Já quase aos setenta anos, se sentindo no final da vida. O velho senhor nada mais tem a fazer, se não esperar um alerta do tempo, dando-lhe o tombo final. Deixar o corpo cair em ferrugem e dar passagem para a alma, procurar uma nova vida.
Já sem mais alentos não conhece mais o mundo onde nasceu e vê futuro, que só conhecia em filmes de ficções.
Nasceu na época em que arrancavam os dentes, com enormes boticões e a anestesia podia ser um gole de cachaça ou então aguenta a dor e seja homem. Pegou um pós-guerra falta de alimentos, morava num bairro onde asfalto era coisa para rico. Na juventude vieram os encantos dos namoros. Logo após a onda de serenatas e do samba canção. As copas do mundo de cinquenta e oito e sessenta e dois. Logo após, os gostosos bailes de garagem com Beatles, jovem guarda rocks e baladas dos anos sessenta e setenta. A bossa nova, as fotografias coloridas o homem aterrissando sua nave espacial na lua. Viveu no mundo da baioneta ao laser. E hoje no mágico mundo das partículas de luz que revolucionam o futuro.
Sua primeira e inesquecível namorada. O seu primeiro beijo roubado, a mão boba, o primeiro tapa. Mas mesmo assim a primeira paixão. Sonhadora e inesquecível. Um romance gostoso desejoso de abraços e beijos. A mancha de carmim na camisa e a sua morena encantadora do sorriso lindo. Os olhos sensuais o corpo escultural. A deusa do seu coração. Que acabou num dia triste e chuvoso.
Então aceitou o que o destino lhe impôs. Vieram esposa filhos e netos. Missão cumprida. Por final a solidão da velhice. E agora sentado na cadeira do jardim. Na varanda da vida, com o pensamento a voar, lembrando a primeira namorada. Em lamúrias se põe a indagar ao ego.
; -- Onde está você hoje, minha menina. Se estiver velha como eu venha me encontrar. Não importa a velhice, as vaidades. Não importam nossas rugas. Não importam nossas embalagens. Vamos alentar-nos. Venha minha menina, vamos sentir os afagos das nossas mãos acarinhando nossas faces. Precisamos de ternuras e sorrisos neste fim de vida. Venha antes que a vida nos leve. Ou então, nunca mais veremos nossos olhos a nos dizer, eu te amo.