27/05/2020

OITAVO CAPITULO DO MEU LIVRO " OS DOIS AMORES DE CARLINHOS "

UMA BRIGA FEIA

                                                                                                                                               

— Carlos Albertô levanta! Está na hora. Era a mãe chamando para a escola. Levantou-se todo mole e sonolento pensando, podia ser sábado ou domingo.

Na volta da escola, ainda sonolento e distraído, sente uma mão pesada bater com força em seu ombro, puxando-o para trás. Desequilibrado quase que caindo sentiu uma trombada no meio da cara e foi ao solo. Os óculos desapareceram. De onde veio aquilo! Meio tonto e caído pode ver o traiçoeiro Cidão partindo para cima dele. Só teve tempo de se levantar e foi agarrado pelo pescoço. Arma mortal do grandalhão que com uma mão agarrava o pescoço do adversário e com a outra esmurrava a cara. E o punho cerrado do mastodonte já vinha em direção a sua cara.

Um ai se ouviu! Carlinhos não entendeu. O ai era do grandão que o soltou e virou se para olhar quem lhe dera um murro nas costas. E Carlinhos pode ver Luís girando a meia de seda sobre a cabeça, parecia uma hélice de helicóptero. Vrum, vrum, vrum. Cidão partiu para cima de Luís, gritando e blasfemando, mas logo deu outro gemido. Desta vez foi Carlinhos, que rodando sua meia acertou as costas do grandão e a seção de cacetadas começou, o brutamontes tentava desviar de uma e tomava da outra. Hora nas pernas hora no peito e nas costas.

Urrando de dor e ódio Cidão conseguiu tomar a meia de Carlinhos que desarmado afastou se. O monstrengo girando a meia partiu para cima de Luís que se afastando dizia.                                                                                                                                                                         

— Entra fio da puta, si tu é home!

Cidão na tinha habilidades com a meia e se enrolou todo nela e foi ai que Luís aproveitou partindo para cima do grandão com socos e pontapés. O brutamonte tomou tantas bordoadas que a boca sangrou e arriou no chão feito um bêbado, que não pode se manter em pé. Com a meia Luís ainda acertou a boca do grandão. Agora sim o sangue corria melando a cara o pescoço e a roupa do Cidão.

Aquela boca grande e enorme de um bebê tamanho família chorando e pedindo para parar! Carlinhos ficou com pena daquela criatura e segurou Luís, suplicando ao amigo que parasse de bater. O suor de Luís escorria e com os olhos flamejantes de raiva ainda deu uma pancada de lambuja na cara do Cidão dizendo esta é pelo Vardemarzinho!                                                                                                           


Carlinhos procurou seus óculos e quando achou, começou a chorar. Estavam quebrados!

— E agora! E agora, meu Deus! Se lamentando. Os óculos já faziam parte do corpo dele, desde os sete anos de idade. Quando em menos de dois dias a miopia tomou lhe conta dos olhos de forma sorrateira e violenta. Da última carteira que sentava na escola, foi obrigado a partir para a primeira, colada ao quadro-negro e mesmo assim não enxergava. O primeiro óculos foi ministrado com sete graus e meio de miopia, as lentes eram tão grossas que ele passou a ser chamado de cinco olhos na escola. E a molecada gozava: dois de carne, dois de vidro e um fedido! O que gerou muita briga, mas quando ele parou de se preocupar com isso, acabou a graça.

 Com os óculos quebrados e o nariz também e sangrando, Carlinhos partia para enfrentar outra guerra! Dona Consuelo!

Luís estava eufórico, pegara o grandão de jeito e já se sentia vingado, pela surra que tomara do mesmo. Carlinhos, com os óculos quebrados na mão, continuava sua marcha para casa. Seu nariz sangrava e doía, rompera-se a cartilagem. Dobrou a esquina começando a subir a ladeira da sua rua, teve que pelo menos, parar de chorar.

Pois, sua dourada estava no portão. A menina viu de longe o estrago na cara do amado correu em seu socorro e com a voz emocionada falou.

— Cailinho do céu! Que houve me diz! Que aconteceu Luís!

— Peguemo u grandão di jeito! Fico sentado no pó. Ca cara pió que a do Calinhô!

— Cailinho, você não está bem, pelo jeito!

— Besteira! Isso não é nada! Responde o amado, com um sorriso doído e limpando o sangue do nariz com a palma da mão.

— Isso passa logo!

— Passa nada Cailinho! Demora, para sarar. Dizendo isso ela tirou um lenço do bolso do vestido branco colocando o no nariz do amado para ajudar a estancar o sangue! Ele riu e agradeceu, dizendo que o melhor remédio naquela hora, era um beijo.

Ela fez cara feia para ele apertando os lábios, mas depois sorriu.                                                                                                                         

— Você não tem jeito Cailinho! Vai logo para a casa curar isso.                                                                                                                                                                  

Ele falou tchau para ela sorrindo e parece que suas dores sumiram a alegria tomou conta do seu coração e o lencinho perfumado de Esmeralda estancou o sangue que ainda escorria.

Luís adiantara o passo para avisar dona Consuelo. Quando Carlinhos chegou ao portão lá estava sua mãe, com um litro de álcool na mão e o Luís tagarelando ao lado dela.                                                                                                                                  

— Tua sorte Carlos Alberto é que hoje, você ganhou. Se tivesse apanhado, ia levar outra surra com meu chinelo de sisal. E dizendo isso dona Consuelo tacou álcool com gaze no nariz do filho, depois sorriu dizendo.

— Quebrou!  Agora vais ficar com o nariz chato. E riu, se divertindo com a cara que o menino fez. Aquilo ardia demais, mas era o remédio para curar, que todos tinham a mão, naquela época.

— E agora mãe!

— Vai ficar roxo!

— Não mãe! Estou falando dos meus óculos! Quando o grandão me pegou pelas costas e me deu o soco, os óculos voaram longe! Como faço sem eles mãe.

E começou a chorar. O mundo sem óculos. Para aquele menino era como se estivesse faltando uma perna ou

um braço. Ele se sentia perdido sem rumo sem orientação sem família.

A mãe vendo o desespero do filho estampado no rosto pegou os óculos e disse a ele que se acalmasse, pois quando o pai chegasse daria com certeza um jeito.                                                   

— Agora vai tomar um banho e enxuga o nariz com a gaze. Não vai encher a toalha de sangue!

Luiz já se preparava, para ir embora e dona Consuelo chamou-o dizendo.

— Obrigada por ser amigo do meu filho! Mas me dá aqui a meia. Vou te dizer uma coisa para você nunca esquecer. Você, nunca viu esta meia na tua vida! Certo!

— Sim senhora.

— Então me dá um abraço e obrigada!

Carlinhos viu aquela cena e ficou com ciúmes. Luís foi para casa, correndo ladeira acima,

— Carlos Albertô! Cadê a sua meia!

— O grandão me tomou mãe, mas ela se perdeu na confusão.

— Está muito bem! Respondeu dona Consuelo e o menino cobrou.

— Não vai me dar um abraço também! Ela riu, dando-lhe um abraço apertado no seu menino.

Quando o pai chegou e tomou conhecimento da situação logo resmungou para a mãe que ia ter chiadeira.

— Que tenha! Quando você vir o tamanho do menino, vais me dar razão, Caetano!

Seu Caetano foi ver o filho, já com o nariz arroxeando. Examinou bem o estrago e disse.

— Vai ficar com o nariz de lutador de boxe! Quebrado!                          

— Não dá para engessar e por no lugar pai! E os meus óculos pai!

— Amanhã eu levo para a ótica! Vamos ver o que vai dar para fazer.

— Vou ficar sem enxergar!

— Vai, o dia todo.

— Droga! Droga!

Não demorou muito bateram palmas no portão A noite caia e seu Caetano foi atender, já estava esperando a bronca. Um monte de gente em burburinho no portão. A luz do alpendre acendeu e seu Caetano notou o Luís e sua mãe dona Dina, o grandão Cidão com a boca arrebentada, outro grandão que devia ser o pai e uma senhora, bem redonda que era a mãe.

Chegaram cheios de razões, com vós alta e cobrando que o seu filho quebrou os dentes do meu menino! Seu Caetano com toda a educação que lhe era peculiar convidou-os a entrar para o alpendre, que era mais claro e todos podiam realmente enxergar um ao outro.

No alpendre, todos se entreolharam e o pai do grandão, logo esbravejou.

— Seu filho e aquele ali. Apontando para o espantado Luís.

— Quebraram dois dentes do meu menino!

Seu Caetano, com calma perguntou ao falador.

— Esse que é o seu menino! Bem crescido né!

Mas o homem não se acalmava e continuou esbravejando e se enchendo de razão. A mulher redonda começou a falar ao mesmo tempo.

Cidão aproveitando se do machismo do pai falador avançou no Luís, mas foi barrado por seu Caetano. Os ânimos se acirraram. Seu Caetano puxa Luís para perto dele a confusão estava esquentando, de repente um grito!

— Vamos parar! - Era dona Consuelo de vassoura na mão. Fez-se silêncio.

— Vamos acabar logo com isso! E resolver essa situação.

Todos se viraram para a mulher que apontando o dedo para Carlinhos que estava do seu lado falou.                                                                      

— Quem vai consertar o nariz e os óculos do meu filho! E levantou os óculos do menino mostrando o em duas partes. Todos olharam para aquela senhora com ar soberano e cara de mau! Ela continuou falando e apontou o dedo para o Cidão dizendo.

--- E você moleque, deu sorte porque pegou meu filho pelas costas e esmurrou-o com os óculos na cara. Já parou para pensar, se o vidro das lentes se quebrasse e furassem os olhos dele!                                               

O pai do grandão virou se para o filho e indagou.                                                            

— Foi esse moleque! Que quebrou os teus dentes!

— Olha o tamanho dele! Olha o estrago que você fez nele!

— E você! Apontando para o Luís.

— Bateu no meu filho com o que! Ele me disse que foi com uma meia, que tinha um ferro dentro.

— Bati cum porrada i chute! Respondeu Luís.

Dona Consuelo pergunta o nome do homem, ele responde que é Ademir.

— Então seu Ademir, tem uma coisa que meu filho quer lhe falar.

— O que é menino! Pergunta o homem.

Carlinhos estava trêmulo e cheio de medo.

— Fala filho! - Disse dona Consuelo colocando a mão no ombro do filho, que com os olhos arregalados falou.

— O Cidão abusa dos meninos pequenos!                                                                                                                                                                                                                                                                         

— Abusa como! - Pergunta o senhor Ademir para o Carlinhos. E dona Consuelo olhando para aquela família de gente feia responde com todo ódio e força, de dentro da sua alma!

— O senhor sabe o que é um tarado!

Seu Ademir arregala os olhos como se tivesse tomado um soco na cara, mas indaga à mulher.

— A senhora sabe o que está dizendo! E dona Consuelo pede para Luís.

— Vá buscar o Valdemarzinho e os cinco irmãos dele. Eles precisam conhecer o monstro que o senhor cria.

A mãe do monstro diz.

— Eu conheço o Valdemarzinho! Ia sempre lá em casa, mas de uns tempos para cá, sumiu!

E dona Consuelo responde.

— A senhora só não conhece o seu filho né! Vocês lembram-se do último tarado que foi pego aqui! Hoje ele mora no cemitério!

— Eu alembro! Mataro na porrada.

— Luise! Fique calado. Diz dona Dina ao filho.

O pai do Cidão ouve tudo calado, com o peito mergulhado num sofrimento difícil de acreditar. Dona Consuelo pede novamente ao Luís para ir buscar o Valdemarzinho. O menino se prepara para sair de perto do seu Caetano.                                                                      

Seu Ademir pede para ele esperar. Vira-se para o filho, dando-lhe um bofetão na cara.

— Está vendo o que você me aprontou!

— Desculpa pai! Pede o Cidão chorando e nitidamente se via os dois dentes quebrados naquela boca inchada.

— Desculpas, não vão pagar o prejuízo, seu safado.

— Eu pago pai com o dinheiro do meu trabalho!

— O prejuízo não é em dinheiro seu idiota! É moral!

Você sabe o que é isso! Não! Você não sabe seu estrume porque você não tem! E seu Ademir continuou falando.                                            

— Você vai se ajoelhar agora e pedir perdão a todos pelo que  aprontou. E se eles não aceitarem você está frito!  Vai ter que convencer a todos ou vai sofrer as consequências sozinho!                                                               

— Ajoelha! Agora! E mais um tapa estrala na cara do grandão. A mulher redonda chora copiosamente e tenta acalmar seu Ademir!

E assim foi feito o valente grandão, tarado e abusado agora estava ajoelhado na frente de todos. Pedindo perdão e as lágrimas corriam pelo seu rosto. Pelo vexame de pedir perdão e principalmente pedia perdão a família de Valdemarzinho  que mesmo não estando presente o pai o obrigara a fazê-lo

Os pais do Cidão choravam pelo castigo que a vida impôs a família, era doído ver um filho naquelas condições, mas era necessário para o momento e assim tentar evitar que um mal maior, pudesse acontecer.

Seu Ademir enxugando as lágrimas com a palma da mão pedia perdão a todos pelo filho e prometia tomar outras providências.                                                                                                                            Ele disse ao seu Caetano mandar fazer uns óculos, novo para o Carlinhos e lhe mandasse a conta. E também pelo serviço médico se preciso fosse. Mais uma vez aquele homem que chegara vomitando razões pelo espancamento do filho monstro, pedia perdão  saindo derrotado e cabisbaixo.

— Boa noite a todos! Hoje não foi um bom dia para minha família.                                                            Carlinhos chorou no momento que aquele homem disse aquelas palavras e pensou; - É preferível morrer a ouvir meu pai dizendo isso de mim.

 No dia seguinte ele não foi à escola e nessa manhã o centro das atenções era Luís. O herói que quebrou dois dentes do grandão. Ele disse para a molecada que o grandão pegara Carlinhos a traição e quebrou o seu nariz e os óculos também. Alguns meninos perguntaram sobre o réu-réu que o Luís usou para arrebentar os dentes do grandão. Luís negou que tivesse usado essa arma que é um barbante de sisal amarrado com duas pedras, uma em cada ponta e quem o manuseia gira o barbante no ar para atacar o opositor na cabeça. Luís perguntou quem viu a briga e ninguém respondeu! E a conversa parou por ali, pois a pedido de seu Caetano, nada devia ser dito sobre a bronca de tarado que o grandão tinha nas costas, Se isso se espalhasse o Cidão nunca mais ia poder sair na rua!                                                                                                             

A partir desse dia Luís passou a ser uma espécie de líder para a molecada.

 obs: Em caso de erros o texto ainda está sendo corrigido - Obrigado!                 

24/05/2020

PROCURANDO O SONHO – ENCONTROU A REALIDADE

 

Um casal de namorados. Deixa eu me explicar. Um casal de idosos namorados e separados.

A vida deu-lhes a chance e pela terceira vez, numa longa caminhada de cinquenta anos, não se entendem. É um amor forte, porém cambaleante. Quando estão juntos brigam, quando separados desejam se juntar.  A dor da saudade e os ciúmes que sentem não lhes deixam ser felizes.

Assim é a vida de Aurora e Alberto. Também não sei se eles se amam tanto assim. Acho que é mais uma forte paixão. Um simples desejo que os atrai para estarem perto um do outro.

No último feriado prolongado Alberto viajou. Foi passar uns dias em Ilha Bela Litoral de São Paulo. Antes passou por uma praia, um lugar especial só dele. Um lugar mágico onde nasceu seu primeiro amor por Aurora.

Ali quando jovens se tocaram pela primeira vez. Trocaram juras de amor e os primeiros beijos. Um canto de praia chamado Pontal da Cruz.

Alberto parou ali rememorando o quanto fora feliz naquele canto de paz ao lado da sua Aurora.

Perdido nesses pensamentos vislumbrou Aurora de costas para ele indo em direção ao mar. Com os cabelos curtos e loiros seu jeitinho de andar e um chapéu de praia palhada.

Não! Não era miragem! Era Aurora mesmo. Saiu como um louco do seu lugar, chamando-a e correndo em sua direção. Aurora virou-se. Ele freou a corrida assustado e sem jeito. Não! Não era Aurora.

Parou diante de uma mulher acima dos cinquenta anos. Pediu um milhão de desculpas. A mulher chamava-se Cristina e sorriu nesse momento o coração de Alberto quase explodiu, quando viu a boca de Cristina sorrindo. Teve enorme desejo de beija-la.

Ali na sua frente estava o sorriso bonito e a boca carnuda de Aurora. O choque foi grande. Até o costume de andar com um cachorrinho no colo era igual o de Aurora.

Alberto então relatou muito rápido sua historia com Aurora.  Cristina sorrindo disse que nunca havia visto uma paquera tão inteligente. Alberto tirou a carteira do bolso e mostrou a foto de Aurora sorrindo.

Ela riu e respondeu para ele. – Garoto de sorte, sua Aurora é bem bonita. É você tem razão! Somos bem parecidas principalmente à boca.

Alberto sorriu e disse – Ainda bem que você não se ofendeu! Obrigado por ser gentil. Já preparando o corpo e os passos para sair dali.

Cristina acendendo um cigarro com os mesmos trejeitos de Aurora disse a ele.

 — Espere! Vamos caminhar um pouco pela praia. E você me conta a historia com a sua Aurora.

— Sabe Alberto! Esta praia é o melhor canto do meu mundo. E saíram a conversar.

Alberto disse a ela que era escritor.

Cristina permitiu-lhe tirar uma foto dela e continuaram caminhando...

 

 


21/05/2020

SÉTIMO CAPITULO DO MEU LIVRO " OS DOIS AMORES DE CARLINHOS "

UM ENCONTRO NA CALADA DA NOITE

 

Os dias foram passando, Luís melhorou e voltou para a escola. Ele e Carlinhos combinaram de enfrentar o Cidão, só se fosse necessário. Mudaram o caminho para a escola, pois pelo caminho normal, tinham que passar obrigatoriamente em frente à casa do grandão. O tempo ia passando e volta e meia Calinhos encontrava uma brecha para ver Esmeralda. Porém a loirinha estava sendo vigiada. A família soube do Cidão. No dia que o Luís enfrentou o brutamonte. Por acaso quem fizera o aparto da briga, foi justamente um irmão de Esmeralda chamado Flávio, Este perguntou ao Cidão o porquê da briga!                                                                                 

 E o grandão lhe contou das intenções de Carlinhos com Esmeralda. Luís por sua vez disse a Flávio que o grandão estava mentindo e que era o próprio mastodonte que cercava a irmã dele na rua. Dizendo a todos que era o dono dela! Flávio deu dois tapas na cara do grandão, que ainda tomou, um soco na boca por tentar reagir.

Depois disso a raiva do Cidão contra a dupla de amigos se transformou em ódio mortal. Um dia os amigos vindos da escola pelo caminho novo foram pegos de surpresa por dona Consuelo que estava fofocando com a comadre Rosa no portão.

— De onde o senhor vem mocinho? Perguntou a Carlinhos!

— Da escola mãe!

— Esse não é o caminho da escola! De onde é que vocês estão vindo E não mintam para mim!

Luís vendo a coisa ficar preta, para o lado do amigo interferiu, dizendo que vinham mesmo da escola.

— E porque pelo caminho mais longo! Indagou a mãe.                                                                                                    

Os dois se entreolharam e depois olharam para ela.                                                                                                                                                                ]

 — Vamos! Eu quero saber?

— Sabe mãe! É que pelo caminho antigo tem um moleque grandão, que quer bater na gente!

— Grandão de que tamanho. Carlos Alberto!

— Do tamanho do meu pai!

— Há há há! E por acaso teu pai é grandão! Carlos Alberto!

— Mas ele é quatro veis, mais forte qui seu Caitano! Disse Luís, com olhos espantados para dona Consuelo.

— Ah! Então ele é forte!

— Forte e grandão mãe! Ele deixou o Luís todo quebrado!                                                                                      

— Então foi esse que bateu no Luís!

— A sóra cunhece ele! Perguntou Luís.

— Sei quem é tua mãe me mostrou ele na feira. Trabalha na barraca de batatas.

— É esse mesmo mãe? Confirmou Carlinhos.

— É grande mesmo! Então depois do almoço o Luís vem aqui para a minha casa, que eu vou ensinar para os dois como se defender de pessoas maiores e abusadas, como esse pateta grandão.

— Agora entra, Carlos Alberto pode trocar de roupa e lavar as mãos.

Carlinhos olhou para Luís e deu um sorriso. Este deu lhe um sinal com a mão e foi para casa. Carlinhos ficou todo feliz, porque a mãe lhe abraçou até a entrada da casa. Dona Consuelo era uma mulher criada por um pai austero e não era acostumada a dar carinhos aos filhos. Não aprendeu a fazer isso na vida. Ela matava por um filho. Mas não sabia abraçá-los e beijá-los.

Luís chegou logo depois do almoço, ele e Carlinhos ficaram conversando sobre futebol, logo apareceu dona Consuelo com um par de meias femininas de nylon nas mãos. Chamou os meninos. Deu na mão do Luís uma das meias mandando que o menino à puxasse até arrebentar. Luís puxou a meia de tudo quanto é jeito ela afinou, mas não arrebentou. Carlinhos também tentou a façanha e nada!            Consuelo então falou para os meninos, que ia ensinar o truque, mas que o segredo dele era a boca fechada.

— Isso é apenas para os grandes e abusados, porque para meninos do tamanho de vocês a briga tem que ser no braço.

— Entenderam!

— Sim senhora! Responderam em coro.

— Então vão procurar uma pedra que caiba na mão de vocês e de preferência lisa sem pontas. E assim os meninos o fizeram. Com um par de meias de nylon femininas. Dona |Consuelo colocou as pedras, uma em cada meia e fez com que elas descessem até o lugar onde ficava o dedão do pé. Feito isso ela pegou a outra extremidade da meia e enrolou na mão e disse aos meninos.

— Agora vamos para o quintal!

Os meninos a seguiram pararam perto de uma pequena árvore. Consuelo levantou o braço onde estava enrolada a meia que zuniu no ar e pimba. Deu uma cacetada na árvore.                                                                                                                                    Depois pontou o dedo indicador apontou para onde tinha batido.

— Vocês estão vendo!                                  

— Veno u que, dona Consuelo! Perguntou Luís espantado.

— Você não viu menino! Que a árvore ficou machucada! E tirou o pedaço da casca lascada que ficara presa ao tronco.

— Então vocês podem imaginar o que isso vai fazer nas pernas do grandão, como vocês o chamam.

— Nas pernas mãe!

— É! Nas pernas! Esbravejou Consuelo. Não quero ninguém na minha porta chorando e reclamando da cabeça quebrada! Vocês me entenderam!

— Sim senhora.                                             

— Então agora fiquem batendo na árvore, até aprenderem a lidar com isso. E vou dizer mais, continuem como estão. Evitando brigar com esse menino.

— Entenderam!

— Sim senhora!

Eles ainda respondiam e dona Consuelo já estava dentro de casa. Ali ficaram os amigos, batendo com as meias na árvore e tomando algumas pedradas quando a meia enroscava e dava repique no corpo deles.

Carlinhos batia na árvore e dizia.

— Toma isso! Grandão safado. Vê se é bom, filho da puta.

Luís acompanhava o jeito do amigo e os dois riam muito. Quando enjoaram, enrolaram a meia em torno da pedra e a guardaram nos bolsos!

— Calinhô, é milho, ninguém sabe disso! Tem muleque qui pode caguetá nóis pru Cidão.

— Minha mãe falou que tinha que manter segredo, não foi.

— É, é foi! Intão vô mimbora! Tchau Calinhô.

Carlinhos passou o resto do dia brincando no quintal e volta e meia tirava a meia do bolso e a lançava contra à arvore.  Foi aprendendo a fazer, o vai e vem com a elasticidade da meia.

À noite, já na cama e nos estúdios "Debaixo das Cobertas", apresentava sua novela com a bela Esmeralda e o bandido Cidão. E marcaram encontro no cemitério, na calada da noite, de lua cheia.

Esse duelo deixava sua amada Esmeralda, sem dormir! Preocupada com seu Kid Poeta!



Os dias passam e Carlinhos sem poder ver Esmeralda. Volta-se, aos seus antigos folguedos com a molecada da rua, mas a dourada não saia da cabeça do menino que volta e meia errava o gol distraído com a paixão. E a molecada caia em cima dele brigando e querendo tirá-lo do jogo.                                                                                                                                      — Cailiiiinho!

Bum! Um susto! Essa voz dava aquele arrepio que descia pelas costas e ia parar no final da bunda. Aquele gostoso sotaque caipira, aquele Cailiiiinho. Deixavam o menino com as pernas bambas.

Ele virou se e respondeu com um sorriso de orelha a orelha.                                                                                                                          

— Diga menina dourada! – Respondeu apaixonado.

— Você sumiu! Vai em casa hoje a noite.

— Tá bom!

— Te espero no muro! Disse ela já indo embora.

— Legal! Tchau dourada! Escutando isso ela olhou para trás e sorriu.

O coração do menino sorriu! Ele pegou a bola e chutou-a para o alto com tanta força, que a gorduchinha subiu mais que o normal! Depois saiu pulando e gritando.

— Gooooooooool! Essa! Nem anjo defende!

A molecada se aninhou a volta dele e ai começaram a chover, palpites e perguntas.

— Você ganhou à lourinha Calinho! Já há beijou! Já passou a mão!                                                                                              

Essas perguntas vieram à tona e Carlinhos respondeu para a molecada que não tinha nada com a loirinha eram apenas amigos. E os moleques resmungaram cada um do seu jeito.

— Se não beijou ainda é trouxa! Se não passou a mão é viado!. É viadinho esse idiota! Falou um dos meninos mais afoito e com inveja.

Não prestou esse comentário nos ouvidos de Carlinhos e a porrada comeu solta entre os dois. Como sempre lá estava Luís, para apartar e por ordem na casa. A molecada tinha medo e respeito por ele.  Acabou o jogo, estragou à tarde, mas Carlinhos não estava nem ai para nada disso. E ainda chamou a molecada numa roda e disse.

— Vocês sabem o que vai acontecer hoje à noite! Então eu só quero saber se o Cidão vai ficar sabendo disso, assim começo a descobrir quem é o traidor entre nós. Todos conhecem as regras ou é amigo ou é alcagueta, se for alcagueta é amigo do capeta.

— E se for alcagueta e capeta eu não quero estar na pele dele amanhã. Quando agente for para a escola.

E foi embora para casa pensando:- Esses invejosos e trouxas, me chamando de viadinho. Tirando o Luís o resto é um bando de idiotas. Eles nunca serão capazes de sentir o que eu trago dentro do meu coração.

Quando a noitinha se fez presente, tomou um banho, trocou de roupa e sentou se na soleira da porta para ouvir, Jeronimo e seu bang-bang do sertão. Quando acabou a mãe desligou o rádio porque começava a hora do Brasil e todo mundo desligava o rádio nessa hora! Carlinhos foi escondido para o quarto da irmã deu um toque do escondido perfume no sovaco e saiu sem sua mãe ver. Se ela sentisse nele o cheiro do perfume era castigo e adeus loirinha. Quando foi chegando perto da casa dela avistou-a, sentada no muro. A noite já se fazia presente e pela fraca iluminação do alpendre ele viu Esmeralda num vestido claro talvez creme.

— Porque você demorou Cailinho!

— Eu estava ouvindo o Jeronimo e quando acabou eu vim!

— Você está muito cheiroso Cailinho, por quê?

— Por tua causa!

— Por minha causa?

— Claro! Você acha que eu ia chegar aqui, todo fedorento e também, porque não consegui esquecer, daquele beijo que você me deu, na última vez que estive aqui!

— Se veio aqui por causa de beijo! Pode ir embora. Eu só queria te avisar, que aquele grandão, o tal do Cidão. Prometeu te dar uma surra.

— Isso, eu já estou sabendo!

— É! E tu, não tens medo dele não!

— Se eu te disser que tenho você vai rir de mim né!

— Não! Porque eu riria de você! Só estou com medo que ele te machuque e por minha causa.

— Não é por sua causa. O mastodonte cismou que vai ser seu dono. E ninguém mais coloca a mão em você.

— Ele que vá esperando sentado! Esbravejou ela.

— Afinal tu tens medo dele Cailinho!

— Não sei! Mas estou evitando encontrá-lo, inclusive eu o Luís mudamos o caminho da escola! Agora passo enfrente a tua casa e evito passar em frente à dele do outro lado da ladeira.

— E agora que você já me deu o recado, eu vou embora!

— Vai mesmo Cailinho! Pergunta ela com a vós melosa.

— Vou! Mas antes disso!

— Antes o que!

— Antes disso eu não saio daqui sem um beijo! Amor da minha vida!                                                                                                                                                                                    

E com as pernas tremendo, segurou nos ombros da menina puxando a para si dando-lhe um beijo gostoso caloroso e melado de amor. A loirinha não esboçou reação e deixou se abater. O menino sentiu os sabores das cocadas da venda da Clarice. O melado da colher de mel que tomava todos os dias pela manhã. E o sabor de hortelã da pasta de dentes da amada.  Ela enroscou os braços no pescoço dele e contraiu com força, seu corpo no dele.  Juntos subiram num altar de puros momentos, num delírio eloquente que tomou conta dos corpos. Jovens e ansiosos de amor. O primeiro momento sublime de amor.

O suor escorreu pelas faces e os anjos disseram amém. Quando suas bocas se descolaram, estavam ofegantes e se entreolharam, com cara de bobos.

— Cailinho do céu! O que é que tu fizeste comigo!

— Só te dei um beijo! Mas estou tremendo até agora!

— Isso não é beijo Cailinho foi sem-vergonhice nossa! E depois você me chamou de amor Cailinho! Estou com vergonha de você.

— Se isso não é amor, então não sei o que é amor! Disse Carlinhos e pediu para que ela colocasse a mão no seu coração, que trepidava mais que o motor do caminhão do Manoel da quitanda. Ouve se uma voz de mãe chamando pela filha. Esmeralda ainda estava com a mão no peito do menino, ele aperta a mão dela contra seu peito e lhe faz um afago no rosto perto dos olhos, sente as lágrimas escorrendo. Com o canto a camisa enxuga os olhos dela e diz.                                                

— Tua mãe vai perceber que você chorou! É melhor você entrar! E beija suavemente os lábios da amada. Ela ainda não largara a mão do namorado e num tchau muito miúdo, falando baixo, girou o corpo em direção à porta de entrada e ali mandou um beijo soprado para Carlinho que estava petrificado, olhando sua santa sumir atrás da porta.        Andou para casa e com o sereno molhado e esfriando seu corpo quente de amor.

Naquela noite ele não dormiu, pensando no acontecido entre ele e a maravilhosa dourada. Começou a fazer planos e montar histórias e sonhos, sobre eles sobre o futuro. Virou-se na cama cochilou e acordou novamente lembrando o beijo que havia dado na amada.

Dormiu e acordou, passou uma desesperada noite que se tornou um tormento. Um campo de batalha contra o dormir e o ficar acordado para sonhar. E finalmente quando o sono lhe abateu o galo cantou e o dia começou a nascer. 


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