01/06/2019

QUANDO O AMOR É ETERNO


Quando adentrei à porta do asilo, meu coração bateu forte. As idosas cantavam em coro uma música antiga chamada ' AS CANÇÕES QUE VOCÊ FEZ PRA MIM ' do Roberto Carlos. Viajei então par o meu passado. Lembrando da minha amada. Dançávamos essa música agarradinhos. Realmente nessa época fiz muitas poesias e canções que eu adorava cantar no seu ouvido.

Hoje como idoso que sou, procuro-a por todos os cantos. Quem sabe talvez ela seja uma dessas vovós a cantar. Cumprimentei todas elas uma a uma e fui perguntando os seus nomes. Umas sorriram, outras mais sérias e outras procurando ser mais agradáveis.

Como eu, todas tem uma história de amor. Todas amaram, sofreram e tiveram seus momentos felizes. Quem não amou! Quem não errou!. O destino deu chance a todos, muitas vezes não estávamos preparados para recebê-la. Eu e minha amada erramos muito, porém hoje eu a procuro.

Umas das vovós que cantava me chamou de lado, dizendo que essa música tinha uma fã fervorosa, mas que se fora para outro patamar no domingo passado.

Nesse momento meu coração surtou. Perguntei a Diva ( Esse era o seu nome ). Como era a fã dessa música. Ela respondeu que era uma mulher graciosa, com rosto de menina. Tinha um lindo par de olhos verdes e o cabelo de espiga de milho. Com lágrimas nos olhos acabei eu descrevendo a mulher.

--- Eu já sei o resto Diva! Ela tinha o rosto bem branco, duas bochechas bem vermelhas e seu nome era Maria Esmeralda. Nesse momento Diva com os olhos marejados me perguntava.

--- Então você é o Carlinhos. Ainda com o choro engasgado na garganta respondi.

--- Sim! E como me dói ter chegado tarde.

--- Não se desespere seu Carlinhos! Ela partiu tão serena, que tenho certeza levou sua fotografia na alma. Mas te deixou uma carta. Me dizendo que se um dia eu o encontrasse lhe entregasse. Vou até o meu quarto buscá-la

Diante dos fatos sai do salão onde estavam as outras vovós e me isolei num canto onde tinham bancos e um silencioso jardim de rosas. Fiquei a imaginar como teria sido nossa velhice. Desde que ficara só no mundo Maria Esmeralda se internou no asilo por sua própria conta. Fiquei sabendo disso pela vizinha, quando fui procurá-la. A mulher por esquecimento não soube me dizer o nome do asilo.

Uma dor para mim por Deus levá-la antes que eu à encontrasse. Nesse instante meu coração está de luto.

Senti uma lufada de vento fresco cheirando a rosas, passar por mim. Tive a impressão que os olhos de Maria Esmeralda me olhavam do jardim, pois sei que não existem rosas verdes.

Nesse momento Diva chegou com a carta e me alertou que esse canto era o preferido de Maria Esmeralda e saiu me deixando sozinho. Era um envelope normal escrito Carlinhos. Ao abri-lo o olor de amor de Maria Esmeralda espalhou-se. Mesmo que não tivesse nome eu saberia que aquele envelope era endereçado a mim.

Dizendo assim.

--- Meu amor! Quando o médico me disse que meus dias estavam contados. Resolvi vir para este asilo. Aqui tive tudo de bom. Tratamentos remédios, médicos atenção amor e amigos. Para este lugar deixei minha herança prescrita. Sabedora eu da tua procura por mim e falei tanto de você, que Diva vai saber quem é você quando encontrá-lo.

--- Nunca quis que você acompanhasse a minha doença e sofresse no meu leito de morte. Não seria justo para você sofrer no final da vida. Porém sei que se necessário fosse, você o faria com esmero. Fique tranquilo, pois quando chegar a tua hora de partir, estarei ao seu lado e vou guiá-lo pelo caminho para que te sintas amparado.

--- Meu amor te espera na eternidade.

Após ler a carta não me contive em vários choros. Fiquei um tempo contemplando o jardim lembrando do jeitinho da minha amada. Diva veio até mim com uma xícara de café quente e vendo o meu desespero disse!

--- Sei que dói muito o que você está sentindo. Porém saiba você que o amor após o desencarno não é um castigo um sofrimento e nem um desespero. É uma dádiva! Aguarde seu tempo para ser feliz seu Carlinhos.

Já na calçada da rua incentivada pela voz de Diva ouvi novamente a música.

' AS CANÇÕES QUE VOCÊ FEZ PRA MIM '.

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