--- Cheguei! Pum!
Carlinhos assustou-se com grito e a voz grossa de um
homenzarrão que entrou no bar e deu um soco com a mão fechada no balcão.
— Cheguei? E me dá uma vodca? Disse o homem com um
sotaque meio português, meio espanhol e meio mais alguma coisa que não se
entendia a linguagem.
O homenzarrão com cheiro de suor e adubo misturados
trazia uma cigarrilha fedida no canto da boca. Estava barbudo e mal vestido e
com uma touca que perdera a cor de tão gasta. Alguns fregueses o cumprimentaram
e o chamaram de Russo, Carlinhos apenas acenou com a cabeça num gesto educado e
sorveu mais um golinho do seu conhaque. O homenzarrão bebeu a vodca num gole só
e pediu outra.
Olhou para Carlinhos perguntando o se era novato no
cais.
— Sim cheguei agora pouco de São Paulo! Respondeu
Carlinhos
— Que faz por aqui?
— Procuro trabalho! Respondeu Carlinhos.
—
Já achou? Disse Russo, dando um soco no balcão do bar.
— Como assim já achou! Indagou Carlinhos.
— Que trabalho você quer? Pergunta Russo.
— Qualquer trabalho! Desde que eu veja a cor do dinheiro.
Respondeu Carlinhos.
— Já achou amigo? E pum outro murro no balcão.
— Quer trabalhar agora! Pergunta o russo.
— Quero! Remenda Carlinhos
— Tome pegue esta senha! Falou Russo
entregando um papel a Carlinhos e continuou.
— Vá até o armazém 14 procura o chefe do terno do navio
Surimã e diga-lhe que quem te mandou foi o russo! E lá meu amigo esta o seu
trabalho.
Carlinhos agradeceu ao homem e ao pegar a senha que estava
em cima do balcão foi impedido pelo russo.
— Espere amigo, antes você vai tomar mais uma porque vai
suar a camisa!
— Qual é o trabalho!
Perguntou Carlinhos.
— Ureia! Há há há gargalhou Russo.
— Você vai trabalhar no porão do navio com a pá, encher a caçamba e
depois vem o guindaste e leva embora.
— Topas amigo!
— Topo qualquer coisa! Respondeu Carlinhos pedindo mais um
conhaque.
— Vou lhe explicar onde fica e pode deixar que pago o seu
conhaque e amanhã meu amigo te encontro aqui na parte da tarde ok.
Ok! Trato feito negócio fechado! Disse Carlinhos ao
Russo. E assim foi feito Carlinhos se
apresentou ao chefe do turno e com mais dois homens formaram o terno de
trabalho. No inicio Carlinhos começou a tossir e seus olhos a lacrimejarem, por
causa da poeira do produto. Numa pausa os homens riram e disseram que no começo
era assim mesmo e deram uma mascara para a ele, para que não respirasse o adubo
direto para os pulmões.
No final do trabalho já pela manhã Carlinhos estava muito
cansado e com as roupas bem sujas e grudadas ao corpo.
Todos tomaram banho e foram a um bar tomar café.
Carlinhos por sua vez foi para o bar onde havia encontrado Russo, pediu
um café e a sua valise que tinha deixado guardada na noite anterior. O sono já
estava se fazendo presente em seu corpo, andou para a estação de trens. Pois
havia notado bancos na estação quando chegou à cidade. Sentou -se num deles
estava tão cansado que nem lembrava ter dormido e dormiu o sono dos mendigos.
Quando acordou espreguiçou se e ficou por um tempo olhando o movimento da estação, levantou-se e foi a caminho do bar e pediu um café. Mas notou que uma mulher que estava sentada no banco ao lado do seu o seguiu até o balcão.
Ele virou-se para a mulher perguntando o que ela queria
dele!
— Moço o
senhor pode me pagar um café! Disse a mulher com voz miúda e assustada.
Carlinhos olhou para ela e viu dois grandes e lindos
olhos negros e lhe respondeu.
— Eu te dou um café, mas me diga primeiro o seu nome!
— Ligia!
— Tá bom Ligia! Venha tomar seu café! Quer um pão
também.
— Se o senhor puder pagar eu
aceito!
Foi pedido o café para a mulher e Carlinhos lhe perguntou o
que ela fazia jogada no mundo daquele jeito.
— Ando por ai moço, pela vida sou mulher da noite do dia de
qualquer homem. De qualquer coisa, não tenho nada na vida e nem posso ter.
— Nem vontade de viver!
Perguntou Carlinhos. —
Nem isso! Destruíram meus sonhos.
— Quem destruiu!
Meus pais! Meus amigos os homens, a nojenta vida, mas deixa
isso para lá! Eu não quero falar sobre isso agora! Obrigada pelo café e pelo
pão tchau!
Ligia afastou se rapidamente não dando chance a Carlinhos de
balbuciar qualquer palavra ou gesto. Este pagou a despesa e foi com destino ao
bar onde marcara encontro com Russo. E lá ficou a espera.
Não demorou muito e no mesmo estilo aos berros.
— Cheguei!! Pum e murro no balcão! Era ele o russo e logo se
encaminhou para onde estava Carlinhos perguntando.
— Como é amigo que tal o trabalho!
— Bom! Mas cansativo! Respondeu Carlinhos.
— Hoje tem mais o navio tem que completar o trabalho se você
quiser vai comigo! Falou Russo.
— Por mim esta bem! Mas quando é que recebo! Perguntou
Carlinhos .
— Amanhã a tarde
amigo!
— Ótimo! Porque tenho mesmo que tomar um bom banho e parecer
como gente! Estou me sentindo um mendigo, dentro desta roupa suja e também
quero uma refeição de gente grande!
— Onde está hospedado! Perguntou Russo.
— No banco de pedra da estação de trens! Respondeu
Carlinhos.
— Que merda! Hein amigo.
— Põe merda nisso! Responde Carlinhos.
— Hoje vou trabalhar junto com você e quando sairmos do
trabalho te arranjo um lugar com uma cama, macia amigo;
— A janta eu pago antes de irmos para o trabalho e vamos
tomar uma! Falou o Russo.
— Conhaque para dois!
— Mas me diga uma coisa, amigo! Como é que uma pessoa, igual
a você, com uma boa aparência pode estar sem dinheiro e dormindo ao relento.
— Dormi no ponto meu amigo! Cochilei no trem a acordei na
Estação de Paranapiacaba, sem a mala que trazia na mão. Ali estavam, alguns
guardados de musica, uma boa quantia em dinheiro e toda a roupa nova que
comprei para começar minha vida aqui Meu violão, que paguei com muito custo. O
ladrão engrossou na sua riqueza, no mínimo vendeu por qualquer porcaria de
dinheiro e matar a sua sede numa garrafa de cachaça.
No dia seguinte após talhar o trabalho do navio os dois
amigos seguiram para o hotel Paulista uma espelunca de decima estrela e lá
Carlinhos pode saborear um gostoso banho de chuveiro quente e deitar numa cama
macia como o Russo dissera. E desta vez ele dormiu o sono dos reis.
Quando acordou já era de tarde sentou se a beira da cama,
fez um breve reconhecimento do quarto, coisa que o cansaço não lhe deixara
fazer quando chegara. Saiu do dormitório e viu um corredor que também não havia
reparado e no final uma tabuleta em uma porta que anunciava o coletivo W.C.
Entrou e fez a sua higiene e na volta para o quarto deu de
cara com a moça a qual ele pagara o café na estação de trens.
— Oi Ligia, lembra-se de mim! —
Sim o homem do café!
— Você mora aqui! Perguntou Carlinhos.
— Às vezes!
—
Como às vezes!
— Desculpe não dá para explicar agora! Respondeu ela.
— Mas como é seu nome!
— Carlos Alberto! Mas sempre me chamam de Carlinhos.
— Bonito seu nome! Quer tomar café hoje eu pago! Perguntou
Ligia.
— Está bem! Daqui a cinco minutos. Responde Carlinhos!
— Ok então! Espero-te no salão do bar, lá embaixo.
Carlinhos voltou ao quarto apanhou os documentos deu mais olhada no
espelho arrumou os cabelos e botou um pouco de perfume barato no pescoço e
braços.
Desceu rapidamente as escadas e já com olhos de procura por
Ligia. A moça estava no salão perto do balcão do bar conversando com Russo.
Carlinhos aproximou-se dos dois e foi logo falando.
— As únicas pessoas que conheço nesta cidade! Já se
conhecem!
—
Claro amigo conhecer Ligia! Foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida!
Disse Russo;
— A melhor amiga que uma pessoa pode ter.
— E posso me considerar amigo dela também! Perguntou Carlinhos.
—
E porque não! Respondeu Ligia. Conhecer pessoas boas e ter amizade com elas é
muito bom.
— Ótimo! Então vamos ao café. Disse Carlinhos.
Pum! Um murro no balcão e o Russo gritou.
— Café? Há esta hora amigo! Já é hora de bebida e forte.
— Não Russo muito obrigado! Só quero café mesmo! Disse
Carlinhos olhando para Ligia e piscando o olho.
Tomaram o café e saíram para receber o dinheiro dos dois
dias de trabalho.
Ligia os acompanhou. Receberam e Russo velho matreiro
percebeu os olhares entre Carlinhos e Ligia.
Deu uma desculpa e
deixou os dois sozinhos pedindo a Ligia, que levasse Carlinhos a praia, para
que ele a conhecesse.
Entraram numa loja e ele comprou duas camisas, pois as suas
já estavam no fim, com o trabalho do adubo haviam se manchado. Saiu da loja de
camisa nova no corpo.
— Ficou bonita em você! Disse Ligia arrumando a gola da camisa.
— Você que escolheu! Respondeu Carlinhos sorrindo. E como
nada mais tinham a fazer foram passear na praia. Bateram papo, conversaram
sobre as suas vidas tomaram lanche e quando começou a cair à noite quente e
gostosa o passeio ficou mais aconchegante. Como num passe de mágica certa
atração e o desejo tomaram conta dos dois. Seus rostos se colaram suas bocas se
encontraram e num sabor de cajá maduro doce e voluptuoso das suas línguas deram
o toque final ao desejo.
Foram abraçadinhos de volta ao hotel e quando acabaram de
subir as escadas que davam para os seus quartos, Carlinhos perguntou.
— Para o meu ou para o seu!
Ligia não respondeu pegou a chave e se dirigiu para o quarto
dela, Carlinhos a acompanhou.
Mal fecharam a porta Carlinhos louco de desejos, agarrou
Ligia beijando a com certa violência ela por sua vez não se fazendo de rogada
fez o mesmo e ainda mordeu o pescoço do amante deixando a marca dos dentes na
pele.
Passaram a noite se amando e esqueceram o mundo lá fora. Ao
amanhecer Ligia trouxe café para os dois e pediu a Carlinhos que ele ficasse o
dia inteiro na cama com ela se alimentando de amor. Foi ai que o menino poeta,
reparou de verdade naquela morena de cabelos negros e olhos combinando. E tinha
arrepios, quando ela o olhava, com aqueles imensos olhos negros e sensuais. Há
tempos Carlinhos procurava isso numa mulher. Era um pouco menos intenso, do que
aquele que sentia por Esmeralda. Mas mexia com seu corpo. Era muito gostoso,
ter Ligia ao seu lado.
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