30/11/2018

UMA DOR FORTE NO PEITO

Sentado à mesa da casa de hóspedes, mirava a mata através das grandes portas que davam para o quintal. Pensava aquele seria mais um longo e interminável dia. Um dia triste de pesar. A falta da amada era muito grande dentro do peito velho e carcomido pela vida.

Apaixonou-se novamente quando o tempo já lhe roía a pele. Como num conto fictício de um grande amor. Mergulhou de cabeça em busca da felicidade. A dor da perda era como pisar em cacos de vidros e gemer de dor num silêncio amargo.

Sentiu-se criança amando e por amar demais errou muito. Sentia o amor como uma mãe lhe protegendo. Sugava o sangue da amada para guarda-lo no peito, sentindo-se alimentado de amor.

Amou como um tolo que ama suas besteiras. Como uma estrela que se ilumina no negro espaço. Amou como um guerreiro fazendo do ciúme o inimigo. Amou como um bobo, ama sua vida idiota. Como um rei que ama o seu tesouro. Amou como um palhaço, rindo e fazendo rir a amada.

Amou confiando todos os seus segredos e sorrisos. Amou como um louco cometendo loucuras. Amou como um bailarino, colocando seu corpo em movimentos sensuais e delicados, matando as sedes do amor, numa insaciável guerra de corpos a delirar em desejos apaixonados.

Amou como um lobo defendendo a sua alcateia. Amou tentando cuidar da amada.

Falhou! Porque amou demais.

 

 

27/11/2018

CONVERSANDO COM A MINHA ALMA

 

       Em qualquer canto, lugar, tempo ou hora, me pego assistindo aos meus sonhos. Vejo meu passado, meus entes queridos (ou não...), minhas lembranças, mágoas, alegrias e tristezas, paisagens lindas! Minha alma voa comigo.

 

       Ah, minha alma, minha Fênix! Quando me pego sonhando com as histórias que me contas, misturo tudo num mundo que só existe em mim. Lugares onde passei e outros em que nunca passarei, mas que me descreves como é... Fica tão real e gravado dentro de mim que parece que já estive lá!

 

       Quando tu falas, meu corpo físico, meu eu e meu ego embalam emoções no momento em que escrevo. E se minhas lágrimas não aplaudirem, é porque não senti a escrita.

 

       Lágrimas! Um santo remédio derramá-las. Me fazem saber que estou vivo e sentindo meu mundo complexo. Sorrir com a alegria e chorar pela saudade. Chorar! Cachoeiras de águas salgadas brotam do mais profundo do meu ser, me provocam uma grande emoção por estar vivo, poder sonhar e escrever o meu teatro. Novelas com desfechos doídos, que meus personagens ensaiam: a vida, a emoção, o passado, as dores, as alegrias, entremeados nas linhas do papel, tendo como personagem principal a minha alma!

 

       Eu e minha alma nos encontramos realmente para contar histórias no nosso lugar preferido, no nosso rio das almas. Sempre será este o lugar onde me preparo para a partida. Quero que seja aqui o capítulo final desta viagem.

 

       Penso que tive uma boa vida nesta passagem e, enquanto for possível, vou colocando meus sonhos no papel.

25/11/2018

O CASAMENTO DE NÚBIA, A CIGANA

Um violino geme em frenesi uma flamenca canção. Alardeando os convidados. Mãos em palmas acompanham seu ritmo viril.
A fogueira arde simbolizando força. Núbia avança rapidamente em êxtase sapateado. Envolvendo a todos com um sorriso que penetra pensamentos másculos. A blusa branca de bordados coloridos exibi através do decote. Um par de exuberantes seios deixando Donovan em delírios. As saias vermelhas a farfalham no ar com frenéticos giros do seu corpo. 
O lenço a esvoaçar em forma de véu encobrem e descobrem os segredos do seu rosto.. Paixão melancolia amor pela vida. Segredos escondidos em pensamentos desnudos. Imaginando Donovan a tomar-lhe o corpo. Sua enorme e negra cabeleira rebelde baila como cascata soprada pelo vento. 
Em pose soberba de rainha, tece ao dançar um perfume de desejos. que exala
 no ar. Os homens enfeitiçados pelo aroma começam a dançar como que encantados pelo poder da cigana. 

De repente paira no ar o leque do ato final. Faz-se um silêncio de emoção. A rainha flamenca. Como recatada donzela segue em harmoniosos passos o coração. Num olhar sensual de mistério e romantismo fita Donovan, medindo-o da cabeça aos pés. Mostrando a ele o poder do amor que carrega na alma. 
O homem para, paralisado diante da beleza Vênus de Núbia, Que sorri! 
Mostrando a ele um sim, com um trejeito no rosto. Finalmente Donovan atira seu chapéu para o ar e agarra no colo a esposa. Um frenético beijo apaixonado faz do sentir um sonho. Todos comemoram com gritos e danças a festa de matrimônio. 

 

 

 

                 

23/11/2018

O ANDARILHO UM ANJO VIRA-LATAS

                                                 


A partir dessa foto e da reportagem que li sobre ela, fiquei intranquilo. Pela tristeza da cena, achei que eu deveria dar alguma explicação. Sou uma pessoa que gosta e ama fotos com a mesma força que milhões de donos amam os seus vira-latas. O texto está virando um livro neste exato momento.

Porém achei na foto uma forma de amor difícil de se ver em ser humanos. Tem que ter um enorme amor. Comparado a sabedoria de perdoar incondicionalmente.

Escrevi embaixo da foto uma pequena história para dar-lhe enredo. Fiquei imaginando o que pessoas que amam os cães ficam pensando. Sei que muitos ficaram chocados e até choraram. Ao ver a pureza nos olhos desse cachorro a quem dei o nome de Adonai. 


                                                                                        LENDO A FOTO

 Fomos largados numa manhã gelada, à beira da mata, perto de uma linha de trens. Caminhamos um pouco, farejando o cheiro dos nossos antigos donos. Nos perdemos!

Zira, cansada e com a saúde debilitada, deitou-se nos mourões de sustentação dos trilhos. Fiquei a seu lado tentando a todo custo reanimá-la. Ali era perigoso ficarmos. Não demorou muito, o trem veio na nossa direção. O apito alto e a frente fumegante avisava para sairmos. Zira não tinha forças. Deitei-me a seu lado colocando o focinho em sua cabeça e fiz força para que ela a abaixasse. O trem passou num barulho infernal. Muito assustada, minha companheira criou forças e levantou-se. Voltamos a caminhar no frio. Nossas patas estavam congeladas e doloridas. Fomos em busca de um alento, de um canto quente ou quem sabe uma mão estendida com um resto de sobras de comida. Qualquer mão humana estendida seria motivo de alegria e esperança. Não importa de quem! Não distinguimos raças e credos. Não sabemos o que é a pobreza e a riqueza. Só conhecemos o amor, a lealdade e a fidelidade. É assim que pagamos nossas contas a quem nos ama. Somos anjos calados, vira-latas e andarilhos. Viemos ensinar e dar amor a quem sentir emoção quando olhar nos nossos olhos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 






20/11/2018

CARTA AO AMOR DA OUTRA VIDA

 

Levantou-se as três da manhã com a cabeça fazendo estragos de dor no seu amago. Muito intensa. Pensou ter sido a cerveja na hora do almoço do dia anterior ou então o sanduíche de calabresa no jantar. Para a cozinha foi. Água e analgésico, parada no banheiro e depois sofá da sala.

Sentou-se, relaxou por alguns instantes, logo sentiu a melhora do analgésico trabalhando. Acendeu o abajur e na penumbra viu o calendário da parede.

20 de novembro de 1946. Pegou a caneta e papel na mesa lateral, resolvendo escrever uma carta para a namorada Mariana. Haviam brigado por causa da fila do feijão. Em tempo do pós-guerra faltavam alimentos. Era fila para tudo. Principalmente para a compra de alimentos.

Pediu desculpas à moça por ter acordado tarde e o feijão que prometera comprar para ela, havia acabado. No dia da briga na saída da boate ela furiosa pegou o chapéu dele e atirou-o ao chão, depois pisoteou. Feito isso limpou o carmim da boca no blazer novo dele. Foi embora pisando duro. Deixando-o ali parado na fria madrugada.

Disse na carta que todos cometem erros e não precisava daquela violência contra seu chapéu e blazer. E que também ficou irritado com o show de patinha mimada que ela havia dado. Escreveu que a amava muito e estava com saudades.

Feito isso dobrou o papel deixando-o no móvel. Para posta-lo na manhã seguinte no correio da Avenida Princesa Izabel (RJ ) Perto da boate Vogue onde na saída aconteceu a briga.

Feito isso voltou para a cama. Acordou tarde ainda com a cabeça meio pesada. Sua esposa estava de mal humor. Sentou-se à mesa para o café. A mulher, muito brava interpelou-o perguntado.

--- Quem é essa tal Mariana! Sua namorada por acaso!

Ele disse não saber, não conhecia nenhuma Mariana.

--- Você pensa que sou idiota Rodolfo! Ou está ficando louco!

--- Louca está você Miriam! Com essas perguntas idiotas. Não saio de casa sozinho desde que me aposentei. Não saio de casa sem você. Como é que eu poderia arrumar uma namorada!

--- Aliás a última vez que saímos juntos compramos meu blazer e o chapéu que eu tanto queria.

--- E esta carta senhor sem vergonha! Escrita com a sua letra! É para a sua Mariana meu bem! Disse ela com deboche.

Lendo a carta e assustado Rodolfo perguntou a mulher.

--- Onde você achou isso Miriam?

--- Na sala! No seu cantinho predileto. Disse ela com desdém.

--- Meu Deus! Que dia é hoje!

--- 20 de novembro de 2.018 meu amor! Continuando com o deboche.

--- Você tem razão mulher, quando dizes que estou ficando maluco. E que estas dores de cabeça estão constantes. Amanhã mesmo estou indo ao médico.

 

17/11/2018

UM CORPO ESTENDIDO NO PORTÃO

Uma lua cheia dava penumbra à escuridão. Nunca vira silhueta tão bela no prostíbulo. Sua beleza era como, uma paisagem noturna. Era um martírio tanta beleza, sem poder tocar.

Sua musa ficava no topo da escadaria externa, que terminava numa área do andar superior, do velho casarão que no passado fora a suntuosa mansão do Barão Du Noihá.

Ele dormia há anos, numa cama de mosaico português, forrada de papelão, embaixo de uma porta comercial. Cujo o prédio abandonado, exibia à frontaria, paredes esburacadas e arruinadas pelo tempo. Dali da sua cama que ficava do outro lado da rua em frente ao casarão prostíbulo. Assistia as mulheres oferecendo o corpo e caricias por um dinheiro amassado e nojento, que passava de mão para mão, indo direto para os cofres dos seios caídos, ou sustentados por velhos rotos e desbotados espartilhos.

Assim como gastos e enferrujados eram aqueles corpos femininos. Dali da sua cama camarim, o mendigo assistia todas as noites o teatro da prostituição. Via as mulheres a cantar e gargalhar, com danças que julgavam ser sensuais. Cada uma na sua coreografia, a chamar e atrair machos para o primeiro ato do espetáculo.

Lá no alto da escadaria a sua musa a gingar o corpo num bailado inebriante. Não cansava de assisti-la! Todas as noites a musa dançava para ele.

Num dia de esmola recheada, tomou um banho, cortou os cabelos e a barba e colocou a melhor roupa que estava guardada na sua mala que fedia a mofo. Aguardou a chegada da noite. O teatro se formou as damas da noite saíram dos quartos fétidos do prostibulo, tomando suas posições.

Um gole de cachaça no gargalo da garrafa esquentou seu o corpo, já no segundo, criou coragem. Levantou-se da cama de mosaico, atravessou a rua e começou a subir a escadaria em direção a sua musa. E lá em cima no último degrau da subida! Ofereceu-lhe a garrafa,

Ela aceitou e um gole tomou, fez uma careta pelo sabor que lhe queimou a garganta e abrindo os braços rebolou para o mendigo. Ele abraçou-a. O cheiro do laquê velho, impregnou-lhe o nariz, passou-lhe o dedo na boca borrando o carmim! A musa fingida tremeu fungando seu ouvido, colou os peitos no peito másculo dele.

O mendigo gemeu de satisfação! Sentiu o cheiro azedo do leite de rosas, naquele abraço. Um afago que há anos estava sufocado e guardado no cofre do sentir e na saudade do corpo, judiado pela vida mendiga. Numa espera de anos e anos, ali estava o seu prêmio. Como o doce da infância.

A musa pediu-lhe o dinheiro. A resposta foi seca.

— Não tenho!

Um empurrão!

Desequilibrado, tentou segurar-se em algo. Segurou num vazio. Seu corpo projetou-se, escada abaixo. Rolando no granito velho e sebento dos degraus. Terminou na soleira do velho portão de ferro, num barulhento baque de lata.

Por alguns segundos, inerte. Depois os olhos se abriram.

A musa indolente e insensível estava no alto do seu trono a olha-lo com desdém.

Ele sorriu, vendo a amada a visão. Suspirou, fechou os olhos! Levando para a escuridão final a fotografia do seu amor.

 

 

 

 

 

 

14/11/2018

UM AMIGO QUE NÃO SEI ONDE MORA

Esta noite perdi o sono. Levantei-me e fui para a cozinha, beber um copo com água. Depois caminhei para sala pensando em ler alguma coisa.

Sentei-me no sofá, acendi a luz do abajur e logo senti um forte calor pelo corpo. Pensei ser minha pressão subindo. Mas não! Logo tomei um susto danado. Ali estava me esperando meu amigo das noites que eu perco o sono. Há um bom tempo ele não aparecia. E também nunca havia se apresentado figurativamente. Parecendo um vulto, uma mancha e por volta e meia mostrava-se como pontos de luz.

Não dá para descrever, porém medo dele eu não tenho. Antigamente só ouvia a sua voz. Parece que ele agora está confiando mais em mim.

Disse-me com voz serena e calma, que estava cansado de me contar histórias e resolveu tirar férias. Escrevo muito do que ele me conta.

Porém disse-me que depois de pensar muito, quer escrever um livro. Parece que o enredo é entre os anos quarenta e cinquenta.

Eu disse a ele que já não tenho mais tempo para isso. Pois também tenho muita coisa minha para terminar de escrever. Também não está adiantando nada ter milhões de coisas escritas e ninguém quer publicar. Para que tantos planos na cabeça se logo vou morrer. Depois não interessa mais nada.

O cara ficou brabo comigo dizendo que ia embora e não mais voltaria.

Me confessou que também tinha tantos planos, para escrever vários livros, poemas, crônicas e contos. Acabou morrendo sem poder por seus sonhos em prática. Veio me procurar para fazê-lo por ele. Tornei a repetir que meu tempo é pouco! Por que não procura um cara mais novo para fazer o trabalho.

Continuou brabo e com a fala mais grosseira disse.

--- Não é você que diz que vai morrer com cem anos! E dando risada para o mundo!

--- Sou eu sim! Respondi-lhe.

--- Mas digo isso como uma brincadeira!

--- Há há há ! Só porque você quer! Debochou.

--- Ainda tens muito a escrever e vais perder muitas madrugadas sem sono. Vou continuar ditando o que eu quero que escrevas

--- Tchau! Meu garoto.

Como veio do nada, também se foi para o nada. Indo embora.

Depois disso peguei meu rascunho e em menos de dez minutos escrevi dois pequenos contos. Vieram como uma mágica misteriosa na minha cabeça.

Boa noite!

 

12/11/2018

UM AMOR INFINITO

 

Passava a maioria das noites acordado ou quando não se debatia na cama até o sono chegar. Viciosos pensamentos de amor lhe arrasavam.

Selena, não era um amor para ele e sim um imaculado vicio. Era como fumar dois maços de cigarro por dia sem deixar que o sabor do fumo se perca na boca. Costumava meter a cara no trabalho para não lembrar dela.

Assim passou sua vida, embora tivesse conhecido outras garotas. Namorando muitas delas. Casou-se, teve filhos e netos, formando uma linda família. Mas nunca esqueceu Selena.

Porém esta noite perdeu novamente o sono. Debateu-se na cama e não conseguia dormir. Veio o nervoso o corpo cobrou. A pressão subiu o coração acelerou. Medicou-se, mas ainda se sentia mal. Ficou quieto, assustado e bem nervoso quando a imagem de Selena surgiu à sua frente.

Tinha o rosto calmo e sereno. Sorrindo afagava seus cabelos e face. Ele sentiu uma melhora e sorriu. Abraçou a visão como verídica e chorou. Pois realmente à sentiu nos braços.

-- Porque você demorou tanto tempo Selena! Procurei-a por toda a vida, por todos os cantos e por todas as ruas onde andei!

-- Eu sei disso meu amor! Respondeu-lhe. Eu acompanhei e protegi você até os dias de hoje.

-- Não entendo isso Selena! Meu amor.

-- Meu amado! Na noite do nosso baile de formatura, eu estava muito feliz. Havíamos dançado a nossa música. Eu me sentia dançando entre nuvens de felicidade. Tinha a impressão de que não estava na terra.

Meus pais haviam brigado comigo por ter ficado o baile todo ao seu lado. Quando o táxi nos deixou em frente de casa, atravessei a rua pensando em você! Meu amor proibido pelos meus pais. Não olhei para os lados. O baque foi muito forte! Só senti meu corpo voar leve como uma pluma. E assim voei para você. Até hoje te acompanho para todos os lados. Esperando por este momento só nosso para vir busca-lo.

-- Selena? Para ir contigo eu preciso morrer primeiro!

-- Não amor! Basta me dar a mão! Seu corpo já está ali sereno e descansando da vida. Vem amor! Vamos para o nosso cantinho infinito.

10/11/2018

A CRUZ DO PONTAL

Hoje o destino me trouxe ao lugar do passado onde meu amor descambou em dissabores; de onde grande fatia da minha vida foi desbotando no tempo...
Aqui, nada mudou...
O barulho das ondas e a força das águas ainda são os mesmos daquele dia, maré alta de forte arrebentação. 
As ondas lambendo nossos corpos invadiram a pedra onde estávamos no auge da discussão.
Tentei segurar-te, porém num gesto brusco e irritada te desvencilhaste de mim, pulando da pedra e correndo para a areia.                           
Naquele momento jogaste nosso amor no mar, onde as ondas o arrastaram e afogaram.
Desapareceste correndo pela imensidão arenosa que agora piso massageando com meus pés. Vi tu sumires virando um ponto preto no infinito.
Aqui ficara um pedaço da minha juventude; um desespero na minha alma; um sorriso amarelo na vida. Aqui sumira o pedaço de  ti que morava em mim.
Em prantos, olhando para a cruz de pedra, prometi que só voltaria se contigo ao meu lado. A árvore de abricó, com seus galhos estendidos na minha direção, nascida na rachadura da pedra parecia me convidar para um abraço de adeus. 
Parti do mundo do nosso amor nas asas que o destino me impôs para tentar voar. Deixei para trás teus olhos que eu imaginara seriam os guias dos meus passos. Deixei o teu sorriso, encantado como se fora do anjo dos meus dias de vida. Um final amargo e prematuro da jovialidade.
Hoje, apesar de corroído pelo tempo, meu coração bate forte. A cruz de pedra, que carrega a lenda do tempo e as promessas de amores, tem aos seus pés restos de tocos de velas que iluminaram pedidos. 
A árvore de abricó (que está cinquenta anos mais velha e dando frutos!) abre seus braços para me saudar. Tudo aqui sorri novamente. O mar calmo e a areia massageiam nossos pés. Minhas lágrimas escorrem de felicidade.
Volto hoje de mãos dadas com minha amada.
Meu amor! 

06/11/2018

UMA SURPRESA NOS SONHOS DA SOLIDÃO

Cuidava da casa com certo esmero desde que o marido partira. Passeava todos os dias no quintal e muitas vezes sentindo a solidão lhe fazer companhia conversava com as flores, mimando-as em afagos. O pequeno maltês, um cãozinho peludo, andava aos seus pés e volta e meia parecia sorrir com os carinhos de Lorena, sua patroa.
Muitas vezes passava num pequeno corretor entre seu quarto e a sala. Ali, pendurado na parede clara, estava um porta-retratos. Morando dentro dele, sempre sorrindo, a foto de Amaury, o falecido. Fora um bom pai e bom esposo, mas nunca tocara a fundo o coração de Lorena.
Quando as tardes tranquilas e silenciosas entravam pela porta da casa, seus olhos parados pousavam no nada. Viajavam para um encantado mundo, lembranças do puro e gostoso primeiro amor. 
Onde estaria Carlos agora? Será que está vivo? Meu Deus! Perguntava-se. 
Adorava aquele garoto que tinha tantos sonhos lindos na cabeça. Amava seu sorriso matreiro de amor menino que ele trazia no rosto. Como teria sido sua vida ao lado dele? 
A campainha soa, ela acorda chegando ao fim da sua viagem. Atende o rapaz da floricultura. São rosas!  Acompanhavam-nas um pequeno envelope. Sente o odor de sonhos das mimosas flores. Ao abrir o envelope lê o bilhete. O buquê cai de suas mãos, seu corpo estremece. Ela segura nas grades do portão para não cair. Seus olhos choram copiosamente. Uma emoção  toma conta do seu sentir. 
O bilhete lhe dizia: 
" Ainda tenho saudade! Carlos"