29/09/2018

UMA CABOCLA QUE DEIXOU SAUDADE

O sol a me dizer boa tarde, o cheiro da lenha a queimar no fogão. Simples a casa da caboclinha que ficava na curva da estrada. Beirando à margem do ribeirão. O café cheirava longe. Aquela paisagem me chamava a atenção. Aqueles dias se chamavam sorriso, pois eram puros e inocentes, os meus olhares para a caboclinha amada. As vezes no silêncio das tardes eu ficava escondido a namora-la. Eram gostosos aqueles fins de tardes. Enquanto escutava a água da cascata murmurar, como violino na correnteza. Espiava minha amada cabocla a varrer o terreiro, com seu jeito menina brejeira. Estava sempre com um ar de felicidade e um sorriso lindo no rosto moreno. Eu tinha a impressão que sonhava acordada. Não era sempre que eu fazia aquele caminho. Mas quando o fazia...
Numa tarde, não vi a cabocla e dei mais uns passos à frente. Distraído fui chegando perto da casa e cada vez mais perto. Logo senti um forte aroma de perfume era puro, como o da azaleia e se espalhava por toda volta. Cheguei perto da porta. Olhei para dentro, um bule de café pousado na beira do fogão a lenha ardendo deixando o ar defumado. Descansando em cima de uma mesa de toalha xadrez azul, um enorme bolo de fubá amarelinho e que parecia sorrir. O cheiro do perfume da azaleia impregnou de vez o ambiente.
Seu moço? Meu susto foi grande,.Uma mão bateu nas minhas costas! Quando me virei, dei de cara com um par de olhos negros tão lindos e sensuais, um sorriso que me desmontou! O cabelo preto franjado e liso, A expressão do rosto era puro desejo. Um arrepio me correu do pé da espinha e foi parar no pescoço. Tive a impressão que minha boca estava entortando. Parecia um orgasmo de arrepios. A vós da cabocla caiu sobre mim como uma chicotada de amor.
— Vô ensina ocê a num invade o terrero dos otro.
Levantou os braços me pegando com força pelo colarinho e tascou-me um beijo tão quente, que logo senti sua língua louca procurando a minha, com lascivos desejos de amor. Apertei seu corpo contra o meu e senti um par de seios pontudos a espetar-me o peito. A faceira estremeceu, aumentando a volúpia do beijo melado de amor, parecia querer me engolir. De repente botou as mãos no meu peito, me empurrando com força e gritando.
— Tá loco diabo? Querendo me mata! Me dexô sem ar. Vai se embora daqui e logo? Se não eu te pico na faca. E logo foi exibindo um facão que pegou na soleira da porta, de pelo menos quarenta cm de comprimento.
Sai dali meio depauperado. Como podia tão meiga e singela cabocla de olhar puro e inocente, ser um vulcão em erupção. Tamanho o fogo daquele corpo. Andei uns cem metros na estrada e me deparei com um cavaleiro que vinha na contramão da minha direção. Parou o cavalo e notei o tamanho da espingarda pendurada na sela do cavalo. E foi logo me perguntando.
— De longe, avistei o sinhô saindo de minha casa. Perdeu arguma coisa lá. Foi!
— Não moço! Só parei para pedir uma informação e uma caneca d´agua.
— Foi bem servido!
— Sim senhor, moço! Aproveito para lhe agradecer também. Obrigado.
— Disponha! Inté. Respondeu.

Um comentário:

Unknown disse...

Querido escritor amo teus contos e crônicas! Parabéns e um grande abraço. Meu amigo, continue sempre sendo esta pessoa maravilhosa.