21/11/2020

Vigesima oitava parte do meu livro” OS DOIS AMORES DE CARLINHOS”


A IMPRESSÃO DA MORTE

 Acordou no meio da madrugada com uma sensação esquisita de morte. Talvez tenha sonhado ou tenha tido uma falta de ar. Sentou-se a beira da cama e pensou:- Se essa sensação fosse à morte! Até que não seria tão dolorida e horrível, como pensam. Ao banheiro foi e depois de um copo com água, voltou para cama. Começou então o drama de não achar o sono. Cansou-se de procurar, rolando várias vezes na cama. Talvez estivesse ansioso, pois passou o domingo com Luís que viera de São Paulo lhe fazer uma visita.

Relembraram os tempos de moleque e reforçaram o laço de amizade de sessenta e dois anos de vida. Os colegas da infância, os folguedos e as memoráveis partidas de futebol na rua de terra e com os pés descalços.

Falaram sobre o início da juventude e tocaram um pouco de musica daquela época, em dois velhos, mas bem afinados violões que Carlinhos guardava com muito carinho desde aqueles tempos. Talvez esses violões tivessem a mesma idade da amizade deles. Pois estudaram musicas juntos na juventude.

Ligaram o computador. Assistiram alguns vídeos dos tempos da jovem guarda. Comentaram sobre Adélia a filha de nipônicos amiga de Esmeralda a qual Luís confessara arrastar asas por ela.

Finalmente a tarde foi caindo e Luís preparou-se para retornar a sua cidade. Ainda conversaram um pouco no ponto do ônibus e quando este chegou despediram-se com um terno abraço, com sabor de despedida como se fosse a última vez.

Quem rege e tem a sabedoria é o tempo. Vamos só ter a esperança de nos encontrar outra vez. Já que Deus deixou-nos vivos, para lembrarmo-nos dos bons tempos! Disse Carlinhos ao amigo.

 

Carlinhos e Luís de França Noia diplomando-se em 2019. Uma amizade de sessenta e dois anos

 



De toda aquela turma da infância só restaram os dois e Maria Esmeralda!

Luís dissera a Carlinhos tê-la visto perto de uma faculdade, numa roda de jovens, falando e gesticulando. E também que ela estava magra e de cabelos cortados do tipo Chanel. Porém não deu maiores detalhes, porque estava no carro do filho, que havia parado no sinal vermelho. 

Sem sono ainda mesmo após essas lembranças do dia, iniciou um novo drama, e se pôs a perguntar sobre os porquês!

Tentando entender, para que tanta felicidade, se no final acaba tudo velho, roto e amassado! Gordos, sem dentes, feios, carecas e todos os adjetivos de velhice que se pode imaginar! Inclusive seu herói que sempre fora o galo cantante da sua virilidade estava murcho!

Para que nascer! Só para dar continuidade a raça humana! Para sorrir quando nascem os filhos. Para chorar a morte dos entes! Isso já se tornou um vício para a humanidade!

É difícil entender. Um pouco de tempo passageiro para cada ser humano e depois todos viram pó. Ficar muito velho então vai ficar muito feio e terrivelmente mumificado.

Será que isso tudo são viagens no tempo que os espíritos precisam para o seu aprendizado. E usam carcaças humanas, moldadas e adaptadas para continuar com suas luzes acesas! Isso é brincar, com o nosso sentir.

Morremos e não levamos nada. É a carcaça no buraco para não feder na superfície. E as gerações que plantamos muitos nem lembram que tiveram avós e muitas vezes nem souberam quem fomos.

Sendo dessa maneira a vontade de viver vai para o espaço dando vida, ao tremendo tédio que ele está sentindo agora. De ilusões e sonhos já vivemos muito, agora é a realidade da velhice que reduz drasticamente a necessidade de ser feliz.

Os alentos e carinhos desaparecem. Fica o enfraquecimento humano e o espirito se prepara para a próxima viagem. Nossa ossada enterrada, daqui a milênios vai virar 250 ml de petróleo bruto! A vida é isso afinal!

 

 

 

 

 


 

 TEDIO DA VIDA

 

Ah! Essa melancolia

de viver, quieto calado

sem afago!

Esse fim de vida.

Ah! Essa sede de amar!

A esperança que se foi,

esse resto de corpo

que enferrujou!

Precisando cair

na terra, precisando!

Decretar a falência

da vida.

E liberar o espirito!

Para uma nova jornada!

 

Santos - março de 2017.

 

 

FIM

 

FIM! – SERÁ QUE É O FIM MESMO

Não sei se é o fim! O que sei é que tu Carlinhos, viraste um vício, tão grande na minha vida, O dia que não te leio ou não escrevo em ti, fico numa ansiedade e perco meu sono de verdade!

— Então continua, Uai! Essa narração está gostosa.

Quem está falando comigo afinal. (Narrador)

— Eu, o Carlinhos! Pede para o autor continuar. Eu quero continuar vivendo dentro deste livro.

--- Tá bom Carlinhos, então continuamos. Eu também adoro viver dentro deste livro. Adoro ver você sonhar e partilho da sua vida. Como se fosse a minha! Um abraço. (O escritor)

  

 

 

 

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