14/05/2020

SEXTO CAPITULO DO MEU LIVRO " OS DOIS AMORES DE CARLINHOS "

A HISTÓRIA DE COMPADRE PEDRO

 


 

   

 

Compadre Pedro era o pai de Luís. Naquele tempo as pessoas construíam suas casas, mas não tinha água encanada. Então, antes de construírem pediam aos vizinhos que cedessem água para a construção. Com a permissão dada começavam a construir e ficavam por muito tempo sem ter um poço para poder retirar a água da terra. No caso do compadre Pedro ele já comprou a casa pronta. Era uma meia água com dois quartos cozinha e banheiro. Não tinha sala não! Eles pegavam a água no poço do seu Lourenço, que lhe vendera a casa. E passado alguns anos foi necessária a furação do poço. Compadre Pedro convocou parentes, amigos e vizinhos para esse trabalho. O pessoal se revezava para dar tudo certo. ligeiro. Às vezes, em um ou dois dias o poço já estava pronto e com água boa e fresquinha para ser bebida!                                                                                         

Trabalharam no sábado o dia inteiro até o final da tarde e ficou para finalizar no domingo. Até mais ou menos depois do almoço, era o previsto. A terra já subia barrenta era um bom sinal de estarem perto do veio. Já se ouvia falar, que o poço escavado estava a doze ou treze metros de fundura e a todo vapor os homens trabalhavam, tinham pressa de ver estourar o veio d'água como diziam.

A troca de favores era mútua os homens eram leais bons amigos e bons vizinhos! Nesse domingo, Carlinhos chegou em casa, correndo e apavorado. Num choro convulsivo e desesperado, chamando pelo pai.

— Pai! Pai!

— O que foi menino?

— O compadre! O compad.... A vós do menino não saia  estava engasgada. 0 pai pegou-lhe nos dois braços e deu-lhe uma chacoalhada. Finalmente o menino falou!

— Compadre Pedro caiu! Caiu no poço!

— Ele é o pai do teu amigo Luís!

— Ah pai! O Luís, esta chorando muito. Pai! Vem ajudar ele, vamos pai!

— Vamos lá ver isso menino!

Foram rapidamente para a casa do Luís. A multidão já estava aglomerada à volta do poço, pelo jeito a coisa foi feia. Compadre Pedro não respondia ao chamado dos homens o fundo do poço estava escuro. Seu Caetano o pai de Carlinhos se chegou a beira do poço e conversou com alguns homens. E soube que a corda que sustentava compadre Pedro arrebentara na metade do percurso. De repente seu Caetano pensou ter ouvido um grito vindo do fundo e pediu silêncio. Chamou por compadre Pedro e nada de resposta, outros homens gritaram com mais força e nada. Seu Caetano disse que alguém tinha que descer! Ouve um murmúrio geral ninguém se habilitou a fazê-lo. Não houve uma só vós que dissesse eu vou! Então o próprio perguntador disse que ia.

A ambulância foi chamada pelo único policial civil que fazia o plantão na delegacia. Único lugar onde havia um telefone daqueles pretos que pesavam mais de cinco quilos. E nos dias de semana fora o domingo tinha um telefone na farmácia do Olavo o pai do Olavinho. Um moleque metido a ser o riquinho da turma. Seu Caetano começou os preparativos para a descida.

— Preciso de mais cordas! Disse ele, e não demorou muito apareceram mais duas cordas de sisal. Seu Caetano amarrou se em duas cordas e pediu para quatro homens ajuda para a descida. Dois homens em cada corda. E recomendando sua vida a eles disse com seriedade.                                                                    

— Eu tenho que confiar a minha vida, no trabalho de vocês! Se uma das cordas se romper vai sobrecarregar o peso em cima dos outros dois. Os homens resmungaram e se preparam. Carlinhos olhava para seu pai com os olhos marejados. O medo tomava conta dele, mas o ato heroico o deixava orgulhoso e a mistura dos dois sentimentos era confusa dentro da cabeça do menino. A corda descia e os homens, contavam um, dois. Um dois e iam soltando a corda em sincronia com a contagem. Ouviu-se um grito do fundo.                                                                                                                   

— Para! Para! Os homens pararam. Fez se um silêncio mórbido. Algumas senhoras fofoqueiras já premeditavam cheiro de morte. Começaram a se benzer e outras a rezar.                                                     

— E então seu Caetano! Grita um dos homens para o fundo do poço.. Do lado de fora o perguntador com o dedo na boca  pede silêncio. O silêncio novamente se faz presente. Poucos ouviram a resposta, mas o perguntador com um soco no ar ouviu e falou com entusiasmo.

— Tá vivo! Tá vivo! Só está desmaiado!

O alívio foi geral num burburinho enorme de muitas bocas falando ao mesmo tempo. Alguns esboçaram um sorriso amarelo e sem graça. Carlinhos também sorriu de alegria ao ver as lágrimas de Luís, Falou para o amigo, que ia dar tudo certo, Seu Caetano pediu que arranjassem mais uma corda e logo apareceu uma novinha que era do poço da Vó Ana. Uma viúva que morava numa casa na esquina da ladeira ao lado da venda da Clarice. Logo a vós de seu Caetano ecoou do fundo do poço pedindo aos homens para içarem a corda nova. Na conversação combinaram mais homens para o trabalho. Seu Caetano avisou que os dois subiriam juntos porque compadre Pedro não se mexia.

Enquanto as cordas eram puxadas a ambulância chegava. Naquele tempo era um furgão, com maca e motorista, um enfermeiro e um grande estojo de primeiros socorros. As cordas continuavam a subida e as mãos dos homens se revezavam nas puxadas. Não podiam dar solavancos o peso era grande e as cordas poderiam arrebentar. Alguns minutos depois aparece a cabeça de compadre Pedro cuja nuca repousava no ombro de seu Caetano que o trouxera amarrado e sentado em seu colo.                       

Quando apareceram as pernas a comoção foi geral. Crianças gritaram de susto e espanto. Luís amoleceu e deixou o corpo cair por terra. Carlinhos tentou ajudar o amigo, mas começou a vomitar. Os homens que puxavam as cordas uns chorando outros chegaram a gritar. As fofoqueiras resmungavam e rezavam. A perna esquerda do compadre trazia enterrada nela até a altura do joelho, o balde de folha de zinco, que estava no fundo do poço. Compadre Pedro caiu em pé e o balde resistente se encravou como uma lâmina. Cena horrível para  controlar pessoas! Sangue para todos os lados. Todos em polvorosa. Luís acudia sua mãe, as irmãs gritavam num pânico doido de dor e tristeza. Compadre Pedro gemia e a cada gemido de dor daquele homem Carlinhos sentia uma agulhada no coração. Por ver o sofrimento do amigo que agarrado à mãe chorava copiosamente. 

Colocaram compadre Pedro na maca. Seu Caetano teve uma crise de choro muito forte, Carlinhos correu para abraçar e consolar seu herói. O pai afastou-o, pois estava muito sujo de sangue. Começaram os primeiros socorros ao compadre. O enfermeiro sedou-o com éter, para que dormisse e aplicaram-lhe uma injeção. Trancaram-no na ambulância com o balde preso à perna. Ele tinha que ser operado urgentemente, estava fraco pela enorme perda de sangue. Dona Dina e mais um compadre dela entraram na ambulância que desapareceu na ladeira tocando um sonoro hóóóó que Carlinhos dizia que era um rubi na testa. Um falatório um zumzumzum que não acabava mais tomava conta dos palpiteiros. Seu Caetano havia tirado a camisa e se lavara tirando o sangue do corpo. O povo começou a voltar para suas casas. As fofoqueiras ainda burburinhavam e as crianças saindo da cena do chororô. A irmã mais velha de Luís conversou com seu Caetano e disse que ficaria bem com seus irmãos em casa, Agradeceu pela ajuda de todos principalmente ao pai de Carlinhos e este finalmente abraçou seu herói, Dali foram andando para os lados da venda da Clarice. O menino ia todo prosa abraçado ao seu pai herói, que salvara a vida do pai do seu melhor amigo! E perguntou! 

— Pai! Você não teve medo?

— Tive filho! Eu morri de medo!

— Você é muito forte pai! Porque teve medo?

— Todas as pessoas tem medo! Mas você não pode demonstrar isso.

— E porque não!

 — Esse é o segredo filho! Se você mostrar medo, ninguém vai te respeitar. Mas se você mostrar, que não tem medo, as pessoas vão ficar receosas de fazer alguma coisa contra você.                                                                                            

 — Agora, vai até o balcão da Clarice e pega um doce, que eu vou tomar um aperitivo com os homens que ajudaram a salvar o pai do teu amigo.

E saboreando seu doce, Carlinhos saiu da venda da Clarice enquanto a vizinhança cumprimentava seu pai. Foi direto para casa do Luís. Mas este tinha ido para casa de um parente.  Então foi para sua casa e contou tudo a sua mãe, numa narração tão perfeita, que não faltaram nem as vírgulas.

A noite já em cama, pensou no pai do amigo e achou que Deus foi injusto. Porque compadre Pedro era, um pai muito legal para o Luís. E cobrou do Criador como deixara aquilo acontecer com um bom homem e dormiu o sono dos meninos que tinham o pai como seu herói predileto.

obs: Em caso de erros o texto ainda está sendo corrigido - Obrigado!                     




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