28/07/2020

Decima sexta parte do meu livro” OS DOIS AMORES DE CARLINHOS”

VIAGEM A SANTOS

No longo inverno de 1.972, em pleno mês de julho. Carlinhos de ossos gelados e recostado a uma cadeira via através da janela o orvalho gelado a gotejar.

A solidão ajudava a gelar seu corpo e sua alma estava sempre cantando baixinho, músicas que inventava na hora dentro de sua cabeça.

Eram sempre musicas de amor de solidão de tristeza e de sonhos que há muito tempo esperava. O sonho de ver sua amada Esmeralda de volta aos seus braços.

E Carlinhos inventava mais uma canção :


LAMPEJOS

 Luz da minha vida.

Fogo da minha alma.

Paixão que me excita.

Depois me acalma.

 

Quando me lembro de ti.

Meu coração explode em emoção.

Num lampejo, relâmpago,

Estronda dentro de mim.

a tua visão, como aparição.

Provocando meu sangue.

Fulminando minha energia.

Deixando-me: submisso.

.

São Paulo Inverno de 1972

Levantou se da cadeira e como um estalo, dentro de sua cabeça, resolveu que estava na hora de mudar de ares. E a mais uma vez resolveu sair de cena. Precisava dar fim na grande tristeza do seu coração, que parecia sardinha enlatada e apertada dentro do peito.

Foi até a empresa onde trabalhava e pediu ao seu patrão senhor Morgado a sua demissão. O homem indagou a Carlinhos, porque de tão brusca saída. Este respondeu que não dava mais para viver sem tomar algumas atitudes.

Estava cansado de se sentir um pedaço de gente incompleta, faltando vida, amor e felicidade. Viver só por viver, qualquer lugar serve. Queria ir para outros lugares

                                                                                                                                Combinaram todos os acertos finais e o senhor Morgado pediu a Carlinhos que entregasse um carro e seria seu ultimo trabalho naquela empresa.

 No dia marcado Carlinhos chega a uma garagem onde tinham vários veículos estacionados. Entrou em um determinado colocou o motor em movimento deu uma ré e uma curva leve até a saída.

Lá estava o senhor Morgado que mais uma vez lamentou a saída do funcionário e agradeceu se despedindo de Carlinhos pelos serviços prestados à empresa.

Carlinhos logo passou a dirigir o veiculo numa estrada quase sem movimento. Seus pensamentos o levaram a ver, que a cada dia que passava, ficava mais velho. E o tempo fechara a sua porta da felicidade. Precisava urgentemente, abrir outras portas na vida, antes de abrir à última! Que podia até ser num repente. A porta da morte!

Depois de rodar por noventa quilômetros, parou num posto de gasolina. Ao lado do posto tinha um bar acoplado a um pequeno motel, onde reservou um quarto. Deixou a bagagem e logo voltou ao posto onde deixara o carro para abastecer e dar um trato na limpeza. Foi para o bar e ali, acompanhado do início da noite, posse a bebericar e pensar na vida.

Começou a ficar tonto e a cada gole a bebida ia tomando conta do seu corpo. Finalmente se aborreceu de vez, ao notar que a garçonete não tirava os olhos dele.

— A nossa alma poderia ser como os nossos móveis né!

Disse ele à garçonete e continuou.

–- Os mudamos de lugar, lixamos para esconder as farpas da velhice e os envernizamos  novamente. Quem ver os nossos móveis novos dirá!

— Que bonitos móveis! São azuis, lindos, devastadores e tristes.

— O que moço os móveis? Perguntou a garçonete.

— Não! Os teus olhos! Respondeu Carlinhos.

E tomou o caminho do seu quarto pedindo à moça que pusesse a despesa na conta.  Estava bêbado, cambaleante e caindo pelos cinco degraus de escada que o levaram a caminho do quarto. Deitou-se pesadamente na cama e sentiu a cabeça rodar, num forte tremor no corpo.

Então tudo sumiu perdeu os sentidos, tudo se acabou como se a vida tivesse consumido aquele corpo que agora estava inerte.

No dia seguinte acordou com forte dor de cabeça, seu corpo bambeava sobre as pernas, um gosto ocre na boca, a língua pastosa, olhos ardidos. Estava um caco de xícara que se quebrara.

A garganta seca e que vontade de mergulhar numa cascata de águas geladas. Foi logo para o banho frio a água começou a fazer efeito no seu corpo e revigorar a sua alma e a dar novo ar à sua vida. Era um novo dia começando!

 

LEMBRANÇAS

 Abriu a mala pegando uma camisa, enroscada nela estava um livro, que caiu para cima da cama, Algumas páginas se abriram e fecharam rapidamente, do meio delas caiu uma fotografia de Ligia!

Aquela pequena foto que Carlinhos imaginava ter perdido. Sentou se a beira da cama com a foto entre os dedos e começou a lembrar dos cabelos lisos, o jeito simples e simpático. Olhos negros combinando com os cabelos Ligia era uma moça bonita. Fora namorada de Carlinhos. Magrela e bem torneada. Menina moça ardente e fogosa.

Levantou se vestiu a camisa e saiu do quarto. Estava louco por um café e com fome suficiente para engolir um leão e assim o fez saciando a fome.

Voltou para o quarto com ideia de seguir viagem, mas viu novamente a foto de Ligia e com ela na palma da mão continuou suas lembranças. Era três anos mais velha que ele, e se conheceram no cais do porto da cidade de Santos logo que ele chegou de São Paulo para aquela cidade.

No primeiro dia de sua chegada Carlinhos entrou num bar, levando debaixo do braço uma pequena valise com uma camisa uma calça e um par de cuecas e uma mixaria em dinheiro que dava apenas para dormir numa cama limpa ou então comer uma única refeição.

Pediu um conhaque e posse a bebericar em minúsculos goles, havia outros fregueses no bar falando e contando peripécias, mas Carlinhos não ouvia ninguém não ouvia nada. Apenas curtia o sabor do seu conhaque e tinha o pensamento voltado para a amada Esmeralda.

Lembrava com carinho quando pegou na mão dela pela primeira vez e seu corpo arrepiou se dos fios de cabelos até o final da espinha, numa sensação gostosa que tomou conta do seu corpo um calor inimaginável e o seu sorriso de orelha a orelha. Uma vontade enorme de gritar.

 


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