A IMPRESSÃO DA MORTE
Relembraram
os tempos de moleque e reforçaram o laço de amizade de sessenta e dois anos de
vida. Os colegas da infância, os folguedos e as memoráveis partidas de futebol
na rua de terra e com os pés descalços.
Falaram
sobre o início da juventude e tocaram um pouco de musica daquela época, em dois
velhos, mas bem afinados violões que Carlinhos guardava com muito carinho desde
aqueles tempos. Talvez esses violões tivessem a mesma idade da amizade deles.
Pois estudaram musicas juntos na juventude.
Ligaram o
computador. Assistiram alguns vídeos dos tempos da jovem guarda. Comentaram
sobre Adélia a filha de nipônicos amiga de Esmeralda a qual Luís confessara
arrastar asas por ela.
Finalmente
a tarde foi caindo e Luís preparou-se para retornar a sua cidade. Ainda
conversaram um pouco no ponto do ônibus e quando este chegou despediram-se com
um terno abraço, com sabor de despedida como se fosse a última vez.
Quem rege
e tem a sabedoria é o tempo. Vamos só ter a esperança de nos encontrar outra
vez. Já que Deus deixou-nos vivos, para lembrarmo-nos dos bons tempos! Disse
Carlinhos ao amigo.
Carlinhos e Luís de França Noia diplomando-se em
2019. Uma amizade de sessenta e dois anos
De toda
aquela turma da infância só restaram os dois e Maria Esmeralda!
Luís
dissera a Carlinhos tê-la visto perto de uma faculdade, numa roda de jovens,
falando e gesticulando. E também que ela estava magra e de cabelos cortados do
tipo Chanel. Porém não deu maiores detalhes, porque estava no carro do filho,
que havia parado no sinal vermelho.
Sem sono
ainda mesmo após essas lembranças do dia, iniciou um novo drama, e se pôs a
perguntar sobre os porquês!
Tentando
entender, para que tanta felicidade, se no final acaba tudo velho, roto e
amassado! Gordos, sem dentes, feios, carecas e todos os adjetivos de velhice
que se pode imaginar! Inclusive seu herói que sempre fora o galo cantante da
sua virilidade estava murcho!
Para que
nascer! Só para dar continuidade a raça humana! Para sorrir quando nascem os
filhos. Para chorar a morte dos entes! Isso já se tornou um vício para a
humanidade!
É difícil
entender. Um pouco de tempo passageiro para cada ser humano e depois todos
viram pó. Ficar muito velho então vai ficar muito feio e terrivelmente
mumificado.
Será que
isso tudo são viagens no tempo que os espíritos precisam para o seu
aprendizado. E usam carcaças humanas, moldadas e adaptadas para continuar com
suas luzes acesas! Isso é brincar, com o nosso sentir.
Morremos
e não levamos nada. É a carcaça no buraco para não feder na superfície. E as
gerações que plantamos muitos nem lembram que tiveram avós e muitas vezes nem
souberam quem fomos.
Sendo
dessa maneira a vontade de viver vai para o espaço dando vida, ao tremendo
tédio que ele está sentindo agora. De ilusões e sonhos já vivemos muito, agora
é a realidade da velhice que reduz drasticamente a necessidade de ser feliz.
Os
alentos e carinhos desaparecem. Fica o enfraquecimento humano e o espirito se
prepara para a próxima viagem. Nossa ossada enterrada, daqui a milênios vai
virar 250 ml de petróleo bruto! A vida é isso afinal!
Ah! Essa
melancolia
de viver,
quieto calado
sem
afago!
Esse fim
de vida.
Ah! Essa
sede de amar!
A esperança
que se foi,
esse
resto de corpo
que
enferrujou!
Precisando
cair
na terra,
precisando!
Decretar
a falência
da vida.
E liberar
o espirito!
Para uma
nova jornada!
Santos - março de 2017.
FIM
FIM! – SERÁ QUE É O FIM MESMO
Não sei
se é o fim! O que sei é que tu Carlinhos, viraste um vício, tão grande na minha
vida, O dia que não te leio ou não escrevo em ti, fico numa ansiedade e perco
meu sono de verdade!
— Então
continua, Uai! Essa narração está gostosa.
Quem está
falando comigo afinal. (Narrador)
— Eu, o
Carlinhos! Pede para o autor continuar. Eu quero continuar vivendo dentro deste
livro.
--- Tá
bom Carlinhos, então continuamos. Eu também adoro viver dentro deste livro.
Adoro ver você sonhar e partilho da sua vida. Como se fosse a minha! Um abraço.
(O escritor)
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