Um
pequeno canto do mundo dentro da Metrópole. São Paulo. Encanto que cheirava a
café, nas manhãs que eu me levantava cedo na ida para a escola.
Suas
ruas eram de terra batida de ladeiras altas! Sofrer na subida e correr na
descida. Terra morena e bronzeada, na volta dos estudos o sol abraçava as
flores dos quintais coloridos. Ao longe o burburinho das crianças que
brincavam. Exibindo suas habilidades com bolas brincadeiras de roda. Tinham os
grandes pilotos de formula rolimã. O pó se espalhava marcando com sua cor a
vegetação. Nos dias de chuva! Molhada a terra espalhava seu odor. Pelas ruas
enlameadas meus pés descalços pisavam a lama o barro.
Abençoado
o dia que aqui cheguei. E me apaixonei por ti, como o meu pequeno mundo.
Hoje
parto com lágrimas nos olhos. Neste adeus, meu cantinho de criança. Meu pequeno
Paraiso. Onde aprendi a amar com o encanto da minha infância.
Onde
a amizade e lealdade eram hábitos de todos os dias.
VILA RÉ – SÃO PAULO – Minha partida do Paraiso – Março de 1966. Nesse dia meu coração realmente doeu muito
Eis que o caminhão
encosta à porta de sua casa! A molecada se juntara à volta dele. Já não eram
mais os meninos de sua turma e sim os mais novos. Outros garotos, outros chefes
outros Carlinhos e Luíses. Outros Eduardos e Zèzinhos. Mas as brincadeiras de
bola, de pula saco, bolinhas de gude e piões continuavam as mesmas. Aquele
caminhão parado em sua porta. Só trazia lembranças doídas. Lágrimas não podiam
faltar. Ali ficaria toda a sua infância. Todos os sonhos que só a memória dele
guardaria, porque para os que ali continuariam logo Carlinhos cairia no
esquecimento. Parece que ali nasceu e morreu a felicidade. E os olhos verdes de
Esmeralda que se abriram um dia como um sol se fechavam agora. Ali morria a
infância da pureza e do amor.
Vila Ré – SP – Março de 1.966
— Adeus Vila Ré! Meu
pedacinho do céu no chão. Meu pequeno torrão de açúcar. Que adocicou minha alma
de sonhos! Obrigado por me deixar pisar nas suas ruas poeirentas. Foi assim que
Carlinhos, sentado em cima da boleia do caminhão de mudanças se despediu de
toda a vida que deixara para trás. Despediu-se das casas do Eduardo, do Ticão
do Nicolau da vendinha da Clarice. Pois só as paredes e o pó da rua de terra
poderiam um dia contar sua história!
O tempo voava
ocupado pelo trabalho e estudo. No final de semana dançar e tocar violão. A
bola gorduchinha fora esquecida. Agora a rua era asfaltada. O bairro era outro
os amigos outros Carlinhos agora um rapaz de cabelos compridos. Beatles na onda
do momento a jovem guarda era uma brasa mora! As calças boca de sino os sapatos
de pontas quadradas e brilhosos. Logo vieram as botas masculinas para
complementar o traje da moda. Uma juventude extrovertida, violões e guitarras
faziam a felicidade da juventude. Agora Carlinhos era o roqueiro cabeludo o
compositor. Um Beatle dos olhos verdes, que deixou encanto em muitas namoradas.
Cidinha, Vilma, Irani! E outras que davam de dez a zero na beleza da dourada do
cabelo de corda. Mas nenhuma delas conseguiu derrubar a loirinha do trono. O
anjo sem asas permanecia vivo no coração do garoto poeta.
Não era feliz ali
naquele mundo novo. Resolveu mudar de vida e assim pensando. Partiu a esmo numa
viagem sem rumo. Deixou dona Consuelo e seu Caetano, com as lágrimas a escorrer
pelo rosto.
— Me perdoem pai e
mãe, mas preciso de alguma maneira ser feliz. Sinto falta de luz na alma.
Preciso achar os sonhos que um dia perdi e remendar com as linhas do tempo meu
coração, que até hoje esta rasgado! A benção de vocês eu preciso levar. E não
preciso prometer nada, pois vocês me ensinaram o certo e o errado. Foi assim a
despedida de Carlinhos dos laços de família!
Tinha uma grande
vontade de conhecer a cidade de Santos no litoral paulista.
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