19/07/2020

Decima quinta parte do meu livro! OS DOIS AMORES DE CARLINHOS” O FINAL DA INFÂNCIA ADEUS VILA RÉ ADEUS PARAÍSO


 

Um pequeno canto do mundo dentro da Metrópole. São Paulo. Encanto que cheirava a café, nas manhãs que eu me levantava cedo na ida para a escola.

Suas ruas eram de terra batida de ladeiras altas! Sofrer na subida e correr na descida. Terra morena e bronzeada, na volta dos estudos o sol abraçava as flores dos quintais coloridos. Ao longe o burburinho das crianças que brincavam. Exibindo suas habilidades com bolas brincadeiras de roda. Tinham os grandes pilotos de formula rolimã. O pó se espalhava marcando com sua cor a vegetação. Nos dias de chuva! Molhada a terra espalhava seu odor. Pelas ruas enlameadas meus pés descalços pisavam a lama o barro.

Abençoado o dia que aqui cheguei. E me apaixonei por ti, como o meu pequeno mundo.

Hoje parto com lágrimas nos olhos. Neste adeus, meu cantinho de criança. Meu pequeno Paraiso. Onde aprendi a amar com o encanto da minha infância.

Onde a amizade e lealdade eram hábitos de todos os dias. 

 

VILA RÉ – SÃO PAULO – Minha partida do Paraiso – Março de 1966. Nesse dia meu coração realmente doeu muito

 

 

Eis que o caminhão encosta à porta de sua casa! A molecada se juntara à volta dele. Já não eram mais os meninos de sua turma e sim os mais novos. Outros garotos, outros chefes outros Carlinhos e Luíses. Outros Eduardos e Zèzinhos. Mas as brincadeiras de bola, de pula saco, bolinhas de gude e piões continuavam as mesmas. Aquele caminhão parado em sua porta. Só trazia lembranças doídas. Lágrimas não podiam faltar. Ali ficaria toda a sua infância. Todos os sonhos que só a memória dele guardaria, porque para os que ali continuariam logo Carlinhos cairia no esquecimento. Parece que ali nasceu e morreu a felicidade. E os olhos verdes de Esmeralda que se abriram um dia como um sol se fechavam agora. Ali morria a infância da pureza e do amor.

 

 

Vila Ré – SP – Março de 1.966

— Adeus Vila Ré! Meu pedacinho do céu no chão. Meu pequeno torrão de açúcar. Que adocicou minha alma de sonhos! Obrigado por me deixar pisar nas suas ruas poeirentas. Foi assim que Carlinhos, sentado em cima da boleia do caminhão de mudanças se despediu de toda a vida que deixara para trás. Despediu-se das casas do Eduardo, do Ticão do Nicolau da vendinha da Clarice. Pois só as paredes e o pó da rua de terra poderiam um dia contar sua história!

 

 

O tempo voava ocupado pelo trabalho e estudo. No final de semana dançar e tocar violão. A bola gorduchinha fora esquecida. Agora a rua era asfaltada. O bairro era outro os amigos outros Carlinhos agora um rapaz de cabelos compridos. Beatles na onda do momento a jovem guarda era uma brasa mora! As calças boca de sino os sapatos de pontas quadradas e brilhosos. Logo vieram as botas masculinas para complementar o traje da moda. Uma juventude extrovertida, violões e guitarras faziam a felicidade da juventude. Agora Carlinhos era o roqueiro cabeludo o compositor. Um Beatle dos olhos verdes, que deixou encanto em muitas namoradas. Cidinha, Vilma, Irani! E outras que davam de dez a zero na beleza da dourada do cabelo de corda. Mas nenhuma delas conseguiu derrubar a loirinha do trono. O anjo sem asas permanecia vivo no coração do garoto poeta.

Não era feliz ali naquele mundo novo. Resolveu mudar de vida e assim pensando. Partiu a esmo numa viagem sem rumo. Deixou dona Consuelo e seu Caetano, com as lágrimas a escorrer pelo rosto.

— Me perdoem pai e mãe, mas preciso de alguma maneira ser feliz. Sinto falta de luz na alma. Preciso achar os sonhos que um dia perdi e remendar com as linhas do tempo meu coração, que até hoje esta rasgado! A benção de vocês eu preciso levar. E não preciso prometer nada, pois vocês me ensinaram o certo e o errado. Foi assim a despedida de Carlinhos dos laços de família!

Tinha uma grande vontade de conhecer a cidade de Santos no litoral paulista.


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