30/08/2018

PEQUENO CONCERTO INFANTIL PARA FLAUTA DOCE

                   

Eu o assistia todas as noites, recostado ao meu muro do outro lado da rua.

Era um menino loirinho dos olhos da cor do céu. Doce como sua flauta, que adocicava as minhas noites, com a felicidade da sua música.

Enquanto soprava o pequeno instrumento, eu tinha a impressão, que passavam vários sonhos pelo seu pensamento. Seu olhar se tornava uma contemplação. Talvez voasse como uma águia e a flauta imitasse o som do vento nas alturas.

Seu pequeno palco! Um muro azul caiado e desbotado. Sentado no degrau do velho portão de ferro. sonhando e despreocupado soprava sua doce flauta.

Eu e um pequeno bichano seu companheiro. Escutávamos a música do anjo. Um doce concerto de flauta, com notas desconcertadas.

Quando a pureza da alma encanta. O coração embala e se delicia, por pequenos fatos da vida. Dói em mim, saber que a maioria das pessoas deste nosso planeta, não enxergam os anjos. Por isso falta-lhes o respeito, pelas vidas alheias.

27/08/2018

OS OLHOS TRISTES NO TEMPO


Quantas vezes! Lembrando você, eu passava de propósito diante da tua vida. Vi a sua juventude indo embora, mas você nunca sorria.
O que será que ela tem? Pensava eu.
Outras vezes passava pelo teu portão. Ora não lhe via. Ora lhe via a varrer o quintal ou aguando as plantas. Mas nunca vi o teu sorriso. Casada sei que eras, talvez tu não fosses feliz! Pensava eu.
Vi o tempo, amigo ou não, levando a tua idade. Enrugando-a e trazendo a neve aos teus cabelos. No sopro do vento, sentia eu, estar no fim o meu amor por você. Minhas razões, para passar pela tua rua, já eram sem esperanças.
Certa manhã de Natal, cabisbaixo e triste. Do meu portão, olhava o movimento da rua. Alguns conhecidos e vizinhos passeavam pelas calçadas. Cumprimentando com acenos e falas, Feliz Natal! Eu desejava a todos.
Nesse dia meu coração pulou fora do peito! Finalmente papai Noel, lembrou do meu presente. Veio você descendo a minha rua. Com os cabelos curtos de algodão, num sorriso alvo e alegre que destoava do rosto.
— Bom dia? Feliz Natal.
Ouvi sua vós me dizendo. Esse momento! O mais encantador da minha vida. Percebi que você queria estar ao meu lado. Tive um ímpeto, para correr e abraça-la. Contive-me! Tanto tempo a espera, para que correr agora.
Hoje passeamos de mãos dadas. Finalmente vejo teu apagado sorriso do passado, florir. Teus olhos brilham emocionados, cheios de vida.
E a minha vida? Ah! A minha vida.....

23/08/2018

SERÁ QUE AINDA SOU UM VELHO MENINO, OU UM MENINO VELHO

 Hoje estou aqui sentado olhando a tua foto com vinte anos. Me lembro bem como tudo começou, logo depois das férias de julho daquele ano. Você entrou na sala de aula, como aluna nova. 
Nossa que alegria! Meu coração pulou no peito. Teus olhos espantados olhavam para todo o quadrante da sala. Uma visão maravilhosa. Teus cabelos eram negros e compridos, uma franja curta te deixava atraente e sedutora. Tive a impressão que olhastes para mim e parou um pouquinho encarando-me. Gelei! Foi muito boa a sensação.
Tinhas um olhar penetrante e sei que muitos garotos da sala sentiram a mesma coisa que eu. Teu sorriso era uma candura cativante, mas escondia algo dentro da alma.
Tudo corria às mil maravilhas até que nos demos o primeiro beijo. Uma coisa louca, porem era uma barra te namorar. Tive que enfrentar uma concorrência pesada. Tantos amigos que viraram inimigos, dando em cima de você. Tinhas um gênio forte e muitas vezes, tive que fazer das tripas o coração para segura-la ao meu lado.
Um dia o tempo venceu. Meu mundo ruiu e o destino levou você para longe. Os anos passaram e numa lacuna o destino novamente abriu sua porta me deixando tê-la novamente.
Hoje estou aqui sentado diante da tua foto com vinte anos. Olhando para o lado direito da cama te vejo dormindo, serena! O destino cobrou e estamos com setenta anos. Ainda te sinto na minha alma e morando dentro de mim. Porém guardo um segredo de um velho menino. Quando olho para você. Te vejo como a minha namorada com vinte anos. E, omo um menino velho, ainda tenho ciúmes de você. 
    

20/08/2018

O PORTÃO DO POETA

Muro alto com balaústres a enfeita-lo, Uma fileira de telhas francesas protegem o portão de ferro retorcido, em formas florais. Na calçada da rua ao pé do muro, algumas orquídeas e folhagens. Mais acima enormes buquês de begônias se expõem como lágrimas vermelhas.

Por trás do muro, nota-se uma porta antiga e sempre fechada. Pelos desenhos florais vazados do portão de ferro avista-se uma varanda pequena e duas cadeiras pintadas de branco lá descansam.

Dizem que aqui mora um poeta. Calado e com jeito mal humorado. Por duas tardes eu o vi sentado em uma dessas cadeiras da varanda. Numa dessas tardes lhe fazia companhia uma garrafa se não me engano de água. Disfarçadamente parei em frente ao portão e de soslaio fiquei a olha-lo. Realmente parecia de mal humor. Mas naquele dia eu o ouvi balbuciar, algumas palavras desconexas.

Estava com a cabeça recostada no encosto da cadeira. Seus olhos perdidos num mundo que não era o nosso, parecia estar muito longe. Talvez no voo de um condor à procura incansável por seu amor.

Depois levantou da cadeira e com o olhar ainda perdido enxugou os olhos com um lenço xadrez azulado. E foi embora porta adentro.

Chorei junto com ele, pois notei sua tristeza era profunda, um soluço sentido Gostaria que ele encontrasse o seu amor.

Só para vê-lo sorrir.

17/08/2018

FINAL DO CANSAÇO

Desespero, noite feia, fria. 
Numa impressão de fim de mundo, 
Vazio profundo. Desapego!

Sereno que escorre na alma calada! 
Vida gelada, sem alento. 
Coração cansado, feito cachorro sem dono. 
Melhor aceitar a morte, acabando o sofrer. 
Descansar como um escombro da noite. 
Assustado e assustando. 
Triste fim de vida. Melancolia de viver 
quieto, calado. Sem afago! 
Numa sede de amar. Mas a 
esperança se foi. 
Como o resto do meu corpo. Enferrujou! 
Precisando cair na terra. 
Precisando decretar a falência da vida. 
Liberando o espírito, para uma nova jornada.

 


13/08/2018

FOTOS ESMAECIDAS

 

Hoje encontrei fotos de nós dois que residiam no sótão do casarão de pedras. Onde meus pais moravam. Gastas pelo tempo numa cor sépia, já se fazem esmaecidas. Lembrei nossos banhos na banheira com o esmalte descascado. Teu corpo moreno queimado de sol, coberto pela espuma alva do sabonete cheiroso. Teus seios coloridos pela marca do biquíni às vezes boiavam, entremeados à espuma.

Ficávamos ali por horas nos afagando, nos beijando e ajustando nossas ferramentas de amor.

Quando nossos corpos clamavam o êxtase saiamos para o quarto. Deitávamos numa colcha de retalhos que se fazia linda, decorada pelo teu corpo nu. Encontrei-a, nesta manhã. Tão velha e cheia de traças que se desfez em farrapos. Como sinto meu coração agora.

Teu sorriso branco iluminava-se dentro da boca. O carmim nos teus lábios pareciam  pétalas se abrindo quando me chamavas de amor. Como você me levava à loucura!

Agora estou olhando todas as fotos, cada uma tem uma história. Cada uma me mostra um tempo, um momento. Revivendo tudo, me desmancho em vários devaneios. Meus olhos se enchem de água pela saudade. Muitas foram os dias, que sonhei com teus olhos agasalhando a minha alma. Te sinto! És como um livro que leio todas as noites, como se tivesse lendo teu coração. Nossa! Como dói a tua ausência.


10/08/2018

A CRÔNICA DA DOENÇA CRÔNICA

Nasce o poeta com o dom na palavra e o encanto no peito. Vê na mulher a rosa rainha a fada dos sonhos. A musa do seu amor.

Vê! Maravilhas na terra, encantos na paisagem. Descreve na precisão do traço a ode das relvas, nas curvas de um caminho. Namora a lua sua amada e o luar de prata que ilumina ranchos de amores no caminho da sua morada. Vê a tristeza da chuva descrevendo-a com as lágrimas de rios do amor. Imagina pingos d´agua rolando pelas vidraças. Desenha corações tristes no embaçado dos vidros.

Ama a mulher, que imagina, dando-lhe vida e beleza. Desenhando-a com cores de carmins, com olhos verdes ou cor do céu, E chora por ela. Ama tanto e narra com perfeição um orgasmo em trovas. Ou então se deleita narrando. O poeta é vida. Faz rimas maravilhosas em uma ode rimada, que acaba na próxima linha.

Ama e desama, chora e ri. Conforta e faz o sofrer, dando vida a cada página de um livro. Mas carrega a crônica doença no peito. De não saber amar na vida real.

Pois quando ama não sofre. Não sofrendo! Não rima e não sente. Não sentindo! A inspiração acaba. Finda. Fim.

 


05/08/2018

O AMOR CHEGOU CHEGANDO


 

Quando fui atender campainha meu coração disparou num enorme e forte galope. Lá estava em pé diante de mim o meu amor. Que chegou num repente sorrindo, me fazendo uma surpresa. Meu corpo vibrou numa tensão forte, meus lábios tremeram. Abri o portão sua mala foi ao chão, senti seus braços fortes arrebatarem meu corpo me enlaçando a cintura. Senti seu corpo aconchegante. Ganhei um beijo na boca tão guloso e sequioso que me senti no espaço. Numa viagem de êxtases. 
Entramos para a casa de mãos dadas. Era um conforto, uma segurança sentir sua mão enlaçada na minha, passando pela varanda, entramos na sala. Mais uma vez escutei sua mala ir ao chão e ali ao lado do sofá ele arrebatou-me novamente. Desta vez pelas costas. Abraçou meu ventre, levantando a minha camiseta. Nesse momento um enorme arrepio percorreu toda minha espinha dorsal. Suas mãos aveludadas massageando meu colo e os seios que ficaram desnudos. Sua boca percorreu meu pescoço com pequenas e leves mordidas, eu tinha a impressão de tomar pequenos e estimulantes choques. 
Esse é o meu amor, que venero. O meu amor que fez e faz sentir-me mulher. O meu amor que acendeu todos os poros do meu corpo. Que há muito estava caquético e sem lampejos de vida. Esse é o meu amor que quero para todo o meu sempre. O meu amor que me dá confiança e vibra de felicidade, quando vê o meu sorriso e as minhas brincadeiras de velha moleca. 
Esse é o mesmo amor da minha juventude e hoje da minha velhice. Hoje eu o senti como chegando de uma longa viagem e voltando para mim. Para minha casa, para minha vida. Me trouxe novamente o sentir e sempre me pede que eu nunca perca os meus encantos. 
Chegou, chegando guardando suas roupas no meu armário, seus objetos na minha camiseira, seu sabonete e escova dental no meu banheiro. Após um jantar gostoso que preparei para nós. Um banho a dois foi aperitivo. Tomou seu lugar na minha cama numa saudosa e apaixonante noite amor. Por vários momentos nossos corpos estremeceram e nossos gemidos de prazer à muito sufocados na garganta explodiram. Amor para jovem nenhum botar defeito. Saciados entrelaçamos nossas pernas e fizemos uma deliciosa conchinha. Enquanto suas mãos afagam meu rosto e cabelos, sua boca acaricia a minha nuca. E com a vós rouca num sussurro me disse. 
— Meu amor! Nossa casa é uma delícia. Tão agradável e confortável. Tão cheia de amor. Tão encantada como você. 
Assim adormecemos. Na manhã seguinte deixei-o dormindo e levantei. Fui para o banheiro e abri o armário das escovas. Foi grande a minha surpresa ao ver a escova de dentes dele enroscada na minha. Como se tivessem se beijando. Num lindo romance de amor. 

02/08/2018

A VIZINHA

O rádio ligado a meio tom, fazendo a alegria com músicas que há contagiam.

Seus pensamentos parecem se perder no tempo. De vez em quando fica estática, olhando para o nada. Às vezes baila em graciosos e delicados passos, entre o esfregar a roupa no tanque ou estende-la no varal. Penso que lembra alguma paixão ou algum sonho vivo na memória.

A cerca baixa e ripada dividindo nossos quintais me permite vê-la. Eu do meu lado sentado num banco de madeira, fito esta minha paixão. Mulher de meia-idade, o tempo desgastou um pouco sua beleza. Cabelos curtos e loiros, o corpo um pouco gordinho, mas guardando perfeitamente as curvas da juventude.

Seu nome é Miriam! Algumas vezes há ouço discutindo com o marido. Fico triste por isso. Outras vezes logo cedo ela abre a porta e vem para o quintal de vassoura na mão. Se pondo a varrer e a cantarolar. As folhas secas adoram os afagos da vassoura e dançam na valsa do vento.

Saio para o quintal quando a ouço. Sua vós é como uma canção.

— Bom diiiiia seu Carlos!

Respondo-lhe o bom dia, com um sorriso amável. Mas na realidade eu gostaria de-lhe responder.

-- Bom diiiiia! Meu amor.