INESPERADO
E DOLORIDO ENCONTRO
Certa sexta feira ao sair do trabalho e andando em
direção ao ponto do ônibus Carlinhos ouviu um chamado.
— Cailiiinho! Essa vós! Seu coração gelou! Parou pensando sonhar.
— Cailiiinho! Não teve mais duvidas.
Virou
para onde estava a vós e viu aqueles olhos verdes o cabelo de corda e as
bochechas vermelhas. O maldito arrepio veio da nuca até o pé da bunda. Aqueles
olhos aqueles benditos ou malditos a lhe olhar. Aproximou se dela e com um
ímpeto de saudades abraçou aquele corpo tão desejado e cultuado. As lágrimas
queimaram lhe as bochechas a amada dourada ali na sua frente. Os nervos em
frangalhos devido ao enfarto emocional. Aquele sonho que um dia ela podou
estava ali como um presente a ser desembrulhado. Porém lembrou se de Nick e
soltou Esmeralda.
Ela o abraçou novamente oferecendo lhe a boca.
Ele esqueceu Nick e sorveu aqueles lábios com sofreguidão. Com o sabor de
saudades, de vida, sabor de felicidade.
Finalmente
Esmeralda conseguiu falar.
— Cailinho! Que saudades. Não imaginas que falta você me faz. E esse
beijo já tinha esquecido o quanto ele é gostoso.
Foi olhando para Esmeralda assim bem de pertinho que
Carlinhos percebeu o quanto ela se tornara mulher. Os olhos continuavam
terrivelmente apaixonantes. A boca um tanto carnuda e mais delineada. Mais
convidativa a deliciosos beijos. E o rosto de uma mulher madura e bem mais
atraente. Dando a entender o que ela mais desejava naquele momento!
— Preciso do seu amor Cailinho! Disse-a com vós
ardente. Carlinhos ainda estava meio bobo e desencontrado e perguntou lhe.
— Como você me achou!
— Foi sua mãe, que me deu o endereço do teu
trabalho.
— Minha mãe? Estranho isso!
—É Cailinho
foi sua mãe, deixa eu te explicar.
— Logo depois que eu me casei, não demorou nem um
ano me separei. Meu marido era violento e por duas vezes me agrediu. Ai, falei
com um tio meu que era advogado, logo tomou providencias para me desquitar. Eu
ainda fiquei morando com meu avô e no ano passado ele faleceu! Voltei para São
Paulo e fui à casa da tua mãe. Eu disse a ela que tinha muita vontade de te
ver. Ela me disse que você tinha casado, mas me deu o endereço do teu
trabalho!
— É eu estive lá em Maringá na tua terra! Disse
Carlinhos.
-– Maringá! Tu foste a Maringá! Cailinho?
— E não me procurou!
—
Ah! Procurei sim! E como me arrependi de ter feito isso. —
Não estou te entendendo Cailinho.
— A tua amiga Adélia é que me passou o endereço e
quando cheguei perto da casa do teu avô, te vi de beijos e abraços com um cara
que tinha o cabelo de corda igual ao teu.
— Porque você não foi falar comigo Cailinho?
— Meu choque foi tão grande, que virei no pé e sai
dali rapidinho! E depois falar contigo, naquela hora ia dar uma confusão braba.
Porque no mínimo aquele cabelo de corda ia se meter na conversa. Eu passei mal
pelo choque e me sentei um pouco no banquinho da quitanda que tem na esquina.
Eu vi o teu namorado ir embora, ia voltar para conversar com você.
— E porque não voltou Cailinho!
— Eu voltei! Só para jogar o colar no quintal. Foi
um modo que encontrei para me despedir de você.
— Ai Cailinho para! Isso está doendo muito. Eu nunca
entendi como meu avô achou aquele colar no jardim. E eu sabia que era o mesmo,
por causa da bolinha descascada. Ai amor da minha vida como dói essa conversa.
Os dois falavam e choravam. E se abraçaram
novamente. Carlinhos a tinha encostada ao ombro e afagava seus cabelos enquanto
sentia um misto de amor e raiva. Um medo forte no peito. Teve vontade de
empurrá-la com força, para longe dele. Pensava em Nick e no bagaço que sua vida
virou em menos de meia hora. Já tinha se conformado em ficar sem a dourada na
sua vida. E do nada! Ela aparece chorando em seus braços.
— Cailinho! Me diz porque você se despediu de mim
daquela maneira! Jogando o colar no quintal.
— Porque no banco da quitanda ouvi seu Honorato teu
avô! Dizer para o quitandeiro que você estava de casamento marcado. Os teus
pais deram um golpe no destino e separaram nos dois. E teu irmão Flávio foi o
mentor da separação.
-—Ai Cailinho! Você não me escreveu nenhuma carta.
— Escrevi quatro! Todas foram parar nas mãos da tua
família, ninguém me dava o teu endereço. E depois quando soube que o Flávio
tinha batido no Luís, dei um jeito de fazer um estrago nele com um estilingue.
— Foi você Cailinho! Disse ela espantada.
— O Flávio ficou uma semana sem trabalhar, com a
costela engessada!.
— Eu sei e foi pouco! Para tanta maldade que ele fez
conosco. Depois que tua avó faleceu, me disseram que teu avô tinha ficado muito
doente, e que você tinha que ficar tomando conta dele!
— Isso é mentira Cailinho!
— Eu sei que foi mentira. Naquele dia vi seu
Honorato com muita disposição esquecendo a tua paçoca na quitanda!
Esmeralda sorriu e disse.
— Tu és muito ladino Cailinho!
— E você nunca entendeu o meu amor e cuidado que eu
tinha com você, para dar tudo certo entre a gente. Você nunca entendeu do que
eu seria capaz para tê-la sempre nos meus braços!
Mais uma vez Esmeralda chorou e ofereceu a boca para
Carlinhos. Este a sugou com desespero.
— Depois que vi tudo isso em Maringá, resolvi pegar
o primeiro trem e voltar, foi a pior e mais longa viagem da minha vida!
— Imagino o que se passou pela tua cabecinha de menino apaixonado.
Concluiu ela.
— É dourada, foi muito ruim.
— Dourada! Como é gostoso ouvir essa palavra meu poeta! E ele continuou
falando!
—
Praticamente fugi da minha casa, daquela rua, daqueles dias em que eu sentia os
meus pés no chão levantando a poeira da nossa rua! Aqueles momentos de felicidade
com a minha dourada. Aquele cantinho só meu. Nunca ninguém no mundo teve um
paraíso como aquele!
E as lágrimas lhe rolaram pela face! Esmeralda com
as palmas das mãos enxugou-as.
— Chega! Meu menino, não se torture mais. Disse ela
com afeto.
— Eu senti que meu cantinho tinha acabado e após um ano depois que
mudamos de lá. Também deixei a casa da minha mãe. Falou Carlinhos ainda
enxugando as lágrimas.
— Eu sei o que você deve ter sofrido! Meu menino
poeta, eu também sofri muito, viu Cailinho.
— Eu não só sofri Esmeralda! Tive meus sonhos
jogados ao vento, minha ternura e encantos cortados, minha pureza de amor
decepada, por um par de olhos verdes, cabelos de corda e bochechas vermelhas. E
foi meu próprio anjo sem asas, quem fez tudo isso para mim.
— Cailinho me perdoa! Diz a dourada abraçando e
acariciando o corpo do menino poeta.
— Quem tem que se perdoar é você. Arrematou
Carlinhos.
— Afinal não entendi, porque se casou.
— Me casei porque perdi a virgindade! Com aquele
cara que tenho ódio de lembrar até o nome.
Essa confissão foi à punhalada final no peito do
menino poeta. Ele que preservara a virgindade de Esmeralda para o momento
certo! Para que quando esse dia chegasse à explosão dos dois em um êxtase só,
fosse o grande pacto de amor. Seria a benção as trombetas soariam e Deus na sua
infinita bondade diria a Carlinhos.
— Cuida bem menino e com muito amor, este presente
que lhe dou.
Com certa revolta Carlinhos desvencilhou-
se dos braços de Esmeralda. Olhando bem nos olhos dela e com o coração magoado
disse.
— Vou embora! Desculpe preciso ir!
— Você
não pode ficar comigo algumas horas Cailinho!
— Hoje
não! Tenho compromisso.
— Eu sei é tua família né. —
É...
Esmeralda
abraçou o amado e desta vez foi ela quem o beijou. Ele não querendo e querendo
ao mesmo tempo correspondeu a mais um longo beijo. E no calor do desejo
Carlinhos percebeu que esse beijo já não tinha o sabor da ternura da pureza e
do encanto. Já não tinha o sabor do amor do sonho menino. Já não sentiu o
arrepio que ia do pescoço até o pé da bunda!
Esmeralda se recompôs e deu para
ele um cartão dela com o endereço do Guarujá. Cidade vizinha à Santos e disse
que o esperava para tomarem um café no domingo pela manhã. —
É do Guarujá o endereço! Da Rua Mario Ribeiro!
— Como é
que você sabe disso Cailinho! Pergunta ela espantada!
— Já
estive lá a sua procura! Só não sabia o número do apartamento e o porteiro
também não quis me dar informações suas!
—
Cailinho do céu! Tanta coisa você fez por minha causa!
— Foi
tudo por amor, por desespero, nunca passou pela minha cabeça perdê-la. Eu tinha
um pacto com Deus. Era ele no céu e a dourada na terra!
— O pior foi ficar de frente com você, na rua
enfrente a porta do teu prédio, você me fitar alguns segundos me olhando e não
me reconhecer! Essa foi a coisa mais dolorida da minha vida.
—
Cailinho! Você esta me deixando maluca! Que conversa é essa!
— Vou te
dizer só o final para você acreditar. Depois de você passar por mim, e ter me
olhado de frente por alguns segundos. Atravessou a rua e entrou no Edifício
Magnata de vidros escuros, e ficou na porta do elevador. Quando este chegou,
saiu um cara meio coroa de dentro dele te abraçou e te beijou na boca. Você
subiu no elevador e o coroa saiu do prédio entrando um carro Simca Chambord,
vermelho que estava estacionado na rua.
—
Cailinho quem tinha um carro era o Gustavo ele morreu num acidente ele corria
muito. Foi meu namorado e deixou o apartamento para mim de papel passado! Eu
estudo na faculdade onde ele era o reitor.
— Pega
também esta foto minha Cailinho para você nunca me esquecer! A despedida foi
bem seca por parte de Carlinhos. Já a loirinha que não se deu conta disso, saiu
toda cheia de afagos para com ele.
Carlinhos guardou no bolso o
cartão e a foto e foi na direção do ponto de ônibus. Esmeralda ainda ficou
parada esperando ele dar um Tchau, mas ficou sem isso.
O menino poeta foi para casa pensando, porque sua mãe, sabendo que ele
estava casado deu o endereço do seu trabalho para Esmeralda. Mas talvez esse
tenha sido a melhor coisa que dona Consuelo havia feito por ele. O último beijo que Esmeralda lhe deu indicou
o caminho, o rumo da vida de uma vez por todas. Então uma oração de
agradecimento a Deus por deixar a vida lhe sorrir novamente. E nas voltas que o
mundo dá, entendeu que agora era a hora da dourada perder o trono. E numa troca
de sofrimentos o destino ditava as suas regras. A loirinha estava sofrendo de
amor e Carlinhos ainda chorou com pena dela.
Ao abrir
a porta e entrar em casa ouviu a vozinha da pequena Nick que correu para os
seus braços!
—
Papaaaa!
E num
abraço forte e carinhoso pegou a filha no colo e chorou copiosamente de
felicidade. Mais tarde jogou o cartão da dourada no lixo e na janela da área de
serviço do apartamento com a foto dela na mão, olhou a pela última vez e pensou
consigo:- Nunca tinha reparado que você tinha orelhas tão grandes e abertas. E
dizem que quem tem orelhas grandes voa!
E lá foi a fotografia de
Esmeralda pela janela do terceiro andar. Voando
no vento amigo.
Voltou
para cozinha e Lorena estava encostada na pia com os afazeres do jantar, abraçou
a esposa pelas costas e com ternura beijou-a, sentindo seu corpo estremecer.
— O que é
que você quer meu amor! Indaga Lorena.
— Porque
essa impaciência e aquele choro, quando você chegou e abraçou a Nick!
— Só
quero que você me perdoe!
—
Perdoá-lo porque Carlinhos! O que você aprontou
— Não sei
se aprontei, mas hoje eu entendi muita coisa da minha vida! Hoje aprendi que
você é o meu amor. O meu chão a minha heroína de todas as horas. Enfim é a
minha namorada, que Deus pôs no meu caminho!
Lorena
olhou para o marido com lágrimas nos olhos.
— Se você
aprontou ou não! Eu te perdoo, agora se você está se sentindo culpado por
alguma coisa que fez peça perdão para o João Carlos.
— Que
diabo de conversa é essa Lorena! Quem é esse João Carlos?
E Lorena,
virando-se de frente para o marido, deu uma tremenda gargalhada de felicidade.
Apontando o dedo indicador para a barriga falou!
— Ele
esta aqui ó! Na minha barriga.