26/02/2019

SEMPRE VOU LHE DIZER. EU TE AMO



Já quase aos setenta anos, se sentindo no final da vida. O velho senhor nada mais tem a fazer, se não esperar um alerta do tempo, dando-lhe o tombo final. Deixar o corpo cair em ferrugem e dar passagem para a alma, procurar uma nova vida.

Já sem mais alentos não conhece mais o mundo onde nasceu e vê futuro, que só conhecia em filmes de ficções.

Nasceu na época em que arrancavam os dentes, com enormes boticões e a anestesia podia ser um gole de cachaça ou então aguenta a dor e seja homem. Pegou um pós-guerra falta de alimentos, morava num bairro onde asfalto era coisa para rico. Na juventude vieram os encantos dos namoros. Logo após a onda de serenatas e do samba canção. As copas do mundo de cinquenta e oito e sessenta e dois. Logo após, os gostosos bailes de garagem com Beatles, jovem guarda rocks e baladas dos anos sessenta e setenta. A bossa nova, as fotografias coloridas o homem aterrissando sua nave espacial na lua. Viveu no mundo da baioneta ao laser. E hoje no mágico mundo das partículas de luz que revolucionam o futuro.

Sua primeira e inesquecível namorada. O seu primeiro beijo roubado, a mão boba, o primeiro tapa. Mas mesmo assim a primeira paixão. Sonhadora e inesquecível. Um romance gostoso desejoso de abraços e beijos. A mancha de carmim na camisa e a sua morena encantadora do sorriso lindo. Os olhos sensuais o corpo escultural. A deusa do seu coração. Que acabou num dia triste e chuvoso.

Então aceitou o que o destino lhe impôs. Vieram esposa filhos e netos. Missão cumprida. Por final a solidão da velhice. E agora sentado na cadeira do jardim. Na varanda da vida, com o pensamento a voar, lembrando a primeira namorada. Em lamúrias se põe a indagar ao ego.

; -- Onde está você hoje, minha menina. Se estiver velha como eu venha me encontrar. Não importa a velhice, as vaidades. Não importam nossas rugas. Não importam nossas embalagens. Vamos alentar-nos. Venha minha menina, vamos sentir os afagos das nossas mãos acarinhando nossas faces. Precisamos de ternuras e sorrisos neste fim de vida. Venha antes que a vida nos leve. Ou então, nunca mais veremos nossos olhos a nos dizer, eu te amo.


23/02/2019

UMA CHOROSA NOITE ROMÂNTICA

Numa noite de lua fraca e feia, subindo uma das ladeiras da minha vida. Com aperto no coração, lembrava-me de Mariana.

A minha bonitinha dos olhos sensuais, seu sorriso branco e encantador, fazia inveja aos meus amigos.

Meu coração estava apertado, pela briguinha boba que nos impusemos. No final da ladeira parei na esquina, para escutar o saxofone do Geninho, que todas as noites da sua solitária varanda, proporcionava a todos um espetáculo particular.

A vizinhança adorava aqueles concertos. Um sax na noite a tocar uma canção que dizia. " Tu és divina e graciosa, estátua majestosa " Para meus ouvidos, tão suave era essa canção, me dava a impressão de um lamento de amor. Divina e graciosa era a minha Mariana.

Fiquei ali encostado num muro de pintura descascada, que dava a impressão de figuras fantasmagóricas. Acendi um cigarro, companheiro de sabor puxado para chocolates.

Fiquei a sonhar com Mariana, minha luz e dona da minha vida. O sax do Geninho continuou a tocar seus chorosos romances de amor. E eu, acompanhei todo o repertório dançando com a minha Mariana. A bonitinha dos olhos sensuais.

Após algum tempo o sax dormiu. Fez-se silêncio na noite. Acordei para a realidade, com meu coração quebrado, precisando urgente de um afago de amor. Para voltar a bater, sorrindo.


19/02/2019

ORQUESTRA DE RITMOS

 

 

      Barulho da chuva na vidraça. Orquestras de ritmos na janela. Pelo vidro vejo a silhueta cinzenta e embaçada de Miriam. Do seu rosto pouco se vê, os cabelos molhados e escorridos. Olhar cabisbaixo para o solo. Alma limpa, mas molhada está sua alegria. A água fria escorrendo pelo ventre. Roupa ensopada. Desolação! Nostalgia.

      O amor molhado escorrendo pelo corpo. Gelando os ossos. Os pés em desconforto.

      Lágrimas da dor do amor, misturadas com lágrimas de chuva. Em cascatas cintilantes e prateadas. Como pequenos rios, marcando o caminho pelo rosto.

      Molhando e apagando a luz do amor, que consome a sua vida.

      A alma sofre. A noite cai a desolação aumenta. O conforto de um afago está longe da vida. Que não vive mais.

 

      

16/02/2019

NUMA PORTA DO PASSADO

 


A porta do passado se abriu, quando mexendo nos guardados da velha e antiga casa dos meus pais. Encontrei um porta-retratos, com a sua fotografia morando nele. Lá estava teu rosto por anos habitando um quarto empoeirado. Limpei o vidro e... Teus olhos, meu Deus! Os mesmos olhos negros que até hoje procuro nas ruas dos bairros, das cidades do mundo em que ando. Eu me arrepiava todo quando olhavas para mim. Do mesmo jeito que me olhas, deste porta-retratos. Desta fotografia lembro bem. Quando aparecestes sorrindo com teus lindos cabelos negros tosados. Chorei naquele dia, parecia que eu tinha perdido um pedaço de você.

Agora estas aqui comigo. Que bom! Pelo menos vais ficar ao meu lado na mesa de cabeceira. Agora vou tê-la e poder dizer-lhe, bom dia. Este teu sorriso fotográfico será a resposta ao meu bom dia. Tenho certeza, vamos ficar juntos. Até que a minha morte nos separe. Mas mesmo assim vou deixar escrito, talvez alguém leia e entenda esse meu amor. Colocando a tua fotografia junto comigo, no esquife. Para que eu possa continuar ao seu lado na eternidade



13/02/2019

EL RELOJ - UMA LIÇÃO DE AMOR

 


Por pequenas coisas. Por palavras. Por incompreensões. Por besteiras. Por coisas que foram ditas e não cumpridas. Muitas vezes destroem um grande e gostoso amor.

Principalmente quando os protagonistas se amaram desde a juventude E se separaram. E ao longo dos anos, procuraram por um amor como aquele. Porém nunca encontraram. Tentaram de todas as maneiras buscar aquela gostosa felicidade.

Um dia o destino com todos os seus segredos os agraciou com um novo encontro. Mais maduros e parecendo crianças se encontraram novamente. Passando a cuidar um do outro. Então se amararam com toda a força dos seus corações.

Foi o que aconteceu com Roberto Cantoral. Um mexicano compositor da musica LA BARCA. Encontrava-se num hospital onde a sua amada estava diagnosticada por um câncer. E dificilmente sua vida passaria daquela noite.

Na parede da sala de internação um relógio foi testemunha da partida daquele amor. Quando os olhos veem a vida se esvaindo o coração sente e o cérebro procura um apoio. Roberto Cantoral então deu vida novamente à amada naquela noite. Compondo o lindo bolero. EL RELOJ.

A letra da musica diz:


Relógio não marca as horas

Porque eu vou enlouquecer

Ela vai embora para sempre

Quando amanhecer de novo

Nós não vamos hoje à noite

Viver o nosso amor

E seu tic-tac me lembra

Minha dor irremediável


Pare seu caminho

Porque minha vida se apaga

Ela é a estrela

Isso ilumina meu ser

Eu sem seu amor!

Não sou nada. ...  


carlos alberto paduan montou esta pequena crônica apoiado na história do genial talento de ROBERTO CANTORAL.



10/02/2019

PASSOS NA AREIA

 

Andando num fim de mundo, onde parece que a vida ainda não chegou encontrei o amor.

Nesse dia muito triste e distraído, sai a andar pela areia da praia. na beira da água. A cada passo sentia meus pés afundarem na areia como uma massagem. Uma desértica praia nada se avistava a não ser areia e água. Ao longe onde terminava esse fim de mundo só pedras.

Comecei então a conversar com Deus. Cobrei Porquês! Cobrei o destino, cobrei a vida. Está difícil viver nesta solidão de silêncio. Tenho a alma calada e solitária. Sou como um peregrino cansado acho que o tempo e a vida me devem alguma coisa. Não sou uma pessoa má. Errei muito sei por desconhecimento de causa, por inexperiência. Nunca fui vingativo. Muito pelo contrário engoli muito de pessoas, por ser eu um ridículo pacato humano. Também para não perder coisas que conquistei com meu suor.  

Pensando tudo isso não reparei que na minha caminhada tinha mais um par de pés marcando o caminho à minha frente. Passei a seguir aqueles passos. Andei por um dez minutos até o final da praia. Eram pés pequenos e pelos rastros, delicados.  Cheguei às pedras!

Avistei o amor. Estava ali a joia de um tesouro muito bem escondido. Um par de olhos azuis como o céu. Cabelos pretos lisos e compridos. Mas avermelhados pelo sol de todos os dias. Um sorriso encantador e branco como a espuma das ondas a sua pele morena como a orquídea chocolate.

Sentada numa pedra ofuscava as outras a sua volta como o brilho de um diamante bem lapidado.

Ali se acabaram todos os meus maldizeres da vida. O destino me reservou aquele momento, desenhou o amor diante dos meus olhos. Hoje ela é a minha esposa carinhosa que cuida de mim. Como se eu fosse a sua criança. Minha meiga e amorosa companheira. Só tem um defeito!

É uma pimenta! Mas eu adoro pimenta, quando mais ardida, mais cheirosa, mais saborosa, mais gostosa.  

07/02/2019

EUSTÁQUIO E PENOSO

Parece nome de dupla sertaneja, mas não era não! Na realidade Eustáquio era um garoto meio problemático. Mas um bom menino. Jogava bola com a molecada da rua na nossa infância.

Íamos na feira de sexta feira na rua Dené. Tinha lá um senhor que vendia pintinhos. Eram caixas e mais caixas das pequenas aves. Todo mundo comprava as aves, pois naquele tempo era comum criar galinhas no quintal

Chegando já ao final da feira o homem dos pintos dava a sobra para a molecada. Eram pintos que talvez não crescessem. Devido ao confinamento, sede e alimentação. Ficavam doentes e muitas vezes morriam. Ficávamos felizes e levávamos as aves para casa. Na maioria das vezes cresciam e logo tínhamos várias em nossos galinheiros. Volta e meia sumiam algumas que se escondiam nas panelas em cima dos fogões de algumas casas.

Pois bem. Penoso, foi uma dessas aves que cresceu e se apegou a Eustáquio que à criou. O frangote acompanhava seu dono igual a um cachorro. Quando jogávamos bola, Eustáquio aparecia com penoso debaixo do braço. Volta e meia em alguns dribles que ele dava o galo cacarejava, parecia estar tirando uma onda. Um olé como gritávamos nos bonitos lances de drible. Às vezes Penoso dava bicadas na molecada. Na realidade o galo já fazia parte da nossa turma.

Quando Eustáquio fazia gol. Se punha a gritar, jogava o galo para o alto na comemoração. A cena ficava mais gozada porque o galo voava e quando pousava no chão corria atrás do dono e num salto voava de volta ao colo dele.

Surge o dia de perder o amigo Eustáquio para uma mudança de bairro. Quando o caminhão encostou na porta Penoso se assustou e correu para o mato. A mudança foi posta na carroceria e Eustáquio sumiu. Tudo pronto para a partida a família alojada no caminhão e cadê o Eustáquio! O mesmo procurava pelo amigo de penas que sumira.

E lá vem o garoto chorando, dizendo para o pai esperar ele achar a ave. Todos procurando e nada do galo. Aí tive a ideia juntei a molecada e combinamos!

Começamos a jogar bola e logo deixamos o Eustáquio fazer um. Aquele foi seu último gol no nosso time.

--- Gooooool!. Advinha quem apareceu e pulou no colo do dono!

E lá foram eles em cima do caminhão. Eustáquio chorando e abanando a mão nos dando adeus. Nunca mais o vi e nunca mais apareceu outro Penoso para nos divertir.

 

 

 

 

 

04/02/2019

FÉRIAS DE UM ESCRITOR

 Não sei o que aconteceu comigo nestes dias. Sai para descansar! Levei os netos a tiracolo. Fiquei num sítio longe das notícias do mundo. Longe de internet e longe da minha amada.

Senti um vazio tão grande. Tudo que eu havia planejado faltou. Acabei ficando só. A molecada na piscina e eu sozinho, olhando para o mato silencioso. Perdi a inspiração até para escrever.

Numa dessas noites muito quieto no meu silencio. Servi-me de uma dose de uísque e deixei a vida correr. Já no quarto gole a cabeça sonhou. Eu comecei a lembrar da saudade. Por muito tempo ela foi minha companheira fiel de segregar e conversar sobre o amor.

E ela veio. Para um bate papo. Não tão alucinante como no passado. Conversando, eu disse a ela que no passado, quando Deus compôs a história de Cassia na minha vida. Pintou o lindo olhar dela na tela da vida. Para que fosse minha obsessão.

Depois fez seus olhos chorarem como chuva para florir sua cútis lisa e rosada como o rosa da rosa. Então quando namorávamos. No alto majestoso a prata da lua cheia, rasgava a noite romântica com seu clarão. Eu há via no reflexo ao meu lado com o olhar lindo que Deus havia pintado só para mim.

Sabe saudade! Eu escuto uma melodia suave quando há beijo. Tenho a impressão que são trombetas a valsar.  E o beijo então! Hummm! Tem sabor de amor.

Confidenciei ainda que na ausência dela minha alma tem frio e chora. E na solidão, às vezes sinto cansaço de mim mesmo. Como desejaria tê-la neste momento! Ama-la como um louco, ama sua vida louca. Poder cravar minhas garras no seu coração e deixar nosso amor se esvair em sangue. Misturando-se em êxtases.

Pois é amiga saudade. Toma mais dose! Vamos conversar um pouco mais para que eu não me sinta tão solitário. Quem sabe a inspiração se chegue e me ajude a escrever alguma coisa.

 

 

02/02/2019

EU MEU MOLAMBO

 

Quando a dor devora o peito fazendo do corpo um molambo. Vestido numa roupa de saudade rasgada de amor. A mente chora em nostalgia lembrando um violão a tocar uma valsa de solidão ao luar. O corpo solitário e vagabundo chora também lágrimas que ficam perdidas na ilusão da amada voltar.

Mais uma noite de ébrio, poetando em vós alta pelas ruas. Hora chorando rimas ao luar. Ora escutando o vento a assobiar imitando um violino numa valsa de desencanto. A luz dos meus olhos era uma flor com espinhos. Uma rosa que murchou e perdeu seu encanto. Nem a beleza de sua alma deixou como lembrança.

Mais uma noite de ébrio. Olho a lua que me consola, mas também não quer namorar comigo. A garrafa do meu destilado rola pela calçada. E o salão de festas da noite, pontilha o céu de estrelas que tento contar. Canto em serenata para as moças que passam pela minha cama de calçada fria. Às vezes vem à garoa me molhar ou um sereno gelado consumir minhas forças. Eu não peço, mas a saudade vem me atormentar. Às vezes indago a ela onde estará agora meu amor. Talvez aconchegada em outros braços que não são meus.

Lembro-me do olhar dela como uma sombra. Um escombro, que vem a noite, perturbar minha alma.

Deus!  Mediante a minha fraqueza e pobreza de espirito, eu lhe peço. Leve-a deste mundo, para eu poder viver. Ou então me leve logo. Para ela nunca mais ouvir falar deste molambo, que um dia foi seu amor. Fui o fracasso que um dia a desencantou.