Agora já se sentia num final de vida. Adorava escrever suas experiências e posta-las no seu blog. Não era feliz embora morasse no seio de uma família. Já estavam ultrapassadas todas as emoções. Alentos e carinhos muito poucos e mesmo assim por parte dos netos. Parou para pensar onde errara para ter um final tão triste.
Não conseguiu nunca descobrir. Sempre teve um coração mole demais e muitas vezes uma falta de atitudes mais enérgicas. Sempre pensou que deveria manter a família unida. Nunca ligou para sua felicidade. Achou que sua presença era sempre primordial. Infelizmente agora com setenta anos descobrira o quanto tempo perdera na vida. Tentando ajudar a todos.
Sentado no seu canto escrevendo suas linhas, parou para pensar.
:- Deus! O que estou fazendo comigo. Por que decidi nunca ser feliz. Por que meu coração sempre pensou mais que meu cérebro e tomou suas decisões em favor dos que amo. Quem agora quer um velho estorvo como eu.
Foram muitas as lágrimas. Por ter descoberto muito tarde o que precisava. Tinha a necessidade na alma de ser feliz. Como narrador, deste conto também choro junto com o personagem, pois me sinto na alma dele.
Um dia rolando pela internet encontrou uma senhora na mesma idade dele. Há muito procurava. Fora ela sua namorada no passado. Fora aquela criatura que a foto mostrava naquele instante o seu grande e primeiro amor. Tinha ela a cútis morena, os cabelos negros e compridos e um par de olhos sedutores que penetravam sua alma. Era o encanto em forma de humana. Muitas brigas e ciúmes rolaram no tempo de namoro. Às vezes não se entendiam por serem muito jovens e inexperientes. O certo é que deu a lógica do destino cada um para o seu lado.
E assim deixou o amor trancado no peito. Com incerteza ou não de arrebata-lo novamente. Por meses a fio fuçou na página daquele amor. Não queria entrar, sem ter a certeza de que o caminho estava livre. Sentia-se tremendamente apaixonado e esperançoso de revê-la. O tempo passou e seu coração a cada dia palpitava mais forte pela senhora. Agora loira e de cabelos curtos. Mas com as mesmas feições de menina sapeca e levada. O mesmo sorriso gostoso e alegre que sempre fora sua marca.
Um dia tocou no botão da amizade e logo foi correspondido, passaram horas e horas lamentando o tempo perdido. Chorando pela felicidade que se perdera na vida. Meses se conhecendo e indagando porquês. Foram horas de afagos e gestos filmados. Foram carinhos e sorrisos. Foi uma ansiedade de se abraçarem se desejarem. Foram passear num mundo do faz de conta. Viraram novamente crianças. A juventude e os desejos vieram à tona como um furacão. Espalharam a felicidade dos seus corações aos quatro cantos do mundo. Finalmente ele a pediu em casamento. Ela sorridente e feliz aceitou.
No dia do encontro em plena estação rodoviária. Lá estavam os dois velhos. O coração dele a mil a pulsação dela alta. Um à procura do outro. E no meio da multidão que embarcaria para um fim-de-semana prolongado. Eis que o velho apaixonado avista a sua rainha. A mais bela e formosa criatura de amor no meio daquela gente.
Ela veio ao seu encontro com os olhos marejados. Não acreditavam no que estavam vendo. Anos de espera de uma paixão violenta, agora trombam os corpos. Se abraçaram, se beijaram loucamente com sofreguidão. Acompanhando a cena naquele dia tive a impressão que eles nunca haviam se deixado. Pareciam estar na volta de uma longa viagem. Fiquei boquiaberto com o beijo de amor daqueles dois velhos. Chorei junto com eles diante da felicidade que ali se fazia presente. Passando tanto querer e tanta confiança um ao outro. E assim de mãos dadas como jovens enamorados e bonitos de coração, Caminharam para a ala de embarque da tão sonhada lua-de-mel. Aqui me despeço do jovem casal e posso dizer com precisão e conhecimento de causa. Nunca é tarde para ser feliz.
A.V.P.L.P.
ACADEMIA VIRTUAL DE POETAS DA LÍNGUA PORTUGUESA
PATR0N0: ARTHUR DE AZEVEDO
ACADÊMICO - CARLOS ALBERTO PADUAN – CADEIRA – 82
Um comentário:
Parece que a gente está dentro do conto
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