CONTINUANDO
O velho poeta. Acabou dormindo com 0s
pensamentos melancólicos que lhe machucavam muito. No dia seguinte decidiu que
era a hora de mudar de ares. Ter uma vida mais calma e menos atribulada. Chamou
os filhos e conversou. Sobre vender a casa e ir embora para um sitio ou mesmo
uma pequena casa de campo. Onde pudesse ter alguma coisa com que se entreter e
não sentir tanto tédio e tristeza. Criar algumas galinhas pensou até numa
vaquinha.
Uma das
poucas alegrias que tinha era ouvir o anjo das noites de tristeza
O ANJO DA FLAUTA
Em cima
do seu palco velho de antigos.
Degraus
de uma escada, caiada num azul desbotado.
Fazia
serenata, para o nada da noite.
Um
bichano filhote era seu mais novo fã e expectador.
Nunca o
deixou na mão, Sempre o aplaudia com miados finos.
Quando o
som desconexo da flauta sessava.
Então o
anjo da flauta, incentivado. Entrava num mundo de sonhos.
Soprava
sua flauta às vezes suave como o planar do condor.
Outras
vezes entusiasmado pelos aplausos de expectadores que imaginava, tocava
calorosas e rápidas melodias como o voo
das andorinhas.
E lá do
seu muro do outro lado da rua Carlinhos assistia as noites em que o anjo menino
fazia os seus consertos. Lembrando-se do eu, seu menino em incontáveis noites
de sonhos e aventuras de amor.
O RANCHO DO MARCAZADO
Os dias
passavam chatos e sem graça. Era todo dia tudo igual. Às vezes tinha vontade de
dormir e não acordar mais. Faltava algo no seu coração. Tinha se mudado a coisa
de três anos, era seu sonho morar sozinho, ter seu canto para plantar e colher.
Uma pequena criação de galinhas. Uma vaquinha para tomar o leite sem químicas e
fazer um queijinho da hora!
Tinha
tudo isso. Mas o tempo a cada dia o deixava mais desesperado. O livro que se
proporá a escrever também estava pronto. E de tanto que o lera, para fazer as
correções, já o conhecia de cor. Muitas vezes no silêncio do seu cantinho de
viver, faziam uma dramatização do livro, como personagem.
As rosas e orquídeas já estavam no ponto do
desabroche! Já colhera um meio saco do feijão que plantara ao pé da cerca, que
contornava a propriedade. Algumas árvores frutíferas já estavam ali, quando
comprou o pequeno rancho. Uma piscina não muito grande morava no complemento do
alpendre. Rodeada de gramas, que já estavam precisando ser aparadas. E na volta
do alpendre jazia uma cerca de madeira grossa e tosca. Mais tipo um enfeite,
três cadeiras de palha descansavam a volta de uma mesa, feita da roda do carro
de boi.
Eram
assim todos os dias, chatos, mas que ele achava, iam ser felizes, até o dia de
morrer. Seus companheiros o dia, à noite o sol e a paisagem. Volta e meia ouvia
um motor a gemer no longe da estrada, ficava torcendo para que fossem os filhos
ou netos, que vinham a passeio e lhe fariam companhia! Quando o ronco do motor
não diminuía a marcha ele já sabia, que naquele fim de semana não teria
visitas. E ficava a apreciar na poeira o carro desaparecer e com inveja:- Quem
será! Que vai receber essa visita!
Os
parentes vinham sempre, enquanto era novidade, mas depois, foram escasseando e
agora muito pouco vinham. Tirava dois dias por semana para cozinhar o que
gostava de comer e congelava em pequenos potes com porção para um. Assim era
com feijão, feijoada, uma dobradinha! E etc. Comia saladas e frutas aos montes!
Tinha sempre uma cervejinha bem gelada para tomar na companhia dele mesmo.
À noite
ligava o computador ou às vezes, via o ultimo jornal da noite. Depois começava
um programa de entrevistas de um cara, muito inteligente e gordinho. Quando
anunciava entrevistas, com políticos, cantores de rap e essas coisas doidas que
cantam hoje. Ele desligava a tevê e ia para o computador. Conversava muito
sobre poesia e música, com os amigos das redes sociais. Baixava muitos vídeos
musicais e os selecionava para ouvi-los durante seus dias de solidão.
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