20/11/2019

DEPRESSÃO – PARTE CINCO –AS PROMESSAS

 



Prometi e o farei doutora. Vou sair destas quatro paredes. Vou ver gente pessoas, vou tentar sorrir para todos. Depois vou fazer uma pequena viagem de três dias. Que vai me ajudar a passar o tempo. Na segunda feira então enviarei meus relatórios para dizer-lhe o que senti.

Por dois dias Alberto saiu do quarto. Raspou a barba penteou os cabelos. Bermuda chinelos e camiseta completaram o uniforme. Foi andar na areia onde as pessoas adoram ter os pés massageados pela areia úmida.

Antigamente ele andava esse trajeto, porém perdido em pensamentos e olhando para o nada. Nesses dois dias ele fez o contrário. Andando de chinelos nas mãos olhou para as pessoas que vinham em direção contrária. Enquanto andava sentia a sola dos pés massageadas. Sentindo algumas cocegas que não aconteciam antes. Cumprimentou pessoas olhou-as nos olhos. Moços moças, idosos e crianças. Um batalhão de andarilhos dos mais variados tipos de corpo. Uma multidão de felizes. No segundo dia alguns rostos se repetiram. Reparou que duas pessoas do dia anterior sorriram e o cumprimentaram. Continuou a caminhada por quase um quilometro. Na volta cruzou com um monte de gente que haviam passado por ele na ida e sorriu. Um sorriso meio besta, mas um gesto de satisfação.

Cruzou com uma senhora com chinelos enfeitados e uma bengala sua companheira, com cabo torneado em madrepérola. Lembrou-se de quando ele e Aurora falavam sobre a velhice. Aurora achava chique uma anciã com uma dessas bengalas. Alberto prometeu dar-lhe a bengala e via Aurora de cabelos brancos apoiada na bengala e sorrindo. Como a anciã agora pouco o tinha feito.

Estranhou nunca ter reparado em andarilhos de praias conversando animadamente. Uns se lamentando outros sorrindo, Outros chutando a água e andando. Com raiva de alguém ou de alguma coisa. Ou simplesmente chutando a água com a alegria de ver os pingos como perolas ou diamantes levantando e com o atrito o sol dando as cores do arco-íris.

Havia de tudo nessa caminhada pela beira d'água. Novidades que seus olhos nunca repararam. Novamente na outra volta à idosa com a bengala de madrepérola sorriu para ele dizendo.

Já de volta meu jovem! Bom dia.

A mulher devia ter seus noventa anos. Faltavam talvez vinte para Alberto chegar nessa idade e a mulher sorria como uma garota de vinte. Uma alegria contagiante começou a tomar conta do paciente da doutora Esmeralda. De repente virou-se em direção ao mar. Chutando as ondas baixas. Seus passos tornaram-se rápidos apressando sentindo a água pela cintura. Pulando alegremente e chutando a água. Tinha a impressão de flutuar. E lá vai ele agora a pular mar adentro. Sua alegria era tamanha que não conseguia parar. À frente o rosto de Aurora sorrindo. Abriu os braços em busca do abraço. Parecia extravasar a alma. Cada vez mais fundo, num desespero de sumir de sorrir. Numa vontade tamanha em que a vida se acabasse naquele momento. Seria a gloria morrer abraçado à Aurora. Num misto de desespero e alegria. Seu corpo foi ao fundo. A vida sumiu. Caindo na onda forte.

Acordou com uma moça salva-vidas lhe fazendo pressão no peito para que vomitasse a água engolida. Acabou sua manhã na maca do posto de salvamento. Sentiu uma suave mão feminina limpando seu rosto com um naco de algodão. Logo se lembrou da falta dos carinhos da mãe. E interpretou a mão feminina da enfermeira como a de Aurora de cabelos curtos e negros.



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