04/06/2019

AS BONECAS



Limpando o sótão do antigo casarão acastelado. Encontrei em meio a roupas velhas. Fétidas e desbotadas pelo tempo. A tua boneca de pano!

Que outrora fora a boneca da bonequinha.

Franjinha na testa, sorriso de anjo. Biquinho em trejeito na boca ao falar. Covinhas nas bochechas ao sorrir. Lembro bem dos teus olhos azuis e meigos.

Com o tempo tu te transformastes na princesa da nossa da nossa vila. A flor botão a alma do meu coração. Um doce para os olhos de quem a visse. Meu choro mais profundo foi no dia da tua partida.

Hoje te vejo pelas ruas da vida do Centro Velho. No mesmo encanto de outrora. Linda de covinhas e olhos azuis. Numa vida que não mais a sua. Recostada pelos velhos paredões das espeluncas que há assistem calados vendendo o corpo.

Está comigo a sua boneca! A boneca da bonequinha de pano de trapo. Boneca atrevida!

Meu coração chora desde a tua partida.



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