30/11/2019

DEPRESSÃO – PARTE NOVE – CARREGANDO UMA CRUZ DESDE A INFÂNCIA.


 
--- Alô! Boa noite doutora, tudo bem!
--- Tudo bem Alberto. Hoje preciso te fazer algumas perguntas mais profundas. Preciso que você responda-as com a maior precisão possível esta bem para você!
--- Lógico doutora se é para minha melhora, Responderei tudo ao pé da letra.
--- Sabe Alberto! Eu achei que você criando as suas filhas já havia feito a sua parte, lógico que como avô você ajudaria na manutenção e preservação dos teus netos. Certo.
--- Certo esse é o papel de todo avô que gosta da sua família.
--- Porém não foi isso que aconteceu com você não foi!
--- Sim senhora! Minha primeira neta morou uma boa parte comigo até que minha filha e o genro alçassem voo, encontrassem seu canto.
--- Certo ai a sua casa ficou vazia. Mas não demorou muito veio a neta da outra filha e depois de dois anos mais um menino preencheu o espaço vazio da sua casa,
--- Nesse tempo você fez o que!
--- Fiquei com as crianças em casa. Moram comigo! Minha segunda filha é separada. Moramos todos juntos e vamos levando a vida.
--- Como Alberto! Com você trancado dentro desse quarto a mais de dez anos. Você sabe que já fez sua parte né Alberto.
---- Não sei. Vamos levando a vida juntos.
---- Já parou para pensar em você!
---- Sim quando fui morar com Aurora. Deixei tudo para trás.
---- E o que aconteceu!
---- Fracassei!
---- O que aconteceu para você fracassar!
---- Não consegui conciliar minha vida. Não consegui ficar longe das crianças.
---- Por que! Eu não estou entendendo isso Alberto.
---- Achei que eu era o arrimo deles, criados sem pai. Eu era o pai deles.
---- Negativo! Você é o avô deles. Precisa esquecer a infância dos netos e filhos que criou Alberto.
---- Hoje eu sei disso. Mas a uns meses atrás eu não sabia doutora.
---- E por quê hoje você entende isso.
---- Porque descobri que eles tem vida própria, comigo perto ou longe.
---- Infelizmente Alberto, ou felizmente você aprendeu isso na pele né.
---- É sim doutora! Custou muitas noites doídas longe deles. Eu me achava culpado. Achava que os tinha abandonado.
---- E agora está ai bisneta e se você morrer com cem anos como brincas. Vais entrar num circulo vicioso e criar tataranetos. E assim por diante. Vais virar uma múmia criando gente pequena. Um faraó mumificado Alberto. Vais ficar pensando num amor perfeito que não vingou. Vais morrer pensando no corpo e amor de Aurora sem tê-la. Versos de amor que não fazem mais efeito. É isso Alberto que você quer!
--- Não doutora.
--- Você quer continuar chorando todas as noites na prisão do teu quarto Alberto! Com aquela dor emocional cutucando seu estomago Alberto!
--- Não doutora!
--- Você quer ver Alberto sua amada Aurora sorrindo nos braços de outro Alberto!
---- Não! Isso não!
A doutora Esmeralda percebendo que tocava os pontos fracos de Alberto continuou mexendo em suas feridas.
--- Você quer Alberto por acaso voltar a ver a sua mãe te reprendendo e de chinelo em punho para lhe castigar.
--- Não! Não quero doutora!
A voz de Alberto começou a ficar irritada. Com coisas que ele não queria lembrar.
A doutora continuou a fustigar l
--- Porque você não luta contra isso Alberto. Aurora disse que você era um rato. Gostou de ouvir isso Alberto!
--- Não eu odiei ouvir isso. Eu não sou um rato! Não sou doutora!
--- Eu acho que é Alberto. E sua mãe esta vindo com o chinelo para matar esse rato Alberto!
--- Ela que se atreva doutora!
--- Se atreva a o que! Matar o rato que você é. Escondido na proteção da Aurora. Daquela Aurora que você queimou a foto no Pontal.
--- Não doutora! Ela morreu não existe mais. Eu queimei a alma dela!
--- E agora Alberto! Quem vai te defender. Sua mãe esta chegando com o chinelo Alberto! Aquele chinelão de couro que você odeia. Aquele de couro cru que arde na alma Alberto.
Alberto começa a se descontrolar e grita. --- Para mãe!
A doutora Esmeralda entra no corpo da mãe braba e diz a Alberto.
--- Parar por que! Porque você me desobedeceu! Porque você foi para rua! Seu moleque, seu rato.imprestável..
--- Para mãe! - gritou Alberto – Eu não fiz nada! - pergunta para Aurora!
--- Aurora morreu seu moleque. Você botou fogo nela. Você esqueceu os seus netos. Seu rato, sem vergonha.
--- Não mãe, por favor, eu não fiz isso. Não mãeeee!
--- Nãoooooo! Mãeeeee! Para! |Para mãeeeee.
O grito de Alberto foi ouvido na casa toda. Correram para acudi-lo. Ele chorava com convulsões. Sua dor estomacal era enorme. Tinha enormes anciãs de vomito. Estava sentado cabisbaixo na cadeira do computador. Na tela do mesmo, a doutora Esmeralda chorava de alegria. Por ver seu paciente finalmente se libertando de uma boa parte das suas aflições.
Por um bom tempo Alberto ficou com os olhos parados no nada.
--- Alberto olha para mim! – disse-lhe a doutora.
Ele não olhava. Estava exaurido. Sentia-se com vergonha percebeu o quanto era covarde e criança. O quanto era indefeso. O quanto não sabia tomar decisões sem lhe doer o ego. O quanto era difícil viver e ter que dar satisfações à mãe e a Aurora do passado, aos netos. pois nada fazia sem perguntar a eles. Percebeu que não tinha vida própria. Que sempre era dependente de todos. Da mãe da Aurora dos cabelos negros. Das filhas dos netos. Achavam que todos precisavam dele para alguma coisa. Não percebeu nunca que todos tem suas próprias vidas. Que todos são felizes as suas maneiras. E que cada um deve ser responsável pelos seus atos.
Se guardam magoas dele se gostam dele se amam ele ou brigam com ele. Agora não importa mais. Alberto ganhou vida própria. Uma vida nova com setenta anos de idade.
--- Alberto olha para mim! - Pediu novamente a doutora. – Pelo menos me escuta Alberto. Tome o remédio que receitei. Eu também estou cansada. Amanhã nos falamos. Descanse em paz meu menino. Amanhã eu volto a vê-lo.  

27/11/2019

DEPRESSÃO – PARTE OITO – OS OLHOS DE UM OLHAR

 
Mais tarde...
O celular de Alberto toca!
— Alô Alberto! Sou eu a doutora Esmeralda!
— Doutora Esmeralda!
— Ligue a sua câmera! Estou em vídeo.
Quando a tela se abre, Alberto vê a doutora Esmeralda à sua frente. Cabelos curtos e loiros. Já não tem mais os cabelos de corda que dava um charme especial à Maria Esmeralda da infância. Porém os olhos tem a mesma cor. Não são os olhos da menina apaixonada da infância que Alberto conhecia. Não é a pessoa que Alberto imaginava ver. E não viu.
— Oi doutora tudo bem! Nossa como você é bonita!
— Bobagem sua Alberto. Você é que está um garotão. Com quantos anos mesmo!
— Setenta!
— Vai longe menino! Porém estas numa crise braba na cabeça né.
— Obrigado! É sim a crise tá tão feia que tenho vontades de me jogar e deixar o mundo me consumir. Dói muito essa dor que não sei de onde vem. Não sei onde se localiza no meu corpo. Mas sei que dói muito.
— Calma menino desesperado. Não pense que essa dor é curada com remédios. Acalme-se desse desespero. Não pense que eu sou Deus. Que vou deixar suas dores em ordem estalando os dedos.
— Desculpe doutora! É que não tenho ninguém para conversar e me entender. Não tenho ninguém, luz nenhuma para me ajudar. Os que me ouvem sabem menos do que eu. São só consolos. Porque gostam de mim.
— Alberto pelo que você me mandou nesses últimos três dias. É uma pessoa normal, age como uma pessoa normal. Só tem pensamentos que voam. Que te levam ao passado. Sonhas o que existe só dentro de você. Dos teus pensamentos. Não conseguistes realizar os teus sonhos. Ai é que você entra em parafuso. Em desespero. Teu passado é a tua doença. O que foi feliz no teu passado esta te atrapalhando no presente. Quando você se sente bem. Logo vem o passado à sua mente. Essa é a sua confusão. Não aprendeu a separar o joio do trigo.
— Não sei o que lhe dizer doutora.
— Não diga nada! Apenas me escute com atenção.
— A sua Aurora conforme você disse. Não lembra muitos detalhes do passado de vocês no Pontal da Cruz. Ela é uma pessoa extrovertida e agitada. Pessoas como ela não guardam nada do passado a não ser muito marcantes. Porque estão sempre pensando nos próximos minutos de vida. Ela tem sede de viver o minuto seguinte. Enquanto você tem sede de definhar uma felicidade que não volta mais. E assim se suicidar trancado nas tuas quatro paredes.
Li o trecho que você me mandou do seu livro. Deu para sentir o quanto você é escravo do teu passado. O quando você sonha num ritmo retrógrado. O quanto você voa em cima do que não existe mais. Se você não se curar e entender isso. No futuro seus livros serão bem chatos. Nosso mundo já não tem mais lugar para o romantismo. Para amorzinhos, para ternuras. Não tem lugar para fantasias e contos de fadas.
Você Alberto menino é bobinho. Não aprendeu a aceitar a modificação das pessoas. Sai do passado Alberto.
Agora preste bastante atenção neste teste. Olha bem para os meus olhos. Vou chegar à câmara bem perto. Olhe bem e diga o que você vê. Eles continuam verde-esmeralda disso eu sei.
— E bonitos como sempre! Diz Alberto.
— Sabe por que eles continuam verdes e bonitos! Porque eu estou viva. Agora me diga se meus olhos são os mesmos da Maria Esmeralda que você conheceu no passado. No nosso amor da infância.
— Não quero nem pensar nisso doutora.
— Mas vai pensar. Olha de novo Alberto e me fala o que você vê!
— Não sei explicar doutora!
— Olha de novo Alberto! Olha para meus olhos e me diz se você vê meu amor por você de quando éramos o passado.
— Não doutora! Vejo teus olhos verdes descontraídos e de quem sabe o que quer e o que faz. Como os olhos da professora Dinah lá do nosso grupo escolar
--- Então não deixe mais essa nostalgia fazer parte de você. Isso é compulsão. Jogue fora suas musicas antigas. Embora as novas sejam umas drogas. Não viaje mais na adolescência. Ou então na infância. Deixe coisas velhas para trás onde elas devem estar.
--- É difícil doutora! Tudo isso de uma vez só. É muito difícil. Começar tudo de novo. Já tenho setenta. Meu tempo é pouco preciso ser feliz agora.
--- Alberto para isso você precisa estar curado! Precisa abrir algumas portas e fechar as venezianas do passado. Isso significa em deixar coisas e lugares para trás. Como você fez lá no Pontal deixando lá a tua juventude. Foi dolorido eu sei para você queimar a foto da Aurora, mas foi um começo.
--- Doeu mesmo. Arrependi-me de queimar a foto.
--- Não diga isso menino! Isso mostra que sua personalidade está em baixa. É preciso coragem para queimar coisas antigas que não tem mais espaço em nossa memória afetiva, deixar os espaços onde não somos mais felizes. Encarar o novo e deixar de se refugiar em colos ou pessoas que já ultrapassaram os limites por nos socorrer muitas vezes. Você Alberto precisa respeitar sua dor deste tempo e abrir outras portas. Como aconteceu no Pontal quando você encontrou a doutora Cristina. Pelo jeito é uma mulher interessante Alberto.
--- E muito doutora. Eu gostei do jeito dela.
--- Lógico que gostou eu vi a foto ela é bem parecida com Aurora. Está ai uma porta se abrindo para você Alberto. Talvez você não precise nem pensar que lhe resta pouco tempo, para ser feliz.
--- Até pode ser doutora, mas um buraco não tapa o outro da noite para o dia. Mais difícil ainda quando a gente tem um amor tão vivo no peito como o de Aurora. Também sei que ninguém é de ninguém e que a fila anda. Porém trocar de boca para beijar não é igual.
--- A troca não é tão grande Alberto! As bocas delas são iguais. De um beijo na doutora Cristina e veja que sabor tem.
--- Você esta me induzindo a isso doutora!
--- Não Alberto! Só brincando com você. Sua consulta terminou por hoje.
--- Que pena é muito bom te ouvir. Ajuda-me a não sofrer. Sinto-me relaxado e bem.
--- Até amanhã Alberto. Bom sono.
--- Até amanhã doutora.
 

25/11/2019

DEPRESSÃO — PARTE SETE — O PASSADO AINDA DÓI NA ALMA

 

Depois da despedida e de andar com Cristina pela praia. Descobriu que tem pessoas pessoas diferentes. Num diálogo um pouco mais profundo escutou de Cristina o quanto também ela sofreu por amor. A mulher é da área medica. Embora mais nova doze anos, deu muitos conselhos a Alberto. Disse lhe que o verdadeiro amor é como uma fênix. Entra na roda do fogo se queima toda e sai do outro lado, renovada.
Já na Ilha Bela à noite no silencio do quarto vazio Alberto pensou em Aurora. Doeu muito nele queimar a foto da Aurora mãe, Aurora esposa, Aurora namorada
da Aurora carinhosa. Quis fugir daqueles olhos antigos. Quer realmente parar de viver do passado. Tentou devolver a foto à dona porem ela foi ríspida com ele. Amaria olhar no fundo dos olhos de Aurora no presente. Para compara-los ao que via na foto do passado. Agora é tarde talvez nunca mais veja os olhos dela.
A noite foi longa num misto de dormir e acordar. Num misto de sonho e pesadelo via os olhos da Aurora do passado chorando entrando na roda de fogo. Do outro a fênix em fogo num tom ameaçador queimava o seu sono. Levantou-se cedo pela noite mal dormida. Um tempo feio no céu de Ilha Bela. O sol escondendo a beleza do lugar. Dia cinzento como a alma de Alberto. Lembrou-se do dos sonhos. Lembrou-se da fênix de Aurora. Parecia ressurgir do fogo com ódio dele. Surgindo num tom ameaçador. Nunca pensou em ver Aurora dessa maneira. Aurora menina moleca sapeca e braba sim. Mas com ódio ameaçador nunca.
Hora de levantar acampamento e relatar tudo à doutora Esmeralda. A viagem para Ilha só foi proveitosa pela promessa que fizera a entidade. Pai Pedro! Pensou em nunca mais brincar ou esquecer-se de certos deveres. Muito de inveja, ciúmes, e atos impensáveis. Muito mal olhado, muita ação por impulsos, de falar besteiras invés de conversar. De gritar de rispidez. De não querer ouvir desaforos. Trocaria tudo isso agora. Todas estas porcarias mal feitas por um simples sorriso e um olhar de Aurora. Mas agora Aurora não quer mais ser o seu amor. Não precisa ter um rato ao seu lado conforme insinuou na ultima briga que tiveram.
Devido à mudança de cidades e a despedida. Os planos de trabalho de Alberto foram por água a baixo. Ele e seu amigo Luís que se conheciam desde a infância ficaram vendo navios no meio da rua. Dois aposentados e velhos que tiveram chance de por em prática um trabalho. Planejavam o futuro deles. Auxiliados por Aurora. O que fazer da vida agora! Iam ocupar o espaço do tempo trabalhando. Assim demorariam mais tempo para ficarem doentes. Viveriam mais. Teriam mais chance na vida. Alberto com sua Aurora e Luís, viúvo e livre para encontrar uma companheira que gostasse e cuidasse dele. Um cara bem esforçado.
Tudo isso foi trocado por uma palavra chamada impulsão. Uma explosão por impulso. Sem pensar falar o que vem à cabeça com raiva ou até como defesa. Uma consequência enorme na vida de pessoas que por causa desses atos perdem o amor. Perdem a vida. Põe em jogo a felicidade, destroem negócios e amizades. Destroem a própria vida e traçam em volta de si um rastro de infelicidade.
Às vezes é melhor chorar e calar-se do que explodir. Perdendo a felicidade que está ao lado. Bastam cinco minutos de impulsividade. Tão terrível quanto uma facada certeira no coração.
Hora de juntar suas coisas e voltar para casa. Juntar os cacos Voltar para as quatro paredes e tentar fugir da depressão que assola seu corpo. A noite vai mandar seu e mail a doutora Esmeralda relatando tudo o que viu e sentiu. Vai sugerir a ela para se consultar em vídeo pelo celular. É mais fácil e as falas mais rápidas. Além de estarem se vendo e estudando as expressões das conversas.
O carro em que viaja atravessa da ilha para o continente e segue pela estrada movimentada. Na altura do Pontal da Cruz Alberto pede a seu genro para diminuir a velocidade. Encara o Pontal com sua cruz de pedra. Num adeus dolorido no peito. Num adeus onde nasceu e morreu o seu amor por Aurora, Aurora mãe, Aurora esposa, Aurora namorada. Aurora do passado. Aurora da sua vida.
O carro se movimenta a cruz fica agora ao longe. Num misto de choro e desaconchego. Depositou ali o seu passado. Agora a vida vai continuar. Se tiver que ser com Aurora ou não. Mas o passado morreu ali.
É tentar fazer como fez Aurora. Não se lembrar do que passou. Lembrar apenas que tem de estar bem para viver o próximo minuto da vida.

   

22/11/2019

DEPRESSÃO- PARTE SEIS – ACENDENDO AS VELAS





 



No final da tarde, depois de refeito do baque da praia. Empenhou viagem para Ilha Bela ( Litoral de São Paulo ) Muito transito na estrada, caiu uma noite pesada de chuva. Sentia o corpo cansado. Ao amanhecer ainda dentro do veículo dirigido pelo genro João. Pararam a pedido de Alberto na praia do Pontal. Ali o mesmo pediu ao genro seguir viagem, pois precisava cumprir o que prometera a entidade espirita. Pontal da Cruz, um lugar especial só dele. Um lugar mágico onde nasceu seu primeiro amor por Aurora.

Ali quando jovens se tocaram pela primeira vez. Trocaram juras de amor e os primeiros beijos. Um canto de praia chamado Pontal da Cruz. Alberto parou ali rememorando o quanto fora feliz naquele canto de paz ao lado da sua Aurora. Caminhou até o local da cruz e na fenda da pedra onde estava postada a cruzeta depositou e acendeu as três velas azuis. Retirou de um envelope que trazia nas mãos uma foto tamanho porta-retratos de Aurora. Atrás com bonita letra dizia"" Ao meu grande amor "" pela ultima vez olhou aqueles olhos de Aurora mãe, Aurora esposa, Aurora namorada, Aurora amor da Aurora do passado com cabelos curtos. Deixou que o fogo das velas consumisse a alma daquele olhar. Dois dias antes havia tentado devolver a foto à Aurora. Porém, esta não o recebeu. Queria ter visto os olhos dela nesse dia para poder separa-los dos olhos da foto, mas não conseguiu.

Afastou-se para não chorar ficando num canto de pedras. A foto enquanto consumida pelo fogo continuava sorrindo sem sentir dor.

Perdido nesses pensamentos e sem acreditar vislumbrou Aurora de costas para ele indo em direção ao mar. Com os cabelos curtos e loiros seu jeitinho de andar e um chapéu de praia palhada.

Não! Não era miragem! Era Aurora mesmo. Saiu como um louco do seu lugar, chamando-a e correndo em sua direção. Aurora virou-se. Ele freou a corrida assustado e sem jeito. Não! Não era Aurora.

Parou diante de uma mulher acima dos cinquenta anos. Pediu um milhão de desculpas. A mulher chamava-se Cristina e sorriu nesse momento o coração de Alberto quase explodiu, quando viu a boca de Cristina sorrindo. Teve enorme desejo de beija-la.

Ali na sua frente estava o sorriso bonito e a boca carnuda de Aurora. O choque foi grande. Até o costume de ter com um cachorrinho era igual o de Aurora.

Alberto então relatou muito rápido sua historia com Aurora. Cristina sorrindo disse que nunca havia visto uma paquera tão inteligente. Alberto tirou a carteira do bolso e mostrou uma foto postal colorida de Aurora sorrindo.

Cristina riu e respondeu para ele. – Garoto de sorte, sua Aurora é bem bonita. É... Você tem razão! Somos bem parecidas principalmente à boca.

Alberto sorriu e disse – Ainda bem que você não se ofendeu! Obrigado por ser gentil. 

Já preparando o corpo e os passos para sair dali.

Cristina acendendo um cigarro com os mesmos trejeitos de Aurora disse a ele. — Espere! Vamos caminhar um pouco pela praia. E você me conta a historia com a sua Aurora.

Sabe Alberto! Esta praia é o melhor canto do meu mundo. E saíram a conversar.

Alberto disse a ela que era escritor.

Cristina permitiu-lhe tirar uma foto dela e continuaram caminhando...

20/11/2019

DEPRESSÃO – PARTE CINCO –AS PROMESSAS

 



Prometi e o farei doutora. Vou sair destas quatro paredes. Vou ver gente pessoas, vou tentar sorrir para todos. Depois vou fazer uma pequena viagem de três dias. Que vai me ajudar a passar o tempo. Na segunda feira então enviarei meus relatórios para dizer-lhe o que senti.

Por dois dias Alberto saiu do quarto. Raspou a barba penteou os cabelos. Bermuda chinelos e camiseta completaram o uniforme. Foi andar na areia onde as pessoas adoram ter os pés massageados pela areia úmida.

Antigamente ele andava esse trajeto, porém perdido em pensamentos e olhando para o nada. Nesses dois dias ele fez o contrário. Andando de chinelos nas mãos olhou para as pessoas que vinham em direção contrária. Enquanto andava sentia a sola dos pés massageadas. Sentindo algumas cocegas que não aconteciam antes. Cumprimentou pessoas olhou-as nos olhos. Moços moças, idosos e crianças. Um batalhão de andarilhos dos mais variados tipos de corpo. Uma multidão de felizes. No segundo dia alguns rostos se repetiram. Reparou que duas pessoas do dia anterior sorriram e o cumprimentaram. Continuou a caminhada por quase um quilometro. Na volta cruzou com um monte de gente que haviam passado por ele na ida e sorriu. Um sorriso meio besta, mas um gesto de satisfação.

Cruzou com uma senhora com chinelos enfeitados e uma bengala sua companheira, com cabo torneado em madrepérola. Lembrou-se de quando ele e Aurora falavam sobre a velhice. Aurora achava chique uma anciã com uma dessas bengalas. Alberto prometeu dar-lhe a bengala e via Aurora de cabelos brancos apoiada na bengala e sorrindo. Como a anciã agora pouco o tinha feito.

Estranhou nunca ter reparado em andarilhos de praias conversando animadamente. Uns se lamentando outros sorrindo, Outros chutando a água e andando. Com raiva de alguém ou de alguma coisa. Ou simplesmente chutando a água com a alegria de ver os pingos como perolas ou diamantes levantando e com o atrito o sol dando as cores do arco-íris.

Havia de tudo nessa caminhada pela beira d'água. Novidades que seus olhos nunca repararam. Novamente na outra volta à idosa com a bengala de madrepérola sorriu para ele dizendo.

Já de volta meu jovem! Bom dia.

A mulher devia ter seus noventa anos. Faltavam talvez vinte para Alberto chegar nessa idade e a mulher sorria como uma garota de vinte. Uma alegria contagiante começou a tomar conta do paciente da doutora Esmeralda. De repente virou-se em direção ao mar. Chutando as ondas baixas. Seus passos tornaram-se rápidos apressando sentindo a água pela cintura. Pulando alegremente e chutando a água. Tinha a impressão de flutuar. E lá vai ele agora a pular mar adentro. Sua alegria era tamanha que não conseguia parar. À frente o rosto de Aurora sorrindo. Abriu os braços em busca do abraço. Parecia extravasar a alma. Cada vez mais fundo, num desespero de sumir de sorrir. Numa vontade tamanha em que a vida se acabasse naquele momento. Seria a gloria morrer abraçado à Aurora. Num misto de desespero e alegria. Seu corpo foi ao fundo. A vida sumiu. Caindo na onda forte.

Acordou com uma moça salva-vidas lhe fazendo pressão no peito para que vomitasse a água engolida. Acabou sua manhã na maca do posto de salvamento. Sentiu uma suave mão feminina limpando seu rosto com um naco de algodão. Logo se lembrou da falta dos carinhos da mãe. E interpretou a mão feminina da enfermeira como a de Aurora de cabelos curtos e negros.



18/11/2019

DEPRESSÃO– PARTE QUATRO – EM BUSCA DO POR QUÊ.



Ah menino! Que não cresceu – responde a doutora. Ao seu paciente.

Ah menino! Que por conta de uma mãe braba parou no tempo. Vamos ter que livrar você desse passado Alberto. Acho que até foi bom pelo menos para mim, terem podado o nosso amor criança. Talvez eu hoje não fosse a sua psicóloga. Mas prometo ajudá-lo na cura.

Agora tu vais ter que esquecer que eu e Aurora fomos os teus amores maternos. Vai ter que livrar desse passado. Vais ter que esquecer o rosto da Aurora jovem. Vai ter que esquecer a menina Maria Esmeralda.

Vejo que você trocou o seu amor de mãe que nunca lhe deu afagos e carinhos por Maria Esmeralda e Aurora. Pior ainda com Aurora. Pelo que tu me disseste. Que quando cantas antigas de ninar embalando a bisneta no colo! Tu te lembras do rosto de Aurora e chora! Aquela mesma Aurora dos cabelos curtos negros. Aquela mesma Aurora quando você pousava a cabeça no colo dela. A mesma Aurora que te acarinhava e acariciava. E você pensava:- Porque minha mãe nunca fez isso.

Então era Aurora mandona como sua mãe, porém carinhosa. Aurora mãe. Aurora namorada. Aurora amor. Por isso você nunca esqueceu aquela Aurora do passado. Aquela Aurora dos olhos da cor de café. Hoje você não consegue enxergar Aurora como ela é realmente. E com os mesmos ciúmes e briguenta como no passado. Isso corrobora para que a sua Aurora do presente seja aquela do passado. Estando sempre associada a sua mãe.

No presente me dissestes também que na companhia de Aurora, muitas vezes vocês brigaram. Porque algumas vezes ela um pouco mais ríspida lhe ordenava algo e você imitando uma criança respondia – Sim mamãe.

Porem agora você já não tem mais a Aurora. E por conta disso se trancou nessas quatro paredes de seu quarto que eu chamo de prisão. E se não saíres dai para ver o mundo lá fora te garanto que não demora muito seu próximo passeio vai chamar-se cemitério.

Sugiro que você pegue aquele antigo retrato que tens da Aurora – conforme me contaste - com os cabelos curtos e suma com ele. Faça-o desaparecer ou mande para ela de volta. Tens que desatrelar esta imagem dos seus pensamentos.

Agora meu caro Alberto você vai sair desse quarto. Dessas ridículas quatro paredes que te amarguram. As paredes estão cansadas de te ver. De escutar teus choros e lamúrias. As paredes estão cansadas de ouvir um idiota chorando com pena dele mesmo. Sai desse lugar. Levanta cedo e vai caminhar na praia. Vai olhar o rosto das pessoas. Diga-lhes bom dia e sorria para todos. Você vai se surpreender. Todos têm problemas e alguns piores que os teus. Mas saem e sorriem para os outros. Todos têm problemas paixões, amores perdidos e até mortos. Mas estão vivendo. Sai dessa droga desse quarto e sorria ao invés de chorar. Corte os cabelos tire essa barba idiota e mal aparada que te deixa com cara de sebento. A partir de amanhã vais fazer o que lhe pedi. Durante três dias. Depois vai me dar o relatório do resultado disso. E se não o fizer esqueça a doutora Maria Esmeralda.

E-mail à doutora Esmeralda.

Prometo que lhe farei isso. Nos próximos dias, mas tenho que também pagar uma promessa que fiz a uma identidade espirita. Pedi-lhe que me ajudasse a encontrar a felicidade e me ajudasse com a venda do meu livro. O livro começou a dar certo agora, mas a felicidade sumiu. Acho que não cumpri minha parte no prometido. Talvez eu tenha que passar novamente por todas as guerras do amor, para aprender a ser feliz. Então vou pagar essa promessa e colocar as velas na cruz.

E-mail da doutora Esmeralda. Faça tudo o que tiver de fazer. Preciso do resultado de tudo que acontecer, para analisar nossos próximos passos.

16/11/2019

DEPRESSÃO – PARTE TRÊS —CONFISSÕES

No presente me dissestes também que na companhia de Aurora, muitas vezes vocês brigaram. Porque algumas vezes ela um pouco mais rispida lhe ordenava algo e você imitando uma criança respondia – Sim mamãe.

Porem agora você já não tem mais a Aurora. E por conta disso se trancou nessas quatro paredes de seu quarto que eu chamo de prisão. E se não saíres dai para ver o mundo lá fora te garanto que não demora muito seu próximo passeio chama-se cemitério.

Sugiro que você pegue aquele antigo retrato que tens da Aurora – conforme me contaste - com os cabelos curtos e suma com ele. Faça-o desaparecer ou mande para ela de volta. Tens que desatrelar esta imagem dos seus pensamentos.

Agora meu caro Alberto você vai sair desse quarto. Dessas ridículas quatro paredes que te amarguram. As paredes estão cansadas de te ver. De escutar teus choros e lamúrias. As paredes estão cansadas de ouvir um idiota chorando com pena dele mesmo. Sai desse lugar. Levanta cedo e vai caminhar na praia. Vai olhar o rosto das pessoas. Diga-lhes bom dia e sorria para todos. Você vai se surpreender. Todos têm problemas e alguns piores que os teus. Mas saem e sorriem para os outros. Todos têm problemas paixões, amores perdidos e até mortos. Mas estão vivendo. Sai dessa droga desse quarto e sorria ao invés de chorar. Corte os cabelos tire essa barba idiota e mal aparada que te deixa com cara de sebento. A partir de amanhã vais fazer o que lhe pedi. Durante três dias. Depois vai me dar o relatório do resultado disso. E se não o fizer esqueça a doutora Maria Esmeralda.

E-mail à doutora Esmeralda.

Prometo que lhe farei isso. Nos próximos dias, mas tenho que também pagar uma promessa que fiz à uma identidade espirita. Pedi-lhe que me ajudasse a encontrar a felicidade e me ajudasse com a venda do meu livro. O livro começou a dar certo agora, mas a felicidade sumiu. Acho que não cumpri minha parte no prometido. Talvez eu tenha que passar novamente por todas as guerras do amor, para aprender a ser feliz. Então vou pagar essa promessa e colocar as velas na cruz.

E-mail da doutora Esmeralda. Faça tudo o que tiver de fazer. Preciso do resultado de tudo que acontecer, para analisar nossos próximos passos.

Continua  

 

13/11/2019

DEPRESSÃO PARTE DOIS – O INÍCIO

 

Ontem quando escrevi DEPRESSÃO A DOENÇA DO SONHADOR. Achei que nosso personagem o Alberto chegou ao fundo do poço. Suas lágrimas e os gritos foram ouvidos por todas as pessoas da casa. Acharam por bem medica-lo com atendimento médico.
Como escritor ele também já estava no fundo do poço. Misturando tudo na cabeça. A necessidade de amor, com o medo de perder. Misturou a felicidade que tinha no passado com o amor do presente. Misturou o menino feliz e amado da infância com o velho apaixonado do presente.
Sua namorada mandou-o embora. Para que precisa um cara maluco ao lado dela. Embora Aurora - a namorada - seja uma mulher extrovertida e briguenta.
Ciente do que se passa na sua cabeça doente. Alberto resolveu se tratar. Pelo SUS! Não dá, além de demorado ser. Girou a internet e achou uma psicóloga. Doutora Esmeralda. Mandou um E-mail pedindo ajuda. A doutora depois de muito felicita-lo como escritor ficou contente por ter encontrado Alberto, seu namoradinho de infância.
Prontificou-se a ajudar Alberto mesmo por E-mail ou se ele desejasse até por telefone.
Passou a Alberto um questionário pedindo que ele fosse o mais sincero possível em todas as respostas. O cara não só fez isso como também chorou em algumas respostas.
No segundo E-mail Esmeralda pediu para Alberto contar desde os tempos de criança. Desde aquele cantinho onde eles se conheceram e se criaram virando namorados.
Alberto relatou a Doutora à primeira parte do seu livro (OS AMORES DE CARLINHOS) ainda não publicado. Que conta a historia de duas crianças que se apaixonaram aos quinze anos de idade. E vivendo só de emoções e encantos do primeiro amor.
Ela respondeu o Email – Nossa! Você lembrou-me realmente o quanto éramos felizes. Mas precisa se curar disso também. Pois esta na sua escrita que você ainda tem isso como felicidade. Vive muito de passado. Não saiu ainda da sua cabeça que o destino e o tempo jogaram tudo isso no lixo.
Por exemplo: Hoje eu quero te ajudar a sair disso. Como tua psicóloga e amiga. Mas se você tiver alguma esperança em me ver pensando em amor. Estou fora! Aqui seremos eu a psicóloga Maria Esmeralda e você o paciente Alberto.
Alberto concordou dizendo a ela que embora seja um velho com setenta anos. Ainda é apaixonado por Aurora a namorada da sua juventude.
Maria Esmeralda disse a ele para ir pensando nisso também. Como ele vê a Aurora de hoje e como ele â via no passado.
No próximo E-mail conto mais a vocês, ou seja, amanhã.

11/11/2019

DEPRESSÃO: A DOENÇA DE UM SONHADOR

Acorda cedo, dorme pouco. Primeiro olha uma única mensagem no celular que diz.

More! Você está chegando!

Essa mensagem continua ali sem ter sido apagada por muito tempo. Antes era ela seu primeiro bom dia.

Depois de alguns afazeres normais começa a contemplar o nada. Seus olhos ficam parados. Começa a ladainha de sonhar acordado. Sonha com a amada sorrindo, com a amada surpresa e admirada com os sucessos de venda do seu livro.

Sonha com a namorada a lhe afagar os cabelos brancos e brilhantes como um cristal. Sonha com a dona do seu coração andando pela casa que ele comprou e colocou tapetes macios no seu interior para que ela com os pés descalços sinta-se andando em nuvens.

Sonha com ela saboreando seus pratos de mestre. Camarão ao molho que ela tanto adora. Por fim sonha com ela lhe abraçando e beijando como num sentir sôfrego de amor e saudade.

Sonha que nesse momento morre feliz, por ter realizado seu sonho. Num repente! Qualquer barulho o faz voltar á realidade. Tomba a cabeça no travesseiro relaxa o corpo na cama. Sem os sonhos cai no mundo real. Suas lágrimas escorrem, ele se desespera e grita.

Como é difícil meu Deus! Esse meu mundo de sonhos é meu inferno. Me leve embora! Pôr favor! Tenha dó da minha alma. Deixe que ela descanse. Tenha pena Deus! Deste meu corpo doente de amor.

Deus! Pôr favor me tire desse desespero. Não quero mais me sentir assim.

E chorando acaba adormecendo.

Fica em paz por algumas horas. E assim se definha em mais um dia. Quando acorda já cai à tarde o dia já vai indo embora. Novamente ele entra na realidade. Após o jantar! Para o quarto de novo. Vara a madrugada escrevendo. Seus sonhos na frente do calado computador.

Está trancado num quarto. Na solitária da sua vida. Com sua mente aprisionada numa paixão sem solução. Sabe que está doente, porém seu vicio de sonhar é prazeroso. Não tem coragem de abandona-lo. Não tem coragem de se curar. Pois seu vicio é como fumar, um prazer a cada tragada é sonhar, sofrer e escrever o que sente. Sem isso sua vida não tem graça.

É melhor morrer então.


06/11/2019

UMA CANÇÃO NO VENTO

Sentado à mesa de um bar, num canto de calçada com voz e presença triste. Um cantor cantava. O vento soprava e levando a musica e a espalhando pelo bairro. A voz triste em meio às lágrimas eram por vezes lamentos de amor.

Eu escutava essa voz todas as noites na minha janela.

Uma garrafa de cachaça era a companheira inseparável do tristonho cantor e por vezes, talvez aplaudindo exalasse triste o olor da nostalgia. Já na noite alta com seu luar em prata, ainda ecoava a voz do cantor e seu idílio de amor.

Um casal geme de amor na cama à voz do cantor os embala. No alto da Ladeira do Cortiço ninguém escuta a canção. É lá que fica a casa puta das mulheres vadias. Na casa puta das mulheres vadias o amor foi esquecido.

A noite continua no céu com seu brocado prateado e pontilhado de estrelas. Fazendo um cordão lácteo, cujo medalhão é a lua. O silêncio das ruas me permite escutar nitidamente da minha janela. Antes com meu amor ao lado e agora só. A voz lamentosa do cantor.

Essa canção que nunca morre fala da namorada numa traição desleal. Quando a tardezinha encontrava um amigo do cantor que virou amante dela.

Fico pensando e lembrando-me da minha amada que se foi. Que a alma desse cantor deve doer mais que a minha.

03/11/2019

UM AMOR INFINITO .

 

 

Passava a maioria das noites acordado ou quando não se debatia na cama até o sono chegar. Viciosos pensamentos de amor lhe arrasavam.

Selena, não era um amor para ele e sim um imaculado vicio. Era como fumar dois maços de cigarro por dia sem deixar que o sabor do fumo se perca na boca. Costumava meter a cara no trabalho para não lembrar dela.

Assim passou sua vida, embora tivesse conhecido outras garotas. Namorando muitas delas. Casou-se, teve filhos e netos, formando uma linda família. Mas nunca esqueceu Selena.

Porém esta noite perdeu novamente o sono. Debateu-se na cama e não conseguia dormir. Veio o nervoso o corpo cobrou. A pressão subiu o coração acelerou. Medicou-se, mas ainda se sentia mal. Ficou quieto, assustado e bem nervoso quando a imagem de Selena surgiu à sua frente.

Tinha o rosto calmo e sereno. Sorrindo afagava seus cabelos e face. Ele sentiu uma melhora e sorriu. Abraçou a visão como verídica e chorou. Pois realmente à sentiu nos braços.

-- Porque você demorou tanto tempo Selena! Procurei-a por toda a vida, por todos os cantos e por todas as ruas onde andei!

-- Eu sei disso meu amor! Respondeu-lhe. Eu acompanhei e protegi você até os dias de hoje.

-- Não entendo isso Selena! Meu amor.

-- Meu amado! Na noite do nosso baile de formatura, eu estava muito feliz. Havíamos dançado a nossa música. Eu me sentia dançando entre nuvens de felicidade. Tinha a impressão de que não estava na terra.

Meus pais haviam brigado comigo por ter ficado o baile todo ao seu lado. Quando o táxi nos deixou em frente de casa, atravessei a rua pensando em você! Meu amor proibido pelos meus pais. Não olhei para os lados. O baque foi muito forte! Só senti meu corpo voar leve como uma pluma. E assim voei para você. Até hoje te acompanho para todos os lados. Esperando por este momento só nosso para vir busca-lo.

-- Selena? Para ir contigo eu preciso morrer primeiro!

-- Não amor! Basta me dar a mão! Seu corpo já está ali sereno e descansando da vida. Vem amor! Vamos para o nosso cantinho infinito.