23/12/2018

UM CONTO DE NATAL

 

A vida não o deixou nascer sorrindo, como a maioria dos bebês. A mãe costureira desempregada e abandonada pelo pai. Tales, nasceu numa manhã chuvosa, destro de um barraco sem luz. Partiu da barriga confortável e aconchegante da mãe direto para um mundo pobre. Nascia mais um morador no lixão da vila Sapo.

      Seu primeiro berço! Uma linda caixa de cervejas de cor vermelha, acolchoada pelo restolho de um fétido colchão forrado e uma manta para agasalha-lo. Seu único conforto! O carinho da mãe, que o olhava com os olhos de Maria para seu filho Jesus.

      Cresceu comendo restos, na companhia de outros desabastados e dos ratos. Era um menino sonhador. Voava na imaginação o sonho de abraçar Papai Noel. Tinha uma coleção de recortes de papéis, picados a mão e colados com sabão. O bom velhinho estava por todos os lados. As crianças diziam mágicas maravilhas dele. Para Talinho como era chamado Papai Noel era seu herói.

      Um dia revirando o lixo, uma carteira de couro preta e lambuzada de porcarias achou as mãos pequenas do menino. Ao abri-la uma boa quantidade de dinheiro e uma foto do velho Noel sorrindo. A surpresa deixou Talinho de boca aberta e feliz. Seu ídolo! Achara a carteira do Papai Noel.

      Correu para a mãe. Dentro do barraco contaram o dinheiro. Dava para muita comida, coisas gostosas que não conhecia o sabor. Uma roupa nova para ir ver Papai Noel no Shopping. Ali! Os seguranças nunca o deixaram entrar.

      --- Não mãe! Vou devolver a carteira ao Papai Noel. Só tira o dinheiro para comprar o remédio do Lalinho de dona Neuza que está doente. O resto eu devolvo para o meu herói. Tá aqui o endereço dele!                                                  A mãe chorou diante da lealdade do filho. Bom menino com seus oito anos.

      Andou muito com a carteira dentro de um saco plástico e abraçada ao peito. O endereço! Uma mansão que parecia o céu.: - seria ali mesmo a casa do Papai Noel. Pensou ele. Tocou várias vezes a campainha, mas não foi atendido. Sentou-se num canto do portão e de tanto sonhar nos voos da sua mente acabou adormecendo.

       Anoitece! Um carro se posiciona no portão. O motorista João Pedro alerta o patrão que tem uma criança dormindo na entrada. Os dois saem do carro. O patrão pede a João Pedro que pegue o menino e coloque no banco de traz.

      Talinho se acomoda, a cama é macia. Acorda num susto diante de um homem negro, que lhe diz com voz amável.

      ---Bom dia! Tá com fome menino!

      Assustado assentiu um sim com a cabeça.

      --- Senta ali e come o que quiser. Diz-lhe o negro João Pedro.

      Pão leite, café, manteiga. Suco e de quebra queijo e presunto.: - Que maravilha! Pensou Talinho: - será que é dia de Natal!

      Após comer muito o homem perguntou ao menino, o que fazia no portão.

      --- Achei a carteira do Papai Noel e vim devolve-la! Só tirei o dinheiro para o remédio do Lelinho!

João pega a carteira e vai até o patrão! Explicando o propósito do menino. O patrão chora ao ver a foto do Papai Noel, que lhe fora dado pelo seu menino, antes do acidente que lhe decepou a vida. Levando a mãe como companhia. Pede a João que compre uma roupa de Papai Noel.

      Talinho toma um banho e ganha roupas novas da governanta. Maravilhado anda pela mansão. Que natal lindo pensava. Então como num passe de mágica surge seu herói todo vermelho num hou hou hou bem desafinado. Num voo o menino vê seu sonho se realizando. Só lhe resta correr para o abraço ao seu ídolo. Naquele momento o Espirito de Natal do velho Nicolau se nota em aureolas de amor.

      A partir daquele ano as crianças do lixão da vila Sapo, tiveram grandes Natais em companhia de Talinho na mansão. Sua mãe cuidava pessoalmente das roupas do patrão Papai Noel. Tocou tanto o Espirito de Natal na vida daquele patrão, que aos trinta anos Talinho empossava a presidência da empresa do seu pai adotivo. Seu ídolo! O patrão Papai Noel.

 

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