14/11/2018

UM AMIGO QUE NÃO SEI ONDE MORA

Esta noite perdi o sono. Levantei-me e fui para a cozinha, beber um copo com água. Depois caminhei para sala pensando em ler alguma coisa.

Sentei-me no sofá, acendi a luz do abajur e logo senti um forte calor pelo corpo. Pensei ser minha pressão subindo. Mas não! Logo tomei um susto danado. Ali estava me esperando meu amigo das noites que eu perco o sono. Há um bom tempo ele não aparecia. E também nunca havia se apresentado figurativamente. Parecendo um vulto, uma mancha e por volta e meia mostrava-se como pontos de luz.

Não dá para descrever, porém medo dele eu não tenho. Antigamente só ouvia a sua voz. Parece que ele agora está confiando mais em mim.

Disse-me com voz serena e calma, que estava cansado de me contar histórias e resolveu tirar férias. Escrevo muito do que ele me conta.

Porém disse-me que depois de pensar muito, quer escrever um livro. Parece que o enredo é entre os anos quarenta e cinquenta.

Eu disse a ele que já não tenho mais tempo para isso. Pois também tenho muita coisa minha para terminar de escrever. Também não está adiantando nada ter milhões de coisas escritas e ninguém quer publicar. Para que tantos planos na cabeça se logo vou morrer. Depois não interessa mais nada.

O cara ficou brabo comigo dizendo que ia embora e não mais voltaria.

Me confessou que também tinha tantos planos, para escrever vários livros, poemas, crônicas e contos. Acabou morrendo sem poder por seus sonhos em prática. Veio me procurar para fazê-lo por ele. Tornei a repetir que meu tempo é pouco! Por que não procura um cara mais novo para fazer o trabalho.

Continuou brabo e com a fala mais grosseira disse.

--- Não é você que diz que vai morrer com cem anos! E dando risada para o mundo!

--- Sou eu sim! Respondi-lhe.

--- Mas digo isso como uma brincadeira!

--- Há há há ! Só porque você quer! Debochou.

--- Ainda tens muito a escrever e vais perder muitas madrugadas sem sono. Vou continuar ditando o que eu quero que escrevas

--- Tchau! Meu garoto.

Como veio do nada, também se foi para o nada. Indo embora.

Depois disso peguei meu rascunho e em menos de dez minutos escrevi dois pequenos contos. Vieram como uma mágica misteriosa na minha cabeça.

Boa noite!

 

Nenhum comentário: