27/05/2020

OITAVO CAPITULO DO MEU LIVRO " OS DOIS AMORES DE CARLINHOS "

UMA BRIGA FEIA

                                                                                                                                               

— Carlos Albertô levanta! Está na hora. Era a mãe chamando para a escola. Levantou-se todo mole e sonolento pensando, podia ser sábado ou domingo.

Na volta da escola, ainda sonolento e distraído, sente uma mão pesada bater com força em seu ombro, puxando-o para trás. Desequilibrado quase que caindo sentiu uma trombada no meio da cara e foi ao solo. Os óculos desapareceram. De onde veio aquilo! Meio tonto e caído pode ver o traiçoeiro Cidão partindo para cima dele. Só teve tempo de se levantar e foi agarrado pelo pescoço. Arma mortal do grandalhão que com uma mão agarrava o pescoço do adversário e com a outra esmurrava a cara. E o punho cerrado do mastodonte já vinha em direção a sua cara.

Um ai se ouviu! Carlinhos não entendeu. O ai era do grandão que o soltou e virou se para olhar quem lhe dera um murro nas costas. E Carlinhos pode ver Luís girando a meia de seda sobre a cabeça, parecia uma hélice de helicóptero. Vrum, vrum, vrum. Cidão partiu para cima de Luís, gritando e blasfemando, mas logo deu outro gemido. Desta vez foi Carlinhos, que rodando sua meia acertou as costas do grandão e a seção de cacetadas começou, o brutamontes tentava desviar de uma e tomava da outra. Hora nas pernas hora no peito e nas costas.

Urrando de dor e ódio Cidão conseguiu tomar a meia de Carlinhos que desarmado afastou se. O monstrengo girando a meia partiu para cima de Luís que se afastando dizia.                                                                                                                                                                         

— Entra fio da puta, si tu é home!

Cidão na tinha habilidades com a meia e se enrolou todo nela e foi ai que Luís aproveitou partindo para cima do grandão com socos e pontapés. O brutamonte tomou tantas bordoadas que a boca sangrou e arriou no chão feito um bêbado, que não pode se manter em pé. Com a meia Luís ainda acertou a boca do grandão. Agora sim o sangue corria melando a cara o pescoço e a roupa do Cidão.

Aquela boca grande e enorme de um bebê tamanho família chorando e pedindo para parar! Carlinhos ficou com pena daquela criatura e segurou Luís, suplicando ao amigo que parasse de bater. O suor de Luís escorria e com os olhos flamejantes de raiva ainda deu uma pancada de lambuja na cara do Cidão dizendo esta é pelo Vardemarzinho!                                                                                                           


Carlinhos procurou seus óculos e quando achou, começou a chorar. Estavam quebrados!

— E agora! E agora, meu Deus! Se lamentando. Os óculos já faziam parte do corpo dele, desde os sete anos de idade. Quando em menos de dois dias a miopia tomou lhe conta dos olhos de forma sorrateira e violenta. Da última carteira que sentava na escola, foi obrigado a partir para a primeira, colada ao quadro-negro e mesmo assim não enxergava. O primeiro óculos foi ministrado com sete graus e meio de miopia, as lentes eram tão grossas que ele passou a ser chamado de cinco olhos na escola. E a molecada gozava: dois de carne, dois de vidro e um fedido! O que gerou muita briga, mas quando ele parou de se preocupar com isso, acabou a graça.

 Com os óculos quebrados e o nariz também e sangrando, Carlinhos partia para enfrentar outra guerra! Dona Consuelo!

Luís estava eufórico, pegara o grandão de jeito e já se sentia vingado, pela surra que tomara do mesmo. Carlinhos, com os óculos quebrados na mão, continuava sua marcha para casa. Seu nariz sangrava e doía, rompera-se a cartilagem. Dobrou a esquina começando a subir a ladeira da sua rua, teve que pelo menos, parar de chorar.

Pois, sua dourada estava no portão. A menina viu de longe o estrago na cara do amado correu em seu socorro e com a voz emocionada falou.

— Cailinho do céu! Que houve me diz! Que aconteceu Luís!

— Peguemo u grandão di jeito! Fico sentado no pó. Ca cara pió que a do Calinhô!

— Cailinho, você não está bem, pelo jeito!

— Besteira! Isso não é nada! Responde o amado, com um sorriso doído e limpando o sangue do nariz com a palma da mão.

— Isso passa logo!

— Passa nada Cailinho! Demora, para sarar. Dizendo isso ela tirou um lenço do bolso do vestido branco colocando o no nariz do amado para ajudar a estancar o sangue! Ele riu e agradeceu, dizendo que o melhor remédio naquela hora, era um beijo.

Ela fez cara feia para ele apertando os lábios, mas depois sorriu.                                                                                                                         

— Você não tem jeito Cailinho! Vai logo para a casa curar isso.                                                                                                                                                                  

Ele falou tchau para ela sorrindo e parece que suas dores sumiram a alegria tomou conta do seu coração e o lencinho perfumado de Esmeralda estancou o sangue que ainda escorria.

Luís adiantara o passo para avisar dona Consuelo. Quando Carlinhos chegou ao portão lá estava sua mãe, com um litro de álcool na mão e o Luís tagarelando ao lado dela.                                                                                                                                  

— Tua sorte Carlos Alberto é que hoje, você ganhou. Se tivesse apanhado, ia levar outra surra com meu chinelo de sisal. E dizendo isso dona Consuelo tacou álcool com gaze no nariz do filho, depois sorriu dizendo.

— Quebrou!  Agora vais ficar com o nariz chato. E riu, se divertindo com a cara que o menino fez. Aquilo ardia demais, mas era o remédio para curar, que todos tinham a mão, naquela época.

— E agora mãe!

— Vai ficar roxo!

— Não mãe! Estou falando dos meus óculos! Quando o grandão me pegou pelas costas e me deu o soco, os óculos voaram longe! Como faço sem eles mãe.

E começou a chorar. O mundo sem óculos. Para aquele menino era como se estivesse faltando uma perna ou

um braço. Ele se sentia perdido sem rumo sem orientação sem família.

A mãe vendo o desespero do filho estampado no rosto pegou os óculos e disse a ele que se acalmasse, pois quando o pai chegasse daria com certeza um jeito.                                                   

— Agora vai tomar um banho e enxuga o nariz com a gaze. Não vai encher a toalha de sangue!

Luiz já se preparava, para ir embora e dona Consuelo chamou-o dizendo.

— Obrigada por ser amigo do meu filho! Mas me dá aqui a meia. Vou te dizer uma coisa para você nunca esquecer. Você, nunca viu esta meia na tua vida! Certo!

— Sim senhora.

— Então me dá um abraço e obrigada!

Carlinhos viu aquela cena e ficou com ciúmes. Luís foi para casa, correndo ladeira acima,

— Carlos Albertô! Cadê a sua meia!

— O grandão me tomou mãe, mas ela se perdeu na confusão.

— Está muito bem! Respondeu dona Consuelo e o menino cobrou.

— Não vai me dar um abraço também! Ela riu, dando-lhe um abraço apertado no seu menino.

Quando o pai chegou e tomou conhecimento da situação logo resmungou para a mãe que ia ter chiadeira.

— Que tenha! Quando você vir o tamanho do menino, vais me dar razão, Caetano!

Seu Caetano foi ver o filho, já com o nariz arroxeando. Examinou bem o estrago e disse.

— Vai ficar com o nariz de lutador de boxe! Quebrado!                          

— Não dá para engessar e por no lugar pai! E os meus óculos pai!

— Amanhã eu levo para a ótica! Vamos ver o que vai dar para fazer.

— Vou ficar sem enxergar!

— Vai, o dia todo.

— Droga! Droga!

Não demorou muito bateram palmas no portão A noite caia e seu Caetano foi atender, já estava esperando a bronca. Um monte de gente em burburinho no portão. A luz do alpendre acendeu e seu Caetano notou o Luís e sua mãe dona Dina, o grandão Cidão com a boca arrebentada, outro grandão que devia ser o pai e uma senhora, bem redonda que era a mãe.

Chegaram cheios de razões, com vós alta e cobrando que o seu filho quebrou os dentes do meu menino! Seu Caetano com toda a educação que lhe era peculiar convidou-os a entrar para o alpendre, que era mais claro e todos podiam realmente enxergar um ao outro.

No alpendre, todos se entreolharam e o pai do grandão, logo esbravejou.

— Seu filho e aquele ali. Apontando para o espantado Luís.

— Quebraram dois dentes do meu menino!

Seu Caetano, com calma perguntou ao falador.

— Esse que é o seu menino! Bem crescido né!

Mas o homem não se acalmava e continuou esbravejando e se enchendo de razão. A mulher redonda começou a falar ao mesmo tempo.

Cidão aproveitando se do machismo do pai falador avançou no Luís, mas foi barrado por seu Caetano. Os ânimos se acirraram. Seu Caetano puxa Luís para perto dele a confusão estava esquentando, de repente um grito!

— Vamos parar! - Era dona Consuelo de vassoura na mão. Fez-se silêncio.

— Vamos acabar logo com isso! E resolver essa situação.

Todos se viraram para a mulher que apontando o dedo para Carlinhos que estava do seu lado falou.                                                                      

— Quem vai consertar o nariz e os óculos do meu filho! E levantou os óculos do menino mostrando o em duas partes. Todos olharam para aquela senhora com ar soberano e cara de mau! Ela continuou falando e apontou o dedo para o Cidão dizendo.

--- E você moleque, deu sorte porque pegou meu filho pelas costas e esmurrou-o com os óculos na cara. Já parou para pensar, se o vidro das lentes se quebrasse e furassem os olhos dele!                                               

O pai do grandão virou se para o filho e indagou.                                                            

— Foi esse moleque! Que quebrou os teus dentes!

— Olha o tamanho dele! Olha o estrago que você fez nele!

— E você! Apontando para o Luís.

— Bateu no meu filho com o que! Ele me disse que foi com uma meia, que tinha um ferro dentro.

— Bati cum porrada i chute! Respondeu Luís.

Dona Consuelo pergunta o nome do homem, ele responde que é Ademir.

— Então seu Ademir, tem uma coisa que meu filho quer lhe falar.

— O que é menino! Pergunta o homem.

Carlinhos estava trêmulo e cheio de medo.

— Fala filho! - Disse dona Consuelo colocando a mão no ombro do filho, que com os olhos arregalados falou.

— O Cidão abusa dos meninos pequenos!                                                                                                                                                                                                                                                                         

— Abusa como! - Pergunta o senhor Ademir para o Carlinhos. E dona Consuelo olhando para aquela família de gente feia responde com todo ódio e força, de dentro da sua alma!

— O senhor sabe o que é um tarado!

Seu Ademir arregala os olhos como se tivesse tomado um soco na cara, mas indaga à mulher.

— A senhora sabe o que está dizendo! E dona Consuelo pede para Luís.

— Vá buscar o Valdemarzinho e os cinco irmãos dele. Eles precisam conhecer o monstro que o senhor cria.

A mãe do monstro diz.

— Eu conheço o Valdemarzinho! Ia sempre lá em casa, mas de uns tempos para cá, sumiu!

E dona Consuelo responde.

— A senhora só não conhece o seu filho né! Vocês lembram-se do último tarado que foi pego aqui! Hoje ele mora no cemitério!

— Eu alembro! Mataro na porrada.

— Luise! Fique calado. Diz dona Dina ao filho.

O pai do Cidão ouve tudo calado, com o peito mergulhado num sofrimento difícil de acreditar. Dona Consuelo pede novamente ao Luís para ir buscar o Valdemarzinho. O menino se prepara para sair de perto do seu Caetano.                                                                      

Seu Ademir pede para ele esperar. Vira-se para o filho, dando-lhe um bofetão na cara.

— Está vendo o que você me aprontou!

— Desculpa pai! Pede o Cidão chorando e nitidamente se via os dois dentes quebrados naquela boca inchada.

— Desculpas, não vão pagar o prejuízo, seu safado.

— Eu pago pai com o dinheiro do meu trabalho!

— O prejuízo não é em dinheiro seu idiota! É moral!

Você sabe o que é isso! Não! Você não sabe seu estrume porque você não tem! E seu Ademir continuou falando.                                            

— Você vai se ajoelhar agora e pedir perdão a todos pelo que  aprontou. E se eles não aceitarem você está frito!  Vai ter que convencer a todos ou vai sofrer as consequências sozinho!                                                               

— Ajoelha! Agora! E mais um tapa estrala na cara do grandão. A mulher redonda chora copiosamente e tenta acalmar seu Ademir!

E assim foi feito o valente grandão, tarado e abusado agora estava ajoelhado na frente de todos. Pedindo perdão e as lágrimas corriam pelo seu rosto. Pelo vexame de pedir perdão e principalmente pedia perdão a família de Valdemarzinho  que mesmo não estando presente o pai o obrigara a fazê-lo

Os pais do Cidão choravam pelo castigo que a vida impôs a família, era doído ver um filho naquelas condições, mas era necessário para o momento e assim tentar evitar que um mal maior, pudesse acontecer.

Seu Ademir enxugando as lágrimas com a palma da mão pedia perdão a todos pelo filho e prometia tomar outras providências.                                                                                                                            Ele disse ao seu Caetano mandar fazer uns óculos, novo para o Carlinhos e lhe mandasse a conta. E também pelo serviço médico se preciso fosse. Mais uma vez aquele homem que chegara vomitando razões pelo espancamento do filho monstro, pedia perdão  saindo derrotado e cabisbaixo.

— Boa noite a todos! Hoje não foi um bom dia para minha família.                                                            Carlinhos chorou no momento que aquele homem disse aquelas palavras e pensou; - É preferível morrer a ouvir meu pai dizendo isso de mim.

 No dia seguinte ele não foi à escola e nessa manhã o centro das atenções era Luís. O herói que quebrou dois dentes do grandão. Ele disse para a molecada que o grandão pegara Carlinhos a traição e quebrou o seu nariz e os óculos também. Alguns meninos perguntaram sobre o réu-réu que o Luís usou para arrebentar os dentes do grandão. Luís negou que tivesse usado essa arma que é um barbante de sisal amarrado com duas pedras, uma em cada ponta e quem o manuseia gira o barbante no ar para atacar o opositor na cabeça. Luís perguntou quem viu a briga e ninguém respondeu! E a conversa parou por ali, pois a pedido de seu Caetano, nada devia ser dito sobre a bronca de tarado que o grandão tinha nas costas, Se isso se espalhasse o Cidão nunca mais ia poder sair na rua!                                                                                                             

A partir desse dia Luís passou a ser uma espécie de líder para a molecada.

 obs: Em caso de erros o texto ainda está sendo corrigido - Obrigado!                 

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