29/06/2018

EMBALAGEM

Trancada em seu quarto no velho casarão das mulheres de aluguel, sentindo-se no abandono das quatro paredes velhas e rabiscadas pelo tempo que assistiram grandes cenas e idílios de amor, Miranda sufocava suas mágoas do sentir.

Às vezes abria a porta da mente, num mundo fantasma, num mundo de ilusão: onde a fantasia tomava conta do encanto; onde ela aparecia como bela. Então ela amava o belo e o lindo no mundo mágico do amor.

Onde estaria agora o seu poeta amado, das palavras doces que lhe confortavam a alma, o seu menino apaixonado que a fazia sucumbir em êxtases?

Onde estaria aquele homem-moleque que mergulhava no seu âmago deixando seu corpo febril e doente de amor? Onde estaria o delirante remédio para sarar a sua saudade, que tomada na dose certa a deixava curada e depois abatida, voando por encantos afetuosos?

Chorava muito quando se desencantava, saindo do mundo do amor. Então, percebia que era apenas uma roupa de carne rasgada e rota pelo tempo de uso. Hora de trocar a embalagem para continuar no infinito da vida; hora de sucumbir e libertar a alma, deixando-a colocar uma nova roupa.

Sem o sentir do amor, para que viver?

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