A VOLTA A SANTOS.
Foi o fim
agora só recordações dos bons momentos. Estava escrito nas páginas do tempo. O
fim negro desse amor. Chovia no peito do
menino poeta. Serão momentos profundos.
Dias azedos e cinzentos, as ilusões, os sonhos jogados às sombras da
solidão. Olhos com lágrimas molhando as perdas passadas, lavando o desamor em
um peito oco, sem um coração de amor para bater. Era preciso ir em busca de um
raio de sol para secar a tristeza molhada. Iluminar e aquecer um pouco o luto
negro dos dias.
Nunca
mais veria aqueles olhos a não ser na pequena foto tirada para documentos que
estava na palma da sua mão. Enxugou as lágrimas da lembrança. Levantou se da
cama pegou sua bagagem resolvendo seguir a viagem. Para entregar o último carro
conforme havia combinado com o senhor Morgado. Levou o carro a mais oitenta
quilômetros adiante. Mais um carro blindado era entregue ao dono, alta patente
do exército. Ganhou uma gorda caixinha em dinheiro o que lhe serviu para pagar
a viagem. Resolvera voltar a Santos depois de dois anos na capital.
Desceu na
estação de trens de Santos e ficou parado por uns instantes no bar e no mesmo
lugar onde vira Ligia e seus olhos penetrantes pela primeira vez. A lágrima da
saudade escorreu. Foi para a rua e caminhou até sua antiga morada o hotel
Paulista. A fachada fora pintada de vermelho e branco. Entrou e viu o balcão do
bar reformado e lá no canto na sua tradicional cadeira o velho, com seu rádio
ligado seu cachimbo cheirando a chocolate e sua bebida preferida vermute. O
velho Chico.
Carlinhos aproximou se e pediu
licença para sentar e Chico respondeu.
— Esteja à
vontade amigo! Estou lembrando a vós, porém não posso vê-lo.
— Porque não Chico! Está
cego!
— Ceguinho amigo! A catarata tomou conta dos meus olhos.
— Caramba Chico! Dois anos e o estrago foi grande assim!
— É a velhice
meu amigo o tempo e seus estragos no corpo da gente. Mas diga o seu nome!
— Carlos! Para você, pode ser Carlinhos.
— Lembrei! Carlinhos o namorado
da grande guerrilheira Ligia que Deus a tenha, e do velho Igor. O cachaceiro
mais honesto do mundo.
— É bom
ouvir a sua vós meu rapaz! Me da aqui um abraço!
Dado o
abraço até meio saudoso Chico disse a Carlinhos que pensava que os homens da
policia o tinham capturado.
— Estiveram aqui logo após a
morte da nossa heroína e não estavam de brincadeira não!
— Do que está falando Chico! Não
sou revolucionário!
— Eles
chegaram e revistaram o hotel inteiro e ficaram aqui nas redondezas por uns
dois ou três dias. Ficaram na sua campana.
— Eram de
São Paulo um deles já havia estado antes aqui, por umas duas ou três vezes eu o
conheci por causa do bigodinho fino de cafetão.
— O maldito traidor Rafael! O canalha do
bigodinho!
— É isso!
Uma vez Ligia me disse o nome dele!
— Devia ter matado ele naquele
dia. Mas como não sou assassino deixei a cobra viva.
— Eu não entendi nada menino! Exclamou Chico levantando as
sobrancelhas.
— Manda vir um conhaque Chico.
Que vou lhe contar o que esse filho da puta do bigodinho fez. Disse Carlinhos
dando um soco com força no braço da cadeira torneada onde estava sentado.
— Se acalma Carlinhos! Disse Chico assustado!
—
Calma nada! Esse filho da puta quando foi feito, a mãe dele devia estar bêbada
e caída com a cabeça num latão de lixo. Esse filho da puta foi injetado nessa
mulher pelo pinto de um maluco viciado.
E assim Chico ficou sabendo como
foi o fim de Ligia e Igor.
— Eu ia ficar aqui por uns tempos no seu hotel Chico, mas depois disso é
melhor eu ir procurar outro canto. Vai que o bigodinho alcagueta apareça e eu
me estrepo.
— É
melhor mesmo! Mas não esqueça o seu amigo aqui!
— Não esqueço não Chico. De vez em quando
apareço para tomar umas e jogar conversa fora! Boa sorte meu amigo!
Saindo do
Paulista, ali mesmo na porta pegou um ônibus em direção a um bairro periférico
da cidade. Indicaram uma mulher que
alugava quartos e para lá Carlinhos foi com sua pouca bagagem. Ao chegar ao
endereço tocou a campainha e uma senhora o atendeu com gentileza. Conversaram e
se acertaram e ali estava Carlinhos novamente num local desconhecido, porem
estava mais seguro longe do maldito bigodinho!
Depois
disso se tornara um homem calado e sisudo, porem continuava educado e gentil!
Só não tinha alegria para sorrir despojado dos sonhos e fantasias que carregava
no peito. Sua luta em busca da felicidade e os tropeços o tornaram um homem
amargurado. E assim sua vida ficou a ir da casa para o trabalho que arranjara
numa loja de materiais para construção. E vice versa. Às vezes poetava ao
lembrar-se de Ligia.
SINTO-A EM MIM
Tenho certeza! Estas aqui.
Sinto-te
a minha volta, tua
lembrança é clara.
Mesmo quieta! Calada!
Sinto-te em mim,
Como inspiração!
Um amor para sempre.
Dormes suavemente em meus sonhos.
Meu coração
ampara-te, te segura.
Guardo-te
toda dentro de mim.
És meu amor para sempre! Até
hoje! Sinto o teu respirar.
De
amor no meu coração!
Um dia minha alma vai chegar onde estas.
E
matar o meu desejo! De
te ver sorrindo.
Santos
– SP – 2.015
Em outras vezes o menino Carlinhos sentia o vazio no
peito e lembrava sua Esmeralda dourada. De olhos verdes e cabelo de corda.
E deixava que ela invadisse o seu corpo e a poesia
inspirava a sua alma jogando as palavras ao vento
Ainda te guardo, como meu sol!
Teus olhos verdes esmeraldas.
Estão em todos os campos.
Por onde eu passo!
Desde o primeiro olhar.
Que arrepiou meu corpo.
Nunca mais senti outro igual.
Os anos
passam com o tempo.
E gravam
lembranças na alma!
Eu ainda
menino, corria como o vento.
Ladeira
acima.
Após ter beijado você.
Sentia-me cavalgando no céu!
Por isso sou amigo do vento
A cada lufada! Um fascínio!
Traz-me você, na lembrança.
Santos- SP – 2.015
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