Alguns escritores, quando criam um personagem levam em consideração o que sonharam por toda a vida e nunca conseguiram ter.
Uma mulher descrita como a deusa das deusas, um par de olhos verdes esmeraldas, a boca de biquinho que ao falar formavam duas covinhas nas bochechas vermelhas; os cabelos tinham um tom bem dourado e com milhões de fios de seda cacheados; o nariz fino e arrebitado fazia um curva harmoniosa na delicada face. Foi por essa mulher que o escritor se apaixonou e, como nunca a teve nos braços, deu-lhe vida no seu livro.
Sentado em sua cadeira predileta na varanda, olhava e olhava a paisagem, contemplava no tempo das imaginações a sua musa, um anjo sem asas a correr por entre as árvores e flores do seu fictício jardim.
Levantou-se da cadeira e foi ao encontro do seu sonho, que já dominava os seus pensamentos como uma realidade. Puxou delicadamente a musa para si e abraçou seu corpo escultural, sentindo seus aromas de amor.
Suas bocas de encontraram, línguas rodopiaram, procurando o desejo e os sabores, as roupas voaram com o vento, colorindo o ar. A boca do escritor desvendou os segredos dos seios, mamilos e ventre da musa. Os suores se fizeram presentes; os beijos, os braços em massagem pelos corpos que caíram a rolar pela grama verde. Seus ventres colaram em ritmo alucinante, frenético.
Explode coração!
O suor do escritor se tornou gelado, sua respiração ofegante. Parecia cansado e com a boca seca, levantou-se da cadeira meio cambaleante. Entrou para a sala da casa. Sua esposa, sentada na cadeira de balanço, notou o abatimento do marido e disse-lhe em tom de alerta.
—Estás pálido de novo? Melhor procurar um médico