19/07/2018

CONFISSÕES DE UMA CASA

Adorava ver no meu quintal as crianças correndo sobre minhas calçadas. Era uma alegria quando chegavam visitas e caras novas para que eu as conhecesse. Eu os observava e aprendia como gostavam de viver. 
Gostava de ouvir novas histórias e conversas. Nos quartos vi ouvi e assisti muitos gemidos de amor, muitos deleites e muitos segredos de alcova. Na sala! Muitas conversas fofocas e brigas. Televisões em preto e branco e a cores. Muitas festas e música às vezes dançavam. Eu conheci vários tipos de músicas em diferentes épocas. Na cozinha o odor de vários temperos, mas o que mais me despertava era o cheiro do café. 
Também vi muitas crianças nascerem com seus choros de manha. Vi pessoas partirem para não mais voltarem, deixando seus rostos morarem pendurados em quadros por minhas paredes. Quando trocavam os donos ou inquilinos eu adorava! 
Alguns mexiam em minhas estruturas me modernizando, outros pintavam minhas paredes. Eu adorava uma caiação, sentia cócegas, pareciam afagos. Por aqui passaram muitas festas de casamentos, aniversários, Natais de sorrisos lindos e Anos Novos de muitas promessas. Aconcheguei muita gente do frio e da chuva. Às vezes fico triste quando nada muda. Então me sinto velha e abandonada. O mato cresce a minha volta minhas paredes ficam manchadas. Já estavam me chamando de assombrada. 
Foi num desses dias alegres de verão que chegou um morador novo. O senhor Carlinhos! Esse velhinho não gosta que eu o chame de senhor. Logo o vi, como um bom amigo. Podou o mato do quintal, lavou e pintou minhas paredes. Consertou os buracos do piso, trocou as telhas quebradas e careadas. Iluminou-me! Deixando-me, com um enorme sorriso. Espalhou flores por toda a minha volta e sempre cura as minhas doenças de mofos e umidades. 
Foi o único ser, que nestes meus quatrocentos anos de idade, me imaginou falando! Agora sim eu sou uma casa feliz. Eu e o Carlinhos passamos as tardes na minha varanda. Ele às vezes toma uma cervejinha ou café e escreve muitas histórias. Tem vezes que ele conversa com o vento pedindo para que sopre as minhas paredes, tirando a poeira que me incomoda. Outras vezes me afaga com suas mãos quentes ou encosta seu corpo em mim. Eu sei que isso é carinho. Então lhe conto todas as histórias que se passaram dentro de mim! Desde o dia em que nasci. 

 

 

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