29/06/2018

EMBALAGEM

Trancada em seu quarto no velho casarão das mulheres de aluguel, sentindo-se no abandono das quatro paredes velhas e rabiscadas pelo tempo que assistiram grandes cenas e idílios de amor, Miranda sufocava suas mágoas do sentir.

Às vezes abria a porta da mente, num mundo fantasma, num mundo de ilusão: onde a fantasia tomava conta do encanto; onde ela aparecia como bela. Então ela amava o belo e o lindo no mundo mágico do amor.

Onde estaria agora o seu poeta amado, das palavras doces que lhe confortavam a alma, o seu menino apaixonado que a fazia sucumbir em êxtases?

Onde estaria aquele homem-moleque que mergulhava no seu âmago deixando seu corpo febril e doente de amor? Onde estaria o delirante remédio para sarar a sua saudade, que tomada na dose certa a deixava curada e depois abatida, voando por encantos afetuosos?

Chorava muito quando se desencantava, saindo do mundo do amor. Então, percebia que era apenas uma roupa de carne rasgada e rota pelo tempo de uso. Hora de trocar a embalagem para continuar no infinito da vida; hora de sucumbir e libertar a alma, deixando-a colocar uma nova roupa.

Sem o sentir do amor, para que viver?

26/06/2018

UM BOTÃO, UMA ROSA, UMA MULHER

Veio com a brisa fresca da manhã, carregado pelo vento do destino, rolando pela relva junto com as folhas de outono. Peguei-o nas mãos com carinho. Parecia ter sede e precisava de afagos. Coloquei-o na janela pousado num copo com água.
Ali ficou por dias a descansar e a se recuperar. Pequenos brotos apareceram junto aos seus poucos espinhos. Desabrochou numa manhã . Uma linda rosa-mulher espalhando seu perfume pelo jardim do meu coração. Encantando minha vida como um poema escrito pela alma.
Como uma fada, me encantou todos os dias em doces carinhos e ternuras. São mágicos os seus olhos me atraindo para suas pétalas trançadas de amor. Fico preso nelas como um escravo das suas caricias. Amo-a tanto, que me transformo num menino que sonha todos os dias com fadas mágicas que encantam embalando meus sonhos.
Luto contra o tempo para não crescer. Minha alma escolheu-a como o fruto mais tenro. Um adocicado sabor do mel de amor. Minha rosa que o vento do destino me trouxe, minha mulher. 
Um presente de Deus.
                                 


19/06/2018

VELHICE DO ESCRITOR

.... e vem de novo uma apatia a invadir os meus sonhos sem lembranças. Esta minha memória desbotada do meu mundo. Um desamparo total.
Tudo é fechado e silencioso.
Cenário de horror!
Uma paisagem lúgubre, sem luz.  Acendam a luz!
 Sem esperança, acho que são os meus medos.
Um cenário de horror, pesadelos de amor!
Ah,  meu amor, onde estás?
 Nunca mais apareces, só sombras fantasmagóricas moram nesta casa.
Ah, amor, para de assustar!
 Já não chega esta solidão de vida afetiva, este abandono da minha alma que murmura de pavor?
Esta dor que acorrenta meu corpo, com elos de mágoas. Ouço a toda hora, desesperados,  os gritos que ecoam dentro de mim.
Ai que bom...  Pararam de gritar.  Mas esses gemidos de dor, de quem são? Este estalo de açoite está sangrando meu peito.
Aquela sombra, será que é meu filho chegando?  Não, não é, eu sinto que não é.
Meu Deus!  Será que ainda existe Deus?
 Então, por que me deixas neste doloroso labirinto de abandono?
 Porque meu sorriso agora é parte de uma fantasia.
É este o caminho?
Não conheço este caminho, mas conheço esta casa; acho que era aqui que eu morava; vou ver se minha mãe esta lá dentro; deve haver algum equivoco. Não há velório por aqui, ou será que esqueci?
 Será o caminho do meu túmulo, mas não acaba nunca?
Ou será este o infinito castigo da minha alma?

17/06/2018

UM BAILINHO NA GARAGEM


Um doce mel nas tardes de domingo, um inimaginável sonho da juventude,  nossos bailinhos na garagem.

Nunca vou me esquece de você, dos nossos momentos, mais românticos impossíveis. Quem viveu aquele sonho não sabe descrevê-lo: era um conto de fadas!

Era como se naquele momento existissem no mundo só dois jovens: eu e você. Nada mais para perturbar a simples e romântica aventura; uma musica gostosa para sonhar.

Por alguns instantes do estar, namorar sonhar, abraçar e acarinhar. Voar num mundo mágico.

Eu e você juntos, por três minutos dançando, vivíamos o mais puro instante do sentir. 

Era a mais pura essência do nosso amor.

15/06/2018

PAINAS A PLANAR


Pequena e delicada flor de paina a balançar na relva, soprada pelo vento manso que a faz bailar num majestoso passo de valsa.

Parece sorrir se divertindo, como uma jovem a sonhar debutando num lindo vestido de plumas e lantejoulas.

Quanto se cansa da brincadeira, o vento, numa lufada mais forte, sopra a flor que explode numa alegria grande espalhando milhares de paraquedistas no ar, como uma chuva de prata de fogos de artificio.

E lá vai novamente o vento a brincar com os mimosos paraquedistas, soprando-os a planar, para que se espalhem pelas relvas do mundo, renovando a vida.

12/06/2018

ALMA GÊMEA


É difícil ser feliz, mais difícil é ser feliz com sinceridade; quando se faz do amor uma só vida como uma brisa que vem do mar, tão leve que a sinto como os afagos das tuas mãos no meu corpo.

Quando nas manhãs chuvosas nos aconchegamos na cama, nos sentimos num altar como dois anjos flutuando em nuvens de encantos. Vivendo um momento de beijos e carícias, descobrindo a cada dia o grande defeito que temos:  sempre nos amarmos mais, em um embalo de emoções que nunca se acabam e que nos extasiam a cada olhar.

Tu és o meu café forte de todas as manhãs, um sabor que invade minha boca sedenta adoçado pelo néctar melado da tua boca.

É difícil ter na vida um só amor como eu tenho, fazendo de ti meu sonho de todos os dias. Minha alma gêmea querida, único amor desta vida.

Quando vier a eternidade, seguirei tua luz que me guiará sempre para voltarmos gêmeos nas outras vidas. A única razão para viajarmos no espaço dos anjos será o amor das nossas almas.

Então, deste nosso cantinho de amor, todas as manhãs te digo sorrindo:

— Bom dia, meu amor, o café esta gostoso!  


11/06/2018

A VALSA DE ENCANTOS

Olho pela janela. O dia é tristonho, chuva chata. Bate uma melancolia no meu peito vazio. O vento vindo de fora gela minha alma. Um dia choroso, um dia em que a saudade vem fustigar a gente.

Os pingos escorrendo pela vidraça recordam você e nosso namoro. Você vinha correndo na chuva, parava a sorrir em frente desta mesma janela. Um sorriso puro, encantador!
Um anjo molhado. 

A água escorria pelos teus cabelos de franjas negras afagando a tua cútis morena. Tu me olhavas com ternura e os pingos de chuva que escorriam paravam na ponta do seu queixo. Pareciam gotas pérolas a enfeitá-lo.

Meu coração disparava num galope quando teus olhos matreiros de amor me diziam: “Vem dançar comigo na chuva!”

Rapidamente eu pulava a janela e abraçava teu corpo molhado. Nossas mãos entrelaçavam os dedos. Nossos corações marcavam o compasso. O sentir se fazia presente no salão das águas; onde, ao ritmo da chuva, dançávamos a nossa valsa de encantos. 

09/06/2018

LAMENTOS DE AMOR NA MESA DO BAR DA VIDA


Venham, minhas amigas, sentem-se ao lado. Vamos brindar!

Vamos tomar uns goles desta aguardente de mágoa. 

Venham! Vamos sentir o nó amargo de dor na garganta. Venha, minha amiga lembrança! Conte-me se o sorriso dela ainda é encantador, me ajude a lembrar daqueles olhos sensuais. Ela ainda está bonita?

E você, saudade, encoste-se ao meu peito, sinta como dói a dor do amor. Tome outro gole deste destilado de abandono. Dê-me um pouco da sua companhia, veja como chove solidão dentro de mim.

Fico lembrando... Será que ela ainda está aquela musa? Será que o velho tempo amigo cuidou dela, não deixando a vida enrugá-la demais, não estragando seu encanto com sofrimentos e dores como as minhas? Será que ela ainda é uma mulher que encanta e emociona os homens por onde passa?

Vamos amigas! Vamos abrir o nosso licor de memórias e cantar uma musica de dor. Vamos fazer um baile e dançar de tristeza, chorar um choro de criança lamentando a fome. Vamos implorar para minha alma um pouco de calma e alento para amenizar a falta do meu amor neste vazio.Não vou pedir para ela voltar, pois amor não se implora, amor se sente e se lamenta por tê-lo ou não.

Venham, minhas amigas, vamos fazer infinita a nossa amizade. Mas se ela voltar, meu lamento vai ser meu sorriso. Então, amigas, vou guardar para sempre, trancadas na adega do sofrimento, estas bebidas que nos embriagam deste mal de amor.

07/06/2018

DANDO A VOLTA POR CIMA NA VIDA


Ela passara o último Natal e Ano Novo somente com a filha a lhe fazer companhia. Restavam só as duas, uma família dizimada pelo tempo.

Partiram para outra esfera pai e mãe, o marido se fora também, fim de um amor fracassado. A tristeza se fazia presente dentro daquele coração como uma doença que talvez não tivesse mais cura, uma esperança muito longe, um remédio que não tinha mais receita.

Encontrei-a triste como em uma fotografia gasta pelo tempo. Seus olhos já não tinham mais vida. Olhei-a de cima a baixo procurando uma centelha de luz naquele corpo cansado da vida. Achei no canto da boca um pequeno e tímido sorriso.
Com o passar dos dias fui dizendo-lhe bom dia e sorrindo. Vi aquele corpo de setenta anos, desfilar um pouco mais belo, imponente tal qual ao de uma garota nova com um andar mais chamativo perante aos olhos dos jovens.

Do canto da boca, seu sorriso cresceu para os lábios, que agora já se enfeitam com um batom vermelho rosa. O mesmo odor rosa exala de seu corpo. O cansaço do desamor já não é mais uma dor.

Agora vejo uma velha-menina serelepe, que parece gingar como uma cabrocha em dia de samba. Vejo um sorriso procurando outros sorrisos para se dizerem bom dia. Vejo pessoas que se despedem dela e já sentem saudades. Vejo uma tremenda mulher, um furacão de sensualidade que me faz delirar a cada abraço, cada beijo. Vejo a vida de uma forma tão feliz e eloquente, que perante testemunhas, enlacei meus braços em volta seu corpo, como uma aliança.

Pedi-lhe em casamento durante um almoço e vibrei de alegria. Seu sim foram lágrimas de emoção e felicidade. Quando olhei para as testemunhas, elas brindavam com o que tinham nas mãos: pratos, copos, talheres e muitos sorrisos acompanhados de vivas e parabéns.

E agora, com nossos setenta anos, demos a volta por cima na vida.

05/06/2018

MEU M0LAMBO, MEU AMOR


Vagando pelas madrugadas, pelas calçadas. Olhando ruas de pedras sebosas a brilhar num cinza chumbo, coisa feia de olhar nos cantos escuros de cada esquina.

Meus olhos te procuram, jogada no chão da vida podre.

Prostituta bêbada!

Às vezes te encontro nas ruas do pecado. Mas foges novamente, sempre cantando restos de musicas, vagas lembranças da tua felicidade. Conheço teu repertório.

Quando descobri quem você era realmente, a tragédia do vício já havia se apossado da sua alma.

Por noites, no nosso leito de amor, compartilhei do álcool que te dominava e te fazia feliz. 

Fui um crápula também, me aproveitando da situação para ter os meus prazeres ao teu lado.

Trapo!
Molambo que peca por um gole na vida mendiga.

Andarilha dos bares sujos dos cantos escuros e fétidos do caís.
Dormindo em calçadas cuspidas, fazendo do meio fio o travesseiro, fugiu da minha cama, teu abrigo.

Fugiu de quem te ama.

Preciso de você, espero que não seja tarde.

Procuro por teu abraço, mesmo em um mundo só teu, onde o destilado é o inigualável prazer da vida.

Posso ser seu segundo prazer, porque eu te amo!

04/06/2018

O LIVRO DE POESIAS

Do saber das linhas,  ao perfume da rosa!

Poesias em delírios,
Versos transmitindo prosas.
Páginas mofadas, poéticas,
Contadas com amor sentido.

A velha rima embolorada, cheia de ética,
Perdeu o valor.

Jogado na estante,  com um passado brilhante!
O livro foi dado como presente,
Como carinho de amor.

Após esquecido, seu encanto
Do amor ausente, dorme ao relento...
Num monte de entulhos, jogado,
Mofado e ressecado. 

Como a rosa sem vida!





03/06/2018

EU, MEU MENINO

Aos domingos na matiné do cinema Pálace, assistia aos meus filmes prediletos de cowboy. Durante a semana, depois da escola, eu dava aulas para as bonecas da minha irmã. Era um professor enérgico! 

Mais tarde, jogava meu futebol eu era o craque do meu time: ora o Rivelino, outras vezes o goleiro Gilmar. Quando minha mãe me chamava para ir à padaria, era a melhor hora. Selava meu cavalo prata. meu Silver, e saia a todo galope pelas ruas da cidade poeirenta em busca dos bandidos.

E numa voz de moleque e de bom som gritava.
— Aiôôô...Siiilver!

Não existe nada mais lindo do que um sonho de menino brincando com todos os brinquedos da sua imaginação. Com o vento, eu me imaginava numa aventura de super-herói. Ficava em pé com os braços abertos em forma de cruz deixando o vento forte bater em seu rosto e corpo. A sensação de estar voando era enorme.

Lá das alturas, via as cidades aos meus pés como minúsculos presépios de Natal, sentindo o poder de planar e ser livre. Às vezes uma chuva,  garoa muito fina molhava meu rosto. Sorria, sentindo como afago as pequenas gotículas me escorrendo pela face!

Se eu pudesse ser menino novamente, iria pedir para o meu Papai do Céu nunca me deixar crescer, nunca me deixar sair do meu mundo do faz de conta. Só quem se lembra do menino como eu é que sabe como era boa a vida no seu mundo de sonhos!

01/06/2018

BOM DIA, MEU AMOR!


Enxergo esta alvorada
como os teus olhos se abrindo e iluminando a minha manhã.

Meus passos bailam na areia da praia
Onde ondas quebram em notas orquestradas.

No silêncio da vida o mar lava nossos pés.

É assim que caminho com teu amor ao meu lado.

A distância é difícil e doída,
porém meu sonho é forte e sentido.

E quando o vento beija minha boca, te sinto dentro da minha alma.

Bom dia, meu amor!