27/04/2020

ACRÓSTICO PARA MEU MESTRE

Ontem no teu tempo! Você escreveu.
Lendo-o hoje, a contento. Senti alegria.
A tua arcaica escrita. Suave fantasia.
Versejada como um teorema. Sem problema.
O teu tipo linguajar. É teu modo de versejar!

Basta-me tê-lo! Como professor.
Ídolo da escrita. Meu diretor!
Lente das crônicas! Compôs o hino à Bandeira.
Assim o guardo desde a infância.
Cantando na escola. O hino. Em fila cívica e ordeira.

Academia Virtual de Escritores Brasileiros
Acadêmico Gestor - Carlos Alberto Paduan
Patrono Olavo Bilac
Cadeira-05



23/04/2020

UM AMOR INFINITO


 

 

Passava a maioria das noites acordado ou quando não se debatia na cama até o sono chegar. Os viciosos pensamentos de amor lhe arrasavam.

Selena, não era um amor para ele e sim um imaculado vicio. Era como fumar dois maços de cigarro por dia sem deixar que o sabor do fumo se perca. Costumava meter a cara no trabalho para não lembrar dela.

Assim passou sua vida, embora tivesse conhecido outras garotas. Namorando muitas delas. Casou-se, teve filhos e netos, formando uma linda família. Mas nunca esqueceu Selena.

Porem esta noite perdeu novamente o sono. Debateu-se na cama e não conseguia dormir. Veio o nervoso o corpo cobrou. A pressão subiu o coração acelerou. Medicou-se, mas ainda se sentia mal. Ficou quieto, assustado e bem nervoso quando a imagem de Selena surgiu à sua frente.

Tinha o rosto calmo e sereno. Sorrindo afagava seus cabelos e face. Ele sentiu uma melhora e sorriu. Abraçou a visão como verídica e chorou. Pois realmente à sentiu nos braços.

-- Porque você demorou tanto tempo Selena! Procurei-a por toda a vida, por todos os cantos e por todas as ruas onde andei!

-- Eu sei disso meu amor! Respondeu-lhe. Eu acompanhei e protegi você até os dias de hoje.

-- Não entendo isso Selena! Meu amor.

-- Meu amado! Na noite do nosso baile de formatura, eu estava muito feliz. Havíamos dançado a nossa música. Eu me sentia dançando entra nuvens de felicidade. Tinha a impressão de que não estava na terra.

Meus pais haviam brigado comigo por ter ficado o baile todo ao seu lado. Quando o taxi nos deixou em frente de casa, atravessei a rua pensando em você! Meu amor proibido pelos meus pais. Não olhei para os lados. O baque foi muito forte! Só senti meu corpo voar leve como uma pluma. E assim voei para você. Até hoje te acompanho para todos os lados. Esperando por este momento só nosso para vir busca-lo.

-- Selena? Para ir contigo eu preciso morrer primeiro!

-- Não amor! Basta me dar a mão! Seu corpo já está ali sereno e descansando da vida. Vem amor! Vamos para o nosso cantinho infinito.

21/04/2020

UMA CANÇÃO DA VIDA

 


 

Olhando a vida andar pela janela. Muitas noites o clarão da lua de prata vem me fazer companhia. Nessas noites não preciso acender a luz do alpendre. Infindas lembranças. De um amor que o tempo escondeu de mim.

Fiz tudo para esquecê-lo. Mas não consigo. É uma dor grande, uma saudade que me alucina,

Eu nunca amei porque quis. Simplesmente senti o amor. Não fui eu quem o inventou. Como seria bom poder esquecer um amor que não me ama. Um amor injusto de uma pessoa só. Essa foi a minha ruína. Hoje me lembro do olhar dela como uma lembrança de sorriso que me faz chorar.

Se Deus soubesse da minha tristeza A tristeza de um velho que olha pela janela vendo a vida correr, porque não mais pode andar.

No longínquo passado da minha vida. Vejo um retrato esmaecido. Uma casa velha hoje num total abandono. Virou maloca de sapé e tabuas corroídas, pelo mesmo tempo da minha idade.

Era um poema de amor. Hoje é um poema triste de adeus.

Nas noites escuras uma amargura. Fiz do amor uma saudade de lágrimas como as pedras de um caminho.    

Foi meu primeiro amor criança. Minha vida uma esperança. Um novo poema. Hoje uma saudade enjoada que não sai do peito.

Nesta solidão o sereno misturado as minhas lágrimas caem no meu caminho, enquanto me apoio andando pelo terreiro nas madrugadas frias e sem sono.  Uma saudade, um vazio... 

Pareço eu, um ébrio. Só tenho a lua como esmola para namorar. Às vezes uma garoa fina antecede uma chuva da saudade que molha meu peito.

Antes eu tinha a chuva para florir A paz para pensar e poder ser feliz. Quando eu era sufocado por um gostoso amor. Hoje me sufoco na velhice que o tempo me deixou como herança.

Guardo tudo na alma. Como uma borrasca que a vida como uma fria madrugada, sem alento, reservou para mim. Aqui aceno meu lenço de adeus a esta passagem,

E dou adeus às ilusões desta vida.

 

Vila Esperança – São Paulo SP.

Outono da pandemia de 2.020 -

Do meu quarto - Cela de quarentena

 

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19/04/2020

PANDEMIA INIMIGA OCULTA

 

      Ruas vazias. Um amontoado de prédios sem vida. Silencio! Calados esqueletos de prédios abandonados. Cenário de guerra. Volta e meia olhos espionando das janelas o movimento das perigosas ruas desertas. Cidade morta. Outrora uma linda Avenida majestosa a sorrir para as pessoas. Hoje até o nome Avenida Paulista é sombrio.

Agosto! Uma forte neblina gélida encobria a visão da noite. Um frio geado por toda a parte.

      Denise parou! Vislumbrou na transversal Rua Pamplona, vultos em movimento. Tremeu! Temeu por sua vida. O coração acelerou. O estomago vazio se contraiu. Sentiu queimar na garganta um refluxo acido. Cuspiu um caldo pastoso e amargo que espumou no chão. Agora medo e fome faziam-lhe companhia arrepiando os pelos do corpo.

Pensou em voltar. Voltar para que! Casa! Não há tinha mais. Estavam todos mortos. A casa! Infestada. Invadida pela pandemia que levou a todos.

      A noite caiu, um escuro de sombras. Fantasmagórico. Lembrou-se dos pesadelos quando criança. Acordava com os fantasmas do sono. Gritando. Só se acalmava com o afago da mãe tocando-lhe o rosto.

Continuou andando. Não sente nem a presença de Deus para orar. Com as mãos no bolso do largo e enorme casaco segura firme uma pequena faca de cozinha serrilhada. Suas mãos suadas sentem como areia os farelos do último pedaço de pão duro que carregara há quatro dias.

      Apressou o passo com coragem. Demonstrando que não tinha medo. Os vultos se moviam posicionando de um lado para o outro da esquina. As magras pernas de Denise batiam os pequenos saltos do solado no chão. Seu corpo estava fraco demais, seu estomago se contraia de fome.

      Que seja o que Deus quiser --- Pensou.

Uma lua clara se mostrou. Mostrando fantasmas sombrios nas paredes. As constelações acendiam numa dança de pontilhadas de estrelas. Denise já estava quase em cima dos vultos. Eram três. Olharam-na. Ela não parou de andar, mas encarou os agora visíveis homens.

      Um deles gritou-lhe. Para! --- esticando o braço com a mão espalmada na frente.

      --- Quer comida? --- Disse-lhe o vulto --- Tem aqui! --- apontando o dedo para o chão.

      Ela estancou os passos. Seus olhos mostravam-se firmes e sem medo.

      Olhou para o chão! Jaz um cadáver de mulher pelas manchas escuras e avermelhadas na pele branca já estava mutilado. Voltou o olhar de terror para o homem que lhe havia pedido para parar. Ele tinha boca escorrida de sangue da carne crua mastigada.

Denise correu feito uma louca. Enquanto vomitava as náuseas em ânsias doloridas do que não tinha no estomago. Algumas esquinas a frente do acontecido parou encostando-se a uma parede para tomar folego. As pernas ainda estavam tremulas. Pensativa ficou. :- Não demorou muito para as pessoas perderem o último fio de humanidade. A fome os faz matar assassinar e engolir outros de sua própria raça. Dando um alento as dores da fome.

Denise nunca imaginou como ser humano sair à caça desse tipo de alimento. Racional seria morrer com o estomago implodindo. Numa dor torturadora.

      Após dar um alivio ao corpo na esquina da Rua Itapeva, continuou a caminhada. O endereço da tia era Rua Augusta 396 um prédio antigo de escadarias ainda de madeira protegida por corrimão de balaústres.

Atravessou o lado contrario do Parque Trianon passou diante do MASP e continuou andando. Passou a Rocha Azevedo, Frei Caneca e finalmente começou a descer a Rua Augusta com destino ao bairro da Consolação. A caminhada foi exaustiva. Já se sentia sem forças para dar passos. Numero 784. Os pés estavam duros não os sentia mais. Pareciam congelados. Formigavam. Sentia-se descalça. Parecia bêbada trôpega. Os olhos queriam fechar. O corpo pedindo para deitar. A vida estava indo embora.

      Finalmente o velho prédio estava a sua frente. Eram três andares de escadas de madeira. Degraus velhos rangendo. Apoiada nos balaústres Denise agora feito uma zumbi subia os degraus. Chegava ao primeiro andar. Sentiu o cheiro do saboroso frango assado que sua mãe fazia aos domingos no almoço da família. De joelhos feito uma pagadora de promessas subiu o segundo andar. O cheiro do assado tornava-se cada vez mais acintoso. Parecia um sonho. Sentou-se no primeiro degrau da subida para o terceiro. Via-se numa mesa de um domingo feliz. Diante dos familiares. Na mesa encara o seu premio de felicidade. Uma assada e dourada sobrecoxa de frango. Sentia-a tenra e macia entre os dentes. A mãe lhe sorria exclamando. --- Gostou filha!

      Com o sabor do assado na boca criou coragem e arrastou-se para o terceiro andar agarrada aos balaústres. Já não sentia mais o corpo. 301 a primeira porta. As batidas foram quase inaudíveis. Deitada ao solo do frio piso de ladrilhos em xadrez escutou passos. A porta rangeu pela ferrugem das dobradiças abrindo-se. Seus olhos se fecharam. Seu corpo finalmente descansou com um sorriso frio nos lábios quando ouviu uma conhecida voz de alento.

      --- Denise! Meu Deus!

Carlos Alberto Paduan

Vila Esperança São Paulo.

Escrito no meu quarto cela.

Outono pandêmico de 2.020

 

16/04/2020

OS AMORES DE CARLINHOS

Hoje estou mostrando aos meu amigos o segundo capitulo do meu livro " OS AMORES DE CARLINHOS "





 UM CAMINHÃO DE MUDANÇAS

 

Nossa morada era uma casa simples, que ficava num bairro longínquo e pobre na periferia de São Paulo. Um lugar chamado Vila Ré.

Ruas de terra batida, com muito mato. Terrenos baldios, pouco comércio, asfalto só na avenida principal onde trafegavam os ônibus. Um bairro em formação com poucas casas prontas para morar e outras em construção. Ali numa infância simples e de aprendizado honesto, formou- se muita gente com lealdade e pés no chão. Muitos só tiveram o diploma de grupo escolar, mas se tornaram homens trabalhadores e leais. E desde os tempos de criança a amizade e o companheirismo se aprendiam brincando nas ruas de terra batida e pés descalços. Ainda me lembro de muitas brincadeiras gostosas e apaixonantes, éramos os heróis das ruas. A rua era o nosso brinquedo, nosso desejo a nossa paixão. Uma vida gostosa e sem problemas, tudo era motivo para pular, dançar e cantar, E quando aparecia a nossa rainha da rua! Uma gorduchinha e redonda que pulava e rebatia de pé em pé, A mais fofa, a mais disputada, a mais querida. A bola! A tão linda bola, que levava os meninos as alturas aos sonhos e principalmente ao grito de gooooollll!

Vira a três e acaba a seis, eram assim as partidas. O time que fizesse os seis gols primeiro era o vencedor e a virada, aos três gols mudava o lado do campo, porque a rua era uma ladeira. Dava muita diferença correr com a bola nos pés para cima ou para baixo.

Domingo à tarde. Copa do mundo de 1.962 a seleção brasileira entra em campo contra a forte equipe da Tchecoslováquia. Os nervos estão à flor da pele. A equipe canarinho vai a campo com Gilmar, Djalma Santos, Mauro Zózimo e Nílton Santos. Zito e Didi, Garrincha Vavá Amarildo e Zagalo.

Era dia de festa na rua! A molecada pulava, corria e gritava. Uma euforia sem fim. Começavam a aparecer rádios em todos os quintais, alguns tinham uma luz frontal no alto e a molecada dizia que era um olho na testa. Quando ligava a luz acendia.

Início da partida que Fiori Gigliotti narrava com perfeição, dando a noção exata ao ouvinte o posicionamento dos jogadores dentro do campo.

A cada gol brasileiro a emoção da comemoração e a euforia tomavam conta de todos.

Final de jogo Brasil campeão mundial de 1.962.

Foi nessa paragem que me criei e conheci Carlinhos.

Menino esperto para sua idade e muito sonhador. Tinha muitas ideias maluquinhas. Bem ativo, não trocava os seus sonhos por nada. Era o poetinha da molecada e adorava parábolas, trovas e boemias. 





Nesse dia Carlinhos, como todo brasileiro estava feliz e em festa, porém perguntou-se:- O que é aquilo! Naquelas paragens. E mais raro ainda, um caminhão de mudanças. O caminhão desceu a rua, pequena ladeira de terra batida onde Carlinhos morava. Um caminhão de mudanças! Novidade à vista. Curiosidade e divertimento para aquele fim de mundo. Essa mudança vinha de uma cidade chamada Maringá lá das bandas do estado do Paraná. Por conta da novidade a molecada esqueceu a comemoração do jogo do Brasil e se aninhou à volta do caminhão, que havia estacionado enfrente a casa que era de um amigo, o Eustáquio que se mudara para outro lugar. Da parte de trás do caminhão cobertos por uma lona armada desceram dois rapazes e duas moças. Da cabine, um casal de meia idade que deviam ser os pais da família e duas meninas. Uma novinha que devia ter uns dez anos, a outra mais ou menos a mesma idade de Carlinhos. Cabelos dourados olhos verdes ou azulados, Carlinhos não soube decifrar a cor. Um rosto branco de neve e duas 

bochechas vermelhas. Parecia uma boneca. Foi à paixão do menino.





Enquanto descia do caminhão a boneca olhou para o espantado Carlinhos! Que sentiu um frio arrepio, lhe descer pelas costas e parar no pé da bunda. Uma sensação que nunca havia sentido antes, estático, viu aquela boneca sorrir para ele, parecia uma besta empacada. Um falatório começa e o menino sai do transe, era o pai daquela família, oferecendo um dinheiro para molecada ajudar na descarga do caminhão. O homem disse que eles estavam cansados da longa viagem e que daria um dinheirinho a quem ajudasse.

Carlinhos então tomou a frente e foi logo dando ordens de chefe. Queria entrar naquela casa para ver mais uma vez aquela menina.

— Vamos logo descarregar essa mudança e sem bagunça, para não quebrar nada! A molecada começou o trabalho e Carlinhos incentivava os companheiros a levar os móveis para dentro da casa. Cada vez que ele entrava carregando algo, seus olhos percorriam todos os cantos em busca da preciosa menina dourada. Numa dessas entradas deu de frente com ela. Seu coração disparou num repente a mil por hora. Sentiu novamente aquele arrepio nas costas e seu corpo amoleceu. A menina passou por ele olhou de soslaio, com um sorrisinho de quem estava gostando do que via. Carlinhos saiu da casa e a viu entrar na cabine do caminhão e sumir lá dentro. A noite começava a cair quando a molecada terminou de descarregar a mudança. Cada um que passava no portão, para ir embora recebia uma nota amarelinha de dois cruzeiros. E foi dali para a venda da Clarice, o dinheiro suado da mudança. Muitos doces e balas a festa continuava na pequena rua de terra batida. Caiu à noite de lua clara e estrelada, a molecada se recolhia, um aqui, outro acolá, outros a mãe chamava, Carlinhos também foi caminhando para casa. E logo que se viu só, o pensamento deu uma reviravolta. A menina dourada! Aquela loirinha com cabelo de boneca e pensando nela Carlinhos foi descendo a pequena ladeira. Parou no portão de madeira e olhou para o final da rua e em meio a alguns clarões de luz e sombreadas pode avistar o vulto do caminhão parado. Pensou em ir até lá para ver se a menina dourada ainda estava na cabine. Mas num impulso abriu o portão e entrou para casa. Sua mãe logo resmungou, mandando-o para o banho.

Segunda-feira sete horas da manhã lá vai à molecada para escola. Um quilômetro de ladeira abaixo, e na sola do sapato, andando rápido para não perder a hora. O assunto era seleção brasileira, Brasil campeão não tinha outra coisa para falar nesse dia. Menos para Carlinhos que estava calado, não estava a fim de papo. Ficou de proposito um pouco atrás do grupo de garotos. Mas no seu encalço estava o amigo Luís, que descia rapidamente a ladeira para encontrar à turma.

— Oh Calinhô! Vamo logo! Vamo chega atrasado.

— Pode ir se quiser! Hoje estou a fim de ficar sozinho!

— Qui cá conteceu amigo!

— Nada Luís! Só estou querendo ficar sozinho!

— Bão! Intão vo apressa u passo pra num chegá atrasado na escola!

Carlinhos não conseguia esquecer a menina loira, toda a vez que lembrava, batia aquele arrepio:- Porque essa menina está me deixando assim! O que está acontecendo comigo! -  Pensava distraindo quando de repente! Blém, blém, blém! Era o sino da escola avisando que o portão ia fechar. Partiu em disparada, correndo feito louco caiu, ralando o joelho na terra, mas levantou-se e conseguiu chegar antes de o portão fechar. Foi logo entrando em formação para cantar os hinos, Nacional e da Bandeira. Era obrigação dos alunos de qualquer escola e de todo cidadão brasileiro. Era o ato de civismo mais nobre daquele tempo. Toda criança na idade escolar tinha orgulho de cantar os hinos.

Carlinhos cantava-os, com vós alta e a mão firme sobre o peito.  



Num ar sério, como um adulto responsável.


                         
                                                                                           

 


Os dias foram passando, um grande tédio começou a tomar conta dos seus dias, às vezes num canto ou outro, olhando para o nada. Divagando pensando não sei em que. A mãe notara a diferença no filho e conversou com o pai. Este então indagara se o filho comia direito, se não tinha febres ou estava com o corpo mole. A mãe respondeu que nesta parte ele estava bem, normal.

— Então só fique preocupada se ele tiver alguns sintomas. Falou o pai, e continuou falando.

— O menino está em idade de se modificar! Ele já deve ter visto alguma pomba verde voando por ai! Isso é normal nessa idade. Deixa-o no canto dele.

E de fato o pai estava com a razão, Carlinhos estava apaixonado. Já não era o mesmo menino que corria ladeira acima sem se importar com o cansaço. Gostava de cantar e dançar as músicas que estavam na parada de sucessos. Não era mais o menino sorridente e disposto que todos conheciam. Não tinha mais vontade de jogar bolinha de gude, e deu todas as suas ao amigo Luís, que saiu numa correria para juntar com as dele e contá-las.

Já não tinha mais graça estragar a brincadeira das meninas quando pulavam corda ou brincavam de roda. Não tinha mais graça à brincadeira de pula saco, que Carlinhos se mostrava sempre um bom competidor e na maioria das vezes vencia todas as disputas, mesmo tendo moleques maiores que ele na brincadeira. Era um grande mestre do pula saco.






Um dia na sala de aula a professora dona Dinah abriu um livro de poesias e começou a explicar para os alunos o que eram, odes e rimas poéticas. Falou dos grandes mestres da poesia. Entre eles Machado de Assis. Castro Alves e outros. Explicou aos alunos como transformavam tudo em poesia, até uma vírgula era motivo para poetar. Explicou também aos alunos sobre as poesias românticas que falavam de amor, sonhos e esperança. A importância das rimas. Carlinhos se interessou pelo assunto, e dona Dinah vendo o menino tão compenetrado na aula perguntou lhe, se ele seria capaz de fazer um verso de quatro linhas naquele momento. Os outros alunos se espantaram quando ele assentiu com a cabeça dizendo sim.

— Muito bem Carlinhos! Dou-lhe então, cinco minutos. Está bem! Novamente ele assentiu a cabeça em sinal de tudo bem, Compenetrado pegou o lápis, rabiscou o caderno depois apagou e tornou a escrever e apagou de novo e escreveu outra vez. Levantou a mão em sinal à professora dizendo estar pronta a poesia.

— Muito bem Carlinhos! Então leia a sua poesia para a classe!

Ele levantou-se com o caderno nas mãos e de vós trêmula, iniciou a declamação da ode. 


 

— Vírgula! Um sinal curvo,

Na mesma linha da palavra!

Que separa a frase!

Como se fosse, uma trava!

 

— Muito bem Carlinhos! É um verso estilo Manuel Bandeira, que implantou no Brasil o modernismo poético. - Disse a professora!

O menino perguntou então o que era o modernismo poético.

— Modernismo poético Carlinhos! É a poesia, que já não tem mais muitas rimas ou muito lirismo! É feita com um verso mais livre, com tendências para se poetar em torno de qualquer coisa ou mesmo, até um objeto. Assim como o teu verso da vírgula. Quero dizer que a poesia já não é mais tão melosa, como antigamente e também já não se emprega mais aquele português arcaico. Com o passar das aulas vou explicando tudo isso a vocês.

 




14/04/2020

SAUDADES DOS DIAS DE SOL

 

 

Só ouço ecos na minha mente.

Não consigo ver as pessoas à minha volta.

A chuva cai forte, vejo apenas a sombras nos meus olhos.

Chove saudades dentro de mim.

 

Quero procurar o sol para aquecer minha alma gelada.

Fujo dos dias frios de inverno. Minha alma continua só e doendo.

Nesta hora seria tu o remédio da cura. Quando me lembro do seu sorriso!

Ah! O teu sorriso. Como um dia de verão.

 

Às vezes lembro-me que ficava observando-a dormir.

Parecia que estavas sempre num sonho bom. Parecia sempre sorrir.

Então eu apagava a luz do abajur e me aconchegava no seu corpo quente.

Sentia-me como um passarinho no ninho, aconchegado pelas asas da mãe.

 

Ficava então remoendo minha mente:- Se eu não acordar amanhã. Não quero que ela tenha dúvidas do quanto eu a amo.-Tentava então mostrar-lhe todos os dias o meu amor.

Queria deixar isso gravado nela. Já perdi muitas pessoas no percurso da vida que nunca souberam realmente o quanto eu as amei. Queria mostrar a ela o quanto significou para mim a cada dia do nosso amor.

 

O destino e o tempo não me deixaram tê-la nos dias de hoje. Não existe o amanhã para nós. Porém ela sabe o quanto foi grande meu amor.

 

11/04/2020

CARREGANDO O AMOR, LEVANDO EMBORA A VIDA.

               

Mais um botão neste setembro. Mais uma rosa de primavera. Nunca consegui compor a canção desse jardim. Onde tu! Rosa sorri. E eu! Com medo dos teus espinhos.

Assim os anos passam e as primaveras vão se perdendo no tempo. Carregando o amor. Levando embora a vida.

 Tua imagem distrai os meus dias. Guardo-te na memória, como a canção do meu tempo na terra. És o alimento que minha alma precisa para viver. Tento desvendar o mistério da canção dos teus olhos. Que cegos são, para o meu amor. Porém sinto teu coração sorrir para os meus olhos.

 Assim o tempo silencioso vai passando, cheio de segredos. Até o dia de o meu tempo acabar. Talvez quando o teu sentir se fizer presente. A vida passou.

 

 

06/04/2020

UMA ENTIDADE – A VOLTA DO AMIGO QUE NÃO SEI ONDE MORA

Conto de minha autoria publicado na coletânia da AVEB 

 - ACADEMIA VIRTUAL DE ESCRITORES BRASILEIROS -

  Livro BRASIL EM CONTOS ll 

UM ENCANTO EM CADA CANTO


 

      Depois do impacto da morte de Lorena o tempo era uma agonia. Carlinhos andava sempre cabisbaixo. Parecia uma pessoa sem vida. Ficava a imaginar como teria sido sua vida com Maria Esmeralda. A menina dourada e como seriam seus filhos. Crianças claras com os olhos iguais aos da mãe. Teriam uma vida de ternuras e afagos. Seriam como dois anjos construindo uma família. Outras vezes como teria sido com a revolucionária Lígia. Achava que com ela a vida a dois não teria um paradeiro. Estaria sempre em perigo e correndo de um lugar para outro. Sempre fugindo da polícia política. Achava que diante de tanto terror, filhos nem pensar! Mas se por acaso os tivessem seriam crianças morenas de olhos negros e cabelos lisos.

      Lembrou-se do dia em que Lígia o levara em uma casa de Umbamba. Ali no terreiro assistiram à incorporação de vários caboclos um dos quais apontou para Carlinhos, pedindo que se aproximasse. Assim o fez. Em pé diante da entidade abaixou a cabeça.

      O caboclo pediu que erguesse a cabeça e nunca mais a abaixasse para alguém, a não ser para o Pai Oxalá o mestre. Enquanto dava o passe e as suas orações o caboclo dizia.

--- Só abaixe sua cabeça quando culpado for de algo. Mesmo assim peça perdão pela culpa com a cabeça erguida. Pedir perdão é o reconhecimento do erro. Mas cuidado com os que te perdoarem. Pois poderão jogar pregos no seu caminho. Muitos não sabem perdoar incondicionalmente e sim só da boca para fora.

--- Nunca faça errado meu filho. Para não ter que pedir perdão. Agora vai em paz.

      A cerimônia continuou. Com outras entidades baixando. Logo estavam os Pretos Velhos dando suas consultas. A pedido de Lígia O Preto Velho abençoou o casal. Dando-lhes conforto para as almas e com palavras de incentivos aos dois. Após a benção olhou para Carlinhos e pediu-lhe para escrever o livro da vida. O poeta que há muito não escrevia ficou abismado olhando para a IDENTIDADE. Pensou: - Como ele sabe que eu gosto de escrever.

E falou mais ainda.

--- Quando você escrever a última página traga-a para mim. Porém nosso personagem não deu a devida atenção ao que lhe havia pedido a ENTIDADE.

      Hoje se lembrando desse passado e dos dias de solidão foi até a prateleira onde morava num cantinho o rascunho do seu livro. Onde estão seus escritos poéticos. Pegou-o meio mofado pelo tempo e foi recordando algumas partes. Chorou! Depois muito perturbado lembrou-se de toda sua vida. De tantos porquês! Porque o destino lhe passando sempre a perna. Derrubando seus sonhos, seus encantos. Porque a vida matou tanto a pureza que trazia na alma.

      Será que ficou devendo tanto nas outras vidas. E tinha que pagar nesta. Não achava possível amar tanto e nunca ter um final com felicidade. Foram apenas momentos felizes e depois os choros e sofrimentos pelas perdas dos seus amores. E dos entes que sempre julgara amar. Mas que também não conhecia a realidade do que pensavam dele e com que olhos o viam.

      Seja como for foi à vontade do destino. Não tem mais volta. Pensava que seu círculo se fechara nesta vida. Não havia mais elos de amor na vida de um velho. Acabou então escrevendo a última página como entendera que o Preto Velho do passado havia lhe pedido. Quando na companhia de Lígia.

      Enganou-se mais uma vez. Quanto a pensar que o destino não mais se importava com a sua vida.

 

A ÚLTIMA PÁGINA - ADOREI AS ALMAS

 

      O triângulo de luz se faz presente no conga. Silêncio, Oxalá é Rei é presente. Ogã atabaque inicia a vibração do toque. Cambono prepara a adoração. Louvor as divindades. Aos poucos a luz de Oxalá o Rei invade os corações. Pairando como dádiva aos crédulos presentes. Onde havia dúvida de incrédulos, agora existe a certeza.

 

Agô meu Pai Pedro. Perante a mim num sorriso sereno. Veio como a noite emanando a luz divina. Enviada por Oxalá o Rei.

      Tamanha foi minha emoção diante da divindade, que minhas palavras ficaram presas na garganta. Fechei os olhos que enrijeceram numa câimbra forte. Ouvindo a vós serena do curandeiro que educa. Ensinando a caridade e preservando os encantos da terra. Trazendo no coração o dom da vida, da cor, do costume e a magia de curas das ervas.

 

      Quando consegui falar: Pedi-lhe.

--- Dá-me meu Pai! O remédio para a cura dos lanhos da chibate da vida. Ajuda-me na cura da minha alma despedaçada. Derruba a inveja da força e do mal olhado. Ensina-me o caminho para brilhar sem vingança. Estendeu-me sua mão e eu, a senti, como um choque. Uma convulsão de choro ao recado que me dava.

--- Aqui está feito meu pai. Escrevo esta última página conforme o seu pedido, as correções e erros da minha vida, estão no meu coração junto com a crença. Deposito o meu livro de amores nas tuas mãos e sigo as regras que o destino me impõe.

--- Com a força que me deste ao segurar minha mão. Parto agradecido para o caminho da vitória.  Assim escreveu Carlinhos colocando a página no final do rascunho do seu livro.

      Como sempre perdera o sono. Tomou um medicamento e na madrugada gelada sentou-se na poltrona da sala. Sobre a mesa de centro onde deixara o rascunho velho e mofo, passaram olhos e um par de mãos. Que bateram a poeira do manuscrito e o folhearam. Uma olhada por cima de quem, só

por curiosidade.

--- Está se sentindo melhor!

Foi um grande susto, para quem perdera o sono e se medicara a pouco pela alta da pressão arterial.

--- Fica calmo! Falou o amigo que há algum tempo não vinha para lhe contar ou repassar contos para ele escrever.

--- Senti a sua falta! Estava muito chata a minha vida sem ter alguém para conversar.

--- Estou aqui porque você me chamou.

--- Não te chamei! É difícil para eu entender como você sabe quando estou aflito e tenho meus remorsos e preocupações.

--- Sei de todas as suas dores, mas não compete a mim cura-las. Só você pode fazer isso.

--- Então como eu te chamei.

--- A partir do momento em que você escreveu a Última Página. Conforme foi lhe pedido por uma ENTIDADE no passado. Ao qual você nunca deu atenção. Porque você só faz as coisas quando sofre. Quando padece de afetos. Quando se sente o rejeito do mundo! Porque maltratas tanto o teu corpo e mente!

--- Procuro fazer as coisas certas e no tempo certo!

--- Não parece! Porém não vim aqui para discutir e sim lhe dizer. Que quem sonha como você e escreve seus textos. Também pode inventar a sua história. Então sugiro que você leve seu livro, com a última página escrita a mesma Casa de Umbanda do passado. Ela ainda está lá no mesmo lugar.

--- A propósito dei uma olhadela nesse seu livro! Ele está perfeito. Leve-o com fé e entregue para quem lá o pedir. Estenda com fé a sua mão e pense em realizar o teu sonho. Tchau garoto! E não se esqueça de tomar seus remédios. Fui!

      Pensativo na chegada a Casa das Orações, Carlinhos estava apreensivo. Estava tudo bem modificado. Foi lá também uma das últimas vezes que vira os olhos negros e brilhantes de Lígia. A emoção lhe subiu à cabeça e ele sonhou com lembranças daquele amor inesquecível.

      Os trabalhos se abriram com os CABOCLOS dando os passes. Carlinhos com o livro nas mãos e dirigindo-se na direção do caboclo tropeçou e caiu. Foi socorrido por um senhor calvo e de longa barba acinzentada. O homem estendeu-lhe a mão para que se levantasse e com a outra recolhia o livro que havia se espalhado pelo chão. Diante do CABOCLO denominado ROMPE MATAS. Carlinhos viu o homem que lhe socorrera estender a mão para devolver-lhe o livro. O CABOCLO fez sinal ao homem para que o segurasse as páginas recolhidas.

Ouviu do ogum se aprendera a nunca baixar a cabeça para ninguém e respondeu que sim. Mas não era o mesmo CABOCLO do passado lhe perguntando. Como ele sabia disso! Nunca baixar a cabeça nem para pedir perdão.

      Desta vez o CABOCLO lhe deu outro conselho dizendo-lhe no final do passe.

      --- Só abaixe a sua cabeça para dar a mão a alguém caído ou precisando de socorro. Fazendo um dobalé.

Carlinhos voltou ao seu lugar. O homem que lhe socorrera da queda, estendeu a mão para lhe devolver o livro e sentando-se ao seu lado.

      --- É para você que eu tenho que entregar o meu livro! - Perguntou Carlinhos.

      --- Não sei! - Respondeu o homem.

            --- Meu nome é Mário e sou editor. Se quiser deixar seu livro comigo. Prometo lê-lo com muito carinho.

 

DOBALÉ - Prostrar-se ao chão; cumprimento aos assentamentos dos orixás que consiste em deitar-se ao chão estendido e rolar de um lado para o outro.


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02/04/2020

QUANDO A ALMA DÓI

Conto de minha autoria publicado na coletânia da AVEB 

 - ACADEMIA VIRTUAL DE ESCRITORES BRASILEIROS -

  Livro BRASIL EM CONTOS ll 

UM ENCANTO EM CADA CANTO


 Acordava todos os dias com chicotadas de remorsos marcando seu peito. Lágrimas de saudades queimavam seu rosto, quando escorriam. Porém o que- estava feito, não tinha volta. As lembranças e os bons momentos eram os principais inimigos. Era o que mais lhe doía.

 Da mesma forma na hora de dormir os pensamentos lhe remoíam o cérebro. Achava-se um infeliz, por ter ido em busca dos sonhos e da felicidade, talvez na hora errada.
      No passado quando jovem fez exatamente tudo igual. Deixou tudo de família e a namorada, partindo sem rumo para um desconhecido destino. Não sabendo o que a vida lhe reservava. Nesse outrora os sentimentos, as tristezas e saudades foram vencidos. Sua índole e coerência por ter aprendido a ser leal consigo mesmo lhe ajudaram muito. Encontrou uma pessoa da qual gostou e construiu sua família.

      Hoje, porém a situação é a mesma, mas os laços de família diferentes. No passado foram a mãe os irmãos e a namorada amada. No presente as filhas e os netos. Encontrou a namorada do passado e a felicidade que não teve ao lado dela. Trocou de família novamente indo buscar um sonho. Editar um, pelo menos, dos seus seis livros que estavam em rascunho e mofando numa prateleira.

      Passava dias e dias trancado num quarto. Ao seu redor filhas e netos. Não escutava nem um bom dia. Nem um oi. Era como um robô fazia coisas automaticamente. Sentia-se um invisível, um quadro sem moldura e dentro dela a paisagem que não existia.
      Um aposentado inútil sentia que a coragem de viver lhe abandonava. Ao contrário de quando era importante para sua família. Quando tinha um sonho para todos. Quando todos tinham a mesma opinião em ter um pai ao lado.
      Hoje percebe que cada um tem sua vida própria. E cada um tem uma opinião e uma mágoa para reclamar do que deu ou não para fazer. Vivendo dentro da mesma família. Desacertos entre certos e errados. Pai pra cá, pai pra lá. Pai isso, pai aquilo. Porquês! Cobranças. 

   --- Para tudo! Vocês estão criadas. Tem vida própria. Chega!

 Uma aflição, vontade de fugir para qualquer parte do mundo.

      Às vezes a filha mais velha ia ao quarto, conversava o trivial, era a única que lhe dava mais atenção. Os netos mais novos às vezes eram malcriados e lhe faziam caretas pelas costas. Era um velho ranzinza e chato. Assim sua mãe o ensinara a ser. Um velho macambúzio e sem alegria, que se perdeu no tempo do passado. Quando criança educada era criança calada. 
      Outras vezes a neta mais nova o deixava falando sozinho. Mas o neto! Esse sim era um menino diferente e esperto. Conversavam muito quando ele o levava na escola. Ele adorava conversar com o menino, adorava escutar as conversas dele, os sonhos que tinha na sua cabeça juvenil. 
Ele, porém, nunca teve um pai ou um avô para conversar. Desde os sete anos ia sozinho para o grupo escolar.
      Pior foi o abandono do pai quando os netos ainda eram pequeninos. Ele se incumbira de criá-los e aguentar o rojão com o resto da família. Passeava com os pequenos, levava-os na escola, na praia. Às vezes chorava quando comentavam a falta do pai. Tivera uma boa infância, pobre, porém o pai como um arrimo. Prometera ao Senhor do Mundo cuidar das crianças e mesmo que ele morresse, pediu que deixasse seu espírito aqui, até os pequenos terem vida própria. Assim poderia olhar por eles.

 O neto assim como a neta só tinha atenção para com ele na hora de ir e vir para escola. Em contrário o celular falava mais alto. E o menino fazia do celular o avô, o pai que faltava, a mãe que não dava atenção. Não era esse o menino diferente e esperto que ele gostaria que fosse. 
      Os ventos não deixaram de soprar entre o tempo e a vida. Era como uma voz falando ao seu coração. Um grito de amor chamado liberdade.

 A despedida foi como o lamentoso apito de um trem partindo. Teve a impressão de ter visto a morte trazendo nas mãos, um trapo roto e velho em aceno. Poderosa era a voz do vento que em dueto com a voz do mar entravam janela adentro do ônibus, lambendo seu rosto e esvoaçando seus parcos cabelos. O caminho do destino estava traçado.

 O cheiro de novas terras entrando pelo nariz. O cheiro da terra com flores, com mato. O cheiro do asfalto quente a zumbir com os pneus dos carros girando. Gente pelas soleiras das portas a espiar. Ruas de terra e cachorros magros passeando pelos caminhos. Lembravam-lhe a infância em correria com os pés no chão. Cantos e recantos pobres e felizes. Líricos e bucólicos onde a poesia, da rima é beleza diante da miséria. Eram essas as lembranças dos rascunhos do seu livro de encantos. Era com essa lembrança de ter sido um menino pobre e feliz. Com o contraste da vida dos netos.
      Partiu velho e enferrujado, tão triste como perder uma paixão. Tão triste como abandonar e deixar no abandono a quem ficava. Por isso a noite os fantasmas lhe chicoteiam no sono, nos sonhos, da vida.

 Vida que enruga sua pele curtida de dores do passado.

      Porém a luz no fim do túnel lá estava. O seu encontro marcado com o amor. Lá estava a sua espera no terminal rodoviário. Era uma menina moça de setenta anos. Loirinha num curto vestido branco e azul. Nos pés um par de sandálias de couro completava a vestimenta que estava de acordo com seu sorriso,

 Ele todo apaixonado vendo aquele anjo que fora seu no passado e agora estava ali diante dele depois de cinquenta anos. Seu corpo tremia. Não sabia onde colocar as mãos. Seu espaço era pequeno diante do imenso terminal rodoviário.

      Os cabelos curtos dela há transformaram numa meninota atrevida, que lhe trouxe um avassalador abraço de sonhos. Nesse momento um beijo matou a sede das saudades do passado e da vida. Tão caloroso e frenético que muitos frequentadores do terminal olharam a cena espantados e curiosos. Acho que nunca haviam visto dois velhos jovens apaixonados.

      Compraram as passagens, partindo para um mundo do interior. No trajeto muita conversa, sorrisos e afagos. Beijos e ilusões de esperança de sonhos e amor. Pareciam as duas crianças jovens e enamoradas do passado que o destino se encarregou de separar.

 

Agora a vida lhes dava um novo alento, um amor avassalador acompanhado de meiguices carinhos e encantos. Ele pediu a ela nunca perder o encanto. Nunca perder o sorriso lindo para o mundo. Disse-lhe ainda que nunca duvidasse do seu amor em qualquer situação.

       Dentro de um conto de fadas passaram a viver. Nas noites geladas seus corpos abraçados eram o remédio do aquecimento Nas manhãs geladas seus corpos aquecidos pela cama quente gerava a preguiça do bem-estar.

      Suas peles eram a seda que sentiam quando suas mãos deslizavam em carinhos, viajando pelos seus corpos.

      Assim ele sentia sua namorada que dera o delicado nome de Açucena, Era o encanto carnal complementando seu espírito. Foi-lhe de dada de presente pelo SENHOR DA VIDA.

      A felicidade lhe embala de amor com sua namorada, os sonhos de editar os livros, cada dia afloram mais. Um fora editado. Os mais de cem contos e crônicas andam pela internet da vida em blogs a fazer sucesso. Porém, as lembranças e os bons momentos do passado continuam seus principais inimigos. Fustigando lhe a alma. Se sente culpado e com remorsos, por ter deixado os netos sem a sua presença. Dói na alma pensar que ele faz falta aos pequenos.
      Depois de morar num quarto de quatro paredes mofadas. Sentindo-me na prisão do seu ego. Açucena deu-lhe a liberdade. Amou-a numa aliança dos seus braços em volta do corpo dela. Deu um sim a ela, por toda a vida. Como na frente de Deus se dá no altar. Deu-lhe o respeito. O carinho e amando-a como se a cultuasse.


Porém quando se ama demais. Tornamo-nos enjoativos. Sua Açucena transformou-se numa rosa, colocando para fora todos os seus espinhos. Ferindo-o com palavras, gestos e atitudes.


Seu amor sempre foi sincero ele sempre disse a ela tudo que sentia. Um dia como uma avalanche percebeu que seus encantos acabarem. Desencantaram-se! Manchados, desbotados com alvejante.


      Desencantado! Virou também um desencanto para quem o encantava.
      E assim mais um elo se fechou. Talvez mais um pagamento que deviam em vidas passadas. Perante a dor de amor o final desse filme foi o mesmo do passado. Triste!
     

      Acorda muitas vezes no meio da noite com a pressão alta. Suado se medica e vai para o sofá da sala. Sempre acompanhado de caneta e papel. Tem a impressão que na penumbra pela luz do fraco abajur alguém esta junto dele.

      Agora ele escreve as tristezas da vida. Hoje ele passeia descalço pelas areias da praia. As lembranças afloram. Parece ver ao longe a sua Açucena se aproximando. Junto dessa miragem a brisa fresca da manhã afaga seu rosto. Na volta do passeio embora o sol aqueça seu corpo. A solidão é sua companheira.

 A paisagem é a mesma da partida. A vontade de viver não mais existe. Em outros tempos quando o amor era o encanto, a vida era predominante. Agora tanto faz.

      Esta é a realidade de um escritor que enquanto amava e era amado, não conseguiu escrever uma página sequer dos seus contos e livros. Empregou os sentimentos na vida real para ser feliz. Após o fracasso e a falência do amor. Hoje tem a capacidade de se sentir um condor no seu supremo voo. Tem a capacidade de planar como a libélula e volitar como um espirito de luz. Narrando com precisão todos esses sentimentos.

Eu digo que ele nasceu para escrever e sei que vai colher frutos. Quando alguém ler o que ele escreveu e chorar.