Este é o primeiro capitulo do meu novo livro que estarei lançando np final de abril.
Muito tem de verídico no contexto deste livro. Misturei minha vida real com os meus sonhos.
Desde menino quando eu acordava nas manhãs e recebia a claridade do dia. Era como nascer todos os dias. Com o sol que Deus mandava para a terra. À noite meu sono era o reparador das emoções dos dias. Minha cama era o palco do meu teatro. Onde eu escrevia e interpretava meus sonhos, minhas histórias de amor. Onde eu planejava o meu dia seguinte.
Minha cama era a estação de rádio chamada Estúdios Debaixo das Cobertas. Algumas vezes eu dormia sem perceber e os expectadores ficavam sem a programação. Às vezes eu entrava em cadeia com a internacional rádio Qualquero de Guenos Ayres ablando de sus studios em ondas curtas, quadradas, médias e redondas. A propaganda era o slogan "Para lá catinga del subaco Talco Ross que refresca e suaviza".
No dia seguinte na preguiça das manhãs levantava com o cheiro do café impregnando a casa, Escutava o fio do café esfumaçado caindo do coador no bule vazio. Começava um piiiii bem fino e ia se tornando grosso conforme o bule enchia. Era assim o som de saber que se estava vivo. Um dos sons da minha vida.
Na porta da cozinha no lado interno, Pendurada num prego morava uma sacola. Costurada de saco de farinha. Dentro dela residiam dois enormes e gordos filões de pão. Quando estavam inteiros pareciam dois grandes bicos carecas a me olhar. Sei que eles tinham medo de mim, pois era eu o monstro que adorava bicos de pão.
No caminho para o grupo escolar encontrava a molecada. Conforme caminhávamos engrossava a turma, desde os de sete anos até os maiores com doze ou treze. Um desses moleques em especial não era. Ainda é meu amigo Luís. Nossa amizade existe desde esse tempo e hoje já se fazem sessenta e dois anos. Ele, filho de nordestinos, gente muito simples e de costumes e palavras diferentes das minhas. Eu com misturados sotaques de italianos espanhóis, caipirão do mato e paulistanos.
Eu adorava ouvir rádios, principalmente de alguns vizinhos. Eles eram movidos à bateria. Energia elétrica não tinha não. Mas não demorou a chegar. Consegui ver a aposentadoria dos lampiões a querosene. Mas os fogões continuavam com o mesmo combustível.
Voltando ao rádio eu ouvia um programa que dona Dinah professora do grupo escolar também gostava. Chamava UM PIANO AO CAIR DA TARDE. Sentado num canto no quintal da professora eu ouvia o locutor. Depois entrava o piano e a seguir a voz marcante de uma mulher a declamar versos de amor. Ela dava uma vida enorme à poesia. Que me emocionava, ainda lembro o nome dessa poetisa era Ana Ramos.
Uma vez dona Dinah me pegou chorando, veio indagar-me por quê? Muito emocionado e envergonhado disse a ela que era por causa da poesia. Ela riu carinhosamente e me disse que eu escrevesse tudo o que sentia, pois no futuro eu poderia ser um grande poeta. Às vezes eu escrevia alguma coisa que achava bonita, Ia então correndo mostrar a dona Dinah. Ela me incentivava e vinha com seu lápis vermelho para corrigir.
Durante minha vida toda escrevi versos, rimas e poesias. Guardei muito papel e muitos se perderam. Minha mãe que não jogava nada fora guardou muito das minhas escritas e graças a ela hoje tenho muita coisa que lendo não acredito que fui eu quem escreveu.
Como eu sonhava meu Deus! Reparava nos dias tristes e alegres. Nas pessoas chorando ou rindo. Na gritaria da molecada a brincar pelos campos e ruas meio desabitadas. Nos dias chuvosos, às vezes íamos para a escola em três ou quatro colegas em baixo do mesmo guarda-chuva Na volta pelo volume de chuvas o barro do caminho acumulava na sola dos sapatos. Crescíamos quase cinco centímetros. Quando chegávamos em casa tirávamos os sapatos para limpá-los na raspadeira. Era um instrumento de ferro fincado no chão perto das portas de entrada. Para limpar a sola dos sapatos.
Foi difícil descrever ao pé da letra, todos os pensamentos, de modo a não perder nenhum detalhe.
Pior então, descrevê-los escrevendo.
Neste livro coloquei no papel, sonhos fantasias e realidades. Entrai em transe, entremeei a escrita imaginando uma realidade. E quando voltava dos sonhos à realidade chorava! Tinha a nítida impressão que tudo era real. Muitas vezes escrevi usando e forçando a mente. Para poder descrever melhor e com o máximo do sentir possível, as situações e narrativas.
Outras vezes uma dor de cabeça vinha junto com meu choro, então percebia mudanças no meu organismo, como um pós-operatório. Uma sensação de fraqueza e debilitação. Passado algum tempo eu melhorava, incluindo meu astral o que me deixava mais feliz.
Algumas vezes, fui buscar o beijo da namorada, que estava perdido no tempo. Desde a infância, e enquanto o saboreava acompanhando vinha o encanto e a magia. Tudo foi colocado no papel com esmero e sentir. Fui buscar a minha namoradinha de infância, meninota ainda inexperiente. Trazendo-a para o meu coração. Ressuscitando-a, para morar neste livro.
Percebi então que tudo, nada mais eram que os sonhos da minha vida. Que hoje, já se fazem velhos. Trouxe de volta o menino da minha infância, para entrar, dentro de mim. E juntos sonhamos, achamos afagos e carinhos na escrita.
Depois trouxe o meu amor da juventude e amei-a sem restrições, vivendo a recordação do passado. Chorando sorrindo e simplesmente sentindo toda essa experiência, enquanto escrevia. Foi uma delícia te escrever meu menino livro. O meu Carlinhos, que amo muito. Dentro de ti vivi emoções até então desconhecidas. Fui mais feliz dentro de ti do que aqui fora. Por fim não conseguindo parar de escrever, pois ficava sempre me faltando algo. Resolvi aumentar mais quarenta páginas continuando a escrever por mais um bom tempo. Ai sim! Encontrei o verdadeiro motivo para escrever o fim.