09/12/2020

Trigesima parte do meu livro ”OS DOIS AMORES DE CARLINHOS”

  

PROFESSORA E PSICÓLOGA

 

Num desses dias assistindo ao programa de entrevistas viu o que nunca imaginaria mais ver na vida! Ficou tremulo e nervoso, teve que se medicar. A emoção aumentara a sua pressão arterial. Perante o gordinho ter anunciado a professora, psicóloga e escritora Maria Esmeralda. Até ai tudo bem. Mas quando viu a jovem velhinha e bicuda senhora sair do auditório, e caminhar para o sofá de entrevistas. Seu coração disparou! Uma rajada de emoções subiu-lhe pelo peito, como um arrepio na alma.

Nunca mais na vida esperava ver Maria Esmeralda. O seu primeiro amor! A sua primeira grande paixão! Aquela mulher que havia degustado a primeira fatia do seu amor. E até hoje, o sabor dela ficara em sua alma!

Chorou! Sorriu e lambuzou-se de alegria, vendo-a  responder com calma e maestria, às perguntas que o gordinho lhe fazia. Alguns jeitos e trejeitos ela ainda conservava desde moleca, com seus quinze anos! Notou que aquele bico no jeito de falar, aumentara muito. Talvez um charminho pela importante entrevista, ou talvez quando ela fez um estágio de estudos na França. Coisa que o amigo Luís lhe contara. Tudo que ele sabia sobre aquela boquinha bicuda, era o sabor de amor. Eles haviam se beijado por quase dois anos. Dois anos! De amor e felicidade, sempre escondidos dos pais e mães.

Após o programa preparou-se para dormir. Mas estava excitado demais para fazê-lo. Esmeralda não lhe saia do pensamento. Ele a mencionara em grande parte do amor que viveram no seu livro. Deitado à cama revirou-se a noite inteira de recordações das boas e más passagens que tiveram. A noite foi longa demais para ele.

Levantava-se cedo! Alias quem o acordavam eram as galinhas, que todas as manhãs se punham a dar bicadas na porta da cozinha. Estavam famintas, era como se dissessem:- Acorda preguiçoso! Estamos com fome.

Nesse dia após os afazeres sentou-se ao computador e achou a entrevista da loirinha, assistiu a tudo novamente, acompanhado de outra, loira saborosa e gelada. Mais algumas recordações boas e depois deu o seu palpite no espaço destinado a comentários.

Passados alguns dias recebeu um e-mail que lhe arrepiou os pelos do corpo, que dizia:

“Obrigado pelo seu comentário. Fiquei feliz em saber que estas bem! Saudades!  Maria Esmeralda!”

:- Meu Deus! - Pensou Carlinhos. Isso não pode ser verdade! Depois de tantos anos ela ainda tem saudades!

Ele respondeu o e-mail, ela correspondeu e pediu o telefone. Conversaram pelo telefone. Uma, duas três, um monte de vezes. E numa delas Maria Esmeralda pediu o endereço de Carlinhos, prometendo mandar-lhe um livro dela autografado.

Num sábado pela manhã, depois de ter alimentado a criação, sentou-se no alpendre. O dia estava ensolarado e quente. Ótimo para um mergulho na piscina. Pensando no que ia comer no almoço, mas também a cervejinha e o tira-gosto lhe fariam companhia antes!

Ao longe na estrada, um motor a urrar, chamou-lhe atenção. Levantou-se e subiu na pequena cerca de madeira que rodeava o alpendre para poder ver o veiculo. O motor vinha gemendo a baixa velocidade. O ronco não era conhecido e logo pensou:- É gente de fora, que não conhece a estrada de terra ou esta perdida. Já dava para avistar o carro grande e de vidros escuros, importado talvez. E cada vez mais devagar o veiculo parou, embicando na porteira de entrada do Rancho do Marcazado! Que era justamente o rancho de Carlinhos! Ele saiu da varanda em direção à porteira. Com calma e paciência a passos lentos, tentando ver alguém pelo negro dos vidros do veículo. O reflexo do sol não ajudava nisso. Parou na porteira e fez sinal para que a pessoa se mostrasse. O vidro do motorista se abriu,  uma mulher loira e de óculos escuros colocou a cabeça para fora falando!

— Abre logo Cailinho! Estou apertada para fazer xixi!

Um estalo no peito. Parecia que ia enfartar a vós estava diferente, mas aquele, Cailinho, era inconfundível. Correu a abrir o cadeado e as argolas que prendiam a porteira.

E num vup, o carro preto entrou e rodou pela pequena calçada até perto do alpendre. A loira desceu sem óculos e perguntou de longe!

— É aqui Cailinho! Apontando para a casa. Ele com os dois braços abertos fez sinal para que a mulher entrasse.

Desnorteado ficou. Não sabia se chorava ou ria. Ficou ali olhando Maria Esmeralda correndo para dentro de sua casa e lembrou-se da pequena ladeira da onde moravam na Vila Ré. O mesmo encanto passava agora pela sua mente ao vê-la correndo. O seu anjo sem asas. Ali mesmo ao pé da porteira sentou-se. Algumas lágrimas quentes de felicidade escorreram pelas bochechas. Passados alguns minutos eis que a loira sai da casa e para no alpendre. Vê o velho sentando, num toco de árvore cortado e caído ao chão! Ela não entende, porque dele não ter vindo ao seu encontro. E sai da varanda correndo na sua direção. Os braços se abrem. Carlinhos vê sua musa amada, sem asas voando para ele. Levanta-se do toco e corre para ela. Inevitável uma trombada de corpos, boca procurando boca, num prazer enorme, como se chupassem balas com sabor de saudades. Numa volúpia de satisfação. Numa vontade de morrer naquele minuto e ficarem eternamente um dentro do outro!

Passado os efeitos emocionais, os dois se olham e sorriem, com alegria nos olhos, dava a impressão que ganharam presentes desejados a muito.

— Menina você esta linda e com um jeito bem serelepe! Ainda agora pouco quando você correu para mim, te vi moleca a correr pela ladeirinha poeirenta da nossa infância!

— Deixa de mentira Cailinho! Já está querendo me conquistar é!

Os dois riram e de mãos dadas se dirigiram para o alpendre. Ele ofereceu-lhe água um suco ou uma bebida qualquer. Ela sentou-se numa das cadeiras e aceitou o suco.

Dez minutos! Um suco fresco de laranjas, colhidas pela manhã e acompanhado de gelo e um sorriso de orelha a orelha, que Carlinhos esboçava. Ele a convidou para caminhar um pouco pelo pequeno rancho. Na altura do jardim ela parou e perguntou! Quem cuidava daquele jardim. Ele respondeu que ali era o seu canto mágico e que tinha ciúmes das suas orquídeas, serem tocadas por outras mãos!

— Gostei do teu cantinho Marcazado! Parece um pequeno paraíso!

— Eu estava enjoado da cidade e depois ficar numa casa grande e sozinho, não dava mais! Vendi lá e comprei aqui já tem uns três anos! Era todo feio! Fui arrumando aos poucos.

— Deixou isso nos trinques Cailinho! Um éden.

— Um bom lugar para se morrer!

— Para com isso, justo agora tu quer morrer Cailinho!

— Inevitável e com certeza um dia acontece e eu quero que seja aqui! E que minhas cinzas sejam espalhadas neste jardim. Junto às minhas preciosas orquídeas! Mas fica tranquila que isso não é para agora! Agora só quero me deliciar com a tua presença!

— De novo Cailinho! Não mudou nada, o mesmo sem vergonha de sempre! Só me bajulando.

— Vamos voltar para casa esta muito quente o sol!

— Pena que eu não trouxe um maiô, para tomar um banho de piscina!

Carlinhos deu um sorriso maroto e foi logo dizendo.

— Nesse teu corpinho de menina, acho que cabe um maiô da minha neta. Ela é igual a você de corpo, se quiser experimentar!

— Tõ falando, Cailinho! Você esta me engolindo toda! Tá velhinho, meio gordinho, mas não perdeu o jeito de paquerar!

— E você nesse teu sorriso de bico maroto, adora isso né. Parece que te da vida quando falo, da para ver nos teus olhos esmeraldas. O brilho deles aumenta!

— Vamos deixar essa conversa para lá e você me mostra esse tal maiô!

A água estava fria, Maria Esmeralda ficou toda arrepiada. Carlinhos tinha ido até a casa, buscar um vinho e duas taças. Quando voltou ela estava fora da piscina e toda tremula, com o corpo gelado. Ele resolveu logo o problema com uma toalha e um abraço. Maria Esmeralda sentiu aquele corpo quente e se enroscou mais ainda em Carlinhos.

Ela parou de tremer, ele a soltou, ela fez cara de quem não gostou, ele se fez de bobo e deu-lhe uma taça com o néctar suave!

— Então dourada!

— Estava demorando, para eu ouvir isso Cailinho! Nossa que saudade de ouvir você me chamar assim.

— Eu queria te fazer uma pergunta que esta até hoje encalacrada na minha garganta!

— Você quer saber, porque eu me casei né!

— É... Isso realmente foi o maior pé no saco que recebi de você. E realmente me doeu mais que um pé no saco.

— Vou te dizer, porque fiz essa asneira. Eu realmente descobri que nunca mais ia te ver. O que meus pais e meu irmão Flávio fizeram, foi para me tirar dos teus braços. Eu já não tinha mais esperanças de te ver. E do jeito que você me deixou num ponto de bala tão grande. Numa excitação enorme, falando o português claro! Que assim que comecei a namorar fiz a besteira. Não me aguentava mais de tanto lembrar, de você e não tê-lo. Me, masturbava todas as noites lembrando dos nossos namoros. Mas porque você está chorando Cailinho!

— Estou lembrando! Tudo o que passamos, para mim tu foste sempre um amor divino! Mas não era bem assim. A nossa falta de experiência e também o recurso que tem hoje! Não nos deixou concretizar o sonho das nossas vidas. Por isso eu te preservei. Já pensou, eu com dezesseis anos pai! Sempre parei para pensar o que aconteceria contigo então. Esse sofrimento seria maior do que ter te perdido. Enfim, criança naquele tempo, não tinha escolhas e nem porquês! Era na base do calado tá errado né! Como dizia Olavo Bilac

 “ É preciso estar quieto! É preciso ser sério, é preciso ser homem!”“.

Tanto nos recomendaram isso, que ficamos homens. E que homens! Céticos, tristes, de um romantismo doentio... (...)





— Esse vinho é delicioso Cailinho!

— Já esta com fome! Vou dar um mergulho e vamos para a cozinha tá! - Ele mergulhou, ela indagou.

— Está gelada ainda!

— Para mim esta boa! Você é que não esta acostumada com o clima daqui.

 Foram para a cozinha de mãos dadas, feito duas crianças que ainda sonhavam com um futuro de amor delicioso. O vinho à deixou alegrinha, ela se soltou. Beijos abraços e afagos, entremeados com paradas para salgar os bifes e cortar tomates para salada. Uma música tocava gostoso. Eles dançaram, se abraçaram mordiscaram pescoços. E os bifes acebolados ficaram prontos. A toalha da mesa balançando nas mãos serviu para um olé touro!  A toureira Esmeralda atiçando o touro Carlinhos que a agarrou levando as mãos nos seios e logo após entre as pernas. E no meio do beijo, ela mordeu lhe a boca. Como sempre fazia nos namoros escondidos. A toureira gemeu de êxtase com as mãos do touro afagando seu sexo.

— Sangrou! Cailinho! Meu Deus que estupidez!

— Estava demorando! Se não acontecesse eu diria que você não me ama mais. É bom pelo menos sei que lhe ainda lhe causo fúrias de êxtases! Como dizes.

Almoçaram na maior lambuzeira. Um arrancando pedaços de bifes da boca do outro e o vinho acabou esquentando os dois de vez. Após o almoço foram para um sofá na sala e ali esgotaram se, todos os argumentos que faltavam, para que realmente rolasse o maior dos prazeres. Mas o efeito do vinho deixou Maria Esmeralda mole e com sono!

Ela deitou a cabeça no ombro do amado e dormiu. Um tempinho depois Carlinhos com todo cuidado, colocou-a para dormir e antes de cobri-la ficou reparando naquele corpo gasto, mas bem-apanhado da sua dourada! Com o olhar perdido naquele mimo de mulher. A poesia da sua vida! Sinuosas curvas de um corpo. Suave e macio, tal qual veludos de pétalas. Ali ficou absorto! Cultuando a sua santa de amor! Num êxtase divino da alma.

 


 

E chorou pelo que o tempo havia feito com ela! Tão durinha fora sua carne, tão cheia de vida. Cobriu-a finalmente e foi terminar alguns afazeres. A tarde começou a dar seu sinal. O vento cutucou as arvores que se orquestraram em farfalhos. A passarada começou a reunião de gorjeios! O clima ficou mais frio. Hora de recolher a vaca Candinha e fechar as janelas para o pernilongo, não vir tocar corneta nos ouvidos à noite.

Feito tudo isso voltou para sala. Esmeralda estava sentada no sofá conversando ao celular. Para não atrapalhar a conversa foi para cozinha e logo saiu um gostoso lanche de café, com leite da Candinha. Pão do forno a lenha, com um queijo branco temperado com orégano e alecrim feito por ele mesmo!

— Cailinho! Você tem um comprimido! Minha cabeça vai explodir!

— Tenho um monte e de vários tipos, sente-se aqui e sirva-se, que eu vou buscá-los.

— É delicioso esse queijo Cailinho! É daqui da região!

— É sim feito aqui mesmo. Depois separo uns dois para você levar!

— Falando em levar eu posso ficar aqui até amanhã!

— Eu estava sonhando com isso minha dourada! O dia foi muito curto para nós hoje.

— Eu não quero te atrapalhar, parece que você faz tudo por aqui ou tem mais pessoas que te ajudam.

— Eu moro aqui com a Candinha e as galinhas! E faço todo o trabalho, lavo cozinho e deixo tudo no lugar certo. Assim o meu dia passa rápido.

— E essa Candinha! Quem é!

— Minha vaquinha! A dona desse leite puro que esta na jarra e do queijo que você gostou. Eu faço três deles por semana!

— Que bom um marido assim!

Ele riu e respondeu!

— Até que não seria má ideia, ter uma mulher dourada dentro desta casa!

— Eu ainda trabalho meu amor, ainda dou aulas e tenho uma vida muito intensa!

— E tua família como é!

— Sou viúva e moro com meu filho, que ainda não quis se casar. Saio de manhã e só volto à noite para casa.

— E não se aposentou ainda!

— Me aposentei com quarenta e oito anos! Trabalhei e estudei muito, dei muita aula e formei centenas de alunos!

— E porque não para!

— Não sei fazer isso, já tentei, mas não me acostumo!

— Desculpe minha querida! Mas isso não é vida! Chega dá um basta nesse trabalho.

— Para que! Ficar como você num fim de mundo sozinho!

— Você, pelo menos, tem um namorado!

— Não! E não quero ter! Chega? Acabou esse tempo!

— Pelo que senti hoje em você, um namorado te faz muita falta.

— O que você está querendo dizer Cailinho!

— Nada! Só te achando uma tola, jogando todo esse sentir fora e não gozar a vida. Vai deixar a terra comer tudo!

— Não sei! Quem sabe um dia!

— Quando esse dia chegar espero que ainda tenhas energia para gastar. Que lastima pensar em você, se acabar trabalhando. Quando morrer o dinheiro vai ficar todo no banco e você num buraco. Eu queria ser teu herdeiro!

— Cailinho! Não brinca com isso não!

— Desculpa meu amor, foi só uma brincadeira. Passou a dor na cabeça?

— Não! Foi o vinho gostoso que você me deu né!

— Acho que sim, mas também hoje, teu dia foi diferente quebrou a rotina e isso também mexe com o organismo!

Cai à noite! O vento um pouco mais forte continua soprando as árvores. Os grilos tocam seus apitos e às vezes a coruja acompanha piando!

Carlinhos liga o computador, chamando a dourada para sentar-se ao seu lado! Abre a página e pede que ela leia.

 

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