06/05/2020

QUARTO CAPITULO DO MEU LIVRO " OS DOIS AMORES DE CARLINHOS "

AMAR SEM FANTASIA

 

Olhos verdes, delírio!

De amor. Sonho ardente!

Abraçar teu corpo, sonhar a melodia!

Amar sem fantasia.

Fica comigo para sempre!

Menina dourada sabor de paixão!

Assinado Carlinhos.

 

Teve que procurar palavras até no dicionário para saber o que escrevia e achou que ter ficado boa a poesia. Depois de gastar quatro folhas de caderno fazendo refazendo e trocando palavras. Agora esconder o papel gasto, para a mãe não achar e brigar pelo desperdício. Outro problema era entregar a poesia para a dourada, como seria fazer isso. Será que ela era acanhada como ele. Colocou a poesia num envelope meio amassado de carta recebida, rabiscou a escrita do destinatário e escreveu em baixo. PARA A DOURADA!

E pensou: - Se ela está estudando à tarde, não demora muito vai passar por aqui.

Sentou-se pelo lado de fora do portão e ficou a espera da dourada. Ela teria que passar por ele na metade da rua. Depois de algum tempo avistou a amada disfarçadamente levantou-se, ensaiou alguns passos, entrou em casa e saiu novamente, para que o encontro fosse de supetão. Só que quando saiu pisou em falso e foi ao chão. Levantou-se rapidamente como um experiente equilibrista. Num segundo estava em pé. A dourada que já estava bem perto deu risada. Carlinhos por sua vez também riu, mas com cara de bobo. E ali naquele instante pareceu surgir uma ponta de cumplicidade entra os dois. Carlinhos foi logo dizendo que não tinha se machucado e estendeu a mão entregando o envelope a amada.

— Olha fiz para você! Disse com voz trêmula.

— O que é isso! Pergunta ela.

— Uma poesia! Gosta de poesia!

— Gosto! Respondeu, pegando o envelope e logo leu o "PARA A DOURADA".

— Quem é dourada! - Perguntou ela enrolando o envelope na mão.

— É você! Desculpe! Eu não sabia teu nome!

— Meu nome é Esmeralda!

— Por isso teu nome é Esmeralda! Por causa da cor dos teus olhos! - Indagou Carlinhos.

 — Sei lá! Disse ela e começou a descer o resto da pequena ladeira na direção de sua casa. O menino ficou tão feliz da vida, porque ela havia aceitado a sua poesia. Achou que seu plano tinha dado certo e sorriu: o sorriso dos apaixonados.

No dia seguinte voltando da escola deu uns pulinhos de alegria, ao avistar Esmeralda subindo a ladeira. Parou e ficou esperando. Ela parou bem pertinho. Nesse momento Carlinhos sentiu o cheiro daquele corpo de menina desabrochando para a vida. Ele ainda não havia reparado no corpo da amada, só de olhar nos olhos verdes dela ficava arrepiado.

— Então! Gostou da poesia? Perguntou Carlinhos.

— Achei muito lindo o que você escreveu! E sorrindo agradeceu ao menino, perguntando de que livro ele havia tirado. Na hora foi um choque para Carlinhos, mas não perdeu a linha e respondeu meio esbravejante.

— De livro nenhum?

— Não acredito que você a fez da sua cabeça! - Disse Esmeralda.

— É lógico que fui eu quem a fez? Fiquei três dias estudando para isso! E se você está duvidando, faço outra agora e mais bonita ainda!

— Então faça! Que eu quero ver! --- Disse a loirinha com cara debochada. Carlinhos ficou com raiva, comprimiu os lábios colocou a mala escolar no chão, pegou o lápis, o caderno de rascunho e perguntou a Esmeralda.

— Diga-me como quer a poesia, mas depois eu vou querer um beijo! E tremia como vara verde balançando no vento.

— Aqui ó! Banana para você! Nunca vais ganhar um beijo meu! Disse a loirinha dobrando o braço para o menino.

— Tá fugindo da raia dourada!

— Meu nome é Esmeralda!

— Para mim é dourada! Vai fugir da raia!

— Não! Não vou fugir da raia! Mas tai! Quero ver uma poesia com o nome de dourada!

— Tudo bem! Eu vou fazer só que depois, quero um beijo!

— Não apostei!

— Apostou? Disse que não ia fugir da raia. O menino pensou por alguns segundos e olhando para aqueles olhos verdes, que o faziam tremer, começou a rabiscar o papel. Ela se chegou um pouco mais junto dele, para ver o que escrevia.

Enquanto escrevia Carlinhos se deleitava em arrepios. Ela ali tão pertinho dele a vontade era de agarrá-la e beijá-la de tudo quanto é jeito. O sangue fervendo as pernas tremendo, escrevendo e olhando de soslaio para aquele doce de leite cheiroso.

 


.— Pronto! Tá ai a poesia com o teu nome! Dourada.

— Para mim é dourada, Esmeralda, cabelo de corda, bochecha vermelha, você é tudo! Agora dá meu beijo! - Ela leu o papel e voltou se para ele dizendo.

— Vou dar é uma banana para você! Aqui não tem nada escrito dourada!

— Você sabe o que é vertical! Pergunta Carlinhos para a loirinha.

— Lógico que sei!

— Então leia a primeira letra de cada linha! Dessa poesia.


 Doce amada!

Ouça meu coração.

Uma batida forte!

Rasgada de paixão.

Ao te ver chegar!

Desejo e emoção!

Arrepio de te amar!


Vila Ré – São Paulo 1.965


— É... Você está certo, Cailinho! Aqui tem dourada e ficou bonita. Isso aqui é verdade Cailinho!

— Meu nome não é Cailinho! É Carlinhos.

— Me desculpa! Mas é meu sotaque! Lá em Maringá onde eu nasci, todo mundo fala o erre com som de i. E você não me respondeu o que te perguntei!

— E você não deu meu beijo!

— Agora não!

— Furou né!

— Não furou nada! À noite eu dou o teu beijo. Vai no meu portão e também vai me responder o que te perguntei.

— Tchau Cailinho! E foi embora subindo a ladeira.

Carlinhos ficou vendo navios sem mar, mas a noite! Ah! À noite! Seu coração menino batia forte e começou a dançar na rua a dança dos índios que assistira num filme de faroeste. Esmeralda na esquina da ladeira olhou para trás e viu Carlinhos dançando, tentou com um aceno de mão chamar a atenção dele, nada... Ela riu da dança. Ele estava bem engraçado. E continuou sua dança, não estava neste mundo, estava no céu. No seu céu particular de felicidade. Depois da dança correu para casa e ficou a pensar que a amada gostava de poesias. Isso foi um tiro certeiro nos seus planos. A mãe o chamou para o almoço, ele não ouviu e com um lápis e caderno na mão já rabiscava outra poesia para Esmeralda.

— Carlos Albertôoo! Um susto, no absorto Carlinhos.

— Quantas vezes!...Eu preciso te chamar para almoçar! Você já está fazendo a lição de casa! Ai meu Deus! Que milagre vai chover e forte!

 E assim Carlinhos passou o resto do dia, afoito e impaciente. Tomou banho sem a mãe mandar esperando a noite chegar. Dona Consuelo reparou. Aquele não era o seu menino que precisava ser mandado dez vezes para atender uma. Anoiteceu finalmente, para delírio do menino. Colocou a melhor roupa que tinha e procurou o escondido perfume que a irmã guardava a sete chaves, tomando outro banho com o líquido cheiroso.

Penteou os cabelos por mil vezes e escovou tanto os dentes que sentiu a gengivas arderem.

Ao sair para a rua, encontrou seu pai chegando do trabalho. O homem, vendo o menino cheiroso e arrumadinho pensou ser dia de festa e respondeu, perguntando!

— Deus te abençoe filho! Onde é a festa.

 — Não é festa não pai! Vou dar um passeio por ai. Tchau pai!

Naquele tempo as ruas não eram iluminadas, apenas tinham brechas de claridades, graças a algumas casas que tinham luz nos alpendres e quintais. As pessoas tinham que conhecer os lugares onde andavam à noite. E também conheciam o jeito de andar da vizinhança, assim podiam identificar quem ia ou vinha na escuridão. Carlinhos era craque nisso, pois havia uma brincadeira entre a molecada para identificar quem vinha no escuro, não valia pessoa da família. O menino não errava uma. E descendo a rua parou na frente da casa da dourada, havia um alpendre e uma brecha de luz iluminava aquele pedaço da rua. Nesse pedaço de clarão ele subia e descia impaciente. Cansou-se do vai e vem e sentou-se numa mureta, que fazia parte da frente da casa. E espera que espera nada da menina aparecer. No alto da ladeira um vulto apareceu e começou a descer, Carlinhos tentou adivinhar quem era, mas estava um pouco longe. Definiu a vestimenta, era de mulher e em brechas de luzes reparou uma mulher loira, de roupa branca e cabelos compridos. Não sabia quem era! O vulto de mulher chegou bem à frente dele e perguntou.

— Quem é você!

— Meu nome é Carlinhos!

— Ah! Você é o Cailinho, o menino poeta! Gostei das tuas poesias! Minha irmã me mostrou. Você é bom escrevendo, parabéns! Vou avisar a Esmeralda que o poeta dela está aqui no portão. Boa noite Cailinho!

— Como é teu nome!

— Zélia! Sou a irmã mais velha!

— Carlinhos ficou envaidecido com o elogio e respondendo o boa noite dela com um sorriso feliz, porque suas poesias agradaram outras pessoas. Não demorou muito, a dourada apareceu na porta. Ele se remexeu todo na mureta balançando os pés.

— Oi! Cailinho!

— Oiii! E um ficou olhando para cara do outro e os dois com cara de bobos.

-– Você vai descer dai ou quer que eu entre! Pum! Num segundo ele estava no chão e em pé, mas continuava com a cara de bobo.

— Você veio aqui receber o teu beijo. Vou dar, mas depois eu entro!

— Então tá! Mas é aqui ó! Falou Carlinhos apontando o dedo para boca.

— Na boca não!

— Se não for na boca, não tem graça! Você quer me dar um beijo de mãe!

 — Não sou sua mãe!

— Então! Tem que ser na boca.

— Tá bom! Então fecha os olhos! Ele fechou, Sentiu o cheiro e uma quentura do corpo da menina se aproximando do seu. Abriu os olhos. Ela recuou. Ele agarrou-a pelo pescoço puxando-a para si. Suas bocas trombaram.

Carlinhos chupou a boca da dourada, puxando e apertando cada vez mais o corpo dela, ao encontro do seu. Ela tentou fugir. Ele com as pernas bambas segurou-a mais forte. Suas bocas se remexiam. Agora era ela quem apertava Carlinhos para si. Ele sentiu o sabor da pasta de dentes dela, um calor enorme lhe subiu pelas pernas. De repente a loirinha coloca as mãos no peito dele e o empurra com força.

— Seu cretino! Ela diz.

— Cretino, por que!

— Estava me deixando sem ar! Isso não é beijo!

— Como é que não é beijo!

— Não sei!

— Isso é beijo igual ao que vi no cinema! O Roy Rogers beijando a namorada!




 

— Isso é beijo de cinema? Cailinho!

— Eu sei que é beijo? Não vim aqui para te dar um beijo de pai!

 — Agora tu podes ir embora porque eu vou entrar!

— Não vou! E teu beijo estava docinho com gosto de hortelã!

— Eu escovei os dentes! Disse ela.

— Tá bom, escovou os dentes para me dar um beijo de mãe!

— Cailinho! Você é um sem vergonha, me apertou toda. Agora pode ir embora! Melhor fica ai? E dizendo isso entrou com o pescoço empinado.

Carlinhos ficou quieto parado e pensando:- Acho que há apertei demais.

Seu coração batia forte, suas pernas ainda bambeavam, sentiu os lábios doidos, ela mordeu os lábios dele! Sua volúpia foi tão grande que quase engoliu a boca inteira da dourada. E pensando tudo isso tomou o rumo de casa, com uma grande alegria e ainda pensou que dava tempo de escutar no rádio a novela Jeronimo o herói do sertão. Com passo mole e pensativo começou a subir a ladeira, estava suado e com os cabelos molhados. Só então percebeu que havia tido outro orgasmo como aquele primeiro de uns dias atrás.

Assim que entrou em casa foi para o banheiro se recompor, parecia que havia sofrido uma febre muito forte. E novamente pensou:- Será isso o amor! Mas se for eu quero morrer feliz.

A novela do Jeronimo já tinha terminado, ele jantou e foi para o quarto. Naquela noite tinha um jogo de futebol do seu querido Corinthians, mas antes, tinha que ouvir o "Direito de Nascer",  a novela que sua mãe escutava, Depois vinha o futebol! Sempre com a narração de Fiori Gigliotti. Mas essa noite ele estava muito emocionado com o beijo que dera em Esmeralda que resolveu ir para o seu estúdio "Em baixo das Cobertas". Agora ele tinha uma nova protagonista. A sua amada Esmeralda. Deliciosos os papéis que ele imaginava escrever para a interpretação da dourada. A imaginação fluía como um relâmpago em sua cabeça e logo já estava pronto a mentalmente interpretar a cena.

--- Blim Blom – Boa noite! (locutor)

--- Este locutor que vos fala é Carlinhos Paduan!

--- Esta é lá rádio Qualquero de Guenos Ayres. Falando dos seus estúdios "Em baixo das Cobertas" Localizado na minha querida Vila Ré – São Paulo – O canto mais bonito do Brasilsilsilsil. – E aguenta o galho que vem propaganda!

--- Para lá catinga del subaco! Talco Ross... Que refresca e suaviza. --- Se você precisa de um bom dentista! Consulte o doutor Glenn Fuça! --- Especialista em caries, pivôs, roletas pife-pafe e sete e meio. Suas dentaduras são tão perfeitas que até dentes cariados tem.

O menino estava tão feliz que nem lembrou, quando chegou o sono.


obs: Em caso de erros o texto ainda está sendo corrigido - Obrigado!

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