Trancada em seu quarto no velho casarão das mulheres de
aluguel, sentindo-se no abandono das quatro paredes velhas e rabiscadas pelo
tempo que assistiram grandes cenas e idílios de amor, Miranda sufocava suas
mágoas do sentir.
Às vezes abria a porta da mente, num mundo fantasma, num
mundo de ilusão: onde a fantasia tomava conta do encanto; onde ela aparecia
como bela. Então ela amava o belo e o lindo no mundo mágico do amor.
Onde estaria agora o seu poeta amado, das palavras doces que
lhe confortavam a alma, o seu menino apaixonado que a fazia sucumbir em
êxtases?
Onde estaria aquele homem-moleque que mergulhava no seu
âmago deixando seu corpo febril e doente de amor? Onde estaria o delirante remédio
para sarar a sua saudade, que tomada na dose certa a deixava curada e depois
abatida, voando por encantos afetuosos?
Chorava muito quando se desencantava, saindo do mundo do
amor. Então, percebia que era apenas uma roupa de carne rasgada e rota pelo
tempo de uso. Hora de trocar a embalagem para continuar no infinito da vida; hora
de sucumbir e libertar a alma, deixando-a colocar uma nova roupa.
Sem o sentir do amor, para que viver?
Sem o sentir do amor, para que viver?
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