21/05/2020

SÉTIMO CAPITULO DO MEU LIVRO " OS DOIS AMORES DE CARLINHOS "

UM ENCONTRO NA CALADA DA NOITE

 

Os dias foram passando, Luís melhorou e voltou para a escola. Ele e Carlinhos combinaram de enfrentar o Cidão, só se fosse necessário. Mudaram o caminho para a escola, pois pelo caminho normal, tinham que passar obrigatoriamente em frente à casa do grandão. O tempo ia passando e volta e meia Calinhos encontrava uma brecha para ver Esmeralda. Porém a loirinha estava sendo vigiada. A família soube do Cidão. No dia que o Luís enfrentou o brutamonte. Por acaso quem fizera o aparto da briga, foi justamente um irmão de Esmeralda chamado Flávio, Este perguntou ao Cidão o porquê da briga!                                                                                 

 E o grandão lhe contou das intenções de Carlinhos com Esmeralda. Luís por sua vez disse a Flávio que o grandão estava mentindo e que era o próprio mastodonte que cercava a irmã dele na rua. Dizendo a todos que era o dono dela! Flávio deu dois tapas na cara do grandão, que ainda tomou, um soco na boca por tentar reagir.

Depois disso a raiva do Cidão contra a dupla de amigos se transformou em ódio mortal. Um dia os amigos vindos da escola pelo caminho novo foram pegos de surpresa por dona Consuelo que estava fofocando com a comadre Rosa no portão.

— De onde o senhor vem mocinho? Perguntou a Carlinhos!

— Da escola mãe!

— Esse não é o caminho da escola! De onde é que vocês estão vindo E não mintam para mim!

Luís vendo a coisa ficar preta, para o lado do amigo interferiu, dizendo que vinham mesmo da escola.

— E porque pelo caminho mais longo! Indagou a mãe.                                                                                                    

Os dois se entreolharam e depois olharam para ela.                                                                                                                                                                ]

 — Vamos! Eu quero saber?

— Sabe mãe! É que pelo caminho antigo tem um moleque grandão, que quer bater na gente!

— Grandão de que tamanho. Carlos Alberto!

— Do tamanho do meu pai!

— Há há há! E por acaso teu pai é grandão! Carlos Alberto!

— Mas ele é quatro veis, mais forte qui seu Caitano! Disse Luís, com olhos espantados para dona Consuelo.

— Ah! Então ele é forte!

— Forte e grandão mãe! Ele deixou o Luís todo quebrado!                                                                                      

— Então foi esse que bateu no Luís!

— A sóra cunhece ele! Perguntou Luís.

— Sei quem é tua mãe me mostrou ele na feira. Trabalha na barraca de batatas.

— É esse mesmo mãe? Confirmou Carlinhos.

— É grande mesmo! Então depois do almoço o Luís vem aqui para a minha casa, que eu vou ensinar para os dois como se defender de pessoas maiores e abusadas, como esse pateta grandão.

— Agora entra, Carlos Alberto pode trocar de roupa e lavar as mãos.

Carlinhos olhou para Luís e deu um sorriso. Este deu lhe um sinal com a mão e foi para casa. Carlinhos ficou todo feliz, porque a mãe lhe abraçou até a entrada da casa. Dona Consuelo era uma mulher criada por um pai austero e não era acostumada a dar carinhos aos filhos. Não aprendeu a fazer isso na vida. Ela matava por um filho. Mas não sabia abraçá-los e beijá-los.

Luís chegou logo depois do almoço, ele e Carlinhos ficaram conversando sobre futebol, logo apareceu dona Consuelo com um par de meias femininas de nylon nas mãos. Chamou os meninos. Deu na mão do Luís uma das meias mandando que o menino à puxasse até arrebentar. Luís puxou a meia de tudo quanto é jeito ela afinou, mas não arrebentou. Carlinhos também tentou a façanha e nada!            Consuelo então falou para os meninos, que ia ensinar o truque, mas que o segredo dele era a boca fechada.

— Isso é apenas para os grandes e abusados, porque para meninos do tamanho de vocês a briga tem que ser no braço.

— Entenderam!

— Sim senhora! Responderam em coro.

— Então vão procurar uma pedra que caiba na mão de vocês e de preferência lisa sem pontas. E assim os meninos o fizeram. Com um par de meias de nylon femininas. Dona |Consuelo colocou as pedras, uma em cada meia e fez com que elas descessem até o lugar onde ficava o dedão do pé. Feito isso ela pegou a outra extremidade da meia e enrolou na mão e disse aos meninos.

— Agora vamos para o quintal!

Os meninos a seguiram pararam perto de uma pequena árvore. Consuelo levantou o braço onde estava enrolada a meia que zuniu no ar e pimba. Deu uma cacetada na árvore.                                                                                                                                    Depois pontou o dedo indicador apontou para onde tinha batido.

— Vocês estão vendo!                                  

— Veno u que, dona Consuelo! Perguntou Luís espantado.

— Você não viu menino! Que a árvore ficou machucada! E tirou o pedaço da casca lascada que ficara presa ao tronco.

— Então vocês podem imaginar o que isso vai fazer nas pernas do grandão, como vocês o chamam.

— Nas pernas mãe!

— É! Nas pernas! Esbravejou Consuelo. Não quero ninguém na minha porta chorando e reclamando da cabeça quebrada! Vocês me entenderam!

— Sim senhora.                                             

— Então agora fiquem batendo na árvore, até aprenderem a lidar com isso. E vou dizer mais, continuem como estão. Evitando brigar com esse menino.

— Entenderam!

— Sim senhora!

Eles ainda respondiam e dona Consuelo já estava dentro de casa. Ali ficaram os amigos, batendo com as meias na árvore e tomando algumas pedradas quando a meia enroscava e dava repique no corpo deles.

Carlinhos batia na árvore e dizia.

— Toma isso! Grandão safado. Vê se é bom, filho da puta.

Luís acompanhava o jeito do amigo e os dois riam muito. Quando enjoaram, enrolaram a meia em torno da pedra e a guardaram nos bolsos!

— Calinhô, é milho, ninguém sabe disso! Tem muleque qui pode caguetá nóis pru Cidão.

— Minha mãe falou que tinha que manter segredo, não foi.

— É, é foi! Intão vô mimbora! Tchau Calinhô.

Carlinhos passou o resto do dia brincando no quintal e volta e meia tirava a meia do bolso e a lançava contra à arvore.  Foi aprendendo a fazer, o vai e vem com a elasticidade da meia.

À noite, já na cama e nos estúdios "Debaixo das Cobertas", apresentava sua novela com a bela Esmeralda e o bandido Cidão. E marcaram encontro no cemitério, na calada da noite, de lua cheia.

Esse duelo deixava sua amada Esmeralda, sem dormir! Preocupada com seu Kid Poeta!



Os dias passam e Carlinhos sem poder ver Esmeralda. Volta-se, aos seus antigos folguedos com a molecada da rua, mas a dourada não saia da cabeça do menino que volta e meia errava o gol distraído com a paixão. E a molecada caia em cima dele brigando e querendo tirá-lo do jogo.                                                                                                                                      — Cailiiiinho!

Bum! Um susto! Essa voz dava aquele arrepio que descia pelas costas e ia parar no final da bunda. Aquele gostoso sotaque caipira, aquele Cailiiiinho. Deixavam o menino com as pernas bambas.

Ele virou se e respondeu com um sorriso de orelha a orelha.                                                                                                                          

— Diga menina dourada! – Respondeu apaixonado.

— Você sumiu! Vai em casa hoje a noite.

— Tá bom!

— Te espero no muro! Disse ela já indo embora.

— Legal! Tchau dourada! Escutando isso ela olhou para trás e sorriu.

O coração do menino sorriu! Ele pegou a bola e chutou-a para o alto com tanta força, que a gorduchinha subiu mais que o normal! Depois saiu pulando e gritando.

— Gooooooooool! Essa! Nem anjo defende!

A molecada se aninhou a volta dele e ai começaram a chover, palpites e perguntas.

— Você ganhou à lourinha Calinho! Já há beijou! Já passou a mão!                                                                                              

Essas perguntas vieram à tona e Carlinhos respondeu para a molecada que não tinha nada com a loirinha eram apenas amigos. E os moleques resmungaram cada um do seu jeito.

— Se não beijou ainda é trouxa! Se não passou a mão é viado!. É viadinho esse idiota! Falou um dos meninos mais afoito e com inveja.

Não prestou esse comentário nos ouvidos de Carlinhos e a porrada comeu solta entre os dois. Como sempre lá estava Luís, para apartar e por ordem na casa. A molecada tinha medo e respeito por ele.  Acabou o jogo, estragou à tarde, mas Carlinhos não estava nem ai para nada disso. E ainda chamou a molecada numa roda e disse.

— Vocês sabem o que vai acontecer hoje à noite! Então eu só quero saber se o Cidão vai ficar sabendo disso, assim começo a descobrir quem é o traidor entre nós. Todos conhecem as regras ou é amigo ou é alcagueta, se for alcagueta é amigo do capeta.

— E se for alcagueta e capeta eu não quero estar na pele dele amanhã. Quando agente for para a escola.

E foi embora para casa pensando:- Esses invejosos e trouxas, me chamando de viadinho. Tirando o Luís o resto é um bando de idiotas. Eles nunca serão capazes de sentir o que eu trago dentro do meu coração.

Quando a noitinha se fez presente, tomou um banho, trocou de roupa e sentou se na soleira da porta para ouvir, Jeronimo e seu bang-bang do sertão. Quando acabou a mãe desligou o rádio porque começava a hora do Brasil e todo mundo desligava o rádio nessa hora! Carlinhos foi escondido para o quarto da irmã deu um toque do escondido perfume no sovaco e saiu sem sua mãe ver. Se ela sentisse nele o cheiro do perfume era castigo e adeus loirinha. Quando foi chegando perto da casa dela avistou-a, sentada no muro. A noite já se fazia presente e pela fraca iluminação do alpendre ele viu Esmeralda num vestido claro talvez creme.

— Porque você demorou Cailinho!

— Eu estava ouvindo o Jeronimo e quando acabou eu vim!

— Você está muito cheiroso Cailinho, por quê?

— Por tua causa!

— Por minha causa?

— Claro! Você acha que eu ia chegar aqui, todo fedorento e também, porque não consegui esquecer, daquele beijo que você me deu, na última vez que estive aqui!

— Se veio aqui por causa de beijo! Pode ir embora. Eu só queria te avisar, que aquele grandão, o tal do Cidão. Prometeu te dar uma surra.

— Isso, eu já estou sabendo!

— É! E tu, não tens medo dele não!

— Se eu te disser que tenho você vai rir de mim né!

— Não! Porque eu riria de você! Só estou com medo que ele te machuque e por minha causa.

— Não é por sua causa. O mastodonte cismou que vai ser seu dono. E ninguém mais coloca a mão em você.

— Ele que vá esperando sentado! Esbravejou ela.

— Afinal tu tens medo dele Cailinho!

— Não sei! Mas estou evitando encontrá-lo, inclusive eu o Luís mudamos o caminho da escola! Agora passo enfrente a tua casa e evito passar em frente à dele do outro lado da ladeira.

— E agora que você já me deu o recado, eu vou embora!

— Vai mesmo Cailinho! Pergunta ela com a vós melosa.

— Vou! Mas antes disso!

— Antes o que!

— Antes disso eu não saio daqui sem um beijo! Amor da minha vida!                                                                                                                                                                                    

E com as pernas tremendo, segurou nos ombros da menina puxando a para si dando-lhe um beijo gostoso caloroso e melado de amor. A loirinha não esboçou reação e deixou se abater. O menino sentiu os sabores das cocadas da venda da Clarice. O melado da colher de mel que tomava todos os dias pela manhã. E o sabor de hortelã da pasta de dentes da amada.  Ela enroscou os braços no pescoço dele e contraiu com força, seu corpo no dele.  Juntos subiram num altar de puros momentos, num delírio eloquente que tomou conta dos corpos. Jovens e ansiosos de amor. O primeiro momento sublime de amor.

O suor escorreu pelas faces e os anjos disseram amém. Quando suas bocas se descolaram, estavam ofegantes e se entreolharam, com cara de bobos.

— Cailinho do céu! O que é que tu fizeste comigo!

— Só te dei um beijo! Mas estou tremendo até agora!

— Isso não é beijo Cailinho foi sem-vergonhice nossa! E depois você me chamou de amor Cailinho! Estou com vergonha de você.

— Se isso não é amor, então não sei o que é amor! Disse Carlinhos e pediu para que ela colocasse a mão no seu coração, que trepidava mais que o motor do caminhão do Manoel da quitanda. Ouve se uma voz de mãe chamando pela filha. Esmeralda ainda estava com a mão no peito do menino, ele aperta a mão dela contra seu peito e lhe faz um afago no rosto perto dos olhos, sente as lágrimas escorrendo. Com o canto a camisa enxuga os olhos dela e diz.                                                

— Tua mãe vai perceber que você chorou! É melhor você entrar! E beija suavemente os lábios da amada. Ela ainda não largara a mão do namorado e num tchau muito miúdo, falando baixo, girou o corpo em direção à porta de entrada e ali mandou um beijo soprado para Carlinho que estava petrificado, olhando sua santa sumir atrás da porta.        Andou para casa e com o sereno molhado e esfriando seu corpo quente de amor.

Naquela noite ele não dormiu, pensando no acontecido entre ele e a maravilhosa dourada. Começou a fazer planos e montar histórias e sonhos, sobre eles sobre o futuro. Virou-se na cama cochilou e acordou novamente lembrando o beijo que havia dado na amada.

Dormiu e acordou, passou uma desesperada noite que se tornou um tormento. Um campo de batalha contra o dormir e o ficar acordado para sonhar. E finalmente quando o sono lhe abateu o galo cantou e o dia começou a nascer. 


obs: Em caso de erros o texto ainda está sendo corrigido - Obrigado!                     







Nenhum comentário: