20/11/2018

CARTA AO AMOR DA OUTRA VIDA

 

Levantou-se as três da manhã com a cabeça fazendo estragos de dor no seu amago. Muito intensa. Pensou ter sido a cerveja na hora do almoço do dia anterior ou então o sanduíche de calabresa no jantar. Para a cozinha foi. Água e analgésico, parada no banheiro e depois sofá da sala.

Sentou-se, relaxou por alguns instantes, logo sentiu a melhora do analgésico trabalhando. Acendeu o abajur e na penumbra viu o calendário da parede.

20 de novembro de 1946. Pegou a caneta e papel na mesa lateral, resolvendo escrever uma carta para a namorada Mariana. Haviam brigado por causa da fila do feijão. Em tempo do pós-guerra faltavam alimentos. Era fila para tudo. Principalmente para a compra de alimentos.

Pediu desculpas à moça por ter acordado tarde e o feijão que prometera comprar para ela, havia acabado. No dia da briga na saída da boate ela furiosa pegou o chapéu dele e atirou-o ao chão, depois pisoteou. Feito isso limpou o carmim da boca no blazer novo dele. Foi embora pisando duro. Deixando-o ali parado na fria madrugada.

Disse na carta que todos cometem erros e não precisava daquela violência contra seu chapéu e blazer. E que também ficou irritado com o show de patinha mimada que ela havia dado. Escreveu que a amava muito e estava com saudades.

Feito isso dobrou o papel deixando-o no móvel. Para posta-lo na manhã seguinte no correio da Avenida Princesa Izabel (RJ ) Perto da boate Vogue onde na saída aconteceu a briga.

Feito isso voltou para a cama. Acordou tarde ainda com a cabeça meio pesada. Sua esposa estava de mal humor. Sentou-se à mesa para o café. A mulher, muito brava interpelou-o perguntado.

--- Quem é essa tal Mariana! Sua namorada por acaso!

Ele disse não saber, não conhecia nenhuma Mariana.

--- Você pensa que sou idiota Rodolfo! Ou está ficando louco!

--- Louca está você Miriam! Com essas perguntas idiotas. Não saio de casa sozinho desde que me aposentei. Não saio de casa sem você. Como é que eu poderia arrumar uma namorada!

--- Aliás a última vez que saímos juntos compramos meu blazer e o chapéu que eu tanto queria.

--- E esta carta senhor sem vergonha! Escrita com a sua letra! É para a sua Mariana meu bem! Disse ela com deboche.

Lendo a carta e assustado Rodolfo perguntou a mulher.

--- Onde você achou isso Miriam?

--- Na sala! No seu cantinho predileto. Disse ela com desdém.

--- Meu Deus! Que dia é hoje!

--- 20 de novembro de 2.018 meu amor! Continuando com o deboche.

--- Você tem razão mulher, quando dizes que estou ficando maluco. E que estas dores de cabeça estão constantes. Amanhã mesmo estou indo ao médico.

 

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