27/07/2018

A DANÇA DAS AGULHAS

Ela senta todas as tardes em uma cadeira com assento de cordas trançadas e rotas pelo uso. Suas lãs e linhas lhe fazem companhia. Treme as mãos calejadas pelo tempo, mas eficientes nos delicados pontos do tricô.

Entrelaça a linha lã no agasalho do tempo. As rugas do seu rosto contam a sua história. Sempre o mesmo lugar e a mesma paisagem. As agulhas dançam simétrico tango num compassado bailado. Na memória a música toca, os lábios tremem cantando baixinho. O corpo balança suavemente na cadeira. O coração bate suave, como as cordas de um violoncelo.  Acompanhando o ritmo.

O pé direito calçado numa sola gasta sapateia distraído. Lembranças se avivam no silêncio calmo da tarde. O vento sorri cantando a valsa da passagem. Assim o tricô nas mãos de Nilza nasce: Num lindo emaranhado de nós coloridos. As agulhas continuam dançando a linha rebola bailando no compasso. E lá se vai mais um dia de vida, que leva a vida. Passando as horas acompanhadas pelo tempo que ameniza a solidão. Enquanto o agasalho dos sonhos toma forma.

 


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