15/10/2018

UMA DOR CHAMADA SAUDADE

Sentado nos degraus da escadaria mira a água da fonte que jorra numa canção, aconchegando-lhe a alma.

Passara por muitas vidas, dentro das vidas de alguns amores. Por todo o caminho que percorreu. Sabia que havia deixado saudades. Mas hoje só sentia o dolorido dessas saudades.

Escrevera no papel da vida seu livro de amores. Primeiro o amor criança. Lembrou com carinho a pequena menina o sol da sua vida. A pequena e risonha Maria Esmeralda. Foi o primeiro raio de pureza e a primeira fagulha de arrepios de amor. Porém hoje ele sabe que ela também esta só. Mas numa vida bem diferente da sua. E pensa :- Deixa ela no canto que conquistou.

Na sua juventude vieram outros amores, outras paixões. Veio Lígia um amor que foi mais uma amizade, uma compreensão um enorme carinho.

Encontrou essa mulher, uma prostituta da vida que lhe deu força e uma razão para continuar vivendo. Tentaram por duas vezes fazer seus corpos se amarem. Tentaram ter tesão, mas o pouco que conseguiram, foram alguns beijos carinhos e afagos. Argumentos para uma boa noite de cama não faltaram. Porem seus corpos não obedeceram aos desejos e o sexo virou piada. O máximo que conseguiram foi dormirem nus e abraçados.

A fonte d água contemplada por ele, continua murmurando e seus olhos parados, lembram como visões hipnóticas o amor que arrasou seu coração. Era tão forte como uma avalanche medonha de desejos. Uma escultural mulher num corpo de vênus. Tinha o costume de deitar a cabeça sobre o corpo dela e com as mãos, fazia uma viagem sobre a pele sedosa e cheirosa da morena. Um desejo forte de amor, tomava sua vida. Tinha a impressão que sua alma saía do corpo e abraçava Mirna.

Foram os mais loucos e explosivos prazeres, que muitas vinham em gozo, só de toca-la ou beija-la. Eram enormes as volúpias e tremores de prazer. Mas, como toda loucura tem fim. Um dia cada um foi para o seu lado. Cada um levou para si suas dores de uma paixão violenta e louca de amor. Cada um levou na bagagem as lágrimas de saudades, os porquês, os certos e errados. Os arrependimentos as tristezas. Mas também guardaram as coisas gostosas, os beijos e afagos, os tesões, os sorrisos e as mãos dadas. Quantas vezes haviam dançado e desfrutado a felicidade nos bailes da vida. Acharam outros amores para curar as feridas. Outras vidas para amar, outras histórias e outros mundos.

A fonte continua murmurando, seus olhos continuam mirando o infinito e agora a saudade machuca seu peito.

Depois de velhos se encontraram, num abraço de quarenta e seis anos de saudades. Os olhos dos dois brilharam tal e qual na adolescência. Não se sentem velhos, seus sorrisos começam no bom dia amor e terminam no boa noite. Abraçados na cama a trocar afagos e carinhos. Seus corpos colados, sonham todas as noites com a esperança de sorrir, por um bom dia nas manhãs que se abrem

Porém hoje! Ele está sozinho sentado nos degraus, ouvindo a fonte a tocar uma valsa da vida. Algumas lágrimas brotam da fonte dos seus olhos pelos sulcos rugosos do seu rosto. Então pensa e diz para ele mesmo.

:— Fique calmo, ela só foi viajar, por alguns dias.

Mas é impossível ter essa calma. Ele se sente só, com o mesmo desamparo de quarenta e seis anos atrás. Quando cada um foi para seu lado. Então dói-lhe o peito, chora a sua alma, como chora a fonte a escorrer sua água murmurante, num lamento de amor.

É terrível sofrer essa saudade, mesmo por alguns dias, então pensa em Deus e lhe pede.

:-- Não há leve emprestada antes de mim. Por favor! Não me deixe nunca mais sentir esta tortura.

 

A.V.P.L.P.  

ACADEMIA VIRTUAL DE POETAS DA LÍNGUA PORTUGUESA

PATR0N0:  ARTHUR DE AZEVEDO

ACADEMICO - CARLOS ALBERTO PADUAN – CADEIRA - 82


Um comentário:

Unknown disse...

Você escreve realidades que muitas pessoas passam na vida. Por isso é que eu sigo você. Obrigado.