A ladeira era íngreme; cansava-me subi-la. Entretanto, o topo – Ah, o topo me deixava
maravilhado! – era o céu onde morava minha linda Açucena. Seus olhos irradiavam sublime luminosidade; sua
magia estava no jeito de andar e de gingar o corpo de moleca travessa.
Fiz dos meus braços em volta do seu corpo uma aliança; dei-lhe
meu sim por toda a vida como na
frente de Deus se dá no altar; dei-lhe carinho, amor e respeito como a uma deusa.
Nas manhãs geladas ela me aquecia, sua pele era a seda que eu sentia quando
minhas mãos deslizavam atrevidas viajando pelo seu corpo; era a satisfação
carnal complementando a do meu espirito.
Sentia-me prisioneiro da enfermidade do meu destino. Açucena
me curou aplicando-me injeções de alegria e inventando curativos de sorrisos.
Um dia me operou implantando na minha alma um amor avassalador. Vivia um conto
de fadas presenteado pelo Senhor da Vida.
Até que um dia minha Açucena colocou para fora os seus
espinhos, se transformou em outra flor: uma rosa ainda linda, mas capaz de me
ferir. Tal qual uma avalanche de gelo seu desencanto desabou sobre mim e me dei
conta de que o nosso colorido amor era ilusão que desbotava com o alvejante do desapego;
desencantei-me e virei um desencanto para aquela que eu encantara.
E assim mais um ciclo foi fechado. Talvez pagando dívida que
eu trouxe de existências passadas. Entretanto, perante a dor do amor que findou,
me amedronta constatar que nesta vida repeti mais uma vez a minha sina.
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