21/05/2018

FÁBRICA DE POESIAS

Um homem que se pensava poeta
tentou realizar uma fantasia,
achando ser a coisa certa:
 Uma fábrica de poesia!
Presa do romantismo, tentou ele se expressar.
Porém...
 lhe faltava inspiração para começar.

Convidou os mestres para consagrar sua ode poética.
Na primeira poesia visitou de uma mulher a anatomia
bela e singela.
 Quem, com corpo elegante e expressão insinuante, seria ela,
a musa do amor perfeito?
Donzela!

Poema e mulher já nasciam com o defeito,
pois não entendia o conceito
da ode, poesia, canto e soneto.
 Rima pobre e indelicada,
coisa sem sal, aguada.
 Fazia mal
para a pressão arterial
para quem escrevia
e lia.


À mesa redonda convidou alguns poetas para se inspirar na criação.
Pediu licença para quem não estava,
E, quem sabe faltando à ética,
escreveu crônica rimada acreditando não ferir a estética.



Quando leu a primeira poesia da Fábrica,
Mario Quintana assim a definiu.
“Tua fábrica faliu.
Poesia é coisa bacana
e eu te sinto um sacana”.

O homem se abalou,
pois a língua do primeiro poeta o feriu.
Nem mal do baque se recuperou,
Fernando Pessoa acrescentou:
“Tu não és poeta, seu coisa à toa.
Poeta aqui sou eu!”

O coitado virou-se para Casimiro de Abreu que, lendo a ode,
julgou, cofiando o bigode:
 “Isto pode, isto não pode”
e sentenciou.
“Nunca serás um poeta. Condenado estás a ser plebeu.
São tantos versos, sem metro e pobres rimas.
Pareces alguém que bebeu!”


Mario de Andrade proferiu:
 “Melhor que poeta, é tu rezares a missa.
Mais perfeito que sejas padre!”
Então, emendou Drummond Andrade:
“Padre não. Que maldade!
Tens outra capacidade;
devias ser dono de oficina!”
Resmungou Cora Coralina:
“Não! Ele que vá poetar na Cochinchina,
ao invés de poesia, fabricar buzina.”
O homem, desolado, falou um palavrão.
“Como ousas falar ousadias?”
Repreendeu Gonçalves Dias.
“Acorda!
Queres farras e folias e arrebentas nossas poesias,
seu poeta lambão”
Gritou Donizete Brandão.

Tenham  pena, choramingou o homem desesperado.
“Estás apavorado?”.
Tentou consolar Jorge Amado.
“Mas poesia não é brincadeira,
muito menos bandalheira,
 pergunta ao Manuel Bandeira.
Veja como sorri e nem leu tua besteira”.

Indagou ao homem, Elisa Lucinda:
“Queres ser poeta ainda?
“Vá te aconselhar
com Ferreira Gullar”
O homem clamou ao Senhor:
“Meu Deus! Que foi que eu fiz?”
Perguntou, implorando para Machado de Assis,
que respondeu de pronto:
“Poesia não se fabrica,
 não te esqueças disso, seu tonto”!
Com firmeza de quem sabe o que faz, retalhou Vinícius de Moraes:
“Nunca serás um eterno,
vá fabricar poesias no inferno!”

O homem fechou a fábrica e trancou as portas chorando.
“Em que mundo estamos?”
Perguntou Graciliano Ramos.
“Pensavas obter fortuna e fama,
mas, com poesia?”
Ironizou Basílio da Gama.

Então, escreveu uma crônica rimada,
nem soneto, nem ode, talvez uma salada.
Não sabia como poderia ser chamada.
Se não ficou atraente,
pelo menos ficou diferente.


Se alguém gostou, e quiser ficar seu amigo,
entre para seu clã.
O nome dele é


CARLOS ALBERTO PADUAN

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