02/08/2018

A VIZINHA

O rádio ligado a meio tom, fazendo a alegria com músicas que há contagiam.

Seus pensamentos parecem se perder no tempo. De vez em quando fica estática, olhando para o nada. Às vezes baila em graciosos e delicados passos, entre o esfregar a roupa no tanque ou estende-la no varal. Penso que lembra alguma paixão ou algum sonho vivo na memória.

A cerca baixa e ripada dividindo nossos quintais me permite vê-la. Eu do meu lado sentado num banco de madeira, fito esta minha paixão. Mulher de meia-idade, o tempo desgastou um pouco sua beleza. Cabelos curtos e loiros, o corpo um pouco gordinho, mas guardando perfeitamente as curvas da juventude.

Seu nome é Miriam! Algumas vezes há ouço discutindo com o marido. Fico triste por isso. Outras vezes logo cedo ela abre a porta e vem para o quintal de vassoura na mão. Se pondo a varrer e a cantarolar. As folhas secas adoram os afagos da vassoura e dançam na valsa do vento.

Saio para o quintal quando a ouço. Sua vós é como uma canção.

— Bom diiiiia seu Carlos!

Respondo-lhe o bom dia, com um sorriso amável. Mas na realidade eu gostaria de-lhe responder.

-- Bom diiiiia! Meu amor.


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