03/08/2020

MINHA BOEMIA

Numa serenata na prata da lua. Na calçada da rua, na madrugada. Vestem seu corpo um chapéu desgastado. Um cravo na lapela, um paletó amassado, vincado pelo tempo e o lenço carmim no pescoço.

O perfume do banho de sabonete barato. Hálito destilado de álcool. No canto dos lábios! O cigarro, prazer inigualável. Soprando a fumaça em véu de espirais azulados na noite. Como gestos de conquistas.

Andando em passos rítmicos. A bailar por salões fedidos em odores ocres. Vozes cantando dores de amores, sons dedilhados de violões em bordões, cavacos em harmonia um pistom estridente de surdina. Tira a dama como par, num gesto elegante. Sorriso feminino, boca borrada e olhar malicioso. Grudam os corpos entrelaçando as pernas. Um hálito quente no pescoço. Beijos cretinos procurando novos prazeres. Num eloquente bailado.

Mil mulheres nenhum amor. Nas vestes carmins pastosos, rubros! Melosos.

--- Garçom mais uma dose!

Gritos e choros ao longe burburinham. Vozes vadias. Frascos quebrando!

Boemia a troca da noite pelo dia. Uma felicidade vadia. Um sonho viciante.

Amanhece! A notícia do jornal. Café fresco com pão e manteiga no bar da avenida. Prostituta assassinada no cabaré da vida. Volta para casa. Mofo embriagante, banho. Sabonete barato, camisa encardida borrada de batom.

(Suspiro). Meu lar, meu quarto!


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