29/01/2020

A VIDA! NUM ESPAÇO DA VIDA

Tarde silenciosa bonita e ensolarada. Ando pelo quintal a olhar e regar algumas plantas. Depois passo pelo alpendre entrando na sala. As cortinas da janela dançam no compasso do vento brisa, que entra na casa e passeia curioso. Saindo depois pela porta dos fundos.

O silêncio continua feito casa de caboclo na tarde quieta.

Chego ao quarto a claridade da janela me mostra você deitada. Admiro teu corpo ainda vaidoso enfeitando nossa cama. Teu corpo. Há! O teu corpo.... Ainda é bonito, sedoso e bem cuidado.

Dormes o sonho dos anjos.


Olho para mesa de cabeceira, onde mora o teu retrato em preto e branco. Do tempo do nosso jovem namoro. Você pousando de boneca moleca a sorrir.

Sento na cadeira de balanço e assisto um filme olhando você dormir.

Quantos segredos existem dentro de você! Quantos abraços e beijos você deu e recebeu. Quantas vezes sorriu e chorou por amor. Quantas vezes lembrou de mim ou não, enquanto estivemos separados. Teu retrato da mesa de cabeceira pode me dizer. Mas não! Fica ali a sorrir e acompanhando com os olhos, os meus gestos. Olho para o teu rosto sereno e comparo com a foto da mesa de cabeceira. O contraste entre o passado preto e branco e o teu colorido agora. Traz ranhuras na tua cútis clara e avermelhada pelo tempo. Teus olhos de pálpebras cansadas guardam as visões da vida que andou e nos separou por cinquenta anos.

Não posso voltar no tempo para começar. Mas posso recomeçar pelo prêmio que a vida me deu de reencontra-la. Sinto-me feliz porque vejo nos teus olhos, os teus desejos de mim. Acordo todos os dias com teu corpo colado e abraçado ao meu. Com tua voz me dizendo.

--- Bom dia amor!



















22/01/2020

UM AMOR INFINITO

 

 

Passava a maioria das noites acordado ou quando não se debatia na cama até o sono chegar. Viciosos pensamentos de amor lhe arrasavam.

Selena, não era um amor para ele e sim um imaculado vicio. Era como fumar dois maços de cigarro por dia sem deixar que o sabor do fumo se perca na boca. Costumava meter a cara no trabalho para não lembrar dela.

Assim passou sua vida, embora tivesse conhecido outras garotas. Namorando muitas delas. Casou-se, teve filhos e netos, formando uma linda família. Mas nunca esqueceu Selena.

Porém esta noite perdeu novamente o sono. Debateu-se na cama e não conseguia dormir. Veio o nervoso o corpo cobrou. A pressão subiu o coração acelerou. Medicou-se, mas ainda se sentia mal. Ficou quieto, assustado e bem nervoso quando a imagem de Selena surgiu à sua frente.

Tinha o rosto calmo e sereno. Sorrindo afagava seus cabelos e face. Ele sentiu uma melhora e sorriu. Abraçou a visão como verídica e chorou. Pois realmente à sentiu nos braços.

-- Porque você demorou tanto tempo Selena! Procurei-a por toda a vida, por todos os cantos e por todas as ruas onde andei!

-- Eu sei disso meu amor! Respondeu-lhe. Eu acompanhei e protegi você até os dias de hoje.

-- Não entendo isso Selena! Meu amor.

-- Meu amado! Na noite do nosso baile de formatura, eu estava muito feliz. Havíamos dançado a nossa música. Eu me sentia dançando entre nuvens de felicidade. Tinha a impressão de que não estava na terra.

Meus pais haviam brigado comigo por ter ficado o baile todo ao seu lado. Quando o táxi nos deixou em frente de casa, atravessei a rua pensando em você! Meu amor proibido pelos meus pais. Não olhei para os lados. O baque foi muito forte! Só senti meu corpo voar leve como uma pluma. E assim voei para você. Até hoje te acompanho para todos os lados. Esperando por este momento só nosso para vir busca-lo.

-- Selena? Para ir contigo eu preciso morrer primeiro!

-- Não amor! Basta me dar a mão! Seu corpo já está ali sereno e descansando da vida. Vem amor! Vamos para o nosso cantinho infinito.


18/01/2020

OS RELÓGIOS DO TEMPO

 



Quando entrei na casa estranhei. Tantos relógios! Era como se o tempo fosse cronometrado. A impressão que tive foi que os relógios contavam histórias. Na sala um enorme badalão entalhado em madeira de lei. Seu som de sinos chamava a atenção e encantava. Pelo porte arquitetônico inglês e as dezoito horas cantava uma chorada Ave-Maria.


Além do badalão tinha relógios de todas as formas nos móveis e paredes da sala, da cozinha. No banheiro um branco quadrado. No anexo coberto do quintal morava um relógio na parede acima da máquina de lavar. Destacando sua cor vermelha da parede amarela.


Parece uma casa do tempo contado. Era o tio Billy que contava o tempo e as horas. Por outro a lado a casa tem muitas histórias para contar. As paredes guardam alegrias de festas, risos e momentos felizes. Como fotografias, também percebo lágrimas e choros dos momentos tristes.


Desde a festa de casamento de Loreta a dona da casa, até a partida dos entes queridos e dos cães que aqui viviam em harmonia com a família. Na realidade quem me contou toda esta narrativa foi Loreta.

Disse-me que o tio Billy foi o seu grande amigo. Era ele o tio do seu ex marido que se apegou a ela numa grande e afetuosa amizade de muitos anos.


Meio surdo por um rojão junino ter estourado bem próximo dos seus ouvidos, poucas pessoas entendiam o que ele dizia. Porém Loreta entendia-o perfeitamente. Billy era um mecânico de luxo. Conhecia qualquer tipo de motor principalmente os importados. Conhecia a doença das máquinas pelo ronco e pelas vibrações.


Cada vez que Billy vinha almoçar com Loreta trazia um relógio para ele e contava uma história. Houve um dia em que adoeceu. Suas pernas bambearam e a idade o arrastou para uma cama. Tornou-se meio homem. Loreta prontamente adotou-o em sua casa, como um paciente e amigo já que seus dotes de enfermeira formada se fizeram presentes. A passos miúdos e planejados ela levava o amigo para tomar o sol da manhã no quintal. Colocava-o numa espreguiçadeira e lhe dava o jornal nas mãos.


Billy lia e resmungava. Parecia conversar com o matutino. Depois contemplava o tempo olhando as nuvens e o sol. A todo o momento e conversava com seu relógio de pulso. Billy sorria! Parecia feliz com a atenção de Loreta e o meigo sorriso que ela estampava no rosto para ele. Agradecia sempre a felicidade por ser cuidado por um anjo.

Nos contratempos da vida, Billy piorou e foi levado a um hospital. Era o fim do seu tempo. O fim do tempo dos relógios que marcavam as horas da sua vida. Loreta em casa apreensiva. Mais uma dor que marcava sua vida. Mais uma história para sofrer no seu tempo. Olhava para os relógios que Billy havia lhe dado de presente. Nos milhões de tique-taques contava o tempo segundos e minutos. As incansáveis horas, que guardam os segredos da vida.


Ao meio dia o badalão da sala disparou um ding-dong mais alto que o normal marcando com virilidade o tempo e o espaço. O telefone tocou! Loreta nervosa e pressentida atendeu. Ouviu a voz de Billy dizendo-lhe adeus.


Na realidade ninguém estava do outro lado da linha. Foi um aviso do tempo. Uma alma gêmea ficou na terra. A outra partiu. O tempo vai uni-las novamente na próxima passagem.

15/01/2020

A FELICIDADE NUMA RECEITA CASEIRA

 



Domingo de verão.

Manhã quente o sol já se fazia presente. Dizia que o dia ia ser gostoso.

Na cama o casal ainda aninhado, curte o cheiro do amor da noite passada. Nada como sentir o aconchego de um corpo gostoso e amado ao lado.


As mãos de Amauri deslizam suavemente nas curvas do corpo de Maria. Ela se espreguiça sentindo o toque amado como um êxtase. Num gostoso aconchego que a vida prometeu aos dois.


Amauri levanta. A preguiça é grande. Seu corpo cheira a Maria que continua numa satisfação de preguiça rolando na cama. Logo um cheiro de café perfuma a casa.

--- Nossa! Como é bom amar – Pensa Amauri.

Saciados pelo café da manhã os encantos continuam. Nos olhares, nos abraços nos afagos. Os sorrisos não negam que o amor está transbordando pelos poros.


Depois a satisfação de uma caminhada de mãos dadas. Deus está com eles sorrindo o sol continua aquecendo seus corpos. Na passagem pela feira a compra da pinha que Maria tanto adora.

Na volta para casa o papo continua amoroso. Logo uma cerveja bem geladinha faz a alegria e o prazer dos dois. Num papo gostoso relembram as artes da juventude.

Após o gostoso almoço, Maria se lambuza com o adocicado da pinha. Tão melada como o amor que sente por Amauri.

A volta para o quarto. A tarde silenciosa como casa de caboclo. Novamente o sentir, os toques, beijos e afagos. O sono da preguiça completa o dia.


Anoitece! Após o banho Maria se prepara para voltar à rotina.

Já no ponto do ônibus Amauri beija com calor a sua amada. Um adeus de mãos abanando, o último olhar de amor dos dois através do vidro ensebado do veículo.

Maria senta em qualquer banco e já sonha com o próximo fim de semana.


Já Amauri volta para casa. Porta adentro o cheiro de amor de Maria se faz presente. Ele sorri e agradece a Deus pela felicidade.

No passado! Morando juntos. Nunca conseguiram se amar apaixonadamente como se amam hoje.

11/01/2020

SAUDADES DOS DIAS DE SOL

 

Só ouço ecos na minha mente.
Não consigo ver as pessoas à minha volta.
A chuva cai forte, vejo apenas a sombras nos meus olhos.
Chove saudades dentro de mim.

Quero procurar o sol para aquecer minha alma gelada.
Fujo dos dias frios de inverno. Minha alma continua só e doendo.
Nesta hora serias tu o remédio da cura. Quando me lembro do seu sorriso!
Ah! O sorriso dela. Como um dia de verão.

As vezes me lembro ficava observando-a dormir.
Parecia que estava sempre num sonho bom. Parecia sempre sorrir.
Então eu apagava a luz do abajur e me aconchegava no seu corpo quente.
Me sentia como um passarinho no ninho, aconchegado pelas asas da mãe.

Ficava então remoendo minha mente:- Se eu não acordar amanhã. Não quero que ela tenha dúvidas do quanto eu a amo. Tentava então mostrar-lhe todos os dias o meu amor.
Queria deixar isso gravado nela. Já perdi muitas pessoas no percurso da vida que nunca souberam realmente o quanto eu as amei. Queria mostrar a ela o quanto significou para mim, cada dia do nosso amor.

O destino e o tempo não me deixaram tê-la nos dias de hoje. Não existe o amanhã para nós. Porém ela sabe o quanto foi grande meu amor.
Direitos Autorais reservados à
Carlos Alberto Paduan

07/01/2020

NEM ME DISSE NEM ADEUS

 


  

Nosso amor era um jogo fácil.

Porém nó dois o perdemos.

Quando nos encontramos olhamo-nos, nos olhos e eu te perguntei.

--- Você tem certeza de que me quer!

Final do tempo.

Agora preciso de um lugar para me esconder. Parece que perdi tudo. Perdi a vida só esqueci de morrer. De amor ferido, ando assustado. Estou mais triste hoje do que ontem.

Minhas memórias morreram. Engolindo palavras duras que meus olhos respondem chorando. Longe de você me sinto arruinado. Preciso de você.

Simplesmente se foi. Não disse nem adeus.

Porquê amada!

Porquê nossas flores estão morrendo.

Ontem eu pensava em você como algo novo na minha vida. Agora esses pensamentos perderam o porquê. Você causou um incêndio dentro de mim. De repente uma chuva de palavras aguadas apagou o fogo.

Sem você sou a metade do homem que costumava ser. Há uma sombra pairando sobre mim. Um paraíso nublado num preto e cinzento céu.

Eu sonhava com meus sonhos virando realidade. Pedi-lhe que me amasse com ternura, para que nossos dias fossem felizes até o final dos tempos.

Pedi-lhe que me amasse com o mesmo sabor que uma criança ama um doce. Pedi-lhe que me olhasse com o mesmo carinho como uma mãe olha para o seu bebê.

Pedi-lhe que levasse meu coração para dentro do teu. Assim seriamos um só. Assim nos pertenceríamos.

Só esqueci uma coisa! De pedir-lhe para que nunca fosse embora.

E você foi. Sem dizer adeus.


04/01/2020

FOTOS ESMAECIDAS

 

Hoje encontrei fotos de nós dois que residiam no sótão do casarão de pedras. Onde meus pais moravam. Gastas pelo tempo numa cor sépia, já se fazem esmaecidas. Lembrei nossos banhos na banheira com o esmalte descascado. Teu corpo moreno queimado de sol, coberto pela espuma alva do sabonete cheiroso. Teus seios coloridos pela marca do biquíni às vezes boiavam, entremeados à espuma.
Ficávamos ali por horas nos afagando, nos beijando e ajustando nossas ferramentas de amor.
Quando nossos corpos clamavam o êxtase saiamos para o quarto. Deitávamos numa colcha de retalhos que se fazia linda, decorada pelo teu corpo nu. Encontrei-a, nesta manhã. Tão velha e cheia de traças que se desfez em farrapos. Como sinto meu coração agora.
Teu sorriso branco iluminava-se dentro da boca. O carmim nos teus lábios pareciam pétalas vermelhas se abrindo quando me chamavas de amor. Como você me levava à loucura!
Agora estou olhando todas as fotos, cada uma tem uma história. Cada uma me mostra um tempo, um momento. Revivendo tudo, me desmancho em vários devaneios. Meus olhos se enchem de água pelas saudades. Muitas foram os dias, que sonhei com teus olhos agasalhando a minha alma. Te sinto! És como um livro que leio todas as noites, como se tivesse lendo teu coração. Nossa! Como dói a tua ausência.

02/01/2020

CARTA UM AMOR DE OUTRA VIDA

Levantou-se as três da manhã com a cabeça fazendo estragos de dor no seu âmago. Muito intensa. Pensou ter sido a cerveja na hora do almoço do dia anterior ou então o sanduíche de calabresa no jantar. Para a cozinha foi. Água e analgésico, parada no banheiro e depois sofá da sala.

Sentou-se, relaxou por alguns instantes e logo sentiu a melhora do analgésico trabalhando. Acendeu o abajur e na penumbra viu o calendário da parede.

20 de novembro de 1946. Pegou a caneta e papel na mesa lateral, resolvendo escrever uma carta para a namorada Mariana. Haviam brigado por causa da fila do feijão. Em tempos do pós-guerra faltavam alimentos. Era fila para tudo. Principalmente para a compra de alimentos.

Na missiva pediu desculpas à moça por ter acordado tarde e o feijão que prometera comprar para ela havia acabado. No dia da briga na saída da boate ela furiosa pegou o chapéu dele  atirando-o ao chão e depois pisoteando. Feito isso limpou o carmim da boca no blazer novo dele. E foi embora pisando duro. Deixando-o ali parado na fria madrugada.

Também disse na carta que todos cometem erros e não precisava daquela violência contra seu chapéu e blazer. E que também ficou irritado com o show de patinha mimada que ela havia dado. Escreveu que a amava muito e estava com saudades.

Feito isso dobrou o papel deixando-o no móvel. Ia posta-lo pela manhã no correio da Avenida Princesa Izabel (RJ ) Perto da boate Vogue onde na saída aconteceu a briga.

Voltou para a cama. Acordou tarde ainda com a cabeça meio pesada. Sua esposa estava de mal humor. Sentou-se à mesa para o café. A esposa muito brava interpelou-o perguntado.

--- Quem é essa tal Mariana! Sua namorada por acaso!

Ele disse não saber, não conhecia nenhuma Mariana.

--- Você pensa que sou idiota Rodolfo! Ou está ficando louco!

--- Louca está você Miriam! Com essas perguntas idiotas. Não saio de casa sozinho desde que me aposentei. Não saio de casa sem você. Como é que eu poderia arrumar uma namorada!

--- Aliás a última vez que saímos juntos compramos meu blazer e o chapéu que eu tanto queria.

--- E esta carta senhor sem vergonha! Escrita com a sua letra! É para a sua Mariana meu bem. Disse ela com deboche.

Lendo a carta e assustado Rodolfo perguntou a mulher. 

--- Onde você achou isso Miriam?

--- Na sala! No seu cantinho predileto. Disse ela com desdém.

--- Meu Deus! Que dia é hoje!

--- 20 de novembro de 2.018 meu amor! Continuando com o deboche.

--- Meu Deus Miriam a letra é minha mas esta carta está datada de 20 de novembro de 1,946.

--- Você tem razão mulher quando diz que estou ficando maluco. E que estas dores de cabeça estão constantes. Amanhã mesmo estou indo ao médico.