02/10/2018

DESCENDO A LADEIRA

No final da ladeira. No antigo casarão da rua Sete. Morava meu amor. Minha doce e trigueira Elizeth. Linda mulata, magra bonita e altiva. Seu andar deixava espanto por onde passava. Às vezes descendo a ladeira sorria para mim com encanto.

Filha de mulata com branco tinha. A cútis na cor de um delicioso bombom de chocolate. Vivia embalada em singelos e gentis vestidos brancos. Deixando à mostra as torneadas pernas um pouco acima dos joelhos. Seu andar gingado e elegante deixava a rapaziada de olhos arregalados.

Me provocava mostrando seus dentes brancos, num malicioso sorriso. De mulher criança. De desejos e sonhos que pareciam estar na flor da pele. Eu ficava desconcertado e muitas vezes ofegante com tamanha maravilha de mulher. Desconectavam-se meus passos, meu corpo formigava, meu coração acelerava. Um arrepio me percorria o corpo, quando eu pensava em abraça-la e beija-la.

Um dia um moço do bairro chique subiu a ladeira da rua Sete num conversível branco. Parou no portão do velho casarão. Depois veio ladeira abaixo buzinando escandalosamente e carregando a minha Elizeth. O meu amor sublime veio sorrindo no banco, com seu vestido branco. Foi seu último sorriso para mim.

Foi a última vez que vi a filha do alemão com a mulata! A minha Elizeth dos olhos verdes!

Hoje o casarão está cheio de mato e arruinado. Nele habitam fantasmas. Nele morou meu sonho de rapaz menino. Hoje eu velho e sentado na mesma calçada da ladeira. Ainda sonho com Elizeth descendo a ladeira. Minha musa dos olhos verdes. Do antigo casarão da rua Sete.

A.V.P.L.P.  

ACADEMIA VIRTUAL DE POETAS DA LÍNGUA PORTUGUESA

PATR0N0:  ARTHUR DE AZEVEDO

ACADEMICO - CARLOS ALBERTO PADUAN – CADEIRA - 82



Um comentário:

vilma tavolaro disse...

Meu amigo! gosto do que escreves! continue sempre firme e forte. Um abraço