30/11/2019

DEPRESSÃO – PARTE NOVE – CARREGANDO UMA CRUZ DESDE A INFÂNCIA.


 
--- Alô! Boa noite doutora, tudo bem!
--- Tudo bem Alberto. Hoje preciso te fazer algumas perguntas mais profundas. Preciso que você responda-as com a maior precisão possível esta bem para você!
--- Lógico doutora se é para minha melhora, Responderei tudo ao pé da letra.
--- Sabe Alberto! Eu achei que você criando as suas filhas já havia feito a sua parte, lógico que como avô você ajudaria na manutenção e preservação dos teus netos. Certo.
--- Certo esse é o papel de todo avô que gosta da sua família.
--- Porém não foi isso que aconteceu com você não foi!
--- Sim senhora! Minha primeira neta morou uma boa parte comigo até que minha filha e o genro alçassem voo, encontrassem seu canto.
--- Certo ai a sua casa ficou vazia. Mas não demorou muito veio a neta da outra filha e depois de dois anos mais um menino preencheu o espaço vazio da sua casa,
--- Nesse tempo você fez o que!
--- Fiquei com as crianças em casa. Moram comigo! Minha segunda filha é separada. Moramos todos juntos e vamos levando a vida.
--- Como Alberto! Com você trancado dentro desse quarto a mais de dez anos. Você sabe que já fez sua parte né Alberto.
---- Não sei. Vamos levando a vida juntos.
---- Já parou para pensar em você!
---- Sim quando fui morar com Aurora. Deixei tudo para trás.
---- E o que aconteceu!
---- Fracassei!
---- O que aconteceu para você fracassar!
---- Não consegui conciliar minha vida. Não consegui ficar longe das crianças.
---- Por que! Eu não estou entendendo isso Alberto.
---- Achei que eu era o arrimo deles, criados sem pai. Eu era o pai deles.
---- Negativo! Você é o avô deles. Precisa esquecer a infância dos netos e filhos que criou Alberto.
---- Hoje eu sei disso. Mas a uns meses atrás eu não sabia doutora.
---- E por quê hoje você entende isso.
---- Porque descobri que eles tem vida própria, comigo perto ou longe.
---- Infelizmente Alberto, ou felizmente você aprendeu isso na pele né.
---- É sim doutora! Custou muitas noites doídas longe deles. Eu me achava culpado. Achava que os tinha abandonado.
---- E agora está ai bisneta e se você morrer com cem anos como brincas. Vais entrar num circulo vicioso e criar tataranetos. E assim por diante. Vais virar uma múmia criando gente pequena. Um faraó mumificado Alberto. Vais ficar pensando num amor perfeito que não vingou. Vais morrer pensando no corpo e amor de Aurora sem tê-la. Versos de amor que não fazem mais efeito. É isso Alberto que você quer!
--- Não doutora.
--- Você quer continuar chorando todas as noites na prisão do teu quarto Alberto! Com aquela dor emocional cutucando seu estomago Alberto!
--- Não doutora!
--- Você quer ver Alberto sua amada Aurora sorrindo nos braços de outro Alberto!
---- Não! Isso não!
A doutora Esmeralda percebendo que tocava os pontos fracos de Alberto continuou mexendo em suas feridas.
--- Você quer Alberto por acaso voltar a ver a sua mãe te reprendendo e de chinelo em punho para lhe castigar.
--- Não! Não quero doutora!
A voz de Alberto começou a ficar irritada. Com coisas que ele não queria lembrar.
A doutora continuou a fustigar l
--- Porque você não luta contra isso Alberto. Aurora disse que você era um rato. Gostou de ouvir isso Alberto!
--- Não eu odiei ouvir isso. Eu não sou um rato! Não sou doutora!
--- Eu acho que é Alberto. E sua mãe esta vindo com o chinelo para matar esse rato Alberto!
--- Ela que se atreva doutora!
--- Se atreva a o que! Matar o rato que você é. Escondido na proteção da Aurora. Daquela Aurora que você queimou a foto no Pontal.
--- Não doutora! Ela morreu não existe mais. Eu queimei a alma dela!
--- E agora Alberto! Quem vai te defender. Sua mãe esta chegando com o chinelo Alberto! Aquele chinelão de couro que você odeia. Aquele de couro cru que arde na alma Alberto.
Alberto começa a se descontrolar e grita. --- Para mãe!
A doutora Esmeralda entra no corpo da mãe braba e diz a Alberto.
--- Parar por que! Porque você me desobedeceu! Porque você foi para rua! Seu moleque, seu rato.imprestável..
--- Para mãe! - gritou Alberto – Eu não fiz nada! - pergunta para Aurora!
--- Aurora morreu seu moleque. Você botou fogo nela. Você esqueceu os seus netos. Seu rato, sem vergonha.
--- Não mãe, por favor, eu não fiz isso. Não mãeeee!
--- Nãoooooo! Mãeeeee! Para! |Para mãeeeee.
O grito de Alberto foi ouvido na casa toda. Correram para acudi-lo. Ele chorava com convulsões. Sua dor estomacal era enorme. Tinha enormes anciãs de vomito. Estava sentado cabisbaixo na cadeira do computador. Na tela do mesmo, a doutora Esmeralda chorava de alegria. Por ver seu paciente finalmente se libertando de uma boa parte das suas aflições.
Por um bom tempo Alberto ficou com os olhos parados no nada.
--- Alberto olha para mim! – disse-lhe a doutora.
Ele não olhava. Estava exaurido. Sentia-se com vergonha percebeu o quanto era covarde e criança. O quanto era indefeso. O quanto não sabia tomar decisões sem lhe doer o ego. O quanto era difícil viver e ter que dar satisfações à mãe e a Aurora do passado, aos netos. pois nada fazia sem perguntar a eles. Percebeu que não tinha vida própria. Que sempre era dependente de todos. Da mãe da Aurora dos cabelos negros. Das filhas dos netos. Achavam que todos precisavam dele para alguma coisa. Não percebeu nunca que todos tem suas próprias vidas. Que todos são felizes as suas maneiras. E que cada um deve ser responsável pelos seus atos.
Se guardam magoas dele se gostam dele se amam ele ou brigam com ele. Agora não importa mais. Alberto ganhou vida própria. Uma vida nova com setenta anos de idade.
--- Alberto olha para mim! - Pediu novamente a doutora. – Pelo menos me escuta Alberto. Tome o remédio que receitei. Eu também estou cansada. Amanhã nos falamos. Descanse em paz meu menino. Amanhã eu volto a vê-lo.  

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