar vivendo dentro deste livro.

--- Tá bom Carlinhos, então continuamos. Eu também adoro viver dentro deste livro. Adoro ver você sonhar e partilho da sua vida. Como se fosse a minha! Um abraço. (O escritor)

  

 

 

 

18/11/2020

OITO DE JUNHO MEU PRESENTE DE ANIVERSÁRIO

 

 

Ela só ia naquele horário as quintas e sextas-feiras. Por isso o envelope com a foto dentro tinha meu endereço. Talvez fosse colocá-lo no correio. Ela era morena clara e tinha os olhos verdes, sua boca era carnuda e muito gostosa de beijar. Eram sete horas da manhã.

Eu estava em pé e o trem sacolejava muito. Tinha um pouco de dificuldade para recordar a apostila, pois teria uma prova naquele dia. Ela sentada no banco do corredor com a cabeça recostada no meu ventre. Mostrava a boca aberta e vermelha de batom. Ressonava, pois devia estar cansada.

O trem parou por falta de energia, lá fora o dia era frio e a neblina densa. Havíamos saído a pouco da estação de Jundiapéba com destino a faculdade de Mogi das Cruzes.

Um estrondo! Meu corpo voou como uma folha de papel. Um impacto tão forte que nosso último vagão levantou voo. Senti uma dor tão forte que não sabia onde doía meu corpo. Abri os olhos estava caído no chão e vi ainda colada a mim, minha amada. Seus olhos estavam saltados fora do lugar. Sua boca golfava sangue misturado ao batom. Era satânica a cena de horror, gemidos gritos de pavor. Um gemido muito perto de mim chamava pela mãe. Ao longe um burburinho de vozes apavoradas gritando!

Tentei-me levantar para dar algum socorro a minha amada, não senti o braço. Não consegui move-lo. Pensei estar no inferno. E estava!

Foi tão terrível o impacto de um trem diesel batendo na traseira do nosso eléctrico. Por algum tempo acho que perdi os sentidos, depois ouvi vozes.

— Tem um vivo aqui?

Percebi que falavam de mim. Não sei como fui carregado, meu corpo doía todo. Ainda tive tempo de olhar o rosto da minha amada jogado no chão de ferro. Só não vi seu corpo, parece que havia sumido. Meu corpo deitado balançava em algo móvel. Um raio de sol ofuscava-me os olhos. Ainda lembro, fui colocado numa ambulância. Depois dormi.

É assim que me lembro daquele fatídico dia.

Hoje estou aqui parado na estação de Jundiapéba. Fazem trinta e dois anos que perdi Dalva. A minha amada estrela dos cabelos pretos e lisos. Era linda com sua franja na testa. Um rosto meigo, um sorriso alvo e lindo. Minha morena cheia de vida. O meu amor. Faço hoje cinquenta e dois anos.

Dói muito em mim essa peça que o destino escreveu para minha vida. Foram anos de recuperação e hoje duas muletas fazem parte do meu corpo. Sem elas não ando.

Voltei para este lugar hoje para recordar o acidente. Estudava direito na faculdade de Mogi das Cruzes. Nosso vagão era o último. O vagão dos estudantes. Perdi muitos amigos e boa parte da minha vida. Perdi o sono por muitas noites ao sonhar com os pesadelos da desgraça acontecida.

Voltei para recordar Dalva. Recebi um envelope escrito a trinta anos atrás por ela. Foi encontrado protegido dentro de um caderno com a matéria de física. No mesmo local da tragédia, por um trabalhador de bom coração que fazia manutenção nos trilhos. Este ser humano leal com a vida me entregou o caderno roto e apodrecendo. Dentro dele o envelope com o meu endereço. Dentro do envelope uma foto em branco e preto de Dalva, com o cabelo de franja e seu sorriso de anjo. Atrás da foto a dedicatória dizia.

Ao meu grande amor.

Estou me dando a ti neste seu aniversário

                                     Dalva

15/11/2020

LAMENTOS DE AMOR NA MESA DO BAR DA VIDA

 

 

Venham minhas amigas, sentem-se ao lado. Vamos brindar.

Vamos tomar uns goles desta aguardente de mágoa. Venham vamos sentir o nó amargo de dor na garganta. Venha minha amiga lembrança. Conta-me, se o sorriso dela ainda é encantador. Ajuda-me a lembrar daqueles olhos sensuais. Ela ainda esta bonita!

E você saudade, encoste no meu peito, sinta como dói. A dor do amor. Tome outro gole deste destilado de abandono. Me de um pouco da sua companhia. Veja como chove solidão dentro de mim.

Fico lembrando!  Será que ela ainda esta uma musa. Será que o velho tempo amigo cuidou dela! Não deixando a vida enruga-la demais. Não estragando seu encanto com sofrimentos e dores como as minhas.

Será que ela ainda é uma mulher que encanta e emociona os homens por onde passa.

Vamos amigas, vamos abrir o nosso licor de memórias e cantar uma musica de dor. Vamos fazer um baile e dançar de tristeza como um choro de criança, lamentando a fome. Vamos implorar da minha alma um pouco de calma e alento. Para amenizar a falta do meu amor, neste vazio. Não vou pedir para ela voltar. Pois amor não se implora, Amor se sente e se lamenta. É tê-lo ou não.

Venham minhas amigas, vamos fazer infinita a nossa amizade. Mas se ela voltar? Meu lamento vai ser meu sorriso. Então amigas vou guardar para sempre e trancadas na adega do sofrimento estas bebidas. Que nos embriagam deste mal de amor.

12/11/2020

Vigesima sétima parte do meu livro” OS DOIS AMORES DE CARLINHOS”

 


                                              ADEUS À LORENA                                                                                                                                                                                                                             

Os anos se passaram agora estamos em 2017

 Quando as flores sorrirem, desabrochando e espalhando pelos campos os seus perfumes de primavera!

Corro ao campo, para senti-la. Minha amada. Pois sei que viajas nesse odor orvalhado.

Sinto a sua presença em brisas.

Rodeias-me exibindo seus preceitos e trejeitos de me amar, lançando sobre meu corpo uma gelada rajada de brisa perfumada. Isso me dá grandes arrepios. Às vezes, aqui ou acolá, te mostras em pequenos, redemoinhos de vento. Levantando ao ar perfumado, as últimas folhas secas de inverno. Corro a brincar contigo num incansável, pega-pega!

Deito-me à relva molhada, procurando teus suores! Abraço-te! Com meu ventre colado a terra. Braços abertos, em forma de cruz.

Acarinho-te! Acariciando a relva, sentindo a tua presença, afagando meu rosto.

Tem sido sempre assim! Desde o dia em que Deus te levou do nosso mundo

 

 Santos – SP – 2.017

 

Foi esta a despedida que fez à Lorena quando a perdeu. Sua guerreira fora requisitada por Deus, deixando em frangalhos a alma do velho poeta!   Agora só restava ele dentro daquela casa grande e cheia de cômodos. As crianças cresceram e cada um tomou seu rumo. Vieram os netos as alegrias, as lágrimas de felicidade e tristeza com o aumento de pessoas na família. Mas nada curava a brecha que ficara no coração, pelos amores perdidos.


 

 

 

 

09/11/2020

BASTAVA UM OLHAR


      Bastava um olhar para que eu te entendesse. Com o toque das tuas mãos macias no meu rosto, eu me rendia extasiado. Pegava fogo, ardia na chama da paixão. Abraçava-te! Sentia tua pele arrepiada exalando perfume de desejos.

 

 Porém hoje chove dentro de mim. Perdi a paz, perdi meu amor, perdi você. Sonhei muito em reviver nossa ardente paixão. O tempo não me deixou mais, vê-la sorrindo. Era tão gostoso te ver sorrindo.

 

      Brincávamos como crianças. Amávamo-nos com toda a força da nossa juventude.

 

      Hoje velho guardo no coração nossos sonhos, desde o dia, que teu olhar sumiu dos meus olhos. Desde o dia que deixaste de ser minha rainha. Desde o dia em que o teu punhal, fez do meu coração a bainha.

 

      Hoje o teu sorriso é para o mundo. Perdemo-nos em lados opostos num vazio. Sinto uma doída falta do teu odor de amor. Dói mais ainda pensar.

: - Que bastava um olhar, para que eu te entendesse.



 





06/11/2020

REFLEXÃO

Dei vida a você. Dei-lhe os detalhes. Dei-lhe os presonagens que fazem a tua historia. Dediquei-me a você, como um pai cumpridor dos seus deveres, dei-lhe horas e mais horas da minha vida.

Nas tuas linhas levas o meu choro, minhas amarguras, meus segredos mais profundos. Dei-lhe minhas tristezas e dores de amores. Passei a você tudo que aprendi com a vida sofrida. Me confessei a você, como confesso a Deus,

Rabisquei teu dorso com tatuagens. Senti o teu riso e tuas cócegas quando lhe massageava com a ponta da caneta.

Hoje! Estas aqui na minha frente. Um garoto pronto para sair pelo mundo. Tagarelando, fofocando e mostrando ao mundo tudo o que lhe ensinei.

Cuidado filho! Cada ser humano tem um jeito de agir e de interpretar coisas. Espero que essa pessoas gostem de você. Que te amem como eu te amo.

Vai filho!

Eu vou ficar aqui no meu canto, com ciúmes e orando para que faças sucesso onde passar.

Vai filho!

És meu sonho

Meu livro.

 

 

 

 

 

 

 

03/11/2020

Decima sexta parte do meu livro “ OS DOIS AMORES DE CARLINHOS”

INESPERADO E DOLORIDO ENCONTRO

 

Certa sexta feira ao sair do trabalho e andando em direção ao ponto do ônibus Carlinhos ouviu um chamado.                                                                                      

— Cailiiinho! Essa vós! Seu coração gelou! Parou pensando sonhar.                                                                                                                                                  — Cailiiinho! Não teve mais duvidas.                                                                                                                                                   Virou para onde estava a vós e viu aqueles olhos verdes o cabelo de corda e as bochechas vermelhas. O maldito arrepio veio da nuca até o pé da bunda. Aqueles olhos aqueles benditos ou malditos a lhe olhar. Aproximou se dela e com um ímpeto de saudades abraçou aquele corpo tão desejado e cultuado. As lágrimas queimaram lhe as bochechas a amada dourada ali na sua frente. Os nervos em frangalhos devido ao enfarto emocional. Aquele sonho que um dia ela podou estava ali como um presente a ser desembrulhado. Porém lembrou se de Nick e soltou Esmeralda.                                                                     

Ela o abraçou novamente oferecendo lhe a boca.                                                         

Ele esqueceu Nick e sorveu aqueles lábios com sofreguidão. Com o sabor de saudades, de vida, sabor de felicidade.                                                                                                                                                              Finalmente Esmeralda conseguiu falar.                                                                                                      — Cailinho! Que saudades. Não imaginas que falta você me faz. E esse beijo já tinha esquecido o quanto ele é gostoso.

Foi olhando para Esmeralda assim bem de pertinho que Carlinhos percebeu o quanto ela se tornara mulher. Os olhos continuavam terrivelmente apaixonantes. A boca um tanto carnuda e mais delineada. Mais convidativa a deliciosos beijos. E o rosto de uma mulher madura e bem mais atraente. Dando a entender o que ela mais desejava naquele momento!    

 

 

— Preciso do seu amor Cailinho! Disse-a com vós ardente. Carlinhos ainda estava meio bobo e desencontrado e perguntou lhe.                                                                             

— Como você me achou!

— Foi sua mãe, que me deu o endereço do teu trabalho.

— Minha mãe? Estranho isso!                                                                                                           

 —É Cailinho foi sua mãe, deixa eu te explicar.                                                                                    

— Logo depois que eu me casei, não demorou nem um ano me separei. Meu marido era violento e por duas vezes me agrediu. Ai, falei com um tio meu que era advogado, logo tomou providencias para me desquitar. Eu ainda fiquei morando com meu avô e no ano passado ele faleceu! Voltei para São Paulo e fui à casa da tua mãe. Eu disse a ela que tinha muita vontade de te ver. Ela me disse que você tinha casado, mas me deu o endereço do teu trabalho!                                                                                                                                           

— É eu estive lá em Maringá na tua terra! Disse Carlinhos.

-– Maringá! Tu foste a Maringá! Cailinho?                                                                                                                        — E não me procurou!                                                                                                                                                                                                  — Ah! Procurei sim! E como me arrependi de ter feito isso.                                                                                                                                                                                                                                                                              — Não estou te entendendo Cailinho.                                                                                                

— A tua amiga Adélia é que me passou o endereço e quando cheguei perto da casa do teu avô, te vi de beijos e abraços com um cara que tinha o cabelo de corda igual ao teu.                        

— Porque você não foi falar comigo Cailinho?

— Meu choque foi tão grande, que virei no pé e sai dali rapidinho! E depois falar contigo, naquela hora ia dar uma confusão braba. Porque no mínimo aquele cabelo de corda ia se meter na conversa. Eu passei mal pelo choque e me sentei um pouco no banquinho da quitanda que tem na esquina. Eu vi o teu namorado ir embora, ia voltar para conversar com você.

— E porque não voltou Cailinho!

— Eu voltei! Só para jogar o colar no quintal. Foi um modo que encontrei para me despedir de você.

— Ai Cailinho para! Isso está doendo muito. Eu nunca entendi como meu avô achou aquele colar no jardim. E eu sabia que era o mesmo, por causa da bolinha descascada. Ai amor da minha vida como dói essa conversa.

Os dois falavam e choravam. E se abraçaram novamente. Carlinhos a tinha encostada ao ombro e afagava seus cabelos enquanto sentia um misto de amor e raiva. Um medo forte no peito. Teve vontade de empurrá-la com força, para longe dele. Pensava em Nick e no bagaço que sua vida virou em menos de meia hora. Já tinha se conformado em ficar sem a dourada na sua vida. E do nada! Ela aparece chorando em seus braços.

— Cailinho! Me diz porque você se despediu de mim daquela maneira! Jogando o colar no quintal.

— Porque no banco da quitanda ouvi seu Honorato teu avô! Dizer para o quitandeiro que você estava de casamento marcado. Os teus pais deram um golpe no destino e separaram nos dois. E teu irmão Flávio foi o mentor da separação.

-—Ai Cailinho! Você não me escreveu nenhuma carta.

— Escrevi quatro! Todas foram parar nas mãos da tua família, ninguém me dava o teu endereço. E depois quando soube que o Flávio tinha batido no Luís, dei um jeito de fazer um estrago nele com um estilingue.

— Foi você Cailinho! Disse ela espantada.

— O Flávio ficou uma semana sem trabalhar, com a costela engessada!.

— Eu sei e foi pouco! Para tanta maldade que ele fez conosco. Depois que tua avó faleceu, me disseram que teu avô tinha ficado muito doente, e que você tinha que ficar tomando conta dele!

— Isso é mentira Cailinho!

— Eu sei que foi mentira. Naquele dia vi seu Honorato com muita disposição esquecendo a tua paçoca na quitanda!

Esmeralda sorriu e disse.

— Tu és muito ladino Cailinho!

— E você nunca entendeu o meu amor e cuidado que eu tinha com você, para dar tudo certo entre a gente. Você nunca entendeu do que eu seria capaz para tê-la sempre nos meus braços!

Mais uma vez Esmeralda chorou e ofereceu a boca para Carlinhos. Este a sugou com desespero.

— Depois que vi tudo isso em Maringá, resolvi pegar o primeiro trem e voltar, foi a pior e mais longa viagem da minha vida!                                                                                           

— Imagino o que se passou pela tua cabecinha de menino apaixonado. Concluiu ela.                                                                                                                                                                                          — É dourada, foi muito ruim.                                                                                          

— Dourada! Como é gostoso ouvir essa palavra meu poeta! E ele continuou falando!                                                                                                                                 — Praticamente fugi da minha casa, daquela rua, daqueles dias em que eu sentia os meus pés no chão levantando a poeira da nossa rua! Aqueles momentos de felicidade com a minha dourada. Aquele cantinho só meu. Nunca ninguém no mundo teve um paraíso como aquele!

E as lágrimas lhe rolaram pela face! Esmeralda com as palmas das mãos enxugou-as.                                                                                  

— Chega! Meu menino, não se torture mais. Disse ela com afeto.                                                                                                                                                            — Eu senti que meu cantinho tinha acabado e após um ano depois que mudamos de lá. Também deixei a casa da minha mãe. Falou Carlinhos ainda enxugando as lágrimas.        

                                                                                                                                                             


 

— Eu sei o que você deve ter sofrido! Meu menino poeta, eu também sofri muito, viu Cailinho.                                                                                                                    

— Eu não só sofri Esmeralda! Tive meus sonhos jogados ao vento, minha ternura e encantos cortados, minha pureza de amor decepada, por um par de olhos verdes, cabelos de corda e bochechas vermelhas. E foi meu próprio anjo sem asas, quem fez tudo isso para mim.                                                                                                                     

— Cailinho me perdoa! Diz a dourada abraçando e acariciando o corpo do menino poeta.

— Quem tem que se perdoar é você. Arrematou Carlinhos.

— Afinal não entendi, porque se casou.

— Me casei porque perdi a virgindade! Com aquele cara que tenho ódio de lembrar até o nome.

Essa confissão foi à punhalada final no peito do menino poeta. Ele que preservara a virgindade de Esmeralda para o momento certo! Para que quando esse dia chegasse à explosão dos dois em um êxtase só, fosse o grande pacto de amor. Seria a benção as trombetas soariam e Deus na sua infinita bondade diria a Carlinhos.                                                  

— Cuida bem menino e com muito amor, este presente que lhe dou.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                     Com certa revolta Carlinhos desvencilhou- se dos braços de Esmeralda. Olhando bem nos olhos dela e com o coração magoado disse.                                                                                                                                                      — Vou embora! Desculpe preciso ir!                                                                                                                           

— Você não pode ficar comigo algumas horas Cailinho!

— Hoje não! Tenho compromisso.

— Eu sei é tua família né.                                                                                                                                                          — É...

Esmeralda abraçou o amado e desta vez foi ela quem o beijou. Ele não querendo e querendo ao mesmo tempo correspondeu a mais um longo beijo. E no calor do desejo Carlinhos percebeu que esse beijo já não tinha o sabor da ternura da pureza e do encanto. Já não tinha o sabor do amor do sonho menino. Já não sentiu o arrepio que ia do pescoço até o pé da bunda!                                                                                                              

Esmeralda se recompôs e deu para ele um cartão dela com o endereço do Guarujá. Cidade vizinha à Santos e disse que o esperava para tomarem um café no domingo pela manhã.                                                                                                                                                                — É do Guarujá o endereço! Da Rua Mario Ribeiro!                                                                                         

— Como é que você sabe disso Cailinho! Pergunta ela espantada!

— Já estive lá a sua procura! Só não sabia o número do apartamento e o porteiro também não quis me dar informações suas!

— Cailinho do céu! Tanta coisa você fez por minha causa!

— Foi tudo por amor, por desespero, nunca passou pela minha cabeça perdê-la. Eu tinha um pacto com Deus. Era ele no céu e a dourada na terra!                                                        

 — O pior foi ficar de frente com você, na rua enfrente a porta do teu prédio, você me fitar alguns segundos me olhando e não me reconhecer! Essa foi a coisa mais dolorida da minha vida.                                                                                                                                  

— Cailinho! Você esta me deixando maluca! Que conversa é essa!

— Vou te dizer só o final para você acreditar. Depois de você passar por mim, e ter me olhado de frente por alguns segundos. Atravessou a rua e entrou no Edifício Magnata de vidros escuros, e ficou na porta do elevador. Quando este chegou, saiu um cara meio coroa de dentro dele te abraçou e te beijou na boca. Você subiu no elevador e o coroa saiu do prédio entrando um carro Simca Chambord, vermelho que estava estacionado na rua.

— Cailinho quem tinha um carro era o Gustavo ele morreu num acidente ele corria muito. Foi meu namorado e deixou o apartamento para mim de papel passado! Eu estudo na faculdade onde ele era o reitor.

— Pega também esta foto minha Cailinho para você nunca me esquecer! A despedida foi bem seca por parte de Carlinhos. Já a loirinha que não se deu conta disso, saiu toda cheia de afagos para com ele.

Carlinhos guardou no bolso o cartão e a foto e foi na direção do ponto de ônibus. Esmeralda ainda ficou parada esperando ele dar um Tchau, mas ficou sem isso.                                                                                                                                                     O menino poeta foi para casa pensando, porque sua mãe, sabendo que ele estava casado deu o endereço do seu trabalho para Esmeralda. Mas talvez esse tenha sido a melhor coisa que dona Consuelo havia feito por ele.  O último beijo que Esmeralda lhe deu indicou o caminho, o rumo da vida de uma vez por todas. Então uma oração de agradecimento a Deus por deixar a vida lhe sorrir novamente. E nas voltas que o mundo dá, entendeu que agora era a hora da dourada perder o trono. E numa troca de sofrimentos o destino ditava as suas regras. A loirinha estava sofrendo de amor e Carlinhos ainda chorou com pena dela.                                                                                                  

Ao abrir a porta e entrar em casa ouviu a vozinha da pequena Nick que correu para os seus braços!                                             

— Papaaaa!                                                                                                                                                  

E num abraço forte e carinhoso pegou a filha no colo e chorou copiosamente de felicidade. Mais tarde jogou o cartão da dourada no lixo e na janela da área de serviço do apartamento com a foto dela na mão, olhou a pela última vez e pensou consigo:- Nunca tinha reparado que você tinha orelhas tão grandes e abertas. E dizem que quem tem orelhas grandes voa!                                                                                                      

E lá foi a fotografia de Esmeralda pela janela do terceiro andar.                                                                                                                                                                       Voando no vento amigo.

Voltou para cozinha e Lorena estava encostada na pia com os afazeres do jantar, abraçou a esposa pelas costas e com ternura beijou-a, sentindo seu corpo estremecer.

— O que é que você quer meu amor! Indaga Lorena.

— Porque essa impaciência e aquele choro, quando você chegou e abraçou a Nick!

— Só quero que você me perdoe!

— Perdoá-lo porque Carlinhos! O que você aprontou

— Não sei se aprontei, mas hoje eu entendi muita coisa da minha vida! Hoje aprendi que você é o meu amor. O meu chão a minha heroína de todas as horas. Enfim é a minha namorada, que Deus pôs no meu caminho!

Lorena olhou para o marido com lágrimas nos olhos.

— Se você aprontou ou não! Eu te perdoo, agora se você está se sentindo culpado por alguma coisa que fez peça perdão para o João Carlos.

— Que diabo de conversa é essa Lorena! Quem é esse João Carlos?

E Lorena, virando-se de frente para o marido, deu uma tremenda gargalhada de felicidade. Apontando o dedo indicador para a barriga falou!

— Ele esta aqui ó! Na minha barriga.