A partir dessa foto e da reportagem que li sobre ela, fiquei intranquilo. Pela tristeza da cena, achei que eu deveria dar alguma explicação. Sou uma pessoa que gosta e ama fotos com a mesma força que milhões de donos amam os seus vira-latas. O texto está virando um livro neste exato momento.Porém achei na foto uma forma de amor difícil de se ver em ser humanos. Tem que ter um enorme amor. Comparado a sabedoria de perdoar incondicionalmente.
Escrevi embaixo da foto uma pequena história para dar-lhe enredo. Fiquei imaginando o que pessoas que amam os cães ficam pensando. Sei que muitos ficaram chocados e até choraram. Ao ver a pureza nos olhos desse cachorro a quem dei o nome de Adonai.
LENDO A FOTO
Fomos largados numa manhã gelada, à beira da mata, perto de uma linha de trens. Caminhamos um pouco, farejando o cheiro dos nossos antigos donos. Nos perdemos!
Zira, cansada e com a saúde debilitada, deitou-se nos mourões de sustentação dos trilhos. Fiquei a seu lado tentando a todo custo reanimá-la. Ali era perigoso ficarmos. Não demorou muito, o trem veio na nossa direção. O apito alto e a frente fumegante avisava para sairmos. Zira não tinha forças. Deitei-me a seu lado colocando o focinho em sua cabeça e fiz força para que ela a abaixasse. O trem passou num barulho infernal. Muito assustada, minha companheira criou forças e levantou-se. Voltamos a caminhar no frio. Nossas patas estavam congeladas e doloridas. Fomos em busca de um alento, de um canto quente ou quem sabe uma mão estendida com um resto de sobras de comida. Qualquer mão humana estendida seria motivo de alegria e esperança. Não importa de quem! Não distinguimos raças e credos. Não sabemos o que é a pobreza e a riqueza. Só conhecemos o amor, a lealdade e a fidelidade. É assim que pagamos nossas contas a quem nos ama. Somos anjos calados, vira-latas e andarilhos. Viemos ensinar e dar amor a quem sentir emoção quando olhar nos nossos olhos.
Tudo o que escrevo vem da minha alma; é um gozo transmitir o que sinto. Quando a saudade bate no meu peito eu choro, revivo as passagens de amor na chuva e na praia; dos momentos em que a vida se tornava uma seda deslizando suavemente sobre minhas paixões; das escuras ruas de paralelepípedos; dos bondes da minha infância; das mulheres modernas e lindas em fotos branco e preto; das noivas, das meninas e das alegrias dos amores puros e sorridentes. Sinto falta de mim mesmo quando eu era o passado.
23/11/2018
O ANDARILHO UM ANJO VIRA-LATAS
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