Na sala, muitas conversas fofocas e brigas. Vi as televisões mudarem de preto e branco para cores e agora em telas planas. Havia muitas festas e músicas; às vezes dançavam. Eu conheci vários tipos de músicas em diferentes épocas. Na cozinha, o odor de vários temperos, mas o que mais me despertava era o de café sendo coado.
Também vi muitas crianças nascerem com seus choros e manhas. Vi pessoas partirem para não mais voltar, deixando seus rostos morarem pendurados em quadros por minhas paredes.
Por aqui houve muitas festas de casamentos, aniversários, natais de sorrisos lindos e anos novos de muitas promessas. Aconcheguei muita gente nos dias de frio e de chuva. Porém, nos últimos tempos me sentia velha e abandonada, parecendo uma casa mal assombrada:mato crescendo à minha volta, paredes manchadas
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Em um dia alegre de verão chegou um morador novo de apelido Carlinhos. Um velhinho simpático que logo foi dizendo que não gosta que de ser chamado de senhor. Logo o vi como um bom amigo. Podou o mato do quintal, lavou e pintou minhas paredes, consertou os buracos do piso, trocou as telhas quebradas e careadas, espalhou flores por toda à minha volta e sempre cura as minhas doenças de mofos e umidades. Iluminou-me!
Foi o único ser que, nestes meus quatrocentos anos de idade, me imaginou falando e percebeu meu sorriso! Agora sim, eu sou uma casa feliz: eu e o Carlinhos passamos as tardes na minha varanda. Ele tomando uma cervejinha ou café, sempre escrevendo suas histórias. Há vezes em que ele conversa com o vento pedindo para que sopre as minhas paredes, tirando a poeira que me incomoda. Outras vezes, me afaga com suas mãos quentes ou encosta seu corpo em mim. Eu sei que isso é carinho.
Então lhe conto todas as histórias que se passaram dentro de mim, desde o dia em que nasci.
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