Mais tarde...
O celular de Alberto toca!
— Alô Alberto! Sou eu a doutora Esmeralda!
— Doutora Esmeralda!
— Ligue a sua câmera! Estou em vídeo.
Quando a tela se abre, Alberto vê a doutora Esmeralda à sua frente. Cabelos curtos e loiros. Já não tem mais os cabelos de corda que dava um charme especial à Maria Esmeralda da infância. Porém os olhos tem a mesma cor. Não são os olhos da menina apaixonada da infância que Alberto conhecia. Não é a pessoa que Alberto imaginava ver. E não viu.
— Oi doutora tudo bem! Nossa como você é bonita!
— Bobagem sua Alberto. Você é que está um garotão. Com quantos anos mesmo!
— Setenta!
— Vai longe menino! Porém estas numa crise braba na cabeça né.
— Obrigado! É sim a crise tá tão feia que tenho vontades de me jogar e deixar o mundo me consumir. Dói muito essa dor que não sei de onde vem. Não sei onde se localiza no meu corpo. Mas sei que dói muito.
— Calma menino desesperado. Não pense que essa dor é curada com remédios. Acalme-se desse desespero. Não pense que eu sou Deus. Que vou deixar suas dores em ordem estalando os dedos.
— Desculpe doutora! É que não tenho ninguém para conversar e me entender. Não tenho ninguém, luz nenhuma para me ajudar. Os que me ouvem sabem menos do que eu. São só consolos. Porque gostam de mim.
— Alberto pelo que você me mandou nesses últimos três dias. É uma pessoa normal, age como uma pessoa normal. Só tem pensamentos que voam. Que te levam ao passado. Sonhas o que existe só dentro de você. Dos teus pensamentos. Não conseguistes realizar os teus sonhos. Ai é que você entra em parafuso. Em desespero. Teu passado é a tua doença. O que foi feliz no teu passado esta te atrapalhando no presente. Quando você se sente bem. Logo vem o passado à sua mente. Essa é a sua confusão. Não aprendeu a separar o joio do trigo.
— Não sei o que lhe dizer doutora.
— Não diga nada! Apenas me escute com atenção.
— A sua Aurora conforme você disse. Não lembra muitos detalhes do passado de vocês no Pontal da Cruz. Ela é uma pessoa extrovertida e agitada. Pessoas como ela não guardam nada do passado a não ser muito marcantes. Porque estão sempre pensando nos próximos minutos de vida. Ela tem sede de viver o minuto seguinte. Enquanto você tem sede de definhar uma felicidade que não volta mais. E assim se suicidar trancado nas tuas quatro paredes.
Li o trecho que você me mandou do seu livro. Deu para sentir o quanto você é escravo do teu passado. O quando você sonha num ritmo retrógrado. O quanto você voa em cima do que não existe mais. Se você não se curar e entender isso. No futuro seus livros serão bem chatos. Nosso mundo já não tem mais lugar para o romantismo. Para amorzinhos, para ternuras. Não tem lugar para fantasias e contos de fadas.
Você Alberto menino é bobinho. Não aprendeu a aceitar a modificação das pessoas. Sai do passado Alberto.
Agora preste bastante atenção neste teste. Olha bem para os meus olhos. Vou chegar à câmara bem perto. Olhe bem e diga o que você vê. Eles continuam verde-esmeralda disso eu sei.
— E bonitos como sempre! Diz Alberto.
— Sabe por que eles continuam verdes e bonitos! Porque eu estou viva. Agora me diga se meus olhos são os mesmos da Maria Esmeralda que você conheceu no passado. No nosso amor da infância.
— Não quero nem pensar nisso doutora.
— Mas vai pensar. Olha de novo Alberto e me fala o que você vê!
— Não sei explicar doutora!
— Olha de novo Alberto! Olha para meus olhos e me diz se você vê meu amor por você de quando éramos o passado.
— Não doutora! Vejo teus olhos verdes descontraídos e de quem sabe o que quer e o que faz. Como os olhos da professora Dinah lá do nosso grupo escolar
--- Então não deixe mais essa nostalgia fazer parte de você. Isso é compulsão. Jogue fora suas musicas antigas. Embora as novas sejam umas drogas. Não viaje mais na adolescência. Ou então na infância. Deixe coisas velhas para trás onde elas devem estar.
--- É difícil doutora! Tudo isso de uma vez só. É muito difícil. Começar tudo de novo. Já tenho setenta. Meu tempo é pouco preciso ser feliz agora.
--- Alberto para isso você precisa estar curado! Precisa abrir algumas portas e fechar as venezianas do passado. Isso significa em deixar coisas e lugares para trás. Como você fez lá no Pontal deixando lá a tua juventude. Foi dolorido eu sei para você queimar a foto da Aurora, mas foi um começo.
--- Doeu mesmo. Arrependi-me de queimar a foto.
--- Não diga isso menino! Isso mostra que sua personalidade está em baixa. É preciso coragem para queimar coisas antigas que não tem mais espaço em nossa memória afetiva, deixar os espaços onde não somos mais felizes. Encarar o novo e deixar de se refugiar em colos ou pessoas que já ultrapassaram os limites por nos socorrer muitas vezes. Você Alberto precisa respeitar sua dor deste tempo e abrir outras portas. Como aconteceu no Pontal quando você encontrou a doutora Cristina. Pelo jeito é uma mulher interessante Alberto.
--- E muito doutora. Eu gostei do jeito dela.
--- Lógico que gostou eu vi a foto ela é bem parecida com Aurora. Está ai uma porta se abrindo para você Alberto. Talvez você não precise nem pensar que lhe resta pouco tempo, para ser feliz.
--- Até pode ser doutora, mas um buraco não tapa o outro da noite para o dia. Mais difícil ainda quando a gente tem um amor tão vivo no peito como o de Aurora. Também sei que ninguém é de ninguém e que a fila anda. Porém trocar de boca para beijar não é igual.
--- A troca não é tão grande Alberto! As bocas delas são iguais. De um beijo na doutora Cristina e veja que sabor tem.
--- Você esta me induzindo a isso doutora!
--- Não Alberto! Só brincando com você. Sua consulta terminou por hoje.
--- Que pena é muito bom te ouvir. Ajuda-me a não sofrer. Sinto-me relaxado e bem.
--- Até amanhã Alberto. Bom sono.
--- Até amanhã doutora.
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