09/05/2020

QUINTO CAPITULO DO MEU LIVRO " OS DOIS AMORES DE CARLINHOS "

CIDÃO O BRUTAMONTES

Na manhã seguinte a caminho da escola, a conversa da molecada era sobre Jeronimo o herói do sertão. Carlinhos em separado conversava com Luís dizendo para o amigo do beijo, que dera na dourada na noite anterior. Luís falou para Carlinhos que Cidão estava interessado na loirinha, e avisou que, quem pusesse a mão na menina, ia se ver com ele. Cidão era um moleque maior que a idade e mais novo que Carlinhos. Crescera demais, e por causa do seu avantajado tamanho, batia e abusava dos moleques. Principalmente dos pequenos, que na maioria das vezes viravam seus escravos, com medo de apanhar e algumas vezes serem estuprados. Carlinhos perguntou ao Luís! 
— E então! Você vai me entregar para o Cidão!
— Vô não Calinhô! Sô teu amigo e também num vô cá cara do Cidão!
— Então meu amigo é só você que sabe, o que acabei de te contar. Fica como um segredo tá!
— Tá bom Calinhô! Mas ocê toma cuidado pros moleques num ti vê, cum a lorinha!
— Isso pode deixar comigo, só quero confiar em você amigo.
O tempo ia passando, agora Carlinhos já se sentia mais confiante em relação a Esmeralda. Ele havia perguntado à amada, se ela, estava aborrecida com ele no dia do beijo. E se ele há apertara demais. Achou que ela ficara tão braba, por tê-la machucado. Ela respondeu que estava tudo bem. Carlinhos fez uma nova poesia para a amada, só que desta vez a loirinha não respondeu. Ele ficou meio aborrecido.
Certo dia distraidamente Carlinhos conversava com Luís no portão de sua casa e nem reparou que Esmeralda passava por ele.
— Oi Cailinho!
Pum! Um susto! Com um sorriso, de orelha a orelha, respondeu a aquele oi. O coração acelerou. Ele sorrindo! Ela continuou andando. Ele correu para perto dela e perguntando, se ela não ia sair mais à noite na varanda.  Ela sorriu e chamou-o de safado. Ele baixou a cabeça ficou calado, ela sorriu de novo e disse a ele, que passasse na varanda à noite. Carlinhos ficou numa alegria tão grande que num pulo, bateu os braços no corpo feito asas e cantou imitando um galo. Luís riu, daquela imitação os dois começaram a gargalhar. Só quem não riu dessa história foi o Cidão, que vinha subindo a ladeira, e parou olhando para Carlinhos. O brutamonte estava com cara de quem comeu e não gostou. O menino perdeu o rebolado e logo encolheu as asas. Cidão foi logo urrando.
— Eu já avisei moleque, que essa mina tem dono! Essa loirinha é minha!
Luís para contornar o aperto que Carlinhos estava levando disse ao Cidão.
— Ocê num mora nem aqui! Que qui tá fazeno aqui!
— Não tô falando contigo não! Seu cara de bunda! Vai aprender a falar! Respondeu Cidão.
— Tô falando com essa porrinha, imitando galinha de angola! E não aviso mais!
Com o passo de gordo cansado Cidão subiu a ladeira na mesma direção onde fora Esmeralda. Carlinhos olhou para Luís, fez uma careta seguida de um sorriso amarelo e foi logo dizendo.
— Obrigado amigo!
— Brigado di que! Num tenho medo dele não! Ele mandô eu aprende a fala e disse que eu sô cara de bunda! Num gostei disso não!
— Eu não te entendo Luís! Você escreve certo e fala errado.
— Lá im casa tudo nóis fala ansim!
Cidão já estava no final da ladeira quando Esmeralda saiu da venda da Clarice. Carlinhos reparou que ele, falou qualquer coisa para ela, que parou por alguns instantes e depois veio ladeira abaixo. Ao passar pelo menino, este lhe perguntou!
— O que o grandão queria contigo! Ela nem olhou para ele, mas respondeu.
— Não é da sua conta Cailinho! Tchau!
Ele ficou aborrecido e acabrunhado. Luís olhou para o final da ladeira e viu Cidão parado, e com o braço em riste gesticulando ameaças. Carlinhos chateado não se deu conta disso, disse para Luís que entraria. Luís por sua vez se despediu do amigo e subiu a ladeira na direção de Cidão.
Escureceu acabou o dia. Quieto e pensando como Esmeralda fora seca com ele! Carlinhos estava mal-humorado ficou pensando:- O que o Cidão disse a ela, para que ela agisse daquela maneira. Hora de ligar o rádio, o herói do sertão estava entrando no ar. Para delírio de milhares meninos daquela época.

Jeronimo o herói do sertão. Enquanto escutava ele preparava seu pequeno ritual para ir ao encontro da dourada. A noitinha já se fazia presente. Saiu de casa e desceu a rua com cuidado, para ver se não tinha nenhum moleque, que podia entregar o encontro para o Cidão.
Esmeralda estava no alpendre, sentada no chão com a irmã menor Marilim. As duas jogavam pedrinhas e ele se chegou ao portão.( jogo de habilidades manuais com contagem de pontos)
— Entra Cailinho! Quer jogar!
— Quero sim! Mas não vão, achar ruim! Falou ele olhando para a loirinha e sinalizando com a cabeça para a irmã menor!
— Não Cailinho! Aqui não tem bicho não?
Ele sentou se ao lado da dourada. O corpo dela exalava um gostoso e delicioso cheiro de banho. Pobre menino não sabia onde colocar os pés, de tão bobo que ficava, quando perto da amada.
Por várias vezes trocaram olhares que davam choque no corpo. Passavam as mãos nas mãos trocando as pedras e deliciosas carícias. Delirante joguinho! Alias quem jogava mesmo era Marilim. Carlinhos e Esmeralda eram pura ternura. Depois de algum tempo a irmã mais nova levantou-se e entrou. Dizendo tchau para Carlinhos. Mas não demora nem um minuto a mãe chama Esmeralda. O menino levantou-se do chão e se dirigiu ao portão. A dourada, o acompanhou e desta vez foi ela quem o agarrou tascando lhe um abocanhado beijo. Tão gostoso, tão melado, tão estonteante, que seus corpos se grudaram num balé apaixonado, Carlinhos não se sentia neste mundo. Seu corpo era uma pluma leve e solta, o toque do corpo dela no dele arrepiava tanto que parecia um formigueiro. Esmeralda não deixava o menino respirar, sua vontade era engolir ele começando pela boca. Uma forte volúpia tomou conta dos dois, suas línguas bailavam nas bocas que se remexiam procurando os sabores, os segredos do amor. Um grito! Tomou conta da noite.
— Esmeraaaalda! Ecoou como uma lâmina cortando cabeças, na guilhotina. Era a mãe de novo que de dentro de casa chamava esbravejando. No susto, Esmeralda desprendeu se de Carlinhos e passou a mão no rosto para tirar o suor e sorria para ele, que começou a dizer palavras para ela, que ouvia e ria. Andando de costas e já do lado de fora do portão ia dizendo rapidamente, como se estivesse rezando.
— Adoro quando vejo teus olhos, cheios de mistérios! Adoro teu rosto a sorrir! Vibro demais, quando sinto teu corpo coladinho ao meu!
 – Amo teu beijo molhado, profunda magia, que me contagia. Esmeralda entrou e rindo muito. Já dentro de casa, ainda ouvia a vós do amado, que continuava a sua reza.
— Num beijo relâmpago, raio de luz que me inflama o sangue e faz com que eu tenha um arrepio tão grande. Que no final deste beijo, como uma extrema unção de uma prazerosa sensação excitada, em enormes e imensos devaneios. Que sinto minhas pernas tremerem e meu corpo parecer que está com febre e frio como o sereno da noite. Amém
A dourada já estava cansada de estar dentro de casa e Carlinhos, ainda estava ali em pé, feito um idiota do lado de fora do portão. A luz do alpendre se apagou. A escuridão tomou conta da rua e ele rumou para sua casa. Sorrindo feito uma criança que era. Ganhara seu presente tão almejado.



Nessa noite Carlinhos sonhou o sonho puro dos meninos apaixonados, pela primeira vez. O sonho da ternura do aprender a amar. O sonho do acariciar, do sentir e do mais simples gesto o de abraçar,
Pela manhã no caminho da escola, Nicolau um dos meninos da turma, comentou que o Luís não pode vir à escola porque estava todo machucado. Carlinhos indagou o porquê com o menino, este lhe respondeu que o trator tinha amassado o Luís.
— Que diabo de trator é esse Nicolau!
— Qual é o trator que tem por aqui! Só pode ser o Cidão!
— Que droga! Como é que isso aconteceu! Perguntou Carlinhos.
— Foi lá perto da venda da Clarice e foi por sua causa Calinho!
— Que história é essa! Por minha causa!
— O Cidão falou pro Luís que ia te quebrar no meio, porque ontem a noite te viram beijando a loirinha lá no alpendre da casa dela. Falou Nicolau para Carlinhos e continuou.
— Tu tá frito Calinho! Depois que o Cidão demoliu o Luís ele foi atrás de você e não te encontrou. Tivestes sorte!
— Que droga! Droga! Quem foi o alcagueta filho da puta!
— Eu quero engolir vivo esse alcagueta! Esse mariquinha do Cidão. Esbravejou Carlinhos com ódio, na voz e dando murros fortes, na palma da mão.
— E o Luís também, tinha que se meter com o brutamonte abestalhado do Cidão. Olhem aqui molecada! Olhem bem para mim todo mundo! Falou Carlinhos.
A molecada se acercou dele.
— Se eu descobrir o safado, alcagueta, que está entre nós! Eu vou machucar? Para mim não importa tamanho e vocês sabem que nunca, entregamos ninguém.
— Quantas vezes aprontamos coisas feias e nunca ninguém entregou. Então se tiver um alcagueta aqui, é melhor sair da nossa turma, ou vai se ferrar legal!
— O Luís pelo jeito, deve estar todo quebrado! Eu não vou deixar isso barato. Falava Carlinhos aos moleques e pedindo para eles irem andando mais rápido, para chegarem atrasados à escola.
— Que horas foi isso Nicolau! Perguntou Carlinhos.
— Foi logo depois do Jeronimo. O Luís foi à venda da Clarice e quando saiu o Cidão foi conversar com ele. Logo depois, pegou-o pelo pescoço.
— Safado! Traiçoeiro! Ele vai pagar por isso disse Carlinhos em vós alta. E Nicolau ainda contou que o Cidão saiu da briga com o olho roxo, porque o Luís também tinha acertado uma porrada legal no grandão. Após a aula Carlinhos foi para a casa do amigo Luís.
— Bom dia dona Dina! O Luís está bem!
— Calinhô! Qui é qui tu feis! Qui meu Luise pago a conta por ocê! Disse a mulher.
— Não fiz nada não! Isso foi por conta de uma namorada que eu tenho. O mostrengo bateu no Luís porque ele foi me defender!  
— I tu lá tem idade prisso muleque! Vai lá que o meu Luise tá na cama.
O menino entrou na casa com o piso de vermelhão, muito simples, mas bem limpinha e chamou pelo amigo.                                                                          
 — Tô aqui drento Calinhô! Quando entrou no quarto, o susto foi grande, viu o amigo todo cheio de hematomas no rosto e com manchas roxas pelo corpo.                                                                                                 
— Que droga hein Luís! Tinhas que se meter com brutamontes!                                                                                                                                                               
— Tu me cunhece Calinhô! Sabe qui num corro de briga!                                                                    
 — Eu sei cara! Mas logo com o Cidão, você endoidou!                                                                       
  — Intão, caguetaro pra ele qui tu tava com a loirinha! E ele já ia decendo pra pega ocê! Ô falei pra ele qui a loirinha já era sua! Ai ele agarro meu piscoço i nóis brigo. Ele é muito forte Calinhô!                                                                                                              
— Tô vendo é nisso que deu. Tu ai todo estragado na cama.                                                                                                               
— É melhor ir para o pronto socorro ver se  não quebrastes nada.
— Quebra, acho qui num quebrô nada não! Mas qui u grandão tem uma força danada, ah! Isso tem!
— Vai ter que tomar um chá de arnica, para melhorar essas dores disse Carlinhos.
— Minha mãe já foi busca, eu vô miora, tu vai vê Calinhô!                                                                                       
— Tá bom então Luís! Mas nós vamos ter que dar um jeito no Cidão à coisa não pode ficar assim não!
— Qui jeito Calinhô!
— Se um não pode com ele vamos os dois!
— I tu acha qui dá!
 – Têm que dar Luís! Se não vamos virar saco de pancadas do grandão e ainda vamos perder o respeito da molecada. Ter que aguentar tudo isso é ruim amigo!
— Na molecada do meu jeito Calinhô!
— Não podemos ficar brigando com a molecada. É melhor ter eles do nosso lado. Se tu brigar com eles vão correr e pedir ajuda do grandão. E ai quem dança, somos nós.
— É verdade Calinhô. Vamo te qui dá um jeito nisso.
— Eu já vou embora! Lá em casa tem uns comprimidos de "Melhoral", se você quiser, vou buscar para tirar a tua dor.
— Num percisa não! Minha mãe já mi deu "Veramon", qui tamém tira a dor.
— Então tá bom Luís, vê se sara logo!
— Tchau Calinhô! Brigado.
Ao sair do quarto o menino encontrou dona Dina na cozinha, com seus afazeres.
— Olha lá o quie qui oceis tá me aprontando, viu seu Calinhô.                                                                                                           
 — Não estamos aprontando nada dona Dina, só que não da para ficar correndo de moleque grandão né!                                                                                                                                            
— Milhó deixa isso como tá Calinhô! Oceis pode se machuca e feio miníno!                                    
— Não fomos nós que começamos dona Dina, mas eu já falei pro Luís pra deixar isso para lá! Mentiu o menino.
— E que me mal me pergunte dona Dina! Como vai compadre Pedro!
— Tá milhó! Já tá trenando a andá cá protes!
— É de plástico a perna dele né!
— Sei não miníno! Eles diz que é inquebrave!
— Tá bom, quando a senhora ir ao hospital, diz pra ele que eu mandei um abraço.
— Tá bom miníno! Digo sim brigado e de lembrança a seu pai!
 obs: Em caso de erros o texto ainda está sendo corrigido - Obrigado!                   

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