31/03/2020

TOMATES DOCES COMO TEU BEIJO

 

 

Giovana entra na cozinha de sua casa, com duas pencas de tomates vermelhos e maduros na mão. Estavam bonitos e fresquinhos foram os frutos de um plantio que Leonardo, seu marido fizera.

Era ela uma senhora com seus setenta anos. Sentindo-se solitária no dia dos namorados. Guardou os tomates, antes lavou-os com carinho depois admirando-os mordeu um deles. Sentindo um sabor adocicado.

Enquanto descascava alho e cebola para o arroz. Seus pensamentos eram tristes a partida de Leonardo há poucos dias atrás lhe doía na alma.

Lembrava-se dos agarrões que ele lhe dava quando passava por ela na pia. Quando ele passava por ela no quintal, às vezes lhe dava uns beijinhos no rosto. Outras vezes o via dentro de casa com os braços abertos lhe pedindo um abraço.

Esses pensamentos a levaram as lágrimas. A casa parecia vazia. As ferramentas de Leonardo que caladas, já não mais faziam o barulho dos pequenos concertos necessários na casa. Não tinham mais versos que ele escrevia falando dela. Quando as noites ele acordava para cobri-la ela já não mais o sentia velando por seu sono.

Já não podia mais implicar quando às vezes ele tomava sua deliciosa caipirinha ou então uma cervejinha gelada. Coisas que o deixavam alegre e festivo. Quando ele ficava no computador às vezes até mais tarde, ela na frente da televisão se sentia abandonada por ele.

Perdidas nesses pensamentos Giovana não percebeu a tarde chegar. Neste dia dos namorados se sentia só como se o chão não mais existisse para andar. Houve o toque da campainha. Era um garoto com uma penca de rosas na mão e um envelope.

Giovana o recebeu com um sorriso amarelo no rosto. Estranhando a oferenda. Agradecida ao menino e com as mãos trêmulas abriu o envelope, Nele o papel dizia:

:- Gio! Não se esqueça de colher os tomates, já devem estar maduros e doces como os teus beijos. Na nossa idade devemos aproveitar mais o amor e o que temos de companheirismo. É isso o que nos liga. Também sinto a tua falta porque aqui não tenho com quem me preocupar. Nossas implicâncias são ninharias diante do nosso amor. Chega de picuinhas. Estou voltando e quero provar o sabor dos tomates. Devem estar doces como os teus beijos.

 

Com amor Leonardo.


Livre de vírus. www.avg.com.

27/03/2020

MEU MUNDO REAL – MEUS SONHOS – MEU MENINO

Este é o primeiro capitulo do meu novo livro que estarei lançando np final de abril.



Muito tem de verídico no contexto deste livro. Misturei minha vida real com os meus sonhos.

Desde menino quando eu acordava nas manhãs e recebia a claridade do dia. Era como nascer todos os dias. Com o sol que Deus mandava para a terra. À noite meu sono era o reparador das emoções dos dias. Minha cama era o palco do meu teatro. Onde eu escrevia e interpretava meus sonhos, minhas histórias de amor. Onde eu planejava o meu dia seguinte.

Minha cama era a estação de rádio chamada Estúdios Debaixo das Cobertas. Algumas vezes eu dormia sem perceber e os expectadores ficavam sem a programação. Às vezes eu entrava em cadeia com a internacional rádio Qualquero de Guenos Ayres ablando de sus studios em ondas curtas, quadradas, médias e redondas. A propaganda era o slogan "Para lá catinga del subaco Talco Ross que refresca e suaviza".

No dia seguinte na preguiça das manhãs levantava com o cheiro do café impregnando a casa, Escutava o fio do café esfumaçado caindo do coador no bule vazio. Começava um piiiii bem fino e ia se tornando grosso conforme o bule enchia. Era assim o som de saber que se estava vivo. Um dos sons da minha vida.

Na porta da cozinha no lado interno, Pendurada num prego morava uma sacola. Costurada de saco de farinha. Dentro dela residiam dois enormes e gordos filões de pão. Quando estavam inteiros pareciam dois grandes bicos carecas a me olhar. Sei que eles tinham medo de mim, pois era eu o monstro que adorava bicos de pão.

No caminho para o grupo escolar encontrava a molecada. Conforme caminhávamos engrossava a turma, desde os de sete anos até os maiores com doze ou treze. Um desses moleques em especial não era. Ainda é meu amigo Luís. Nossa amizade existe desde esse tempo e hoje já se fazem sessenta e dois anos. Ele, filho de nordestinos, gente muito simples e de costumes e palavras diferentes das minhas. Eu com misturados sotaques de italianos espanhóis, caipirão do mato e paulistanos.

Eu adorava ouvir rádios, principalmente de alguns vizinhos. Eles eram movidos à bateria. Energia elétrica não tinha não. Mas não demorou a chegar. Consegui ver a aposentadoria dos lampiões a querosene. Mas os fogões continuavam com o mesmo combustível.

Voltando ao rádio eu ouvia um programa que dona Dinah professora do grupo escolar também gostava. Chamava UM PIANO AO CAIR DA TARDE. Sentado num canto no quintal da professora eu ouvia o locutor. Depois entrava o piano e a seguir a voz marcante de uma mulher a declamar versos de amor. Ela dava uma vida enorme à poesia. Que me emocionava, ainda lembro o nome dessa poetisa era Ana Ramos.

Uma vez dona Dinah me pegou chorando, veio indagar-me por quê? Muito emocionado e envergonhado disse a ela que era por causa da poesia. Ela riu carinhosamente e me disse que eu escrevesse tudo o que sentia, pois no futuro eu poderia ser um grande poeta. Às vezes eu escrevia alguma coisa que achava bonita, Ia então correndo mostrar a dona Dinah. Ela me incentivava e vinha com seu lápis vermelho para corrigir.

Durante minha vida toda escrevi versos, rimas e poesias. Guardei muito papel e muitos se perderam. Minha mãe que não jogava nada fora guardou muito das minhas escritas e graças a ela hoje tenho muita coisa que lendo não acredito que fui eu quem escreveu.

Como eu sonhava meu Deus! Reparava nos dias tristes e alegres. Nas pessoas chorando ou rindo. Na gritaria da molecada a brincar pelos campos e ruas meio desabitadas. Nos dias chuvosos, às vezes íamos para a escola em três ou quatro colegas em baixo do mesmo guarda-chuva Na volta pelo volume de chuvas o barro do caminho acumulava na sola dos sapatos. Crescíamos quase cinco centímetros. Quando chegávamos em casa tirávamos os sapatos para limpá-los na raspadeira. Era um instrumento de ferro fincado no chão perto das portas de entrada. Para limpar a sola dos sapatos.

Foi difícil descrever ao pé da letra, todos os pensamentos, de modo a não perder nenhum detalhe.

Pior então, descrevê-los escrevendo.

Neste livro coloquei no papel, sonhos fantasias e realidades. Entrai em transe, entremeei a escrita imaginando uma realidade. E quando voltava dos sonhos à realidade chorava! Tinha a nítida impressão que tudo era real. Muitas vezes escrevi usando e forçando a mente. Para poder descrever melhor e com o máximo do sentir possível, as situações e narrativas.

Outras vezes uma dor de cabeça vinha junto com meu choro, então percebia mudanças no meu organismo, como um pós-operatório. Uma sensação de fraqueza e debilitação. Passado algum tempo eu melhorava, incluindo meu astral o que me deixava mais feliz.

Algumas vezes, fui buscar o beijo da namorada, que estava perdido no tempo. Desde a infância, e enquanto o saboreava acompanhando vinha o encanto e a magia. Tudo foi colocado no papel com esmero e sentir. Fui buscar a minha namoradinha de infância, meninota ainda inexperiente. Trazendo-a para o meu coração. Ressuscitando-a, para morar neste livro.

Percebi então que tudo, nada mais eram que os sonhos da minha vida. Que hoje, já se fazem velhos. Trouxe de volta o menino da minha infância, para entrar, dentro de mim. E juntos sonhamos, achamos afagos e carinhos na escrita.

Depois trouxe o meu amor da juventude e amei-a sem restrições, vivendo a recordação do passado. Chorando sorrindo e simplesmente sentindo toda essa experiência, enquanto escrevia. Foi uma delícia te escrever meu menino livro. O meu Carlinhos, que amo muito. Dentro de ti vivi emoções até então desconhecidas. Fui mais feliz dentro de ti do que aqui fora. Por fim não conseguindo parar de escrever, pois ficava sempre me faltando algo. Resolvi aumentar mais quarenta páginas continuando a escrever por mais um bom tempo. Ai sim! Encontrei o verdadeiro motivo para escrever o fim.

23/03/2020

RECADO DA MÃE TERRA





Meus filhos! Minhas joias!

Coloquei vocês no mundo para que fossem felizes. Mas errei! Quando lhes de a racionalidade. Antes tivesse eu os deixado como animais. Pois percebi que os irracionais não me machucam. Os irracionais não têm vícios. Não destroem suas famílias, não são gananciosos. Os irracionais não arrancam o meu sangue que vocês chamam de petróleo. Não poluem as águas que lhes dou para a vida e vocês vendem. Não poluem o ar que preciso, pois é ele o meu equilíbrio e a minha própria sobrevivência. Sem o ar que me equilibra despenco no vazio das galáxias.

Criei no meu dorso a vegetação para me proteger da luz do sol e das erosões criadas pelas chuvas e vocês estão cortando a minha proteção para vender. Queimando para criar pastos, para retirar areia que é minha segunda pele.

Vocês meus filhos são desleais comigo. Crias do meu ventre. Sangram-me todos os dias. Criei todos vocês iguais apenas dei-lhes feições diferentes. Para que nunca se confundissem. Porém a inteligência de vocês inventou o feio e o belo. A inteligência de vocês inventou o rico o pobre. A razão individual. A inteligência de vocês é a sua própria ignorância. Inventam de tudo para ter nas mãos o poder, a ganância e a riqueza. Fizeram do poder a cadeia alimentar do cérebro. Esqueceram os sentidos, os tatos. Inventaram o amor, o desamor. Fazem do ódio a arma de todos os dias. Inventaram o respeito e não respeitam nada. Os gananciosos se tornaram os governantes. E os desprovidos de inteligência aguçada! São tratados como lixo e escoria. Nasceram para serem mandados. Nasceram para terem suas mentes lavadas. Vocês inventaram leis divinas. Deuses e religiões! E vendem tudo isso com a ganancia da riqueza e disputa de poder.

Vocês meus filhos inventaram muitas guerras. Desde o longínquo passado. Matavam para roubar. Para ter e ser poderoso. As guerras foram inventadas por loucos. Outras inventadas para tomar posse do meu sangue que estava estocado por outros grupos de loucos. Inventam guerras para vender armas. As corrupções que assolam o mundo pelas mãos dos comandantes estão descaradamente escancaradas para o povo. Que pisado massacrado e escravizado por mãos poderosas se tornam impotentes.

É isso que recebo de vocês meus filhos. O caminho da destruição total está próximo. Vocês vão se exterminar, porem eu vou sobreviver e sozinha curar as feridas e doenças que vocês me impuseram. Os vossos ossos vão se tornar milhões de fosseis repondo os meu sangue novamente. Ás águas se filtrarão com o tempo. O vento vai se encarregar de recompor minha flora e montanhas.




VOU CONTAR-LHES MAIS UMA HISTORIA



Por mais de 3 000 anos mandei avisos para vocês. Com doenças e epidemias. Ai vocês se unem e procuram se defender dessas maleficias. Choram as mortes dos entes, sofrem com as dores e veem diante dos olhos a desgraça. São incapazes de tirar dessas dores a sabedoria. Esquecem, tem memórias curtas. Por isso a inteligência de vocês é sua maior inimiga.

Alguns poderosos e roedores dos ossos do povo, como o faraó egípcio Ramsés II, a rainha Maria II da Inglaterra e o rei Luís XV da França tiveram a temida "bixiga". A vacina foi descoberta em 1796


PESTE NEGRA


50 milhões de mortos (Europa e Ásia) – 1333 a 1351

História:  A peste bubônica ganhou o nome de peste negra por causa da pior epidemia que atingiu a Europa, no século 14. Ela foi sendo combatida à medida que se melhorou a higiene e o saneamento das cidades, diminuindo a população de ratos urbanos.



CÓLERA


Centenas de milhares de mortos – 1817 a 1824


TUBERCULOSE


1 bilhão de mortos – 1850 a 1950



VARÍOLA


300 milhões de mortos – 1896 a 1980



A GRIPE ESPANHOLA



20 milhões de mortos – 1918 a 1919


O vírus Influenza é um dos maiores carrascos da humanidade. A mais grave epidemia foi batizada de gripe espanhola, embora tenha feito vítimas no mundo todo. No Brasil, matou o presidente Rodrigues Alves.


TIFO

3 milhões de mortos (Europa Oriental e Rússia) – 1918 a 1922

FEBRE AMARELA


30 000 mortos (Etiópia) – 1960 a 1962


                                                                            SARAMPO

  

6 milhões de mortos por ano – Até 1963


MALÁRIA


3 milhões de mortos por ano – Desde 1980



AIDS


22 milhões de mortos – Desde 1981


Foram milhões de mortos. Essas desgraças foram inventadas por vocês e suas ignorâncias. Suas memórias vão continuar dominados pelo capitalismo mundial.

Agora estou mandando mais um aviso. Chamado por vocês de CORONA. Tenho a impressão que vocês aprenderam muitas coisas graças a tecnologia. Porem essa prática tecnológica de aparelhos e redes de comunicação estão fazendo mal ao futuro de vocês. Homens e mulheres. Eu lhes pergunto?

"Onde está o amor que vocês inventaram. Como vivem seus filhos sem o sorriso dos pais"- Eles não tem mais pai e mãe como amigos, como parentes. Não tem mais avós, ninguém mais esta ligando para nada.

Espero que este confinamento salve as famílias da falência. Aproveitem este tempo para se falarem. Almoçarem na mesma mesa. Olharem-se nos olhos e dizerem um ao outro " EU TE AMO " Vão se perder muitos parentes com esse vírus. Mas no passado, o amor era mais forte que os dias de hoje e perderam-se muitos entes queridos. Milhões deles. Porem o tempo se encarregou de guardá-los com amor nas vossas lembranças. Estou muito cansada de criá-los meus filhos. Espero que o CORONA seja o último corretivo que eu tenha que lhes dar. Não gosto de castigar meus filhos, mas vocês estão muito saidinhos. Não se comprometem com mais nada. Cada um quer saber de si. Esquecendo o próximo. Principalmente a classe politica que pensam: Serem os donos dos seus países.



21/03/2020

DANDO A VOLTA POR CIMA NA VIDA

 Ela passara o último Natal e Ano Novo somente com a filha a lhe fazer companhia. Restavam só as duas, uma família dizimada pelo tempo.

Partiram para outra esfera pai e mãe, o marido se fora também, fim de um amor fracassado. A tristeza se fazia presente dentro daquele coração como uma doença que talvez não tivesse mais cura, uma esperança muito longe, um remédio que não tinha mais receita.

Encontrei-a triste como em uma fotografia gasta pelo tempo. Seus olhos já não tinham mais vida. Olhei-a de cima a baixo procurando uma centelha de luz naquele corpo cansado da vida. Achei no canto da boca um pequeno e tímido sorriso.

Com o passar dos dias fui dizendo-lhe bom dia e sorrindo. Vi aquele corpo de setenta anos, desfilar um pouco mais belo, imponente tal qual ao de uma garota nova com um andar mais chamativo perante os olhos dos jovens.

Do canto da boca, seu sorriso cresceu para os lábios, que agora já se enfeitam com um batom vermelho rosa. O mesmo odor rosa exala de seu corpo. O cansaço do desamor já não é mais uma dor.

Agora vejo uma velha menina serelepe, que parece gingar como uma cabrocha em dia de samba. Vejo um sorriso procurando outros para dizer bom dia. Vejo pessoas que se despedem dela e já sentem saudades. Vejo uma tremenda mulher, um furacão de sensualidade que me faz delirar a cada abraço, cada beijo. Vejo a vida de uma forma tão feliz e eloquente, que perante testemunhas, enlacei meus braços em volta seu corpo, como uma aliança.

Pedi-a em casamento durante um almoço e vibrei de alegria. Seu sim foram lágrimas de emoção e felicidade. Quando olhei para as testemunhas, elas brindavam com o que tinham nas mãos: pratos, copos, talheres e muitos sorrisos acompanhados de vivas e parabéns.

E agora, com nossos setenta anos, demos a volta por cima da vida.

13/03/2020

ANDAM JUNTOS! A SAUDADE O TEMPO

 

 

Hoje cheguei ao meu quarto na pensão Nova Yorque e senti nele o meu cheiro. O cheiro da minha vida. Nossa! Como é difícil a independência.

Morar sozinho tem os seus altos e baixos. Doem muito os laços de família. Ficar longe das pessoas que por interferência da minha vida vieram ao mundo. Filhas netos e bisneta.

Porém quando se escolhe o caminho tem que fincar o pé no chão e seguir enfrente.

Como hoje bateu a saudade precisei escrever sentimentos que se acumulam no dia a dia. Se eu não os escrevê-los vou explodir entrando em crise ou então em parafuso.

Relembrei muitos momentos de felicidade e outros de tristezas. Coisas que eu devia ter feito e não fiz coisas que podiam ser melhoradas para ter hoje uma vida melhor.

Agora é tarde o tempo passou. Agora estou ficando meio sonolento. Olho para os meus porta-retratos e vejo neles todas as pessoas que eu amo. Algumas estão sérias e outras sorrindo. Eu sorrio para todas.

Na última foto em branco e preto ela esta sorrindo. Puxo-a na minha memória e volto ao passado. O quanto viajamos, o quanto éramos jovens e o quantos éramos cúmplices do nosso amor.

Lembrei-me de certa feita quando ela viajou com os pais para a praia do Pontal da Cruz. Ficaram hospedados na casa de uma tia com o nome de Calina.

Não consegui ficar longe dela. Deu-me cinco minutos. Sai do trabalho numa quinta a tarde era um final de semana prolongado. Feito doido peguei uma muda de roupa numa pequena valise. Só tinha o dinheiro da passagem de ida e de volta.

Chegando ao destino procurei-a. foi grande a surpresa dela ao me ver. Disse-me que eu estava maluco. Respondi-lhe que estava maluco e era mais ainda maluco por ela.

Passei os dias com ela entre a praia e a casa da tia Calina.

À noite! Ah à noite! O bicho pegou. Eu não podia dormir na casa, pois era pequena e lotada com a família da minha amada. Demos uma desculpa de passeio e saímos por volta das oito da noite.

Dinheiro eu não tinha para ficar num hotel ou pensão. Andamos pela praia deserta iluminada pelo luar de prata da lua. Achamos uma casa de temporada fechada, que dava os fundos para a areia. Sem muros ou cercas. Nela uma varanda! Não deu outra. ali foi meu quarto de hotel por três lindas noites.

Pelas manhãs ela me despertava com um sorriso gostoso e entre beijos de amor nos amávamos. Ainda trazia escondido café com leite e um pão com manteiga. À noite me arranjou uma coberta que também tirou escondida da casa da tia.

Não esqueci nunca disso meu amor. Nossas travessuras deliciosas de amor. Os anos passam e as lembranças ficam. Essa foi uma das aventuras do nosso amor que ficaram gravadas na memória do tempo.

 

04/03/2020

DUAS VIDAS E UM DESTINO



Hoje quando vi você chorar doeu em mim. Tuas lágrimas desciam no teu alvo rosto, como gotas de orvalho. Pareciam perolas a escorrer. 
Chorastes se culpando pelo nosso passado. Pelo que fomos. Dois jovens sem juízo. Sem planos e com muita energia de amor. Não estávamos preparados para ser pai e mãe. Quis o destino que nosso rebento partisse ainda no teu ventre. Protegendo-o de amarguras e sofrimentos de ter pais separados. 
Talvez esse fosse o elo que nos uniria para sempre. Mas a vida se encarregou disso. Fomos cada um para um lado. Levando nas nossas mochilas o peso dos dissabores. Das magoas, nossas teimosias, nossas brigas. Nossos rancores. Trancamos nosso amor dentro do peito. E na lembrança, guardamos nossos beijos, risos e afagos. Na saudade os abraços, nosso sentir. Nossos odores, nossos momentos. O tempo transformou nossa beleza em sépia. Como nossas fotos que se tornaram antigas e rotas. Passamos por outras famílias. Vieram outros namoros. Outros sonhos, outros rebentos. Fomos felizes por educação por respeito, por obrigação familiar. Fomos nobres e feras defendendo o que construímos. Fomos a vida imposta pelo destino e carimbada, pelo cartório do tempo. Formamos nossos filhos, afagamos e sorrimos para nossos netos. Fomos amigos e inimigos do tempo. 
Porém hoje eu vi você chorar. Mesmo passados cinquenta anos, me doeu! Você se culpando por um elo que o tempo se encarregou de nos tirar. 
Hoje sinto que o destino também nos protegeu, nos poupou e ensinou que o amor trancado nos nossos peitos, amadureceu. Agora é o nosso tempo a nossa vez de sermos felizes. Não choro mais agora, por te procurar na vida. Não lamento mais o que não deu certo no passado. Mas esta dando certo no presente. O destino quer fechar os nosso elo neste tempo. Por isso nos uniu novamente. Estávamos mortos nesta vida. E quando nossos olhos se encontraram. Sentimos um novo encanto, uma nova vida. Viramos dois velhos jovens e sonhadores. Abrimos os nossos corações para um novo dia. Não somos mais a sépia do tempo à ferrugem que rói e pontilha o papel, desbotando e amarelando. Hoje podemos partir desta vida, tranquilos e sabedores do que estava escrito no papel da vida. Que teríamos que formar nossas famílias. Encontrarmos-nos novamente e morrermos felizes. Para voltarmos juntos na próxima vida ao seio familiar que preparamos para nos receber.