05/10/2018

DUAS VIDAS E UM DESTINO

Hoje, quando vi você chorar doeu em mim.

Tuas lágrimas rolaram pelo teu alvo rosto, como gotas de orvalho. Pareciam perolas a escorrer.

Chorastes se culpando pelo nosso passado. Pelo que fomos. Dois jovens sem juízo. Sem planos e com muita energia de amor. Não estávamos preparados para ser pai e mãe. Quis o destino que nosso rebento partisse ainda no teu ventre. Protegendo-o de amarguras e sofrimentos de ter pais separados.

Talvez fosse esse o elo que nos uniria para sempre. Mas a vida se encarregou disso. Fomos cada um para um lado. Levando em nossas mochilas o peso dos dissabores. Das mágoas, nossas teimosias, nossas brigas. Nossos rancores. Trancamos nosso amor dentro do peito. Na lembrança, guardamos nossos beijos, risos e afagos. Nas saudades os abraços, nosso sentir. Nossos odores, nossos momentos. O tempo transformou nossa beleza em sépia. Como nossas fotos que se tornaram antigas e rotas. Passamos por outras famílias. Vieram outros namoros. Outros sonhos, outros rebentos. Fomos felizes por educação por respeito, por obrigação familiar. Fomos nobres e feras defendendo o que construímos. Fomos a vida imposta pelo destino e carimbada, pelo cartório do tempo. Formamos nossos filhos, afagamos e sorrimos para nossos netos. Fomos amigos e inimigos do tempo.

Porém hoje te vi chorar. Mesmo passados cinquenta anos, doeu! Você se culpando por um elo que o tempo se encarregou de nos tirar.

Hoje sinto que o destino também nos protegeu, nos poupou e ensinou que o amor trancado nos nossos peitos, amadureceu. Agora é o nosso tempo e a nossa vez de sermos felizes. Não choro mais agora, por te procurar na vida. Não lamento mais o que não deu certo no passado. Mas está dando certo no presente. O destino quer fechar nosso elo neste tempo. Por isso nos uniu novamente. Estávamos mortos nesta vida. Quando nossos olhos se encontraram. Sentimos um novo encanto, uma nova vida. Viramos dois velhos jovens e sonhadores. Abrimos os nossos corações para um novo dia. Não somos mais a sépia do tempo à ferrugem que rói e pontilha o papel, desbotando e amarelando. Hoje podemos partir desta vida, tranquilos e sabedores do que estava escrito no papel da vida. Que teríamos que formar nossas famílias. Encontrarmo-nos novamente e morrermos felizes. Para voltarmos juntos na próxima vida ao seio familiar que preparamos para nos receber

 A.V.P.L.P.  

ACADEMIA VIRTUAL DE POETAS DA LÍNGUA PORTUGUESA

PATRON0:  ARTHUR DE AZEVEDO

ACADÊMICO - CARLOS ALBERTO PADUAN – CADEIRA - 82

 

 

Um comentário:

Unknown disse...

Boa noite escritor amigo! Esse conto veio do fundo da alma.