Ligia chega correndo e entra no quarto tão rápido que Carlinhos toma um grande susto e de sobre salto em dois segundos já esta em pé ao lado da cama. Ela pula em cima dele que amolece o corpo e os dois caem na cama.
E aos
beijos, muitos beijos gostosos, saudosos de amor nas bocas, nos corpos. Nos
colos nos seios nos ventres. Deleites suados apaixonados, ofegantes saciam a
sede que matava seus corpos de amor.
Depois disso a ternura os afagos
carinhosos.
Tão
satisfeitos como se pedissem. Garçom! Café e cigarros para dois.
--- Puxa amor! Diz ele.
--–
Fazem quatro dias que você desapareceu sem explicação, sem palavras sem se
despedir de mim sem nada!
--- Amor!
Eu não podia e nem queria lhe explicar nada, deixe as coisas como estão que
fica tudo certo.
--– Não
Ligia! Como está não vai ficar. Você saiu e me deixou numa expectativa muito
grande, e com um livro que nem sequer abri! A não ser para ver a sua foto e
pegar o seu retrato.
—Como
você não leu o livro!
—Não! E
nem sei o nome dele e não me interessa o livro. O que quero saber é onde você
foi e porque foi.
--– Para
Carlinhos! Não sou sua mulher! E mesmo que fosse não lhe daria tais
explicações, não sou sua filha e nem objeto de sua propriedade e fiquei
desiludida contigo não lendo o livro que te sei com muito carinho.
-—Carlinhos pegou o livro e leu o
titulo “UM GOLPE MILITAR NA CALADA DA NOITE” e falou.
--– E dai o que tenho a
ver com revolução. Já chega a revolução que você faz dentro do meu peito.
--– Carlinhos leia a dedicatória!
Ele não leu a dedicatória, só leu o assinado, Jacques! --- E dai foi algum
namoradinho que te deu!
-—Não! Eu não tenho
namorado!
--- Mas tem um monte de
homens!
-—Ah! Não
Carlinhos! Este não é você falando! E agora eu te respondo? Posso ter mil
namorados se eu quiser! E todos eles me querem.
--–
Querem sim! O teu corpo a tua ...
--– Fala Carlinhos! A tua que.....?
--- Você
sabe!
--- Sabe o que! Que sou uma puta!
Que saio por ai dando para qualquer um!
--- Não Ligia! ---
Não conversa! Vocês homens malditos. Quando se sentem mal amados, sentem o
chifre queimar, falam o que querem para magoar e numa boa se acham os donos da
situação e das mulheres. São covardes!
--- Covardes não! Lígia!
---
Covarde sim seu abestalhado! Eu sou puta! Carlinhos! Puta! Esta me ouvindo! - E
abrindo bruscamente a porta e bruscamente também há fechando desce as escadas
correndo e vai para o salão do bar.
Carlinhos coloca a camisa e sai ao seu encalço, mas não a acha no salão,
então segue para a rua e vê Ligia dobrando a esquina da rua.
Ele
voltou para o quarto com raiva, com ódio da vida, puto com Ligia e com o show
de pata choca que ela dera.
Pegou em
cima da cômoda uma garrafa de conhaque começou a beber. Logo estava se sentindo
solitário e divagando cantava baixinho. Depois de
escrever o que cantava, deixou a folha de caderno ao lado do litro de conhaque
e foi trabalhar, encontrando se com outros estivadores. Pegaram um terno no
navio Gaivota e dá-lhe saco de café no lombo.
Santos – 1.972
Ligia chegou da rua e de mansinho, viu que
Carlinhos não estava no quarto, ainda estava muito magoada com a briga e
decidiu que ia voltar para o seu antigo quarto. Achou a canção que Carlinhos escrevera.
Sentou se a beira da cama leu-a uma, duas vezes e entrou num convulsivo pranto.
Depois desceu as escadas e foi para o salão, lá estava Igor o seu querido amigo
que não fora trabalhar, estava febril.
— Olá
menina dos olhos vermelhos.
— Oi!
Respondeu ela com um sorriso amarelo.
— Briga
feia hein!
— É sim Igor!
E o pior que é por orgulho, por ciúmes!
Dos dois! Somos dois idiotas e egoístas!
— Ligia! Falou Russo — Vou te
dizer uma coisa que sinto. Você se aproximou do Carlinhos, porque ele lembra o
Jacques. Não é mesmo! `
— É!
— Só queria ter certeza minha
querida! Pelo pouco que você me contou sobre Jacques eu entendi perfeitamente
porque você se jogou nos braços de Carlinhos. Mas acontece minha menina que
Carlinhos também procura alguém e ele encontrou parte desse alguém em você. E
ele está ao seu lado por isso!
— Isso
tudo faz sentido meu amigo!
— Sentido
ou não, são profundos os sentimentos do egoísmo entre vocês. Vocês estão
preocupados com vocês mesmo. Não estão se importando se um ou outro possam
sentir felicidade ou bem-estar.
— Você
tem razão Igor eu vou perdoar o Carlinhos!
— Perdoar
não menina! Perdoar o egoísmo o amor desperdiçado! Jogado fora!
— Você
não tem que se desculpar! De um sorriso para o garoto e deixe o resto para lá.
O tempo cura as feridas todas.
Ligia sorriu e abraçou o barbudo
grandalhão dizendo.
—
Obrigado amigo!
Quando
Carlinhos chegou do trabalho, passou pelo saguão do bar e procurou por Igor e
também por Ligia, mas não viu ninguém. Subiu para o quarto, tomou um banho e
quando saiu do banheiro assustou se ao ver Ligia e sem ter como esconder a sua
nudez, riu amarelo. Ligia por sua vez estava sentada na cama e ria do sem jeito
dele. Mas logo ele pulou para cima dela ao perceber o sorriso da fêmea
suplicando seu corpo. O cheiro de banho no corpo do macho deixou Ligia
alucinada de desejos e toda fogosa recebeu Carlinhos com mordidas, beijos
abraços e gemendo de prazer seus corpos sacolejaram num êxtase como nunca
sentiram antes. E depois um abraço gostoso um beijo bem calmo. Um roçar de
dedos nos cabelos, uma carícia no rosto e um sono que foi chegando tranquilo
relaxante suave...
Na manhã seguinte quando
Carlinhos acordou Ligia não estava mais no quarto. Sentou se na cama e ficou
pensativo. Não demorou dez minutos ela chegou com uma bandeja de café e pães,
quentinhos e cheirosos. E com um sorriso
que ia até o pescoço de feliz. Disse a Carlinhos.
— Bom dia amor!
Carlinhos
que não tomava café desde ela fora para São Paulo deleitou se. Depois
perguntou-lhe.
— Garota!
Diga-me sinceramente, eu preciso saber onde você foi esses quatro dias. Você me
fez falta garota!
— É bom
ouvir isso amor alguém precisando de mim!
— Não é
bem precisando! É você fazendo falta. A cada dia me sinto mais ligado a você. E
não sei se isso é bom ou ruim.
— Também
não sei Carlinhos! Mais é bom.
— Tá, mas
você não respondeu a minha pergunta!
— Quer mesmo saber! Eu estava em
São Paulo na casa de amigos.
— E
foi assim vup. Sem nada me dizer
— É que esses amigos meu amor, não são pessoas comuns é gente que
combate o sistema, são revolucionários é encrenca grossa. E eu não te falei
nada, porque sou uma mulher marcada e posso ser presa a qualquer momento.
— Você é
uma mulher chave de cana! Perguntou Carlinhos.
—
Exatamente isso! Sou uma revolucionária e como sou muito visada precisava saber
de verdade quem era você.
—
Carlinhos olhava para Ligia sem acreditar no que ouvia e ela continuava a
falar.
— Vai que de repente você é da
polícia ou do Dops ou Doi Cod (Policia) ou de qualquer outra merda que o
governo inventou para manter a lei e a ordem com opressão e violência.
—
Por isso eu escondi de você onde fui!
— Então
você me investigou em São Paulo! E foi você quem se aproximou de mim na estação
de trens Agora me investiga? Exclamou Carlinhos!
— E
também não entendi aquela roupa de mendiga e o porquê você me pediu café aquele
dia.
— A roupa
é aquele drama todo foi tudo verdade Eu realmente estava com fome e estava
longe do hotel há quatro dias porque tinha policiais de São Paulo me procurando
nesta área.
— Olha
amor! Você de costas é o Jacques escrito! E de frente tem um monte de trejeitos
dele.
— E quem
é Jacques! Pergunta Carlinhos.
— Não é
Jacques! Era Jacques! Está morto!
— Quem
era Jacques então!
— Era meu
noivo! Ele morreu num tiroteio no Largo São Francisco! Já faz quase um ano! Um tiroteio e confusão
entre estudantes e soldados, morreram nove e mais um monte de feridos. Falava
Ligia
— Eu me
lembro disso! Disse Carlinhos.
— Você
deve ter lido nas manchetes rádios, televisão e tudo quanto foi impressa
inclusive internacional.
—
Ligia! Você estava lá!
— Sim! Infelizmente Jacques e eu
fomos os pivôs da tragédia!
— Ligia! Por favor, amor! Não vai me dizer que você é...!
— A
mulher da metralhadora? Exclama Carlinhos estupefato.
— Sim Carlinhos. Infelizmente sou eu!
— Meu Deus! Meu Deus! Não posso
acreditar que estou diante da...
— Matadora
do Largo São Francisco! A assassina do noivo de professores, de alunos e de
soldados. Completou Ligia
— A mulher mais procurada do estado de São Paulo!
Suas lágrimas rolavam aos
borbotões. Carlinhos abraçou-se a ela e chorou junto. Pedindo perdão a
amada!
—
Perdoar o que Carlinhos!
— Por ter
duvidado de você! Por ter brigado contigo!
— Não tenho que te perdoar de nada Carlinhos!
Nestes tempos em que estamos juntos você só me deu amor! Respeitou-me, foi
legal comigo, foi sincero e preocupado.
—
Não entendo o que dizes amor! Falou Carlinhos.
— Nestes
últimos tempos meus amigos revolucionários só me dão missões porque acham que
sou capaz. Muitas vezes em algumas dessas incursões, acabo nas mãos de gente
poderosa, que só querem o meu corpo para liberar grana e armas para o
movimento. Muitas vezes para não ser pega pela polícia politica passei por
prostituta e dei para delegados. E em outras ocasiões tive que dar para informantes que se passavam
pelos nossos, para poder ficar viva.
—
Infelizmente tive que acabar com a raça de alguns por isso. Narrava Lígia.
— E para que tudo isso amor! Porque continua nessa vida. Pergunta
Carlinhos.
— Amor!
Responde Ligia
— Eu só quero anistia para os
meus amigos que foram expulsos. Eu quero o militar fora do governo. Eu quero a
paz para o povo, o direito de voto e que se cumpra a constituição. Na
raiva das palavras Ligia novamente começa a chorar e Carlinhos abraçando-a
pediu. —
Por favor, saia dessa vida! Pense um pouco em você, pense em nós vamos fazer
alguma coisa juntos!
— Não! Não vamos nos fazer
promessas, que não poderemos cumprir.
Carlinhos tentou
retrucar.
—
Não! Já disse! Deixe as coisas como estão. Vamos levando esses momentos juntos
e tirar proveito dessa felicidade. Disse Ligia com vós firme.
—
Não Ligia! Você está errada pensando dessa maneira.
— Não
estou! Carlinhos deixa tudo como está. Estou lhe pedindo!
Carlinhos
irritou-se deixou-a sozinha no quarto indo para o saguão do bar, como sempre,
lá estava o Russo.
— Hô!
Amigo que cara feia é essa!
— Bom dia
Igor! É que eu tive uma conversa muito seria com a Ligia e estou muito puto
dentro das calças!
— Isso é briga de amor! Disse
Russo!
— Amor nada Igor! A briga é pelo
que ela faz! —
Ah! Então ela te contou!
— Contou
e que droga! Que merda de vida é essa!
— É
triste eu sei amigo, mas estou do lado dela para-o que der e vier!
— Mas eu não Russo! Eu queria tê-la ao meu lado como minha companheira,
ai sim para o que der e vier.
— Quando você sentiu isso amigo!
Perguntou Russo.
—
Hoje! Ontem! Sei lá! Eu estou sentindo isso.
— Sabe de uma coisa você ficou
sentindo isso, depois que ela lhe contou o que fazia.
— Bah! Que nada Igor! Respondeu
Carlinhos com desdém.
— Olha
aqui amigo! Não sou moleque! E conheço muito da vida e posso lhe dizer o que
sinto. Você é um moleque bobo e aventureiro e quer se juntar com a Ligia.
Porque pensa que ela precisa de proteção. Contra os homens do movimento, contra
a policia politica, contra os putos que fazem dela gato e sapato.
— Não é
isso amigo?
—
Não Igor! Não é...E Carlinhos foi interrompido por Igor.
—
Não é conversa amigo! Saiba você que Ligia é uma mulher melhor que homem. Sabe
se cuidar e não precisa de proteção. E se você acha que vai entrar na vida dela
e modificá-la está muito enganado amigo!
—
Porque enganado! Falou Carlinhos com vós mais áspera.
— Ela te
falou do Jacques amigo!
— Falou!
— Pois é
amigo! Jacques não era revolucionário! Era um rapaz rico educado e quase doutor
em direito. Tinha verdadeira paixão por ela. Fazia tudo o que ela queria e lhe
pedia e os dois ainda tinham uma coisa em comum!
— Uma
filha amigo.
— Filha!
Espantou-se Carlinhos.
— Ela não
me disse nada sobre uma criança!
— Ela não
te falou nada, mas falo eu! Nem essa criança mudou a vida de Ligia!
— Onde
está ela!
— Quem amigo!
— A criança! Igor a criança!
— Ah a
criança! Está em São Paulo com os pais de Jacques. Eles há criam, adotaram a
neta como filha. A criança esta bem e com boa saúde.
— Puta
merda que vida! Hein! Igor.
— É como
eu lhe disse amigo! Ligia não precisa de ninguém que lhe dite ordens ou que
queira modificar a sua vida.
— Você tem razão Igor! Mas mesmo
assim eu vou falar com ela.
— Vai perder teu tempo amigo! Esquece esse papo e vamos trabalhar que já
estamos atrasados.
À noite
após o trabalho Carlinhos voltou rapidamente para o hotel e rapidamente subiu
as escadas. A porta do quarto estava trancada. Ele bateu.
— Está ai
querida!
A porta
se abriu e Carlinhos de braços abertos e sorriso largo no rosto disse!
—
Cá estou! Meu amor!
— Que bom
ouvir essa palavra! Responde Lígia e também abriu os braços e fechou os em
volta do corpo amado. Um beijo fez um longo silêncio no quarto.
Carlinhos
se sentia mais afetuoso e apaixonado por Lígia. Que por sua vez não se fazia de
rogada e correspondia com fervor a aquela paixão.
Carlinhos
era parecido com Jacques. Ligia vibrava com aquele pedaço de homem que lhe
trazia momentos de felicidade.
E num dia feio com chuva e
frio. —
Ligia minha querida! Disse Carlinhos.
— Quero lhe fazer uma
proposta! —
Boa ou ruim.
—
Não se faz proposta ruim! Minha menina!
—
Que tal se a gente viajar por ai!
— Como
viajar! Amor!
— Sei lá!
Eu tenho um dinheirinho guardado e a gente sai por ai e arranja um cantinho só
pra nós!
— Onde
Carlinhos!
Ele
entusiasmado falou a amada que tinha vontade de para Ubatuba ou mesmo São
Sebastião no litoral norte.
— E depois amor! Indaga
Ligia.
— Eu arrumo um trabalho e...
— E eu
fico em casa! Lavando passando cozinhando e engordando para você né amor!
— E eu te amando! Disse Carlinhos.
— Não! Essa sua proposta está
fora de cogitação.
— E então
o que você sugere! Pergunta Carlinhos.
— Nada!
Deixa como está.
— Como
está não dá Ligia!
— Como não meu amor! Tudo entre nós é
passageiro!
— Nós
podemos ter um bom futuro menina!
— Não!
Falou Ligia com a vós mais ríspida.
— Está
bem! Está bem. Chega não precisa levantar a vós e não está mais aqui quem
sugeriu o futuro.
— Eu não
tenho futuro Carlinhos, um dia a polícia vai me pegar. Só que não vão me pegar
viva! Disso você tenha a certeza.
— Então
sua boba se estivéssemos juntos no fim do mundo, tudo seria diferente. —
Não seria não! Carlinhos! Eu tenho vários crimes nas costas eu devo a sociedade
e tenho que pagar. E depois Carlinhos tu não me ama! Você ama a Esmeralda que
foi a mulher que você veio procurar.
— Quem te
falou dela! Perguntou Carlinhos com espanto.
— Igor!
— Ah! Só
podia!
—
Encontrou-a Carlinhos!
— Não! Ela não está aqui! O
endereço que tenho é do Guarujá!
— E você já foi lá!
— Não!
— Por que! Não
Carlinhos!
— Porque você
entrou no meu caminho, e desvirtuou a minha cuca.
— Eu não seu bobo! Você não foi porque não quis! E não sou eu que ia lhe
impedir de encontrar a tua Esmeralda.
— É
Ligia! Não era você que ia me impedir mesmo de fazer isso. Eu é que não quero,
encontra lá nas condições que vivo hoje.
— Que condições!
— Vivendo esta vida! Acha que ela ia dar trela para um estivador
aventureiro, que mora em espeluncas e pocilgas. Que não tem parada não cria
raízes e nem colhe frutos.
— E porque não!
— Porque para mim ela é uma pessoa muito especial. — Especial é você Carlinhos! Você sim é um
cara especial para mim. E dizendo isso Ligia pulou no pescoço do amado,
beijando-o loucamente.
— Calma Ligia!
— Calma nada estou excitada! E este amor safado e sem
vergonha que temos um pelo outro, só pode dar nisso.
—Tá bom menina safada! Se for assim que tu queres vai
aguentar a surra!
— Há há
há tô duvidando! Respondeu ela.
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